quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

TEIA DE CINZAS

A última sessão do Clube de Leitura não teve um grande quórum, dados outros compromissos das participantes habituais, mas em contrapartida teve unanimidade: todas gostámos deste "Teia de Cinzas", de Camilla Lackberg.

Um pescador encontra o corpo de uma menina no mar, supostamente afogada, e Patrick e a sua equipa são chamados a investigar o caso. Os pais da criança - que têm outro filho mais novo - vivem com a avó materna e o marido desta, que se encontra enfermo de cama. A família parece igual a tantas outras, mas uma antiga disputa de vizinhança, que está longe de acabar, faz a polícia suspeitar de uma vingança. Até porque após a autópsia se descobre que a menina de 10 anos morreu realmente afogada, mas em água doce.

Ao longo dos vários capítulos, e como vem sendo seu costume, Camilla narra uma outra história paralela, que só lá mais para diante descobrimos como se relaciona com o enredo principal. O final é inesperado, como (quase) sempre...

Citações:

"Hoje em dia parece que qualquer miúdo que não se sabe comportar é desculpado com uma maldita variante qualquer de DAMP. No meu tempo, esse tipo de comportamento fazia-nos ganhar um par de reguadas. Mas agora os miúdos têm de ser medicados e confortados por psicólogos e mimados. Não admira que a sociedade esteja a ir pelo cano abaixo."

"Em vez de inventarem idiotices, as pessoas podiam ouvir o que ele tinha para dizer e aprender com ele. Afinal, aquilo vinha tudo na Bíblia."

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AS PEDRINHAS DA CALÇADA...

Quase todas as semanas o facebook nos brinda com uma nova polémica. Ou duas ou três. Por vezes fica-nos a dúvida se essas polémicas não são orquestradas de modo a fazer-nos esquecer problemas mais importantes. Mas certo é que as posições se radicalizam, as discussões generalizam-se e de repente todos parecem verdadeiros peritos na matéria, mesmo que na véspera nem sonhassem sobre a existência do assunto.

Esta sobre a decisão unânime da CML em substituir progressivamente a calçada portuguesa - mantendo e preservando a denominada artística, nas zonas históricas da cidade - por outro tipo de pavimento, tem a sua piada. A começar pela própria unanimidade, tão rara de obter com os vários partidos. 

Óbvio que o rendilhado do calcário branco e negro é muitíssimo apreciado pela sua beleza, está igualmente presente noutras cidades e/ou países lusófonos. Mas Lisboa tem 7 colinas, logo o piso está longe de ser plano. E os acidentes com pessoas a cair devido aos declives acentuados, às características da pedra escorregadia em dias de chuva ou humidade e/ou ao mau estado do pavimento sucedem-se a um ritmo alucinante.

E a pergunta que se impõe é a seguinte: o que é mais importante para qualquer cidade - um pavimento que todos admiram a beleza ou as condições de mobilidade e de acessibilidade (e não estou a falar só de deficientes ou de velhinhos com dificuldades de locomoção, já que acidentes de "percurso" têm acontecido com todas as faixas etárias) da população que aí reside, trabalha ou visita? E já agora, a beleza não se perde quando o estado do pavimento é este ou similar?

(Ambas as fotos são minhas, mas foram captadas em meses e anos diferentes. portanto é provável que o pavimento da segunda já tenha sido reparado.)

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

PHILOMENA

Na Irlanda profundamente católica dos anos cinquenta, rapariga solteira que engravidasse era considerada uma pecadora. É o caso de Philomena que - orfã de mãe desde tenra idade e educada num convento - nunca teve ninguém que lhe explicasse como é que os bebés nascem e engravida. Aí é novamente recambiada para o convento para parir o filho, enquanto o próprio pai afirma que ela morreu. Depois de um parto difícil, ela é obrigada a trabalhar na lavandaria do convento durante quatro anos (juntamente com outras "pecadoras" da mesma laia), sendo-lhe apenas permitido ver o filho uma hora por dia. Mas um dia, quando o pequeno Anthony conta apenas 3 anos, a criança é levada para adoção e Philomena não volta a vê-la.

