sábado, 31 de março de 2012

INQUIETANTE...

... é que nem toda a gente queira entender o que se passa. A Opinião de Manuel António Pina, publicada no "Jornal de Notícias" de ontem, que subscrevo inteiramente:

"PSP preocupada com... notícias

Jornais, TVs e Net noticiaram por estes dias o espancamento por agentes da PSP, documentado com imagens que correram mundo, de pessoas que exerciam o seu direito à greve e à manifestação e de jornalistas que exerciam o seu direito de informar.


Muitas de tais notícias tão só repetiam as de há quatro meses, quando da greve ge
ral de 24 de Novembro, dando conta, com numerosos testemunhos (e de novo imagens, malditos telemóveis!), de que a violência terá então tido origem na acção de agentes provocadores infiltrados pela PSP entre os manifestantes, actuação proibida por lei e confirmada ao "i" por um agente do Corpo de Intervenção que, prudentemente, pediu o anonimato.

O Relatório de Actividades da PSP, ontem conhecido e ainda subscrito pelo famoso director-geral que avisou o país de que "nós não andamos com bastões, nem com pistolas, nem com algemas, nem com escudos e etc. para mostrar que temos aquele equipamento...", preconiza agora a análise das notícias dos media e a adopção de "estratégias de combate às menos positivas". Não constando que o Relatório se mostre preocupado com a formação dos agentes da PSP em matéria de direitos humanos e de cidadania, quanto mais não seja para evitar "notícias menos positivas", é de recear que a PSP pense levar a cabo tal combate com "bastões", "pistolas", "algemas", "escudos" e, sobretudo (tenhamos medo, muito medo), com "etc.". Só o ministro Miguel Macedo o sabe..."


Haja alguém que fale claro...

Imagem da net.


sexta-feira, 30 de março de 2012

BRINCAR COM BONECAS?

Para quem não sabe, a fotografia (da net) retrata uma menina de carne e osso, que foi uma grande "estrela" nos concursos americanos de "Toddlers & Tiaras" e cuja mãe anunciou que se ia retirar dessas competições, aos 6 anos de idade. Mas não foi para a criança ter uma vida escolar normal: em vista está uma carreira artística de cantora, atriz, modelo ou qualquer outra dentro dessa área...

Em Portugal, felizmente, não existem concursos deste género para miúdas destas idades! Nem sei se ainda há concursos de misses, mas aí já são mais crescidinhas, se a ideia é desfilarem nas passerelles a dar ao rabo e às ancas e fazer disso profissão futura, who cares?

Quando pensamos estar livres de tanta futilidade e dondoquice e imaginamos que não faz mal nenhum os pais incentivarem um pouco de vaidade e brio nos seus filhotes, um dia em caem-nos os queixos, ao deparar com a Júlia Pinheiro a entrevistar quatro meninas demasiado interessadas na própria beleza, num programa televisivo: todas adeptas de sombras nos olhos, baton, unhas pintadas, idas frequentes ao cabeleireiro e até de saltos altos. E no friso de pais embevecidos (e digo pais, porque eram três mães e um pai)? Escusado será dizer que todos acarinhavam a ideia delas serem tão vaidosas desde pequenas, que, segundo eles, já era tradição familiar. Não mencionei que as "mulheres pequenas" tinham cerca de 5 anos de idade? Pois tinham...

Cerejinha no topo do bolo: uma das mamãs babadas revelou que pretendia festejar o 6º aniversário da filha num SPA, com sessão de cabeleireiro, manicura e até massagem para todas as amiguinhas da aniversariante. Há gente que ainda gosta de brincar às bonecas, mesmo com a própria prole, não há? 

BOM FIM DE SEMANA / FÉRIAS!!!
(riscar o que não interessa)

Imagem da "boneca" de Mickie Wood.

quinta-feira, 29 de março de 2012

VIAJAR EM GRUPO

Ou muito me engano, ou a mensagem "blogger is getting a new look in April" não é suposta ser comemorativa do dia das mentiras. Certo é que após pequenas alterações e algumas falhas e erros nas últimas semanas, o tal do "upgrade now" já reluz lá azulinho e pronto a clicar. Antes de enveredar por essas aventuras (virtuais), sublinho que viajar em grupo costuma ser mais saudável e...

... vantajoso. Pelo menos é o que defende esta publicidade, muito bem bolada e divertida! Basta clicar na imagem - ici ou acoli, que não é preciso ser preciosista - para ver.

Esclarecimento (a 30/03/2012): talvez não tenha sido muito clara (devido ao vídeo que se seguiu?), mas a apologia de viajar em grupo era apenas no domínio virtual - e isto no sentido de, em caso de dúvidas, as podermos esclarecer uns com os outros...  

(Obrigada, António!)
Imagem recebida por mail.

quarta-feira, 28 de março de 2012

EXTREMAMENTE ALTO, INCRIVELMENTE PERTO

Oskar Schell (Thomas Horn) é uma criança de 11 anos diferente das outras: se, por um lado, parece extremamente interessado em certos assuntos e com uma capacidade de organização acima da média, por outro aparenta ter alguma dificuldade na interação social. Thomas Schell (Tom Hanks), seu pai, é joalheiro e estimula-o a resolver enigmas da sua própria lavra, com a finalidade de o pôr em contacto com outras pessoas e, simultaneamente, desenvolver as suas áreas preferidas de conhecimento - sabe-se, lá para meio do filme, que o rapaz fez testes para saber se sofria de síndrome de Asperger, mas os resultados foram inconclusivos.

Contudo, o joalheiro morre na fatídica manhã de 11 de Setembro de 2001, quando se encontrava numa reunião no World Trade Center. Entre ensimesmado e revoltado, nem a mãe (Sandra Bullock), nem a avó (Zoe Caldwell) - também elas a sofrer aquele luto inexplicável - o conseguem ajudar a ultrapassar a enorme perda. Cerca de um ano depois, ele resolve explorar o armário do pai e aí encontra uma chave, que julga (ou deseja?) abrir qualquer porta, cofre ou caixa que contenha a sua última mensagem. E aí parte nessa grandiosa expedição de encontrar a fechadura certa, pelas ruas de Nova Iorque...

Vejam o trailer aqui:


Com um tema destes, está bem de ver que não é um filme leve de entretenimento, que se esqueça um ou dois dias depois. Pelo contrário, é um filme pesado! De interpretações fenomenais de grandes atores, incluindo o puto praticamente estreante. Com um argumento fabuloso de Eric Roth, segundo o romance de Jonathan Safran Foer. Stephen Daldry, o realizador, não destoa da restante equipa. Como é que um filme destes passou completamente despercebido nos Oscar e ainda tem uma classificação de 6,7/10 na IMDB?

Acredito que não tocará a todos - a miuçalha à minha frente abandonou a sala, após cada um comer um grande balde de pipocas - mas a mim emocionou-me muitíssimo: mais do que a morte daquele pai, há um mundo que desaba a certa altura da vida: E a reação nem sempre é a melhor... ADOREI!

