terça-feira, 31 de julho de 2007

DE VOLTA ÀS PRAIAS!

Os últimos anos de férias foram passados entre Islantilha e Praia da Rocha, este foi mesmo em Vale da Parra, localidade entre Armação de Pêra e Albufeira, havia que explorar ou revisitar as praias da zona.
Não me aguento muito tempo na praia, é ir e mergulhar, que os meus ombros já têm sardas suficientes das épocas infanto-juvenis em que passava o dia inteiro à torreira do sol. Daí ser essencial haver um bar aprazível, onde possa beber uma cervejinha e ficar lá descansada a pôr as leituras em dia, sem chatear os restantes companheiros familiares que preferem o areal.
Eu e a minha irmã, na véspera à noite escolhíamos o sítio, munidas de um roteiro da Visão e de um folheto do supermercado. Surpresas, foram duas: A Praia Grande, que dizia ter tudo, mas afinal era só um banheiro lá num casinhoto, para alugar os toldos e verificar se ninguém se afogava. Bar e casas de banho, pelo menos a 500 metros de distância, para o lado de Armação ou para os Salgados. Este último, sofre de todos os males que detesto: carérrimo, a despachar o pessoal a grande velocidade, a última vez que lá fui até o fecho da casa de banho das mulheres estava avariado. Puxar do livro cai mal, que não dá para circular rapidamente! Não desta vez, que já havia mulherio a beber imperiais nas escadas de acesso... E a da Coelha, existente em ambos os mapas, mas cujo percurso está mal identificado nas estradas. Um parque de estacionamento óptimo, um bar com atendimento simpático e agradável, pena que do estacionamento até à praia se tenha de andar por caminhos de cabras, com avisos de “Cuidado com o Cão” e “Privado”, em que a nossa única indicação foi o cheiro da maresia!
Do Aquashow prefiro nem falar, do Algarve Shopping idem (basta dizer que vi lá umas sandálias daquelas que “namoro” há anos, mas nem me atrevi a entrar na loja). Gostei do Fiesa 2007, com o tema das 7 Maravilhas do Mundo – insisto que agora são 8! – pelo menos fiquei a perceber o que eram os antepassados Jardins Suspensos da Babilónia...
Para perceber bem o que são férias infelizes é necessário ter passado por elas. Que já passei, duas vezes. E não desejo a ninguém! Estas foram maravilhosas...

HERANÇA DO VAZIO


Tal como prometido, aqui segue um post do anterior blog, com algumas alterações, sobre este livro:

“A Herança do Vazio”
Kiran Desai (2005)
Porto Editora (Fevereiro de 2007)
Man Booker Prize 2006

Não é um livro muito fácil de ler, porque o espaço temporal é quase sempre indefinido, parte da acção ocorre em Nova Iorque, mas o centro da questão fica na província de Darjeeling, num local perto da cidade de Kalimpong, junto ao rio Teesta, onde suponho que ainda hoje se desconhecem exactamente as fronteiras. Além de uma cultura muito diferente da europeia, por vezes um pouco incompreensível para o ocidente. Afinal, para a maior parte de nós, Darjeeling é só um tipo de chá...
A história em si, envolve toda a humanidade, em que muitos temas actuais são abordados frontalmente: colonialismo, racismo, emigração, globalização, terrorismo (tanto de bandos, como policial), preconceitos vários. A escritora não fornece juízos de valor sobre as personagens, reservando essa tarefa para os leitores. Entre imagens quase poéticas e alguma crueza da dura realidade, em que muitos sonhos se tornam em autênticos pesadelos, perpassa ainda uma certa ironia, fatalidade e a calma aceitação de destinos humilhantes, previsíveis à partida.

Eis algumas das passagens mais simbólicas:

“O cozinheiro estava desiludido por trabalhar para Jemubhai. Era um grande retrocesso em relação ao seu pai, pensava ele, que só tinha servido homens brancos.”

