quarta-feira, 31 de março de 2010

OS HOMENS QUE ODEIAM AS MULHERES

"O que mais lhe doía era a humilhação. Tivera todos os trunfos na mão e perdera para um semigangster com um fato Armani. Um miserável especulador da Bolsa. Um yuppie com um advogado famoso que passara o julgamento inteiro a rir-se dele." Assim se sente Mikael Blomkvist, jornalista económico da revista "Millennium", que após denunciar nos seus artigos as actividades pouco transparentes do empresário Wennerström, se vê envolvido num processo judicial que o condena a três meses de prisão, por difamação.

Enquanto se afasta da revista e espera cumprir a sentença, Blomkvist recebe um convite do antigo industrial Henrik Vanger para escrever a história da família e, simultaneamente, descobrir o que aconteceu à sua sobrinha-neta Harriet, desaparecida em 1966. O jornalista não parece disposto a aceitar a missão - bem remunerada, mas fora das suas competências - mas Vanger promete dar-lhe provas de alguns crimes perpetrados pelo empresário que o descredibilizou no meio jornalístico.

Paralelamente, Lisbeth Salander, uma jovem investigadora muito invulgar (não só pelas múltiplas tatuagens e piercings que ostenta no corpo franzino), elabora um relatório sobre o jornalista, que este acaba por ler mais tarde, admirando-se com a sua capacidade e precisão. Assim, não tem dúvidas em contratar a rapariga para o auxiliar na investigação...

Stieg Larsson já era um conceituado jornalista sueco conhecido como activista dos direitos humanos, quando resolveu escrever a série policial 'Millennium', inicialmente idealizada para dez volumes. Infelizmente, morreu pouco depois de entregar os primeiros três, aos 50 anos de idade! (consta que o ataque cardíaco se deveu ao esforço de subir a escadaria do prédio da editora, que tinha o elevador avariado, mas versões há muitas...) Contudo, não foi essa circunstância fatídica que deu origem ao enorme sucesso mundial da trilogia: é ler para crer!

Absolutamente FANTÁSTICO e ARREBATADOR, ao longo de 539 páginas ALUCINANTES!!!

CITAÇÃO:

"No mundo do jornalismo económico, porém, o normal mandato jornalístico que obriga a levar a cabo uma investigação crítica e informar objectivamente os leitores das suas descobertas parece não se aplicar. Em vez disso, celebra-se o vigarista que teve mais êxito."

segunda-feira, 29 de março de 2010

AO SOL...

Em tempos contaram-me uma história - lida num livro (seria de Bill Bryson?) - em que duas cidades próximas, apenas separadas por um vale, tinham iluminações completamente distintas: enquanto uma recebia luz do sol praticamente durante todo o dia, à outra mal chegava uma nesga. O que influenciava positivamente a população da cidade soalheira e negativamente a restante! Uma vez que se situavam em frente uma à outra, alguém teve a ideia de colocar uns enormes espelhos no lado da cidade iluminada, que se reflectiam na fronteira e, com isso, a disposição dos seus habitantes melhorou bastante. Enfim, muito resumidamente!

Ontem lembrei-me desse relato, ao dar um passeio por Lisboa. Não havia um cantinho com sol onde não houvesse gente a espojar-se como lagartos (dos verdadeiros, nada de chistes clubísticos)! Nos bancos de jardim, nas esplanadas, nos degraus das Igrejas, na relva, tudo servia! Aliás, fiquei na dúvida se não teria sido convocada uma manif para a Alameda...

Canteiros já floridos...

... exposições de artistas de rua...

... e os sinos das Igrejas, a chamar os crentes para as rezas e cultos (pois, em pleno Domingo de Ramos), contribuíram certamente para este entusiasmo colectivo. Mas a mim (a nós!) foi o solzinho que convenceu!

(já agora, alguém adivinha em que zona da cidade foram tiradas estas fotografias?)

ADENDA a 31/03/2010 - As fotografias foram tiradas no Largo da Graça, junto à Igreja e ao miradouro, também recentemente denominado de Sophia de Mello Breyner Andressen.


sexta-feira, 26 de março de 2010

QUAL É O TEU PERFIL NO FB?

Fotografia de Ian Britton

Miguel Sousa Tavares escreveu recentemente numa crónica que o Facebook "não passa de uma agência de engates onde uma multidão de solitários e mal resolvidos se põe a jeito", ou assim rezava um mail que me enviaram (nunca fiando!). Seja ou não frase da sua autoria, a conclusão é precipitada. Para não dizer estúpida!