Durante cinquenta anos ela esconde de todos o seu segredo, mas num momento de melancolia acaba por contar à filha o sucedido.  Por seu turno, Martin Sixsmith (Steve Coogan), um jornalista político televisivo que acaba de perder o emprego, toma conhecimento da história e resolve investigá-la juntamente com a velha senhora. Para tanto voltam ao convento, mas, curiosamente, a freira que os atende não sabe dar nenhuma informação sobre o paradeiro inicial do rapazinho, devido a um "incêndio", embora desencante um papel assinado pela jovem Philomena afirmando dar o seu filho para adoção, "de livre e espontânea vontade". É no bar local que o jornalista ouve outra versão: as próprias freiras fizeram uma fogueira com todos os arquivos antigos, para não se vir a descobrir que elas vendiam as crianças a gente endinheirada, maioritariamente a americanos. Acontece que os americanos não faziam segredo dessas adoções e o jornalista vale-se dos seus conhecimentos no meio para prosseguir a investigação...

Vejam o trailer:


Judi Dench maravilhosa como sempre no papel de Philomena é nomeada ao Oscar de melhor atriz e o filme de Stephen Frears é igualmente candidato às estatuetas douradas de melhor argumento adaptado e de melhor filme. Muito, muito bom, embora não ultrapasse a pontuação de 7.8/10 na IMDb.
 
Imagem de cena do filme da net.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A MISTERIOSA MULHER DA ÓPERA

"Um desafio. Sete autores. Catorze mãos. Sete personagens inesquecíveis. Uma única história.", resume a contracapa deste livro. Afonso Cruz, Alice Vieira, André Gago, Catarina Fonseca, David Machado, Isabel Stilwell e José Fanha são as mentes criativas que dão vida a personagens tão estranhas e pitorescas como Juvenal, um funcionário das Finanças que também é detetive nas horas vagas, Rogério, um playboy ricaço que gere à sua maneira um hotel algarvio, Kiki (também denominada Catarina a Grande, no passado) uma ex-modelo do jet set nacional, Sebastião (ou Roda, para as amigas) um ex-futuro-violinista que a certa altura perde o seu rumo, sua mãe, madame Nicolai, uma mulher de muitos talentos, Ninette, a rapariga apaixonada por Sebastião e que se torna violinista em vez dele e um tal de dr. Bobrov, um auto-intitulado psiquiatra de origens (e qualificações) muito duvidosas.

Difícil é caracterizar este enredo - diria que é assim uma espécie-de-romance-policial-crivado-de-humor - tão cheio de voltas, reviravoltas e cambalhotas, que às tantas estamos perdidos entre as avenidas de Paris e a rua Heróis do Quionga, ou entre o Teatro Nacional São Carlos e o Cais de Xabregas. E pior, nem sabemos como lá chegámos: se a nado, se de bote, iate ou cacilheiro!

E tentar adivinhar quem escreveu o quê e a que personagem dá "voz"? Isso imagino ser ainda mais difícil, mesmo para os fãs de alguns destes escritores. Certo é que resulta numa leitura alegre e bem divertida, prova cabal que em algumas mãos há teclados a fazer milagres...

CITAÇÕES:

"Avisei-o: cuidado, olha que, ao fim de meia dúzia de anos a trabalhar nas Finanças, qualquer um fica com um refluxo esofágico que dá para lhe envinagrar a vida até ao Inferno."

"O Hotel Mar do Sul tinha tudo para dar  certo. [...] O dono tinha recuperado uma casa de família que estava a cair de podre numa duna e conseguira autorização e subsídios suficientes para criar um dos primeiros hotéis «eco» da zona.
Por «eco» entendia-se basicamente que os chuveiros nem sempre tinham água, que alguns pratos podiam ter uma ou outra racha e que os telemovéis não apanhavam rede em lado nenhum, mas era um bom exemplo de virar as desvantagens a nosso favor."

"Por mim, acho que a realidade não pode ver nada. É uma invejosa. Vê uma boa história e plagia. Se há uma fantasia qualquer que ela gosta, reproduz."

"Dantes, uma dor de cabeça curava-se com aspirina. Mas o Bobrov diz que isso é cura de pobre, mas que para qualquer descendente (ainda que por afinidade) dos Nicolai, com trema no i, que deram não sei quantos marechais à França, a cura consegue-se com outro requinte: um panamá enterrado na cabeça e uma hipnose em cima de nós. Deve ser coisa que ele leu nos vinte e dois volumes de Freud que anda a traduzir desde que o conheço."