“No Café Gandhi, pouco mais de três anos depois do dia em que ele tinha recebido o seu visto, o rapaz mais afortunado à face da terra escorregou em espinafres podres na cozinha Harish-Harry, precipitou-se para a frente numa pista verde e viscosa e caíu com um sonoro estalo. Tinha magoado o joelho. Não conseguiu levantar-se.
- Pode chamar um médico? – disse ele a Harish-Harry, depois de Saran e Jeev o terem ajudado a deitar-se no seu colchão, entre os legumes.
- Um médico! Fazes ideia dos custos dos cuidados médicos neste país?”

“Uma mulher tinha-se incendiado junto a um fogão.
Oh, aquele país, exclamavam as pessoas, contentes por caírem nas frases do costume, onde a vida não tinha grande valor, onde os critérios eram variáveis, onde os fogões eram mal fabricados e os saris baratos incendiavam-se tão facilmente...
... como uma mulher que se queria ver morta ou...
... enfim, uma mulher que queria suicidar-se...
... sem uma testemunha, sem um caso...
... tão simples, um singelo movimento com a mão...
... e, para a polícia, um caso tão simples, implicava apenas outro movimento rápido com a mão...
... as rupias faziam um movimento untuoso entre as palmas das mãos...
- Oh, obrigado, meu senhor – disse um agente da polícia.
- Não tem nada que me agradecer – retorquiu o cunhado.
E, num piscar de olhos, tudo isto poderia ter passado despercebido.
O juiz optou por acreditar que foi um acidente.”

“Em vez de inimigos estrangeiros, em vez dos chineses para que andavam a preparar-se, contra quem acumulavam o seu ódio, tinham de combater o seu próprio povo...”

“- Aqueles malditos britânicos são mesmo incompetentes a traçar fronteiras.
A Sra. Sen, intrometendo-se imediatamente na conversa, comentou:
- Falta de prática, ora, estão rodeados de água por todos os lados, ah ah.”

Excelente!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

HISTÓRIAS DO FIM DA RUA


Tal como suspeitava, não li tanto como desejava estas férias. A ventania da primeira semana não ajudou, depois de dois mergulhos nas ondas algarvias, lá ia com o livrito para o bar da praia – qualquer que ela fosse, ainda vou falar sobre esse assunto um dia destes! – cinco ou dez minutos depois começava a aparecer o pessoal. Como nunca leio em viés, nem me parece sensato exigir que fiquem todos mudos e quedos até acabar o capítulo, pois, lá ficava o livrinho em espera, com um marcador a meio.
Gostei do “Danças e Contradanças” da Joanne Harris, que já tinha começado a ler em casa, mas com obras e partida para férias ainda estava numa fase inicial. Pessoalmente, adoro contos! Parece-me que as editoras portuguesas não apostam muito nisso, mas claro, é lá com elas...
Actualmente estou a ler um policial, cheio de americanices, que sem ser desagradável, é de uma previsibilidade assustadora. A menina casta tem um psicopata atrás dela, vem o salvador agente do FBI, paixão assolapada, etc. e tal.
De permeio, só o Mário Zambujal para me fazer rir ou sorrir.
“Histórias do Fim da Rua”
Mário Zambujal, 1983
Edição de 2006, da Oficina do Livro
Não sei porquê, aquele Dedé Justino que “é um desses frequentes convencidos que as mulheres desmaiam à sua passagem”, fez-me lembrar o Dâmaso do Eça, em “Os Maias”. 100 anos depois, ainda é engraçado, claro que bem mais modernaço... Anos 80, sim, pois, moderno não é muito, mas hilariante no retrato de uma sociedade portuguesa em mudança, mas arreigada a tradições e a preconceitos de um passado recente.
Este livro despertou-me curiosidade, até pela simples razão que o escritor viveu muitos anos na rua onde cresci. Não é dessa rua que ele fala neste romance, mas a caricatura da população que a habita parece-me idêntica ao mundo real da época, naquela como em muitas outras de Lisboa ou de qualquer cidade do país.
Conheço o Mário Zambujal, ao vivo e a cores, mas apenas de passagem. Curiosamente, a recordação mais marcante que tenho do escritor, prende-se com o seu terceiro livro, “À Noite Logo se Vê”. Então, nos finais dos anos 80, estava eu a iniciar o meu primeiro emprego a sério e andava a ler esse livro. Estava completamente de língua de fora, a tentar perceber a utilização dos computadores, mas ia sempre de livrinho atrás, como ainda hoje em dia tenho a mania. Acontece que para além do título, a capa ostentava uma pintura de uma mulher nua. A boa da empregada da limpeza, que mal sabia ler, mas era uma cusca de primeira apanha, conseguiu soletrar o título, viu a pintura e pás!, vai de divulgar a toda a gente que eu lia livros pornográficos. Eu a pensar que estavam todos a ser solidários, que apareciam na minha sala com uma desculpa ou outra, ou a perguntar se estava tudo bem, nada, só queriam ver o livro pornográfico... Vá que a excursão não foi maior, porque a Guida, leitora compulsiva, percebeu logo a confusão da outra e pôs termo à emocionante história da nova-empregada-que-gosta-de-literatura-porno...
Mas enfim, o Mário Zambujal está “perdoado” por este pequeno quiproquó, prova é que o continuo a ler com prazer. Aos bons malandros, tudo se perdoa!