Imagem da net.

terça-feira, 27 de março de 2012

FÉRIAS DE CASTIGO?!

Há muitos, muitos anos, um casal amigo dos meus pais convidou-me para ir passar férias e fazer companhia à filha deles, cerca de um ano mais nova - teríamos talvez 12 e 11 anos, respetivamente. O destino: São Pedro de Moel! Nesse tempo as crianças e adolescentes tinham uns bons três meses de férias, os adultos que trabalhavam, com sorte, usufruiam de uma ou duas semanas. Portanto, a ideia era depositarem-nos em casa dos avós maternos, que viviam lá e tomariam consta de nós, o casal só nos iria levar e buscar. Eu gostava dela, que conhecia desde sempre, cheirava-me apenas a brincadeira e não tive nada a opor - e mesmo que tivesse, se calhar nem teria feito grande diferença...

A minha amiga era filha única da filha única do casal já velhote (ou pelo menos mais do que os meus avós, a avaliar pelas cabeças brancas e a "banana" que a senhora usava como penteado imutável) e toda aquela família tinha tendência para a hipocondria. Além disso, a rapariga praticamente não comia. Ou só o que lhe dava na veneta. Os avós lá nos levavam à praia de manhã, mas por vezes o nevoeiro era tão denso que voltávamos para trás. Em havendo um pouco de sol lá ficávamos um bocadinho, mas entrar no mar nem pensar, que mais encapelado do que aquele era difícil. Corríamos um bocado no areal, mas depois a avó chamava logo a menina, que estava a ficar "afogueada". E ela obedecia prontamente.

As refeições tinham horários rígidos e eram, para dizer o mínimo, frugais. Nunca fui de grandes comezainas, mas até ficava com fome no final - a ideia era que se ela comia pouco, eu devia comer o mesmo. A criada servia-me uma posta de pescada mínima e uma batata cozida, mas a dona da casa achava demais, ralhava com a sopeira e tirava-me metade do prato (e nunca gostei de peixe cozido com batatas). Vinha o pudim flan, aí abria-se o apetite da minha companheira, não tanto pelo pudim, mas pelo caramelo: comia-o todo, enquanto me restava um pedacinho de pudim, não muito maior do que o dela. (fora as vezes que ela ia à cozinha mamar uma lata de leite condensado, com o conluio da empregada, mas que também sempre dispensei!)

O repouso era obrigatório na hora da sesta, para dormir ou ler, "porque estava calor demais para sair à rua". Eventualmente depois dávamos uma volta pela vila ou brincávamos no jardim. Com moderação, obviamente, que ela não podia ficar muito extenuada. Uma vez por outra lá íamos à piscina oceânica, carota para o meu "abono de férias", a entrada dela era paga pelos familiares. Num fim de semana, foram os pais dela que nos levaram lá. O almoço, ainda mais frugal, de um único croquete! Mesmo assim, exigiram que fizéssemos uma digestão de 3 horas até darmos um mergulho. Naquele dia quente e de sol, ela decidiu participar num treino qualquer com um professor de natação, a seco, para melhorar a sua performance. Eu andava por ali cheia de vontade de me atirar à água, a perguntar quanto tempo faltava, de 5 em 5 minutos, imagino. E quando passou, aproximei-me dela junto à borda da piscina, de cócoras, a falar com um compincha da aula e vai disto, empurrão na menina. Mariquinhas e queixinhas, ai, ai, ai que se ia afogando, a correr para os pais. Sobrou um grande raspanete para mim e castigo para ambas, de volta para casa a pé (que esse nem pus na piscina). Ela ia danada comigo, os avós já se sabe a dizer amén, enfiei-me no quarto a ler, todos muito aflitos porque ela se podia constipar...

Como o castigo lhes pareceu pequeno e a parvalhona ainda se lamentava que lhe fazia pouca companhia devido às leituras, o bom do amigo dos meus pais retirou-me todos os livros que tinha levado. Aí abri a goela e chorei desmesuradamente, nem me lembro de qualquer outra brincadeira. Não sei se lhes disse que queria voltar para casa, mas o certo é que voltei nesse mesmo fim de semana. E já foi tarde!  

Imagem da net.

segunda-feira, 26 de março de 2012

LIVRARIAS TRADICIONAIS

Pensamos que há coisas que nunca mudam, mas a verdade é que já Camões nos alertava para "que todo o mundo é composto de mudança". E livrarias tradicionais... já não restam muitas, em Lisboa (presume-se que também nas outras cidades portuguesas)!

O comércio tradicional sufoca e mingua devido às grandes superfícies, à competitividade dos centros comerciais, à impossibilidade de se modernizarem e adaptarem, por falta de espaço ou de capacidade de investimento. No caso das livrarias, ainda há a enormidade da FNAC  a enfrentar: preços mais baixos, promoções ou descontos, facilidade de encomendas on line., a.s.o. E os livros estão caros para os bolsos da maioria dos portugueses, já a braços com outras grandes dificuldades...

Nada de move contra a FNAC, devo esclarecer. Mas já se sabe que quando se domina um mercado a tendência é ignorar os interesses do cliente. Foi assim que o encomendado via net "O Capitão Alatriste", com um prazo de entrega previsto para 1 ou 2 dias, deve ter desmaiado algures  lá nos armazéns e bateu aqui à porta exatamente 16 dias depois. Não protestei  - já mo tinham emprestado para o ler - e fiquei com o livro à mesma. Mas se fosse importante para completar qualquer trabalho?  

No dia seguinte à discussão do Clube de Leitura passei pela livraria Barata. Tradicional. Modernizada. Onde pude ver a pequena exposição de aguarelas de Paulo Ossião - lindíssimas, no meu modesto entender! Uma loja que cheira a livros, com espaço dedicado a ameno convívio, beber um café ou folhear algumas páginas. Não tinha o livro que desejava agora. Encomendei. De caminho ainda comprei dois marcadores para a coleção, o da exposição era gratuito. É, é importante não deixarmos que as livrarias tradicionais desapareçam do mapa das nossas cidades... Façamos por isso!

domingo, 25 de março de 2012

O CAPITÃO ALATRISTE

As saudades que eu já tinha de ler um livro de capa e espada! Zorro, D' Artagnan e os mosqueteiros Athos, Aramis e Porthos, Ivanhoe e Robin dos Bosques a esgrimir as suas espadas em favor dos oprimidos e em defesa do seu bom nome, face a múltiplos adversários mal intencionados e malvados, pois, há quanto tempo? Desde as carteiras de liceu, fora um ou outro novo remake cinematográfico, que se foi espreitar mais por curiosidade, pois a história está visto que se sabe de cor e salteado. Então, a esta fila de heróis, junta-se agora o capitão Alatriste...