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A MINHA ORQUÍDEA...

Nos últimos meses têm-me oferecido muitas lembranças: livros, CDs, imãs para o frigorífico, marcadores de livros, até uma caixinha com batons para os lábios com sabores. Mas uma das primeiras foi mesmo um vaso com orquídeas em botão. Por essa época estava um bocado fracota, cuidei que alguém se lembrasse de tirar o slofan envolvente e regasse a planta. Tal não aconteceu e assim uns tempos depois fui dar com a planta na mesa da cozinha, mas tal e qual me tinha chegado às mãos - nem água, nem laço ou slofan tirado. 

Tinha um papelinho com os cuidados necessários para cuidar da dita, mas nem mesmo seguindo todos os passos consegui evitar que todos os botões caíssem. Verdade seja dita, dizia que devia ser regada de 5/7 em 5/7 dias, coisa que a minha empregada declarou ser demasiada água, já que também tinha orquídeas destas e só as regava de 15 em 15 dias. Mas lá ficou a pobre coitada toda depenada, à espera de melhores dias...

Até que um dia destes uns tímidos botões começaram a surgir e, este fim de semana, a primeira orquídea deu o ar da sua graça. Calhou bem, que o fim de semana foi uma desilusão pegada - nem jantar caseiro do Dia dos Namorados, o Clube de Leitura foi adiado para outra data, nem cinema, nem uma voltinha - e a nova orquídea foi uma fonte de animação. Como quem diz, amanhã é outro dia.

Carpe Diem!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

SIM... PARA QUÊ?

Ai, ai, uns com tanta inspiração, outros com tão pouca... Mas quando isso acontece, o recurso à Mafaldinha garante pelo menos um sorrisinho!

Imagem do facebook, segundo a banda desenhada de Quino.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ISTO É INSPIRAÇÃO!

Nunca fui grande apreciadora de publicidade, que normalmente é aquele espaço de tempo que uso para 'zip-zap' ou sair momentaneamente da frente do televisor, quando estou a ver algum programa. Quando permaneço sentada no sofá, alguma mais fajuta ou irritante até me faz mudar de canal... à espera que passe. Igualmente não entendo como neste "vale tudo" televisivo passam anúncios que prometem curas miraculosas para todas as doenças, para a calvície ou para as rugas - estas duas últimas têm soluções, não serão é aquelas apontadas como "milagrosas", geralmente à base de cremes caros. Adiante! 

Mas há sempre exceções, claro: algumas publicidades chamam-me a atenção pela positiva e fico com os olhos pregados nelas. Ontem o maridão precisou do meu PC e enquanto esperava a minha vez (que chegou tardiamente, mas também é certo que ele não andava a brincar ou a blogosferar) comecei a ver um programa intitulado "A minha vida dava um anúncio". Na SIC Radical, imaginem. Na verdade gostei do título e dei-lhe uma "abébia". Não me arrependi, pois contava uma história de vida de um criativo (account que é mais finório), que em 2005 desistiu da profissão e se tornou empresário (julgo que com outros sócios), refundando a Aldeia das Pedralvas, na costa vicentina. Que desconheço de todo, mas fiquei com vontade de conhecer... 

Entretanto, como imagino que o programa tem o intuito de relembrar ou mostrar a boa publicidade (e por boa entendo aquela que capta a atenção e dificilmente esquecemos,  mesmo com passar dos anos e de milhentos anúncios) lá iam intercalando alguns spots. E este deixou-me completamente encantada:


SORRIAM E TENHAM UM EXCELENTE FIM DE SEMANA!
(Tou xim? É para todos vós!) 

Imagem da net.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

AO ENCONTRO DE MR. BANKS

"Mary Poppins" foi o primeiro filme que me lembro de ir ver ao cinema. Em meados dos anos 60 filmes para crianças eram praticamente inexistentes e mesmo os desenhos animados eram escassos e já com "barbas" - não eram estreados vários por ano, como atualmente. Daí que o entusiasmo fosse grande, pois esse era um dia importante para uma rapariguinha de 6 anos. Suponho que a matiné, como então se designavam as sessões da tarde, teve lugar no Tivoli. Mas posso estar enganada, que o entusiasmo era com o filme, não com o local.