domingo, 15 de julho de 2007

ELEIÇÕES

Não contem a ninguém, mas vou de férias! Uns diazitos, para paisagens algarvias. De modo que a pergunta sobre as leituras não era completamente ociosa e agradeço todos os comentários e opiniões. Não vou poder ler todos, mas ficam na manga dos próximos livros a folhear e/ou a comprar.

As minhas sugestões, para quem entretanto siga de férias e goste de ler, são as seguintes:
“A Sombra do Vento” de Carlos Ruiz Zafón;
“O Poder dos Sonhos” de Luis Sepúlveda;
“Rei, Capitão, Soldado, Ladrão” de Ruth Rendell;
“A Herança do Vazio” de Kiran Desai;
“A Criança que Não Queria Falar” de Torey Hayden;

Que foram os últimos que me encantaram, sendo de géneros muito diferentes...

E já agora, para quem perguntou se não haveria por aqui um portátil, há sim senhor, mas são 10 mil em fila, bem, talvez uns mil... 100... pronto, somos só 7, mas para não gerar confusão, vai-se limitar a dar música e uma ou outra pesquisa internética absolutamente necessária. Acho?!

Porque é que ainda pairamos por Lisboa? Pois, porque aqui há dois marretas que gostam de ir votar, sempre! Ainda mais, quando está em causa o destino da nossa cidade...

Boas férias para todos e até breve!

sexta-feira, 13 de julho de 2007

CAUTELA

Consta que a superstição das sextas-feiras 13 serem dias de azar tem a ver com a última ceia de Cristo. Treze pessoas sentaram-se a uma mesa a comer e a beber e, na sexta-feira seguinte, Jesus foi cruxificado. Bom, se é realmente essa a origem da superstição, digamos que, no mínimo, é um bocadinho... rebuscada!
De todas as muitas e variadas superstições há pelo menos uma que tenho. Só que lhe chamo cautela. E é a de não passar por baixo de escadas ou escadotes. Aliás, vou mais longe, se possível, nem por perto. Isto porque ninguém sabe ao certo se o indivíduo que está lá em cima é um verdadeiro profissional ou um mero curioso, que vai tentar “desenrascar” uma cena. No último caso, o aconselhável mesmo é fugir dali a sete pés. Porque existe força da gravidade. Porque um trapalhão em cima de uma escada é imprevisível. Porque depois de deixar cair tintas e ferramentas que nem tordos, às vezes ainda é o próprio que tomba dali abaixo.
Tenham todos um resto de boa sexta-feira 13, mas à cautela evitem as ditas escadas...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

ILHA DESERTA

Aqui há alguns meses perguntaram-me que 5 livros é que gostaria de levar, se fosse parar a uma ilha deserta. Respondi que só um, um “manual de sobrevivência numa ilha deserta”, que na circunstância, era o único a parecer-me adequado. Desconfio até, que sem ele não sobreviviria muito tempo...
Bom, mas a pergunta aqui é mais simples:

“Quais são os 5 livros que sugerem, para uma leitura de férias?”