É compreensível que muita gente não aprecie redes sociais - está no seu direito - mas porque há-de criticar os que lá se passeiam nos seus momentos de lazer (ou não, que aí já a conversa é outra)? O que andam lá a fazer?! Aí a resposta é um bocadinho longa, mas pode ser lida aqui, num artigo que Catarina Fonseca escreveu para a revista Activa on-line. No mínimo, hilariante! Mas sem dúvida um excelente "retrato"...

Com ou sem FB, aproveitem o fim-de-semana

e

DIVIRTAM-SE!!!

(ps - os aderentes do FB podem acrescentar em que 'grupos' se incluem... eheheh!)

quinta-feira, 25 de março de 2010

UMA LUZ NO HORIZONTE

Fotografia de Ian Britton

Sentia-se velho e cansado. O triplo espelho da cómoda do quarto devolvia-lhe uma imagem que já mal reconhecia, enquanto vestia o pijama para se deitar. Os gestos eram lentos, o passo miúdo. Só a pele mantinha a mesma tonalidade bronzeada, fruto de uma vida passada à beira-mar, o cabelo embranquecera, as costas curvaram, as rugas sulcavam a sua face. Fechou as portadas de madeira da janela, não sem antes relancear a vista pelo velho farol lá longe. Agora era tudo automático. A sua antiga profissão praticamente desaparecera, meia dúzia de homens, computadores e máquinas desempenhavam o trabalho, à distância.

Abriu a cama e estendeu-se, com um ranger que já não sabia se era dos seus ossos ou das velhas traves de madeira. Provavelmente, de ambos! Sentia frio e puxou os cobertores até ao queixo. Na mesa de cabeceira a fotografia da mulher sorria-lhe, timidamente, com aquele sorriso que permanecera no seus lábios até ao dia da sua morte. Tantos anos passados e ainda estranhava a sua falta... O relógio da sala badalou duas vezes.

Nessa noite a sensação de inquietação não o largava. O filho telefonara e as novidades não eram boas. Nada de saúde, felizmente, mas a nora acabara de perder o emprego. Agora como é que iam conseguir pagar o empréstimo bancário do apartamento onde viviam? Ou a escola privada da neta mais nova, que diziam ter um problema de aprendizagem? ("como é que lhe chamavam?" hiper-não-sei-o-quê, coisa parecida ao bicho-de-carpinteiro, que diziam também ter no corpo na sua infância!) O filho, optimista apesar de tudo, não o quisera apoquentar, derivara a conversa para o neto, que se estava a sair bem no liceu, "com melhores notas que as minhas", rira. Mas o nervoso era latente e preocupava-o. Como poderia ajudar? A sua pensão chegava para os seus pequenos gastos, mas pouco sobrava. Além de que ouvira por aí que o governo se preparava para cortar nos subsídios de desemprego, o que atingiria certamente ainda mais os rendimentos da família do filho. Tinha algum dinheiro de lado, para uma emergência, mas ponderou que a módica quantia não adiantava muito na resolução do problema. Fazia contas e mais contas de cabeça, mas a equação parecia-lhe impossível...

Três badaladas! Um misto de tristeza e zanga assolavam-no, impotente perante a realidade. Já não conseguia vislumbrar o sorriso de Rosa, que vivera com ele de cravo vermelho em punho aqueles dias distantes da revolução. Cerrou os olhos e, num gesto mecânico, a mão direita alcançou o botão do candeeiro e fechou a luz!

quarta-feira, 24 de março de 2010

MALETA RECHEADA


Quem nunca viu um daqueles filmes americanos, em que o busílis da questão é uma mala cheia de dinheiro, em que todos se matam e esfolam para ficar com ela?

Pois, aqui o filme foi mais ou menos ao contrário! A dita veio parar cá a casa, por obra e graça da responsabilidade do rapaz lá na Associação de Estudantes da escola, contendo a dinheirama toda dos alunos que vão à viagem de finalistas. Bem sei que Lisboa ainda não é o faroeste, mas se não escondo dinheiro debaixo do colchão, para que é que preciso de guardar o alheio? Cofre-forte não mora aqui!

Começou por um dia o filhote me chamar para o ir buscar, por ter 2000 euros no bolso. Disse-lhe que tinha de resolver o assunto de outra maneira. Ele concordou. Ou assim me calou...

Mais recentemente percebi a existência de uma maleta atafulhada de notas (de 5, 10 e 20 euros, salvo raras excepções de 50, todas 'à la baldex'), que supostamente iam entregar ao banco., no dia seguinte Atrapalharam-se com as contas que não davam certo, depois nem percebi porque é que o banco não lhes aceitava o dinheiro (por causa de horário?), mas andaram de trás para a frente com a massa, que um funcionário fez o especial favor de contabilizar: 23.000 euros! Ainda os vi abrir a mala no meio da rua, para colocar uns recibos lá dentro. Confesso: tanta tolice estava a inquietar-me! Mas, finalmente, lá conseguiram pôr tudo na conta de um colega com mais de 18 anos, que ainda não fugiu para parte incerta...