O primeiro facto digno de nota  nas suas 173 paginas é  que, ao contrário das histórias ficcionais de Alexandre Dumas, Walter Scott ou do mais desconhecido Johnston McCulley, o enredo do livro enquadra-se numa época específica e muitos dos seus personagens são reais, sendo que só a trama principal é obra da imaginação do autor. Mais, essas personagens não são só reis, rainhas, príncipes e princesas, mas os membros da corte, os tenebrosos inquisidores, os aguazis (oficiais de polícia), militares, poetas, dramaturgos e pintores da época, com os quais o nosso capitão confraterniza amiúde na Taberna do Turco. Assim, não sendo um livro de História, retrata-a parcialmente, dando também a conhecer a mentalidade das gentes daquele tempo, aparentemente tão tementes a Deus, mas cuja ambição desmedida provoca múltiplos conflitos e atentados. E é aí que entra o nosso capitão, que de capitão só tem alcunha: "Não era o homem mais honesto nem o mais piedoso, mas era um homem valente. Chamava-se Diego Alatriste y Tenorio e tinha lutado como soldado nos antigos terços nas guerras da Flandres. Quando o conheci sobrevivia em Madrid alugando os seus serviços por quatro maradevis em trabalhos de pouca glória, amiúde na qualidade de espadachim por conta de outros que não tinham a destreza ou o arrojo para solucionar as suas próprias querelas."

É assim que certo dia o capitão e um assassino italiano são confrontados perante dois cidadãos embuçados e  de alto cargo, que lhes encomendam o serviço de pregar um valente susto a dois ingleses e de lhes roubar a documentação que deverão entregar num local estipulado, em troca de uma boa maquia. Mas a questão complica-se, pois se o funcionário mais importante avisa que o serviço não é para matar nenhum dos homens, já depois deste sair surge o inquisidor frei Emílio Bocanegra a exigir a morte de ambos, ameaçando-os de lhes pôr a Inquisição à perna em caso de incumprimento. Quando está prestes a executar um dos britânicos, algo faz estacar Alatriste, que  não só os salva da morte certa, como impede o italiano de a intentar. E agora, como é que o capitão se vai safar das garras da Inquisição ou de apodrecer com os ossos na prisão, por ordem de um alto funcionário do reino?

Há muito que tinha curiosidade de ler Arturo Pérez-Reverte e, como eu, alguns companheiros do Clube de Leitura - que recentemente se alargou a mais dois elementos, daí já não sermos só "meninas" - pelo que a leitura agendada calhou neste "O Capitão Alatriste", o primeiro de uma série de aventuras deste herói por terras de Espanha no século XVII, em pleno reinado filipino. Gostei da escrita, onde por vezes intercala alguns versos genuínos dos poetas daquele tempo (supostos companheiros de tertúlias do capitão), da narração estar a cargo de um puto de 13 anos (Íñigo Balboa, pajem do capitão) que por vezes não entende a realidade que o rodeia, de nos dar a conhecer as intrigas da corte, da análise que não deixa de fazer à sociedade da época, além da história que, não sendo igual à dos clássicos, também não destoa do género. Destaque-se ainda que se supõe que o escritor resolveu escrever este livro ao constatar, no livro de História da filha, que este período tão conturbado não merecia mais de página e meia... En garde!  

CITAÇÕES:
"Uma Espanha ainda temível no exterior mas que, apesar da pompa e do artifício, do nosso jovem e simpático rei, do nosso orgulho nacional e dos nossos heróicos feitos de armas, se deitara a dormir confiante no ouro e na prata que traziam os galeões das Índias. Mas esse ouro e essa prata desapareciam nas mãos da aristocracia, do funcionalismo e do clero, preguiçosos, corruptos e improdutivos, e esbanjavam-se em empresas vãs, como a manutenção da dispendiosa guerra reatada na Flandres, onde colocar um pique, ou seja um novo piqueiro ou soldado, custava os olhos da cara. [...] Aragoneses e catalães escudavam-se nos seus foros, Portugal continuava preso por alfinetes, o comércio estava na mão de estrangeiros, as finanças eram de banqueiros genoveses, e ninguém trabalhava excepto os pobres camponeses, exauridos pelos cobradores da aristocracia e do rei."

"Nem ele [Felix Lope Vega Carpio], nem dom Francisco de Quevedo, nem Velázquez, nem o capitão Alatriste, nem a época miserável e magnífica que então conheci, existem já. Mas resta, nas bibliotecas, nos livros, nas telas, nas igrejas, nos palácios, ruas e praças, a marca indelével que aqueles homens deixaram a sua passagem pela Terra. [...] Mas o eco das suas vidas continuará a ressoar enquanto existir esse lugar impreciso, mistura de povos, línguas, histórias, sangues e sonhos traídos: esse cenário maravilhoso e trágico a que chamamos Espanha."

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A próxima sessão do Clube de Leitura foi agendada para dia 12 de Maio, com o livro "A Sul da Fronteira, a Oeste do Sol", de Haruki Murakami.

sábado, 24 de março de 2012

EM MOMENTO DE POESIA?

Numa semana particularmente poética, em que proliferaram poemas por toda a blogosfera consoante as sensibilidades de cada um, li e reli Pessoa, Florbela, Sophia, Helder, Torga e tantos outros, como se estivesse a cumprir as quotas de um ano inteiro. Os poetas saltaram do baú, entraram no palco e representaram o seu papel, com todas as palavras e letras e a mestria costumeira. Tocaram-me de fininho, como aquele amigo apressado que se encontra na rua e nos acena de longe, sem ter o vagar de nos abraçar ou sequer dizer olá.

Como já vem sendo habitual, não tive tempo de ler tudo o que se publicou, nem mesmo só nos favoritos. Concluí ainda - quem sabe se apressadamente? - que talvez não tenha um espírito muito poético. Aí, e não exatamente por acaso, passei pelo blogue da Rainha ST. E adorei o soneto de Vinicius, que diz tudo o que sempre quis dizer, neste vídeoclip apresentado por um grupo de estudantes:


Talvez não seja tão insensível assim à poesia, a questão passa por sentir o mesmo que o poeta no momento, com a mesma simplicidade e fervor... (sem desprimor para os restantes poetas portugueses enunciados, obviamente, nenhum deles precisa de "palmadinhas nas costas", só calhou sentir assim!)

sexta-feira, 23 de março de 2012

HUMOR, NO FACEBOOK!

Bom, a coleção de imagens humorísticas retiradas do FB já vai longa e serve de contraponto a outras imagens confrangedoras publicadas ontem por lá, dando conta da violência da ação policial sobre manifestantes e jornalistas em pleno Chiado, em dia de greve. Nada que se deva omitir ou esquecer, mas tenho a certeza que outros bloguistas o farão. Tal como o Paulofski ou a São já o fizeram, dando espaço e voz à indignação de todos nós.

Mas começando pelo princípio, já viram que bons exemplos tivemos?

(até admira que sejamos todos tão bonzinhos...)

E esta figura mítica, numa posição tão infeliz, hein?! Não há direito que nos tirem assim as ilusões de sermos tão bonzinhos todos os dias...

Ui, que brejeirice!