E quem diz 5, diz 3 ou 8 (como as novas maravilhas do mundo!)
Valem todas as sugestões, mesmo tendo em conta que grandes calhamaços não dão muito jeito de levar para a praia!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

UM BOM EMPREGO

Então aqui o “puto” foi fazer testes psicotécnicos para verificar a sua vocação profissional. A área em si já estava decidida à partida, que as melhores notas são a Português, História e Inglês.
No relatório da psicóloga, consta mais ou menos o seguinte:
“Deve trabalhar num ambiente de escritório agradável, em grupo que possa liderar, numa área criativa, com regras flexíveis.”
Eh pá, mas isso não é o que a maior parte da malta deseja?
A única dúvida que me suscita é se, com todos esses requisitos, não vai considerar inferior todos os empregos/trabalhos de menor gabarito...

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Parabéns, querida Su!

segunda-feira, 9 de julho de 2007

FIM DA MARATONA

Escritório é uma palavra demasiado pomposa para o espaço, digamos, multi-usos! Mas foram cerca de três semanas em obras. Tirar tudo de um pequeno compartimento atulhado de livros e muita tralha, ficar com a casa toda numa bagunça, foi complicado.
Ainda pensei em candidatar-me ao “Querido, mudei a casa”, mas depois uma daquelas decoradoras foi explicando que o espaço tinha de ter no mínimo 14 metros quadrados, que aqui não tem. A minha sobrinha mais velha também me foi dizendo: “Mas ó tia, tu também tinhas de pagar as coisas que te comprassem, só a mão de obra é que é à borla, vem lá no site.” (não sei porque razão ela foi investigar isso, mas pronto!) Assim como assim, a questão não era decoração, era tornar mais funcional, não queria um mural na parede, nem nada daquelas invenções de decoradores. Que até concordo que podia ficar melhor, mais habituados a estas andanças. Mas simples e minimalista, para nós está de bom tamanho.
A pintura e a estante “à medida” ficaram a cargo de ucranianos. Simpáticos e prestativos, mas como trabalham a tempo inteiro, só podiam vir ao fim do dia ou ao Domingo, de modo que demorou mais tempo a fazer as 54 prateleiras idealizadas. Não apareceram carpinteiros portugueses interessados, um já estava reformado, outro andava ocupado, que depois telefonava, até hoje!
Após o fim da obra, faltava reorganizar e limpar/sacudir os livros (a contagem já ultrapassou os 1128!) o que decorreu em espírito de maratona, este fim-de-semana. Ainda deu para umas pausas de convívio, com familiares e amigos, mas tipo rápido. E claro, como acontece sempre nestas lidas, até o PC desconfigurou. E o foco de luz da secretária também partiu e pifou.
Mas que dá uma felicidade quando acaba esta azáfama toda, lá isso dá...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

OS BONS VELHOS TEMPOS

De Salazar tenho a vaga recordação de um velho senil, que iniciava todos os discursos com um “portugueeeses e portugueeesas”, com voz trémula. Para além de uma fotografia presente na sala de aula da primária. Sala essa que, num dia de mau humor da professora, foi palco de um castigo de 56 reguadas a uma aluna de 8 anos, por não ter feito o TPC. E onde também pude presenciar, quase diariamente, a forma didáctica que a professora utilizava para ensinar uma menina de 6 anos, com dificuldades de aprendizagem: ao estalo, sem tirar nem pôr! Comparativamente, o homem ter caído da cadeira e ter morrido dois anos depois, não me afectou.