Contudo, alegra-me o facto de eles confiarem tanto uns nos outros. Têm tempo para começarem a desconfiar, como a maioria de nós!


Imagem da net.

segunda-feira, 22 de março de 2010

UM HOMEM SINGULAR

Colin Firth protagoniza o papel de George Falconer - um professor de literatura homossexual, do início dos anos 60 - brilhantemente! Se o filme realizado por Tom Ford, "A Single Man" (no título original) , não valesse por mais nada, só a interpretação do actor bastaria.

O vazio em que a vida de Falconer se tornou, após a morte acidental do seu companheiro dos últimos 16 anos, leva a que pense seriamente no suicídio. Incrivelmente solitário e meticuloso, prepara o desfecho até ao ínfimo pormenor, sem se dar conta que a realidade nem sempre decorre conforme a imaginamos...

Longe de ser um filme de gays (na época retratada essas "tendências" escondiam-se a todo o custo), o que mais comove é a sensação de perda e solidão, também delineada nas figuras que Julianne Moore, Nicholas Hoult e Mathew Goode representam. A homossexualidade é mero pormenor, se bem que contribua para um maior isolamento das personagens.

MUITO BOM! (pelo menos para quem não receia "escarafunchar" esses péssimos momentos de uma vivência pessoal assustadora...)


Fotografia de cena do filme da net.

domingo, 21 de março de 2010

QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU?

O relato já ia longo e "politicamente correcto", mas... muito chato! E o ponto fulcral é este: há gente que se empenha e trabalha activamente em prol de uma causa, sem qualquer intuito lucrativo, presente ou futuro! "Ah e tal, isso só meia dúzia de carolas!", pensam os mais cépticos. Nada disso! Uma equipa constituída por 80 pessoas, de diferentes faixas etárias, desenvolveu prosas, poesias e diversas artes gráficas, que deram origem à ecozine "Celacanto" nº 2, cujo tema versa o lobo e a sua preservação. A exposição de alguns desses trabalhos está patente no Museu Nacional de História Natural até dia 11 de Abril.

Referi que não havia intuito lucrativo por parte dos participantes, mas não é inteiramente verdade: todos lucramos com o apoio a espécies ameaçadas de extinção, bem como com a manutenção da biodiversidade do nosso planeta!

Não sentem que a Primavera está no ar?

sexta-feira, 19 de março de 2010

JANELAS (IN)DISCRETAS!

Garanto que quando iniciei esta aventura blogosférica não tinha a menor intenção de conhecer ninguém pessoalmente. Céptica sobre se cada um correspondia a tudo o que afirmava ser. Na verdade, ainda alimento algumas dúvidas em relação a uns quantos, normalmente daqueles que mais puxam dos galões: se são tão bem sucedidos familiar, profissional, cultural e monetariamente, para quê andar sempre a agitar essa bandeira?! Adiante!

Claro que a intenção não passou disso, primeiro por uma brincadeira de receber um prémio de uma imperial e um pires de tremoços (do Nelson), depois para um lanchinho com o visitante 10 mil (o Fausto, antes de ter mudado para o sitemeter), um cafezinho no Algarve com a minha grafonola preferida (aka, Vani), a exposição de pintura da Safira, um jantar também com ela, o Rafeiro Perfumado, a Gata Verde, o Vício e a Cleo, onde o maridão, não ligado a estas lides, comentou: "São todos tão novinhos!" Esqueci-me de o avisar...

Uns meses mais tarde (re)conheci a Inês na apresentação de um livro (nunca a tinha visto!) de que já falei aqui, o Paulo e a Ana na exposição de pintura dela, e, logo no dia a seguir, a Escarlate.due, a Maria Inês, o Predatado, a Carvoeirita, a Leonor, a Diabba e mais uns quantos bloguistas que nem sabia que existiam, quando o Rafeiro publicou "Are You Ladrating to Me?!?". Numa viagem a Caminha, ainda tive a oportunidade de me sentar na mesma mesa de café da Sun Iou Miou e do Condado, num dia em que a cabra lá do monte só exibiu tons de cinzento (ainda vou colocar essa fotografia aqui!). Já perto do Natal fui convidada para um almoço pelo Kim, onde o conheci juntamente com a Laurinha, o Osvaldo, o Moa, a Dad, a Bicho de Conta e o Zé do Cão, mas era tanta gente que perdi o nome ou o nick de alguns.