Credo! Esta ainda é pior: além de brejeira ainda é machista! Hummm... mas se calhar na Idade da Pedra era mesmo assim, com os mais fortes e armados a maltratarem as mais fracas. Claro que hoje em dia já não acontece. Quer dizer... raramente... só às vezes... ou vezes demais?!? (e não, não vou voltar às cargas policiais!)

Ah, OK, esta é mais familiar e ingénua! Cobarde e traiçoeira, mas mesmo assim mais soft...

E a Mafaldinha não podia faltar, com uma frase castelhana, mas lapidar! Bem hajam todas as mentes imaginativas e criativas, que nos fazem sorrir ou rir apesar dos pesares... E todos os amigos que partilham essa boa disposição.

BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS!!!

quinta-feira, 22 de março de 2012

ONCE UPON A TIME...

"Era uma vez..." é o título desta série realizada pela ABC e que passa atualmente no AXN - às sextas-feiras, às 21 horas e 30 minutos, com várias repetições posteriores noutros horários.

Como alguns saberão, detesto filmes, séries ou livros que incluam vampiros, lobisomens, fantasmas, monstros, ETs, zombies e personagens afins, salvo raríssimas exceções - sendo o "ET" de Spielberg uma delas. Mas sou e sempre fui vidrada em contos infantis: aí todo o monstro, dragão ou bicho-papão tem cabimento! Ora neste caso é mesmo disso que se trata...

A história gira em torno da "Branca de Neve" e de outros contos infantis como "A Gata Borralheira", "Hansel e Gretel", "O Génio da Lâmpada", "A Bela Adormecida" e outros que tais, numa adaptação bem livre. Tão livre, que decorre em dois tempos - os imemoriais dos tempos de fadas, bruxas e feitiços e o atual, na pequena cidade de Storybrooke, onde as personagens estão aprisionadas no tempo sem poderem sair do local e sem se lembrarem de quem são, via uma maldição que a bruxa má lançou de modo a acabar com os finais felizes. E de vingança em relação ao alvo de todos os seus ódios: a própria Branca de Neve!

Henry Mills (Jared Gilmore), um rapazinho de 10 anos, vai a Boston para encontrar Emma Swan (Jennifer Morrison) no dia do seu 28º aniversário. Ele acredita ser o filho que ela deu para adoção ainda muito jovem e diz-lhe que ela é a única que pode livrar a cidade onde vive daquela maldição que não permite que as pessoas sejam felizes. A  sua mãe adotiva, Regina Mills (Lana Parrilla) é a própria rainha má do livro de histórias que o acompanha, a mulher mais poderosa da cidade, que ocupa o cargo de presidente da câmara. Por seu turno, Emma, que nunca conheceu os seus pais e teve uma infância infeliz em vários orfanatos e famílias de acolhimento, tem a capacidade de discernir quando lhe mentem. Mesmo assim, e embora perceba que Henry é realmente seu filho, acredita que este tem uma imaginação prodigiosa motivada pelas histórias de encantar e leva-o de volta à cidade de onde veio e à sua mãe adotiva. E aí decide ficar por lá durante alguns dias, porque esta lhe parece algo estranha.

Alternando entre presente e passado, aventuras de príncipes e princesas em florestas mágicas e castelos de sonho ou de gente comum no dia a dia de uma cidade, mas com semelhanças evidentes com as personagens dos contos infantis, cabe a quem vê ir descobrindo quem é quem, por detrás das aparências e dos feitiços...  

Este é o mote da série, cujo trailer promocional podem ver aqui:  



Num total de 22 episódios, a exibição no canal  AXN já vai no 11º. Calhou ver o 8º e o 9º, que me entusiasmaram, mas é sempre uma chatice começar a ver uma série quase a meio. Coincidiu que entretanto pedíssemos para alterar o sistema para o MEO fibra - que fica mais barato que o anterior - e que este desse a possibilidade de rever os primeiros episódios de algumas séries, como esta.

Ainda não vi todos, mas estou a ADORAR! Muito gosto eu de histórias da carochinha... (se bem que, até ao momento, esta não faça parte do argumento!)

Imagem da net.

quarta-feira, 21 de março de 2012

"QUEM SEMEIA VENTOS...

... colhe tempestades", diz o provérbio e com razão. Assim, não é de admirar que mais uma vez tenha sido discutida a questão dos cortes dos feriados, desta vez no programa "Prós e Contras" da RTP. Que confesso nunca vejo, porque normalmente a discussão dura umas duas ou três horas, com antagonistas a defenderem ou a criticarem leis, projetos ou medidas, para no fim não se adiantar rigorosamente nada. Diga-se em abono da verdade que é o único programa de debate sério na televisão, aberto a vários sectores da sociedade e não apenas a um pequeno leque de comentadores residentes, cuja maioria tem filiação partidária conhecida. 

Neste caso, o estranho era estarem contra o corte dos feriados figuras tão diferentes como um antigo dirigente do CDS, um do BE e um representante da Igreja. Do outro lado da barricada, um economista, um sociólogo e um terceiro, que nem percebi quem era. Excecionalmente, assisti ao início do programa. E se os primeiros defendiam o direito ao lazer dos trabalhadores, a tradição, a história e a cultura portuguesa, os outros tinham posições do género ponham-se os feriados referentes a datas históricas todos num - juntava-se assim a revolução de abril, o dia de Portugal, das comunidades, de Camões e da língua portuguesa, a implantação da república e a restauração da independência - ou cortem-se porque estamos numa emergência nacional. Curioso é que todos concordavam que não era por cortarem 4 feriados ou eliminarem as tolerâncias de ponto que a produtividade aumentava. Então para quê estas medidas e discussão? Fernando Rosas opinou que estas medidas visam amedrontar os trabalhadores, "técnica" sobejamente conhecida para os impedir de lutar pelos seus direitos... 

Não lhe podia dar mais razão! E o debate, para mim, acabou por ali. Chegaram a alguma conclusão? Duvido! Vão cortar os feriados, as tolerâncias de ponto e dias de férias, o que resulta na prática numa diminuição de salário, para além dos já efetuados no funcionalismo público. Para que serve a Constituição, se estes governantes que a juraram defender a violam desta maneira?

Ah, mas o camponês da estátua lá de cima não está a semear ventos, mas sim estrelas, como se torna visível na imagem noturna:

Hoje estou em crer que a blogosfera vai estar recheada de estrelas e de sementes de poesia...

Imagens da net, da estátua "O Semeador de Estrelas", situada na Lituânia.

terça-feira, 20 de março de 2012

AGUARELAS... NA PRIMAVERA!

1 - Turner (1755 - 1851)
Já se sentia no ar um cheirinho, mas agora ela voltou com toda a determinação e certeza: bem-vinda, primavera! E novamente a 20 Março -  e não a 21, como anunciado em todo o manual de estudo que se preze, desde tempos imemoriais - situação que só mudará lá para o final deste século, quando passarem sete anos consecutivos sem ano  bissexto. Aliás, a partir de 2044 prevê-se que ela chegue a antecipar a sua chegada para dia 19. Nada que nos faça doer a cabeça, claro está, que até lá muita estação decorrerá... 