Lisboa era uma cidade aparentemente calma e pacífica, a guerra estava lá longe, em África. E da qual só nos apercebíamos, quando apareciam na televisão as mensagens de Natal dos soldados em combate, a desejarem muitas “propriedades” aos familiares. Os dissidentes do regime ou estavam presos ou exilados noutros países, apenas alguns agiam nas sombras.

De bom mesmo, eram as férias de Verão, três meses inteirinhos, a maior parte do tempo a brincar na rua com a miudagem da vizinhança. Isto porque os adultos tinham poucas férias, 8 ou 15 dias, que ou serviam para alugar uma casa perto da praia, ou visitar a família na terra. De Lisboa a Vila Praia de Âncora, onde o meu pai nasceu, demoravam-se 7 horas de carro, sem contabilizar o tempo das paragens, para almoçar, esticar as pernas, etc. A auto-estrada Lisboa/Porto parava em Vila Franca de Xira. Na capital, havia Metro, que visto numa configuração linear, parecia uma fisga – uma linha começava em Sete Rios, outra em Entrecampos, encontravam-se na Rotunda e ia até aos Anjos, posteriormente até Alvalade. Andava sempre atulhado de gente. Como alternativa, existiam os eléctricos amarelos onde se podia andar à “pendura”, muito lentos, ou autocarros verdes, de um ou dois andares, sendo que estes tinham limite de passageiros. Em todos estes transportes apareciam carteiristas, “profissão” de muito mérito, se fosse dedicada à magia em palco... Os polícias sinaleiros foram substituídos por semáforos, uma grande “modernice”.

A televisão era a preto e branco, só existiam dois canais, com um horário de emissão reduzido às horas de almoço e jantar, a acabar perto da meia noite. Aos Domingos alargava-se pela tarde, com filmes do Fred Astaire e quejandos. Os pontos altos da RTP eram o Festival da Canção nacional, o internacional, o concurso de misses e o Natal dos Hospitais.

O meu liceu era dos poucos a terem turmas mistas, arrojadíssimo para a época. Foi lá que tive a primeira visualização da PIDE, com um cerco que fizeram à escola, supostamente porque entraram para lá uns alunos do Técnico. Professores e alunos em pânico, alguns a tentarem fugir, recebidos à porrada nas escapatórias possíveis. Valeu a fibra das professoras, que não nos deixaram sair porta fora esparvoeirados. Cerca de um ano depois, os alunos da minha turma que pediram dispensa a Moral e Religião (já se podia, outra modernice!), conheceram umas faces do MAESL, para além dos dixotes inscritos nas portas das casas de banho. Éramos 6 e nós que não a tudo, nem MAESL, nem tínhamos visto nada para os matarruanos que nos vieram interrogar logo de seguida.

Bons velhos tempos? Uma sociedade hipócrita, preconceituosa, capitalista, sem direitos para as mulheres e para o povo, sem liberdade de expressão ou democracia, com uma guerra que não tinha fim à vista?

Saudade, tenho da ingenuidade desse tempo, em que acreditava que a revolução dos cravos ia resolver os problemas do País, para sempre...


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No anterior blog, no dia 25 de Abril deste ano.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

UMA CADELA DESMIOLADA

Aqui há alguns anos, contratei uma empregada para me fazer uma limpeza à casa, uma tarde por semana. Numa das primeiras vindas, ouvimos uma enorme gritaria dela ao telemóvel, quando se preparava para sair. Numa aflição pegada, pensámos que tinha acontecido alguma desgraça, todos caladinhos, sem querer atrapalhar.
Aparece na sala, de mão na testa, dramaticamente:
- Ai a minha cadela!
Morreu, foi atropelada, tem alguma doença letal?, supusémos. Nada! Tinha sido visitada por um cão mais desinibido, que ultrapassou todas as barreiras físicas para o encontro.
AHN?
Nada de convencer a mulher que isso faz parte do intinto animal, que não queria dizer que a bicha engravidasse... Não, era a cadela dela que era uma doidivanas, que bem a via a fazer olhinhos aos cães das redondezas, dengosa, a levantar o rabito dando “amostras” das partes.
Dá para acreditar que a história é verídica?

terça-feira, 3 de julho de 2007

CENSURA

Alguém sabe realmente o que é?
Então passo a explicar, em termos musicais.
Chico Buarque compôs música e letra de uma canção, intitulada “Tanto Mar”, em 1975. O Brasil ainda vivia em ditadura, a primeira versão da letra foi censurada e rezava o seguinte:

“Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim.