Ontem também foi dia de encontrar a Tons de Azul - ainda estou para ver se as fotografias sairam minimamente boas, que computador partilhado é assim, sobre o evento escreverei depois - amanhã conto ir à apresentação do livro da Teresa Durães, "Navia", pelas 17 horas na livraria do cinema King, em Lisboa.

Resumindo: bem sei, é muita incoerência para uma mulher só, mas facto é que ainda não me desiludi com ninguém que tenha passado do virtual para o pessoal... Será que as pessoas são mesmo aquilo que escrevem?! (mas não, também não tenho a ilusão de as conhecer profundamente, após estes breves encontros...)

BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS!!!
(amigos virtuais, ou nem tanto assim...)

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PARABÉNS, Maria Inês! Hoje e sempre, que venham muitos dias felizes pela frente...

quarta-feira, 17 de março de 2010

PARÁBOLA DO CÁGADO VELHO

Recentemente enviaram-me por mail a (longa) palestra da jovem escritora nigeriana Chimamanda Adichie, em Oxford, que descrevia de uma forma algo caricata o que denominou de "o perigo da história única": por ser negra e africana, a maioria das pessoas que encontrou quando estudou nos EUA encaravam-na como uma desprovida da sorte, com um passado recheado de guerras e miséria. Um dos seus professores chegou a afirmar que os seu romance não era autenticamente africano, pois as personagens pareciam-se demasiado com ele próprio - um homem culto, da classe média - que andavam de carro e nem estavam famintas. Como se no enorme continente africano houvesse apenas uma única realidade...

O professor de Chimamanda não teria ficado desiludido com a "Parábola do Cágado Velho" de Pepetela, esse sim, um romance tipicamente africano, onde poderia identificar um "mundo de fogo e de ódio", em que "as palavras eram balas disparadas ao futuro de cada um".

Ulume é um aldeão que viu as filhas morrer e os filhos partir para a guerra, mas permanece junto a Muari que se recusa a abandonar a aldeia, esperando o regresso dos rapazes. Mas o local é alvo de permanente saque e conflitos entre tropas das diferentes facções e, um dia, julgando que ia morrer devido a uma granada que explodiu por perto, lembra-se da jovem Munakazi, cujos pés o fascinaram. Com o apoio da primeira mulher, pede esta em casamento, mas a rapariga está renitente em aceitar, pois sonha com outra vida na cidade próxima de Calpe. Casam, mas têm de fugir da aldeia, pois a soldadesca leva consigo todos os animais e colheitas de que se alimentam. Assim, quase acabam as visitas ao morro próximo, onde Ulume se aconselha com o cágado velho, que acredita ser sapiente...

Uma história de guerra e de confronto de tradições entre presente e passado, com a vantagem de ter saído da caneta de Pepetela, de quem sou fã incondicional!

CITAÇÕES:

"As pessoas se seguiam no uso da fala e Ulume calado e de olhos baixos. Não falaria em nenhuma circunstância, pois todos estavam a repetir o que ele conhecia, embora também soubesse que o importante da fala não era dar a conhecer a alguém algo de novo, mas apenas falar para estar junto com pessoas que têm os mesmos problemas e inquietações. E porque se está ali, e se fala, os problemas parecem menores."

"Até do Lago da Última Esperança veio gente, pois os mujimbos corriam rápido, muito mais que as pessoas, vá-se lá entender porquê."

"Ulume deixou o animal beber e foi à entrada da gruta depositar fuba de milho. Depois foi ele próprio beber a água da sua infância. E uma alegria muito calma começou a preencher todos os seus vazios, com a pureza da água, com a mensagem do cágado, com o mundo voltado ao normal."

terça-feira, 16 de março de 2010

LISBOA, EM TONS DE AZUL...

... tem outro encanto! O Tejo e a margem sul...

... e o milenário Castelo de São Jorge - no topo de outra colina - podem ser avistados no miradouro de São Pedro de Alcântara, junto ao elevador da Glória, muito próximo do Bairro Alto, onde entre jantares de fados e guitarradas os turistas prolongam as noites...

O espaço divide-se em dois pisos, basta descer a escadaria:

O inferior é menos movimentado e arborizado, nos canteiros ainda não despontam flores, mas, em contrapartida, abundam bustos de figuras proeminentes da História. Embora alguns tenham desaparecido do alto da sua peanha ou a pedra já tenha sido parcialmente corroída pelo tempo, tornando difícil a identificação da personagem...