2 - D. Carlos I (1863 - 1908)
Para comemorar a primavera, nada melhor que mais um desafio sobre arte, desta vez em torno de aguarelas, aquela espécie de parente pobre da pintura. Por sinal a minha preferida e, dizem os entendidos, das mais difíceis de passar para a tela - os erros não são nada fáceis de emendar!

3 - Xavier Galiza (1943)
Trata-se portanto de adivinhar quem são os pintores de cada uma destas telas, mais ou menos conhecidos e que viveram (e vivem) em épocas diferenciadas. Que só não inclui outros aguarelistas mais antigos, dada a tendência que tinham para pintar temas religiosos, sendo que aqui se pretendia dar relevo a outro - a água!

4 - Carl Larsson (1853 - 1919)
Porque esta semana teremos o dia mundial da água? Também! A água é de importância vital para a vida de todos nós, nem precisava de ter dia de! Dia sem água é um martírio para todas as populações do mundo, ainda há quem queira privatizá-la cá na terra... Adiante!

5 - Miklós Barabás (1810 - 1898)
Bom, mas como referi, o equinócio de primavera foi hoje (lá para as 5 da madrugada) e esta semana é pródiga em dias de qualquer coisa: mundial da água e nacional do teatro amador, a 22; mundial da poesia, do sono, da infância, da árvore e da floresta, internacional do síndroma de Down ou contra a discriminação racial e ainda o universal do teatro - tudo a 21, como se não existissem mais datas no calendário...

6 - Paulo Ossião (1952)
Ah, mas se julgam que chega de datas comemorativas, enganam-se: o dia mundial do meteorologista (a 23) e o mundial da tuberculose ou da juventude surgem a 24. E parei por aqui, porque dá para escrever um tratado sobre o assunto - duvidoso... é que interesse a alguém!

7 - Birket Foster (1825 -1899)
Então vamos lá ver quem descobre quem são ou foram estes pintores de aguarelas, com ou sem batota 'goggliana', porque a tarefa não me parece especialmente fácil para os não entendidos na 3ª arte, como eu. Aproveitem também para entrar com o pé direito na PRIMAVERA...

ADENDA a 21 de março de 2012: todas as legendas com o nome dos respetivos pintores, a laranja; obrigada a todos pela participação e parabéns à Rainha ST, que identificou os autores de todas as telas após pesquisa. Note-se ainda que está em curso uma exposição do pintor Paulo Ossião, na livraria LeYa Barata, em Lisboa, como podem ler aqui.

Imagens da net.

segunda-feira, 19 de março de 2012

MYSTIC RIVER

Para variar, desta vez a sessão foi em casa, frente ao televisor, para ver via vídeos MEO um filme já de 2003, que na época perdemos nas salas de cinema - "Mystic River", realizado por Clint Eastwood.

Em meados dos anos 70, três rapazes brincam numa rua de Boston, quando resolvem assinar os seus nomes numa laje de cimento que está a secar: primeiro o intrépido Jimmy (Sean Penn), depois Sean (Kevin Bacon) e quando Dave (Tim Robbins) está também a começar a sua assinatura, são interrompidos por um homem com ares de polícia, que lhes dá um raspanete. Dois dos rapazes vivem naquela mesma rua e o suposto polícia diz ao outro - Dave - para entrar no seu carro, a pretexto de ir falar com a mãe dele. O miúdo obedece e desaparece durante quatro dias, conseguindo finalmente fugir dos dois pedófilos que o raptaram e que dele abusaram. 25 anos depois, a filha mais velha de Jimmy é encontrada assassinada, curiosamente na manhã seguinte a Dave ter chegado a casa coberto de sangue. Sean é agora o detetive da polícia que investiga o caso, conjuntamente com o seu parceiro Whitey Powers (Laurence Fishburne), o que reúne os amigos de infância numa tenebrosa teia de suspeitas, intrigas e contradições. Nada do que parece é...

Podem visionar o trailer aqui:
  

Sou suspeita para falar sobre Clint Eastwood, pois reconheço ao outrora ator de coboiadas um talento muito mais significativo e crescente no domínio da realização, sendo este um dos melhores da sua já vasta filmografia. Classificado com 8/10 na IMDB, valeu o Oscar de melhor ator a Sean Penn e o de melhor  secundário a Tim Robbins (sendo ténue a diferenciação entre o que é atuação principal e secundária, no meu entender) e as nomeações para melhor realizador, filme (que perdeu para "O Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei"), atriz secundária (Marcia Gay Harden) e argumento adaptado.

Repito: muito bom!

Imagem de cena do filme da net.

sábado, 17 de março de 2012

ORA DIGAM LÁ...

Fotografia de Ian Britton

A Patrícia, do blogue "O Poder da Ironia", desafiou-me a responder  às seguintes questões:

1- Tens alguma tatuagem? Não! A Natureza encarregou-se de me estampar alguns sinais... 
2- Se pudesses escolher outro planeta para viver, qual escolherias? Porquê? Este planeta chega-me muito bem, não quero ir para nenhum outro. Ainda por cima dizem que os ares por lá não são grande coisa...
3- Qual foi o pior comentário que já ouviste/leste sobre ti? Não me lembro! Penso sempre no ditado popular: "vozes de burro não chegam ao céu!"
4- Se te oferecessem um bilhete só de ida, que destino escolherias? Não quero emigrar para lado nenhum, portanto um bilhete desses não me interessava. Mas se o pudesse oferecer a alguém, seria a Pedro Passos Coelho, para ele fazer o que aconselha. O destino seria a China, preferencialmente para os campos de arrozais, para ele aprender o que é trabalhar de sol a sol em troca de uma malga de arroz...
5- Tens algum ídolo/modelo? Não! Coisinha chata essa de ter modelos e copiar-lhes as modas e os tiques. No entanto há pessoas que admiro bastante, algumas já desaparecidas...
6- Refere um livro, quadro ou música que tenha marcado um período da tua vida. Por mais que prefira livros ou filmes, escolho uma música: "Stayin' alive", dos Bee Gees. Porque marcou uma série de anos no início da idade adulta e muitas noites de dança, com um grupo de amigos que ficou para a vida... 
7- Se pudesses mudar alguma coisa no Mundo, o que mudarias? Baniria todos os preconceitos raciais, religiosos, de  género, de orientação sexual e por aí adiante. Suponho que diminuiriam as guerras e as pessoas seriam mais felizes...
8- Que dia Internacional ou Mundial erradicavas do calendário? Porquê? Para quê erradicar esses dias, se não fazem mossa a ninguém e há quem delire com eles?
9- Se pudesses criar um programa para qualquer canal de televisão, que programa seria? Seria um programa sobre livros - que promovesse a leitura em todas as faixas etárias, que indicasse novos livros e autores editados recentemente, que organizasse concursos, jogos, palavras cruzadas, com curtas leituras para os mais pequeninos, opiniões claras e sucintas de crianças, jovens, adultos ou mais idosos, consoante o público alvo do livro em causa, pequenas entrevistas e reportagens, em sequências rápidas e em espaços com muita luz e cor. Nada daquele rnhonhonhó de intelectuais em volta de uma mesa, tristes e sorumbáticos, a dar a sensação que ler aqueles livros deve ser uma grande chatice... Um programa dinâmico, a relembrar que ler, acima de tudo, é um prazer!
10- Qual é o teu número favorito? Porquê? 7. Dizem que é de ouro, deve servir de amuleto!
11- O que gostarias de dizer a alguém e nunca tiveste a oportunidade de dizer? Obrigada, a todos aqueles que lutaram pela igualdade entre os homens, tais como Martin Luther King, Mahatma Ghandi ou Emmeline Pankhurst, entre tantos outros... Ah, que já agradeci à Emmeline noutra ocasião? Não faz mal, ela merece agradecimento em duplicado!