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim.

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar.

Lá faz Primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim.”

Algum tempo depois alterou a letra, que só podia ser tocada e não cantada, em terras brasileiras, numa nova versão:

“Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
‘Inda guardo renitente, um velho cravo para mim.

Já murcharam tua festa, pá
Mas, certamente
Esqueceram alguma semente nalgum canto do jardim.

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também como é preciso, pá
Navegar, navegar.

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente algum cheirinho de alecrim.”

Toparam a diferença?
Nunca fico renitente em usar cravo ao peito contra guerras, ditaduras, violências várias, machismo, terrorismo e todos os males que nos assolam no global. Que começam logo com a tal censura, de não se poder dizer umas quantas verdades, no momento certo...E agora também fiquei com esta música na cabeça!

domingo, 1 de julho de 2007

SHREK

Pois é, acho que vou gostar sempre de desenhos animados, mesmo que chegue a velhinha centenária, tremelicante e de bengalinha. Quando era miúda, as salas de cinema raramente os tinham em cartaz, filme de férias era o “Música do Coração”, que sem sombra de dúvida foi o filme que vi mais vezes na vida. Assim, os últimos anos têm sido de completa “vingança” desse trauma de infância, ih, ih, ih! Com a desculpa que era para acompanhar o filhote e/ou as sobrinhas, mas quer dizer, já nem essa pega muito...
Gosto de desenhos animados e pronto! E gosto de me rir com as situações absurdas e disparatadas em que são pródigos. Este mês ainda estreia “Os Simpsons”(26), no próximo “Ratatui” (15/08) e ainda vão surgir outros títulos, já anunciados, mas em que a data de estreia ainda não foi divulgada. De modo que se anuncia um Verão de excelente recuperação!
Bom, o Shrek, como se sabe, é um “anti-conto-de-fadas”, que utiliza personagens que fazem parte desse nosso imaginário infantil desde sempre, desmitificando-as e dando-lhe novos contornos surpreendentes. Ao terceiro já não surpreende tanto, mas ainda arranca umas boas gargalhadas de ex-crianças traumatizadas...

LIVROS DA MODA

Aqui há uns anos, numa época como esta de início de Verão, todas as revistas divulgavam o livro que políticos, actores, apresentadores de televisão, escritores, advogados, músicos, manequins, etc. diziam levar na sua bagagem para leitura de férias. A curiosidade é que eram todos unânimes, o eleito era “O Pêndulo de Foucault” de Umberto Ecco. Confesso que desconfio sempre de unanimidades deste género, ainda por cima vindas de pessoas de áreas tão diferentes. Duvido até que as respostas fossem sinceras, mais para dar uma imagem de cultura e intelectualidade.
Ler, para mim, é prazer. E se começo a ler um livro em que nas primeiras 30 ou 40 páginas não percebo patavina do que o escritor está a dizer, desisto! Aconteceu-me com este, se bem que tenha lido outros do mesmo autor que gostei bastante.
Agora a ocasião foi uma caracolada, mas veio à baila o próximo livro a ler no nosso Clube de Leitura, e não é que desta vez também houve unanimidade? Não estávamos todos, só a maioria. O escolhido foi “As Mulheres do Meu Pai” do escritor angolano José Eduardo Agualusa. Bom, a discussão só se realiza lá para meados de Setembro, dado os momentos de férias não serem coincidentes...
E não sei se está na moda, mas certo é que já o folheei numa livraria e pareceu-me uma leitura bastante agradável.