Luis Vaz de Camões está lá, sem sombra de dúvida!
(conseguem ler a inscrição?)

De volta ao piso superior, grupos de idosos distraem-se em torno das mesas, disputando animados jogos de sueca ou de bisca. O bar-esplanada também tem movimento de clientela variada.

O serviço é lento, os jovens baristas demonstram pouca experiência no atendimento, nada que não se resolva com a prática. À sombra o frio faz-se sentir, está na hora de partir!

Um último olhar alcança toda a beleza da cidade, em recantos que os próprios lisboetas por vezes desconhecem...


Fotografias não editadas.

domingo, 14 de março de 2010

SOLUÇÃO PROVISÓRIA

O meu PC resolveu ter um amoque e deixar de funcionar. Assim, enquanto vai de charola ao técnico indicado para verificar se há remédio que lhe alivie o stress - dele e meu, diga-se em abono da verdade! - arranjou-se aqui uma solução provisória alternativa, que tem as suas falhas!

O que é que as pessoas faziam antes de terem PCs, Internet, telemóveis e essa parafernália de gadgets relativamente recentes que condicionam (mas também facilitam) a vida de todos? Viam mais televisão, certamente. Tinham mais contacto com os amigos, com a Natureza, com a leitura, a música ou o cinema? Talvez! Pessoalmente nunca abandonei esses convívios ou actividades, mesmo assim - ao fim de cerca de 60 horas - senti a falta desse pedaço de mundo virtual. Convenhamos que não é como estar a gozar umas boas férias, sem tempo ou vontade para se ficar estático em frente a qualquer ecrã...

A informática tem sempre a parte chata de códigos e passwords por tudo e por nada, num outro computador com programas diferentes a (re)aprendizagem torna-se morosa, especialmente para quem percebe pouco do assunto. Mas vale sempre a pena tentar!

Vivia sem computadores e Internet? Obviamente! Mas não era a mesma coisa...

quinta-feira, 11 de março de 2010

E SE UM ELEFANTE...

... passeasse dentro da vossa cabeça? Não há memória ou concentração possível, para nada! Já há muito tempo não tinha essa sensação - mais precisamente desde o dia 25 de Abril de 1974 (e ainda o 26) - mas não me tem largado nos últimos dias. Ensurdecida, em relação ao mundo.

Aí a minha mãe arrastou-me para o médico dela, marcou consulta para ambas. Um caos, que entre crianças e adultos o coro das tosses repicava como sino de Igreja a dar as horas, para além dos beicinhos de alguns miúdos visivelmente doentes. Mas teve a sua piada a enfermeira-recepcionista encontrar a minha ficha, dado que já tinha sido consultada lá, algures entre 1963 e 1964. Quer dizer, o médico era o pai do actual! Este ainda se riu, pois tanto o medicamento prescrito como o tratamento ("banhos de São Paulo", ou lá como se chamava aquilo) já não existem há milénios.

Mas pronto, o incómodo visitante paquidérmico dá pelo nome de otite, a surdez é temporária e vai passar com a medicamentação devida. Porém, deu para entender que por mais que se compreendam as dificuldades dos surdos enclausurados num mundo de silêncio, nunca essa percepção é completa, sem se deparar com um problema idêntico. Ao fim de uma semana quase sem audição, de sorrisos apatetados a fingir que percebia do que se estava a falar - que ninguém já aguentava os "quê?" a torto e a direito - convenhamos que fiquei mais esclarecida...

Na sala de espera ainda aguardavam cerca de seis pacientes quando saímos do otorrino, por volta das 8 da noite!


Imagem da net.

quarta-feira, 10 de março de 2010

PROCURAM-SE CULPADOS?

Fotografia de Ian Britton

Agora inventaram um novo nome para a violência nas escolas: bullying! A terminologia inglesa soa mais impressionante, mas na verdade sempre existiu. Aqui, como em toda a parte do mundo.

As crianças e os adolescentes têm um enorme instinto para a crueldade: conhecem os pontos fracos dos colegas, o seu desgosto por serem gordinhos, usarem óculos, terem dificuldades de aprendizagem e por aí adiante. Em grupo - tanto para sobressair na liderança, como para evitar ser o próprio alvo dessa chacota - comportam-se como verdadeiras bestas, humilhando esses companheiros de carteira sem mais nem porquê.

A grande diferença do "antigamente" é que todo e qualquer exagero era resolvido com uns tabefes merecidos, uma suspensão ou até a expulsão da escola! Actualmente os "meninos" são intocáveis, a maioria dos professores descarta-se das responsabilidades, os encarregados de educação supostamente assoberbados pelos horários de trabalho raramente intervêm e os maganões passam impunes!