Pronto e agora era para inventar outras 11 perguntas e nomear as pessoas que deveriam responder mas, como sempre, passo a todos os que estiverem interessados em prosseguir com o desafio. As perguntas... são as mesmas! Divirtam-se!

sexta-feira, 16 de março de 2012

NÃO PODIA SER!

Correu prái o boato que a Mafaldinha fez ontem 50 anos! Via FB, está claro, o maior lançador de boatos do universo e arredores! Fiquei escandalizada! Então anda aqui uma pessoa a ser a fã nº 1 da eterna contestatária e ela nem avisa da data do seu aniversário? Afinal, era apenas mais um boato... 

A devido tempo foi esclarecido, pelo próprio Quino no seu site, que considera a "data do nascimento" da menina a da primeira vez quem que a tira foi publicada (na revista "Primera Plana") - a saber, no dia 29 de setembro de 1964. Faltam, portanto, dois anos para o cinquentenário da eterna mocinha! A confusão deve-se a ele ter mencionado que a idealização da personagem aconteceu algures em 1960 e que a 15 de março de 1962 realizou uma campanha publicitária com a sua figura, que, no entanto, não chegou a ver a luz do dia. 

A comemorar, este ano, haverá somente o aniversário do célebre cartoonista argentino, Joaquín Salvador Lavado (Quino), que a 17 de julho completará 80 anos.  

Ufa! Agora que escapei por um triz a uma gaffe destas, resta-me desejar a todos um...

FELIZ FIM DE SEMANA!!!

(Obrigada, Maria, aka, fã nº 2!)
Imagem recebida por mail, de Quino, está claro!

quinta-feira, 15 de março de 2012

ENCANTAMENTO

Fotografia de Ian Britton

Tal como já tinha sabido da existência em múltiplos romances lidos e centenas de filmes visionados, aos 15 anos também eu sonhava com o meu cavaleiro andante, aquele que seria o amor da minha vida para todo o sempre... Não sendo eu princesa nem vivendo na era medieval, cedo concluí como provável que o meu “príncipe encantado” não fosse um nobre de sangue azul ou que me surgisse montado num alazão branco. Já se sabe que, não sendo ele possuidor dessas características, tornava-se muito mais difícil encontrá-lo!

Um dia, julguei saber quem ele era: tinha 15 anos como eu, era meu colega de turma no liceu e, desenganem-se desde já, não era lindo de morrer, nem o palhaço que as meninas tanto adoram, nem sequer um puto que se evidenciasse pela sua inteligência, cultura ou personalidade. De modo que não foi tiro e queda, não caí para o lado subitamente apaixonada à primeira vista! Na verdade, já nos conhecíamos desde os 13 anos de idade, altura em que entráramos na mesma turma e era igual aos outros, embora fosse dos mais baixotes e sardentos, alinhando no clube dos que preferiam jogar à bola do que conversar com as meninas. E nem aí se evidenciava por aí além...

À medida que ele foi crescendo e as suas preferências pelas futeboladas diminuindo, aconteceram dois ou três factos que nos aproximaram. Primeiro, calhou nas carteiras da sala de aula, enquanto tinhamos como professora de Ciências uma-parva-todos-os-dias, que embirrava com “aquele grupinho do fundo da sala junto à janela”, o seu candidato dileto à expulsão quase diária das suas aulas. O recreio maior até era motivo de alegria, mas já devido a um segundo facto importante– tinha acontecido o 25 de Abril! 

Outra coisa que tínhamos em comum era o caminho para casa, que percorríamos quase diariamente, a pé - para poupar o dinheiro do autocarro (nesse tempo ainda não existiam passes da carris) – com alguns colegas, pelo menos se não chovesse muito. As aulas terminavam às 7 da tarde e a balbúrdia da "hora de ponta" em Sete-Rios era enorme, com longas filas de espera nas paragens de autocarros. Vir a pé compensava também pela possibilidade de, no final, gastarmos o dinheiro num chocolate ou gelado, consoante o apetite de momento. 

Claro que durante esses recreios e caminhadas conversávamos muito e, no ano seguinte, ainda inventaram umas greves intermitentes na escola, pelo que os jardins da Gulbenkian passaram também a fazer parte dos nossos circuitos, onde conversávamos ou jogávamos às cartas com outros amigos. Nos dias de chuva recorríamos a uns matrecos manhosos na Calçada da Palma de Baixo ou a outro salão de jogos lá para os lados da Rua da Beneficência.

Não tinhamos os mesmo pontos de vista políticos – ele era militante da UEC- mas isso só contribuía para termos mais assuntos de que falar e até discutir. Sem nunca nos zangarmos, mesmo cada um ficando na sua. Era o amigo, o companheiro de todas as horas, divertido, simpático e brincalhão, sem deixar de ser cativante e sedutor – em suma, tinha descoberto o meu “príncipe"...  estava encantada!

Blogagem coletiva proposta por Luma Rosa, do blogue “Luz de Luma, yes party!”, subordinado ao primeiro tema “Encantamento” – de um conjunto de quatro a enquadrar em “Amor os pedaços”. Imagem de Luma Rosa.

quarta-feira, 14 de março de 2012

DOWNTON ABBEY

Séries que retratam a sociedade inglesa do início do século passado já provaram ser fórmula que funciona em televisão: "A Família Forsyte", em 1967, ou "A Família Bellamy", entre 1971 e 1975, com continuação em 2010 (que não sei se passou por cá), tiveram um enorme sucesso na época!

Há poucas semanas a SIC estreou uma nova série do género. Enfim, estreou é como quem diz, que a primeira parte da série já passou num canal cabo, não sei qual, daí que me tenham alertado para a sua nova exibição e para a grande qualidade da série da ITV, tão ao meu gosto! "Downton Abbey", à semelhança das suas antecessoras, conta-nos a história por dois prismas - dos nobres que residem na grandiosa mansão e da criadagem que a serve e que conhece os seus segredos mais íntimos. E onde, inevitavelmente, despontam paixões e conflitos, amores e intrigas e uma sucessão de acontecimentos que nos prendem agarrados ao ecrã.