Assim, não é para admirar que tantos anos volvidos tenha igualmente desejado ver este "Saving Mr. Banks" - estas traduções estão cada vez mais patetas - que mais não é que a história de como Walt Disney convenceu a irritantemente teimosa e rabugenta escritora P.L. Travers a ceder os seus direitos de autor para fazer o filme. E provavelmente não teria convencido, se as finanças da escritora não estivessem nas lonas, mas tal facto não a coibiu de fazer inúmeras exigências. 

Mesmo descontando que este novo filme vem dos estúdios Disney e que provavelmente este é retratado de uma forma muito mais simpática do que a personagem original certamente seria (eu cá não sou de intrigas, mas há quem afirme que ele era um autêntico ditador), certo é que Travers também não era flor que se cheirasse, sem pitada de sentido de humor - ela própria fazia-se passar por 'very british', mas na verdade era australiana de nascimento, só tendo emigrado para Londres aos 24 anos. 

Embora baseando-se em factos verídicos, o argumento possivelmente foi um pouco aligeirado, pelo que consta que deixou bem claro no seu testamento que mais nenhum livro escrito por ela podia ser adaptado ao cinema por Disney e pela sua equipa. Mas o filme não deixa de ser divertido, sendo que protagonistas como Tom Hanks e Emma Thompson são sempre uma mais valia... Look at the trailer:


Curiosamente, este filme obtem a pontuação de 7.8/10 na IMDb e também só é candidato ao Oscar de Melhor Banda Sonora. Ou seja, ainda me faltam ver muitos dos filmes nomeados às principais estatuetas... Mas o que é que isso interessa, se pelo menos este filme dispõe bem?

(Tenho a certeza que a minha mãe também vai gostar de o ver, mas hoje não pode ir ao cinema, pois vai estar muito ocupada a festejar os seus 80 anos. Parabéns, mummy!)

Imagem da net.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

RECANTOS E ENCANTOS

Afinal, onde é que nós estamos? Colocamos a mão em pala sobre os olhos, tentando distinguir o formato dos edifícios mais longínquos, mas o Sol  de frente, ainda que semi-encoberto e esbranquiçado pelas nuvens, dificulta a identificação - nem com os painéis lá chegamos.

O miradouro é o da Senhora do Monte, que é relembrada num nicho em frente a uma pequena capela.

Esta parece abandonada ou, pelo menos, mal cuidada: por lá os sinos já não tocam.


Porém, a vista é avassaladora, abrangendo quase toda a cidade, da baixa lisboeta passando pelas colinas que a rodeiam, ao Tejo e às zonas oeste e norte. 

A Igreja da Graça fica relativamente perto, usufruindo do seu próprio miradouro, onde em dias mais amenos alfacinhas e turistas podem abancar numa bela esplanada. Se encontrarem lugar, já que a vista privilegiada funciona como chamariz de multidões... 

O Castelo de São Jorge também é visível no horizonte, embora envolto na neblina que paira no ar e abraça o Tejo. Mas não, ainda não foi desta que apareceu o D. Sebastião, que aliás não faz cá falta nenhuma! 

A bica que em tempos idos matava a sede dos cidadãos que por ali moravam está seca, sem uma gota de água. Contudo, a sua presença não deixa de relembrar esses tempos...

As vielas estreitas, os muros sujos e espichados, as ervas que nascem entre as pedras do macadame, os corrimões de tinta descascada que acompanham a escadaria sugerem que o local já foi mais frequentado.

Perigoso e com direito a aviso e tudo, há este cão. Mas também devia ter ido passear, pois com tanta gente por perto não se ouviu nem um latido para amostra.

Os telhados que tanto inspiraram Maluda, a diversidade de candeeiros (ainda acesos da véspera), o arvoredo, folhagens e raízes tudo faz parte do encanto que emana do miradouro.

E, no bordo da amurada, alguém inscreveu a frase com que todos os amantes da cidade se questionam: "Que amor é este que me faz ir e voltar, Lisboa?"