Enredados nesta teia, não admira que em Portugal a culpa morra solteira...

terça-feira, 9 de março de 2010

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER


Li "A Insustentável Leveza do Ser" e vi o filme nele baseado em 1989. Do filme não recordo nada - fui ao cinema com duas amigas, ambas em crise existencial, só me lembro de as ver chorar copiosamente, longe do que se passava no ecrã! Do livro tinha a sensação de ter gostado bastante, sabia vagamente que focava a época da invasão russa à Checoslováquia, em 1968. Reli com prazer! Mas nesse capítulo não houve consenso no "Clube de Leitura", a maioria não se identificou minimamente com o enredo. Opiniões, evidentemente! (e a minha é que com tantos bons livros para ler, reler é uma perda de tempo, a não ser por razões pessoais ou profissionais, o que não era o caso!)

No romance de Kundera as personagens movem-se como num tabuleiro de xadrez, com regras ditadas por um regime totalitário e invasivo da privacidade de cada indivíduo, em que apenas sobrevivem os traidores: à pátria, às suas raízes, aos amigos ou amantes! Em que os restantes caminham à deriva, entre o amor e o ódio, a filosofia e a indiferença, a volúpia e a incapacidade de gritar pela liberdade, paralisados pelo medo. Convenhamos que não é de molde a animar ninguém, mas retrata uma triste realidade histórica, que começa a cair no esquecimento...

CITAÇÕES:

"O facto de uma conversa de dois amigos diante de um copo ser transmitida pela rádio só pode significar uma coisa: é que o mundo se encontra transformado num campo de concentração."

"[...] As fotografias dos dias da invasão eram outra coisa. Essas, não as tirara por Tomas. Tirara-as por paixão. Não por paixão pela fotografia, mas por paixão pelo ódio."

"Teresa lembrava-se dos primeiros dias da invasão. As pessoas tinham roubado as placas de todas as ruas e os sinais de todas as estradas. O país tornara-se anónimo numa só noite. Durante sete dias, o exército russo errara por todo o país sem saber onde estava. Os oficiais queriam ocupar as sedes dos jornais, da televisão, da rádio, mas não conseguiam localizá-las. Perguntavam às pessoas, mas as pessoas encolhiam os ombros ou indicavam moradas falsas e apontavam numa direcção errada."

"A primeira vez que Karenine viu Mefistófeles ficou todo desconcertado e passou um bom bocado a farejá-lo. Mas em breve se tomou de amizades pelo porquito e passou a dar-se melhor com ele do que com os cães da aldeia, pelos quais sentia um desprezo soberano por estarem sempre presos às suas casotas, a ladrar estupidamente sem razão para isso. Karenine sabia apreciar as raridades pelo seu justo valor e quase me sinto tentado a dizer que tinha um certo orgulho naquela sua amizade com o porco."

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A próxima sessão do "Clube de Leitura" foi agendada para o dia 15 de Maio, tendo sido escolhido o título "Os Espiões", de Luis Fernando Veríssimo.

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PARABÉNS, SAFIRA!!!

segunda-feira, 8 de março de 2010

SURPRESAS DO "TIO" OSCAR

Após uma breve introdução com os dez actores e actrizes principais perfilados em palco, seguido de um momento musical com uma coreografia a lembrar o glamour de outras épocas, Steve Martin e Alec Baldwin iniciaram a apresentação da 82ª edição dos Oscares. Os dois parceiros de Meryl Streep em "Amar... É complicado!" (filme engraçado e que dispõe bem) estabeleceram um diálogo entre eles e com os candidatos sentados plateia do Kodak Theatre, numa combinação de piadas leves que beneficiou o espectáculo, em comparação com os longos monólogos dos anos anteriores. Assim, ficámos a saber que ambos "não vão muito à bola" com George Clooney (sabe-se lá porquê?!) e que a "companheira" Meryl obteve este ano a sua 16ª nomeação, o que a torna a actriz mais nomeada de sempre. The show must go on...

Se de início parecia mais uma réplica dos Globos de Ouro - tanto que até pestanejei lá pelo meio - com Christoph Waltz como melhor actor secundário, com "Up - Altamente" como melhor filme de animação e banda sonora, aqui e ali começaram a surgir algumas diferenças: "El Secreto de Sus Ojos", do argentino Juan José Campanella, venceu na categoria de melhor filme estrangeiro.