Por motivos que se prendem com o direito sucessório inglês da altura, lord Crawley tem de deixar a sua imensa propriedade a um herdeiro masculino, mas ele só tem três filhas. Quando o seu herdeiro morre no naufrágio do Titanic, ele descobre que na linha da sucessão segue-se Mattthew Crawley, um jovem primo afastado, que é advogado em Manchester. A condessa, mãe do lord, a sua mulher e a filha mais velha desaprovam totalmente os termos do testamento e tentam encontrar um advogado que tome conta do caso, o que todos recusam. Por sua vez, dado o grande apreço que tem pela propriedade que salvou da ruína, o próprio lord aceita sem grandes rebuços os termos testamentais, convidando o seu sucessor a mudar-se para a região e ficar mais a par da sua gestão, o que este aceita. As mulheres da família vêm a chegada deste e da sua mãe com alguma má vontade, mas têm também a grande esperança que o primo se case com uma das donzelas. Quer dizer, todas menos Mary, a filha mais velha, que em princípio seria a eleita por ser a mais lesada com o testamento... e, aparentemente, também a preferida do causídico.

Entretanto na cozinha e nos aposentos da criadagem também se adivinham algumas intrigas amorosas entre os serviçais, uns calados por timidez ou complexos, outros que nitidamente estão a bater na porta errada e ainda outros que apenas se entretêm com mexericos. Ainda só vai no terceiro episódio - suponho que são 18 já exibidos na televisão britânica e uma terceira temporada ainda em filmagens - mas certo é que a série promete. Muito! 

Vejam o trailer:


Maggie Smith, Elizabeth McGovern e Jim Carter são algumas das caras mais conhecidas do público português, mas os atores mais jovens também contribuem com o seu vibrante e insuspeito talento para abrilhantar um argumento já de si muito bom, de Julian Fellowes. Love it!

Imagem da net.

terça-feira, 13 de março de 2012

TOSSE DE CÃO

Tal como grande parte da população portuguesa ou até europeia tenho andado cheia de tosse. Não é gripe, que este ano consta que foi mais avassaladora, mas aquela tosse que começa não se sabe porquê, talvez com as  mudanças de temperatura que se fazem sentir subitamente - a malta ainda anda equipada à inverno, mas sai à rua e descobre que estão 21º, por exemplo - e claro, vai-se deixando andar. Alguém vai ao médico por causa de uma tosse, ainda por cima estando os serviços de urgência assoberbados de gente com doenças bastante mais graves, segundo se dá conta via TV? Enfim, há gente para tudo, que já vi uma ir às urgências hospitalares por ter um cravo na mão...

Mas pronto, vai-se chupando umas pastilhas e tomando um xarope, na esperança que a coisa passe! Acontece que às vezes não passa e até se vai agravando de dia para dia. Mas depois de uma noite em claro, por causa da tosse e das guinadas musculares que provoca, quase nos retirando a respiração, começa-se a ponderar consultar um médico. Ao fim da tarde, no Centro de Saúde, o coro tússico englobava gente de todas as idades, cores e suponho que religiões - tossezinha de cão, mas democrática, que toca a todos! Nem a médica destoava, fazendo falsete: "Teresa (cóf, cóf) Apelido".

Lembram-se da "Ida ao médico", de Raúl Solnado? "Então tussa!" e eu tossi! Auscultou-me mas não me disse que era tosse e sim uma infeção pulmonar, que não ia lá sem os antibióticos que receitou -  e que as dores corporais eram mera consequência...

Resumindo: espero ultrapassar rapidamente o estado de zombie e conseguir voltar aqui ao convívio habitual, interregno que só teve a vantagem de ver-todas-as-gravações-de-séries-televisivas-em-stand-by-há-bué e... sem pregar olho! E não, queixinhas do ai-qui-dô não são o meu tema favorito. Mas quem não passa por elas, de vez em quando?

Imagem da net.

domingo, 11 de março de 2012

MENTE MONUMENTALMENTE!

Sexta-feira foi noite de teatro! Ou melhor, de poetáculo. E o que é que é um poetáculo? Simão Rubim explica muito melhor, mas, para ficarem com uma ideia, encarem como sendo uma combinação de poesia com espetáculo. Com uma boa dose de improviso e de interatividade com o público.

Em palco, apenas Simão Rubim! O cenário? Minimalista: folhas de papel espalhadas pelo chão (supostamente de poemas); uma bancada coberta com uma espécie de colcha ao centro; um manequim num canto; dois leitoris de pé e mais nada. Aparentemente, porque por detrás da bancada ou escondidos nas dobras do pano o ator saca uns pequenos objetos, de vez em quando.

Naquela noite, o público ocupa apenas as três primeiras filas do auditório Carlos Paredes. O ator acaba por interagir com todos! Assim que pede para aumentarem as luzes da sala "para nos ver melhor" (tipo lobo mau!), a malta prega os olhos na alcatifa cinzenta da sala ou arranja um súbito interesse naquela "mosquinha" que paira por ali, sem coragem de o fitar. As piadas aos outros motivam gargalhadas, mas todos receiam ficar na berlinda...

Duas horas depois acaba o poetáculo e todos temos um enorme sorriso estampado na cara! Só um grande ator (sem C, eheheh!) consegue uma façanha destas: DIVERTIDÍSSIMO!!!

O bilhete custou 10 euros e podem obter mais informações aqui. Gracias também a quem me desafiou para assistir à peça!

Imagem da net.

sexta-feira, 9 de março de 2012

RAZÕES...

Há dias assim, em que realmente se perde a razão! Raramente a violência é forma adequada de responder à questão. Rima e é verdade..

BOM FIM DE SEMANA!
 
Imagem da net. De Quino, está claro!

quinta-feira, 8 de março de 2012

HOJE, HÁ BOLO!

Sirvam-se à vontade das fatias que desejarem, laranjas, azuis, amarelas, às risquinhas ou às bolinhas, ou das decorações cor-de-rosa. E se preferirem outras cores, também se arranja por aí um pulverizador mais condizente, que é como estes mestres doceiros dão cor às suas obras artísticas. Garanto, porque já vi num concurso televisivo! OK, bem sei que o bolo é um bocado espampanante e aparentemente meio torto (não experimentem em casa, porque é capaz de não resultar, eheheh!), mas tem a grande vantagem de ser virtual e de não contribuir para engordar ninguém...

19359 dias vividos como mulher portuguesa, não é data a comemorar? Pois, talvez achem que não, mas eu não penso assim. Que venha o 19360 e todos os que se seguirem, que serão bem-vindos! Uns em festa e outros nem tanto, que alegrias e tristezas também fazem a soma dos dias.

Para todas as minhas amigas mulheres, pessoais ou virtuais, e porque o dia é de todas nós (e precisávamos, se o mundo fosse justo?), deixo uma música que espero que gostem:


Um BOM DIA (e noite!) para todos, independentemente dos cromossomas à nascença!