Contudo, quando se previa uma retumbante vitória de "Avatar" (que já recolhera os prémios de direcção artística, fotografia, e efeitos especiais), Kathryn Bigelow protagonizou a maior surpresa da noite com o seu filme "Estado de Guerra" ("The Hurt Locker", no título original) - para além de montagem, som, efeitos sonoros e argumento original, vence o de melhor realizadora e o de melhor filme, conseguindo assim ser a primeira mulher a ganhar o Oscar da realização. Ainda por cima, quando concorria directamente com o ex-marido, James Cameron (OK, confesso, não simpatizo muito com ele, desde que resolveu "afogar" o Leonardo DiCaprio)! A nova estrela hollywoodesca estava encontrada:

Tanto Jeff Bridges como Sandra Bullock receberam as suas primeiras estatuetas douradas este ano, nas categorias de actor e actriz principais, respectivamente por "Crazy Heart" e "Um Sonho Possível" ("The Blind Side"), este último a estrear em Portugal lá para finais de Março, suponho que o primeiro ainda nem tem data prevista. Gostei do discurso de ambos, embora mais do dela, eheheh!

Há lá melhor maneira para comemorar o dia Internacional da Mulher ou o próprio aniversário?!

Imagens da net.

sexta-feira, 5 de março de 2010

MANIAS DE SEMPRE!

Fotografia de Ian Britton

O desafio e o selinho chegaram da Teresa do blog "Ematejoca Azul" e segue para todos os 'linkados' na faixa lateral que os queiram apanhar, no todo ou em parte. Podem copiar o selo que está lá no final (não confundir com as maçãs, eheheh!) e o desafio resolve-se respondendo aos seguintes temas:

MANIA
Algumas crises de onicofagia...

PECADO CAPITAL
Se capital aqui significa mortal, daqueles 7 com que a Igreja não se compadece (transformados em 13 pelo actual Papa), será preguiça, sem sombra de dúvida!

MELHOR CHEIRO DO MUNDO
Maçãs! Na tarte que está no forno, no pomar, no shampoo...

SE O DINHEIRO NÃO FOSSE PROBLEMA
Viajava muito mais, quase pelo mundo inteiro! O quase deriva de alguns locais que teria medo de visitar!

HISTÓRIA DE INFÂNCIA
Houve um tempo em que a minha avó alimentava sete cães e um gato. Um dia, estando no jardim, vi o Tareco a fugir perseguido pela matilha dos sete cães, o que teve a sua piada, pois os cães tinham portes e ladrares diferentes, desde o possante Lord cor de mel, com Jollies, Bobbies e Negrita pelo meio da fila indiana, terminando com outro Lord, de raça anã e um latido fininho. Tive receio pela integridade do bichano e fui avisar a minha avó, que disse que eles estavam a brincar. Não me parecia brincadeira, mas como percebi que o Tareco tinha conseguido escapar, não voltei a preocupar-me.
Alguns dias depois, numa tarde soalheira, encontrei-os todos espojados a dormitar no chão do quintal, o gato estava quase encostado ao grande Lord, sem receio algum. Aí entendi que a minha vovó tinha razão!

HABILIDADE NA COZINHA
São várias, até porque adoro cozinhar! Faço um soufflé de bacalhau muito bom, modéstia à parte, mas o principal segredo desta receita é que tem de ser servida logo após sair do forno, caso contrário encolhe e enrijece, prejudicando o seu paladar.

FRASE PREFERIDA
"Só sei que nada sei!" Sócrates, o filósofo.

PASSEIO PARA O CORPO
À beira-mar ou em jardins.

PASSEIO PARA A ALMA
Nas mesmas praias e jardins.

O QUE ME IRRITA
Arrogância, deslealdade, manipulação e mentira!

PALAVRAS QUE MAIS USO
Segundo um teste no FB, essencialmente advérbios (de lugar, modo, etc.).
Mas as minhas preferidas são amizade, vida, esperança, alegria, brincadeira, verdade, petisco, colorido, estaminé, quiproquó e felicidade, entre tantas outras...

PALAVRÕES
Merda! É corriqueiro, mas é o que sai em momentos de maior irritação.

TALENTO OCULTO
Ui, tantos! Mas tão ocultos...

NÃO IMPORTA QUE ESTEJA NA MODA, JAMAIS USARIA
Tatuagens!

QUERIA TER NASCIDO A SABER
Tudo! Continuo a tentar, vida fora...

BOM FIM-DE-SEMANA PARA TODOS!

quinta-feira, 4 de março de 2010

SEM TEMPO A PERDER...