Imagem da net.

quarta-feira, 7 de março de 2012

A GRANDE AVENTURA

1 - Maria Armanda Falcão (ou Vera Lagoa, pseudónimo que adotou posteriormente)
Esta senhora foi a primeira a "dar a cara", logo nos primórdios da aventura. Na foto uns 20 anos depois, pois parece não existir registo fotográfico do momento histórico para o país.

2 - Artur Agostinho
Este senhor também foi dos primeiros, demonstrando grande polivalência nas suas funções.

3 - Gomes Ferreira
Muitos outros se seguiram, mas imagens restam poucas, talvez devido à vontade revolucionária, pós-25 de Abril, de passar uma esponja no passado, fazendo desaparecer "personas non gratas" dos arquivos, tidas como apoiantes do fascismo. Infelizmente para esses revolucionários "de meia tigela", a memória coletiva não se apaga com essa facilidade...

4 - Manuela Paulino e Isabel Wolmar
Imagino que a maior parte das fotografias foram retiradas de antigas publicações da época, não é muito garantida a sua data. E o que têm a dizer sobre os modelos envergados por estas vamps, ahn? Outros tempos, está claro!

5 - Anthímio de Azevedo
Se bem que quase todos tivessem tido problemas no período revolucionário, este senhor não se prestou a controvérsias e manteve o seu cargo, durante muitos anos. Como ele outros, principalmente os que exigiam conhecimentos técnicos. Hummm... porque terá sido? Por não poderem ser substituídos facilmente?

6 - Maria Helena Fialho Gouveia e Henrique Mendes
(apresentadores no primeiro Festival da Canção da RTP, em 1964)
O primeiro de muitos que se seguiriam nos anos vindouros, sendo, na época, um dos maiores acontecimentos nacionais. Agora, passa praticamente despercebido...

7 - Carlos Cruz, Raul Solnado e Fialho Gouveia, no célebre Zip-Zip, em 1969
Esta "rapaziada" trouxe-nos momentos marcantes, que auguravam alguma esperança para o país. Verificou-se infundada, que ainda decorreriam alguns anos até à revolução dos cravos, única solução para mudar um regime moralista e caquético.

Trata-se de um desafio, como já devem ter adivinhado. E as perguntas são:
1ª Porquê (re)lembrar estes tempos hoje? Como todos adivinharam, comemorou-se o 55º aniversário da RTP, que passou a ter emissões regulares a partir do dia 7 de março de 1957.
2ª Quem são ou foram estas personagens, que deram os primeiros passos em profissões que ainda não existiam em Portugal?

ADENDA a 8 de março de 2012: tudo o que está escrito a azul; obrigada a todos pela participação - mais uma vez ficou provado que há memórias que não se apagam...

Imagens (possíveis) da net e do facebook.

terça-feira, 6 de março de 2012

O RAPAZ DO PIJAMA ÀS RISCAS

Há uma série de filmes que perdi no cinema quando foram exibidos e que, quem me conhece, me aconselhou vivamente a visionar. Este era apenas mais um da lista. Que nem sequer é muito  longa, mas não dá para os comprar todos em DVD, obviamente. Ainda mais quando se adivinha que de hoje para amanhã serão inventadas outras tecnologias, que tornarão os DVD obsoletos. Enfim, este emprestaram-me.

Realizado por Mark Herman, em 2008, e baseado no livro de John Boyne, o filme não me surpreendeu, porque já conhecia vagamente a história (se bem que não o desfecho): Bruno (Asa Butterfield) é um rapaz de 8 anos que vive com os pais e a irmã em Berlim, durante a II Guerra Mundial, mas o seu pai, um oficial alemão (David Thewlis), é promovido e a família tem de se mudar para uma zona rural. O miúdo sente-se muito só e não tem ninguém com quem brincar - as aulas são dadas por um professor particular, mais interessado em enaltecer a propaganda nazi do que em ensinar as matérias básicas. Gretel (Amber Beattie) absorve essas "lições" com fervor, mas ele, que ambiciona ser explorador, não está particularmente interessado. Apesar dos avisos da mãe (Vera Farmiga) para não sair do quintal defronte da casa, a sua curiosidade e solidão levam-o a entrar no terreno proibido das traseiras e a alcançar os limites daquela estranha "quinta" em que miúdos e graúdos vestem todos pijamas às riscas. A amizade com Shmuel (Jack Scanlon) surge inesperada e ingenuamente, pois ambos os rapazes não percebem o que aconteceu no mundo que os rodeia. Mundos esses divididos pelo arame farpado e eletrificado da vedação, onde nem sequer lhes é permitido jogarem à bola juntos, como crianças que são...

Para quem não viu, deixo o trailer aqui:


Gostei muito do filme, que está classificado na IMDB com 7.8/10. Além de que é sempre salutar não esquecer as atrocidades cometidas em nome de ideologias radicais!

Imagem da net.

segunda-feira, 5 de março de 2012

DOMINGO À TARDE

Final da tarde de domingo, em Lisboa. A exposição está prestes a encerrar o expediente, de modo que guardamos para outro dia: é no que dão as noitadas ao sábado - num levantar e almoço tardio, num ripanço domingueiro, na incerteza do passeio a dar. Mas valeu a pena, que a festa foi divertida!

Vou tirando uma fotografia aqui e ali, sem pressas, apenas à medida que as imagens envolventes captam a minha atenção. O sol tímido e amarelecido deixa-se fotografar na linha do horizonte, por entre as árvores nuas... 

Sentamo-nos numa esplanada resguardada, para um lanchinho. À minha frente está um homem com dois cães, um ao colo e outro deitado pachorrentamente no chão. Conversa em inglês com outros quatro conterrâneos, na mesa ao lado. Segundo ele, toda a gente em Portugal conhece a raça do grande cachorro que tem ao colo e que adquiriu na véspera. Olho, duvidosa! O meu marido senta-se à mesa, trazendo na mão a revista que foi buscar ao carro. Deixo de ver o homem e o cão, mas ele, para demonstrar a veracidade da sua afirmação, pergunta à jovem empregada se sabe qual é a raça do animal. Ela diz que não e eu sorrio para dentro. 

A mesma empregada fornece-nos a lista. Comentamos os preços quase escabrosos e que é local a que não podemos ir muitas vezes. Ali, a paisagem também se paga:

Entretanto, a companheira do homem dos cães senta-se frente a ele. Uma das raparigas da outra mesa já tem o seu colo completamente ocupado pelo bicho de pelo loiro escuro, enquanto a outra se inclina para afagar o cão preto deitado no chão, que se derrete para ela, de barriga para cima e patas no ar.

Comentamos a docilidade dos cães. E depois a revista, que folheio e leio alto em pequenos trechos...


Viajamos pelo mundo, conhecido e desconhecido, dos destinos vividos e sonhados. Ali, à beira do rio Tejo. A vida é assim!

ps - o cão "que todos os portugueses sabem a raça" pareceu-me um serra da estrela; o preto não sei, mas lá que era meiguinho, era...