Antigamente os jornais publicavam folhetins: cada dia saía um pequeno capítulo, que eventualmente os leitores assíduos coleccionavam! Também os havia radiofónicos, numa espécie de teatro auditivo - "Simplesmente Maria", no início dos anos 70, foi um enorme sucesso nacional, ao passo que "A Guerra dos Mundos", interpretado pela companhia de Orson Welles, provocou um enorme pânico na América, em 1938. Uns e outros caíram em desuso cá no burgo, em Inglaterra o "Diário de Bridget Jones" transformou-se em livros e filmes, graças ao sentido de humor de Helen Fielding, mas convenhamos que nem lá é habitual.

Um blog (e ainda menos o FB) parece-me o local menos indicado para prosseguir essas experiências folhetinescas. Para já, só faz sentido, se a história sair a eito. E raramente sai. Um mês depois alguém se lembra do início ou de quem eram as personagens? Isto quando o autor (masculino ou feminino, note-se!) não desiste a meio (meio, aqui, é força de expressão, porque excluindo o próprio ninguém sabe onde e quando vai parar), possivelmente desiludido com a falta de comentários ou pelas trivialidades de "muito giro e beijinhos", de quem nem se deu ao trabalho de ler...

Desisti de novos folhetins blogosféricos! Não por os considerar horas perdidas (que por vezes até são!), mas enviarem-me mails e comentários em spam para pressionar a sua leitura, sem tempo a perder com o que escrevo, estimula a minha falta de paciência! Por outro lado, todos os que me lêem sabem de antemão o desprezo que nutro pelo spam!!!

Além de que a sinceridade raramente compensa, nestes casos, que o fascínio pela própria escrita é tão grande que nem dá espaço para perceber pequenos erros ou falhas monumentais...


Fotografia da net.

quarta-feira, 3 de março de 2010

GPS DE PERDIÇÃO!

Uma amiga minha começou a trabalhar recentemente numa empresa onde uma das suas funções é visitar clientes de uma certa região. Como o seu sentido de orientação não é dos melhores, resolveu retirar da gaveta o seu 'tom-tom' ainda por estrear, gentilmente oferecido pelo marido num natal ou num aniversário passado - mesmo presente à homem, que vibra com gadgets e engenhocas e imagina que a parceira vai dar pulos de satisfação, quando ela preferia uma mala, um perfume ou qualquer coisa do género. Adiante!

Acontece que a utilização do "brinquedo" não é assim tão fácil, já por várias vezes se perdeu com as indicações do aparelho, chegando ao local desejado pelo velho método de "quem tem boca vai a a Roma"!

Recentemente, numa dessas missões de descubra-onde-reside-a-empresa-a-visitar, estava mais confiante no sucesso do itinerário: ia na companhia de uma colega, que embora também não conhecesse o local, levava consigo um segundo GPS, certamente não se iam perder nessa aventura. Certamente?!

Cerca de uma hora depois o chefe de ambas perguntava onde se encontravam os funcionários. Responderam-lhe que fulano estava ali, sicrano acoli e beltrano acolá. "E elas?" Risos! Até que alguém informou: "Elas parece que estão a caminho do Algarve!"

(não foi tão grave assim, porque as meninas acabaram por se "borrifar" nos aparelhómetros e chegaram lá, indagando o percurso aos habitantes da cidade...)

Ppfffff... Quem nunca se perdeu que atire a primeira pedra!!!


Imagem da net.

segunda-feira, 1 de março de 2010

PIANÍSSIMO...


Excepcionalmente, os clássicos do século XIX são aqui relembrados, por duas razões: a primeira, mais óbvia, é que se comemora hoje o bicentenário do nascimento de Chopin. O célebre músico e compositor dispensa apresentações, mas como nativo do signo de Peixes, em adolescente encontrava-o sempre mencionado como ilustre "parceiro" astrológico (o que, não sei porquê, me envaidecia bastante, eheheh!). Essa, aliás, é a única semelhança com o compositor polaco, pois apesar de umas aulas de piano em criança, nunca tive vocação para esse ou qualquer outro instrumento musical ou vocal. Para além de, claro, adorar o som harmonioso que paira no ar ao toque das suas teclas:



Bom, já me deixei de astrologias - "pancada" dessa época juvenil, muito motivada por uma amiga, bruxinha-de-serviço-para-todos-os-esoterismos - mas quando Fevereiro chega ao fim, a frase mágica de Théophile Gautier (lida por esses tempos nos livros da "Brigitte", de Berthe Bernage) renasce como um hino à esperança:

"Março que ri, apesar das chuvadas, prepara em segredo a Primavera."

Confio inteiramente no poeta! Tanto que hoje, embora timidamente, uns raios de Sol trouxeram esse primeiro sorriso...


Imagem da net, do quadro de Renoir "Two sisters (on the terrace)" - 1881