quinta-feira, 15 de março de 2012

ENCANTAMENTO

Fotografia de Ian Britton

Tal como já tinha sabido da existência em múltiplos romances lidos e centenas de filmes visionados, aos 15 anos também eu sonhava com o meu cavaleiro andante, aquele que seria o amor da minha vida para todo o sempre... Não sendo eu princesa nem vivendo na era medieval, cedo concluí como provável que o meu “príncipe encantado” não fosse um nobre de sangue azul ou que me surgisse montado num alazão branco. Já se sabe que, não sendo ele possuidor dessas características, tornava-se muito mais difícil encontrá-lo!

Um dia, julguei saber quem ele era: tinha 15 anos como eu, era meu colega de turma no liceu e, desenganem-se desde já, não era lindo de morrer, nem o palhaço que as meninas tanto adoram, nem sequer um puto que se evidenciasse pela sua inteligência, cultura ou personalidade. De modo que não foi tiro e queda, não caí para o lado subitamente apaixonada à primeira vista! Na verdade, já nos conhecíamos desde os 13 anos de idade, altura em que entráramos na mesma turma e era igual aos outros, embora fosse dos mais baixotes e sardentos, alinhando no clube dos que preferiam jogar à bola do que conversar com as meninas. E nem aí se evidenciava por aí além...

À medida que ele foi crescendo e as suas preferências pelas futeboladas diminuindo, aconteceram dois ou três factos que nos aproximaram. Primeiro, calhou nas carteiras da sala de aula, enquanto tinhamos como professora de Ciências uma-parva-todos-os-dias, que embirrava com “aquele grupinho do fundo da sala junto à janela”, o seu candidato dileto à expulsão quase diária das suas aulas. O recreio maior até era motivo de alegria, mas já devido a um segundo facto importante– tinha acontecido o 25 de Abril! 

Outra coisa que tínhamos em comum era o caminho para casa, que percorríamos quase diariamente, a pé - para poupar o dinheiro do autocarro (nesse tempo ainda não existiam passes da carris) – com alguns colegas, pelo menos se não chovesse muito. As aulas terminavam às 7 da tarde e a balbúrdia da "hora de ponta" em Sete-Rios era enorme, com longas filas de espera nas paragens de autocarros. Vir a pé compensava também pela possibilidade de, no final, gastarmos o dinheiro num chocolate ou gelado, consoante o apetite de momento. 

Claro que durante esses recreios e caminhadas conversávamos muito e, no ano seguinte, ainda inventaram umas greves intermitentes na escola, pelo que os jardins da Gulbenkian passaram também a fazer parte dos nossos circuitos, onde conversávamos ou jogávamos às cartas com outros amigos. Nos dias de chuva recorríamos a uns matrecos manhosos na Calçada da Palma de Baixo ou a outro salão de jogos lá para os lados da Rua da Beneficência.

Não tinhamos os mesmo pontos de vista políticos – ele era militante da UEC- mas isso só contribuía para termos mais assuntos de que falar e até discutir. Sem nunca nos zangarmos, mesmo cada um ficando na sua. Era o amigo, o companheiro de todas as horas, divertido, simpático e brincalhão, sem deixar de ser cativante e sedutor – em suma, tinha descoberto o meu “príncipe"...  estava encantada!

Blogagem coletiva proposta por Luma Rosa, do blogue “Luz de Luma, yes party!”, subordinado ao primeiro tema “Encantamento” – de um conjunto de quatro a enquadrar em “Amor os pedaços”. Imagem de Luma Rosa.

42 comentários:

  1. E eu pensando que a estória era a tua mesmo, rrsss...ou não é invenção?

    De quelaquer mod, está muito bem escrita!

    Um abraço

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  2. As pessoas vulgares acabam sempre por seras melhores, Teté. Texto muito bonito.... :)

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  3. Maravilhoso texto! nem sempre a beleza vista a olho nu é a mais bela.

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  4. Óhhhhhh que lindo...Amei este texto :)))

    E não importa que seja verdadeiro ou inventado...fiquei encantada :)))

    Beijinho :)

    *Sete-Rios, hein?
    ** Rua da Beneficiência, hein?
    eheheh (assobiando)

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  5. escreveste tudo ou é tipo cadáver esquisito? parece a tua maneira de escrever mas como depois dizes blogagem colectiva fiquei na dúvida.

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  6. Oi, Teté!

    De uma forma ou de outra, o amor sempre nos chega marcando forte. E de onde menos se espera, ele surge, até mesmo de uma amizade que às vezes nem cogitamos. Gostei da história.

    Beijos e encantos
    Socorro Melo

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  7. Oi Teté! Eu sou Tetê! Com certeza, ambas Teresas... acertei? Brilhante a sua participação! E seu blog é muito bom! Estou encantada! Bjks Tetê - Avaliando a Vida

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  8. Anónimo3/15/2012

    Muito boa esta história, Teté, mas gostava de saber como terminou o encantamento :-)))
    Depois dizem que as mulheres é que são curiosas.Mas eu sou Escorpião, sabe...

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  9. Teresa
    Até me emocionei. Parecia que estavas a contar a minha história, como sabes. Embora só tenha tido um final feliz muitos anos depois :)
    Beijinhos

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  10. Olá, querida amiga Tetê

    "Somente quem ama e se permite amar
    é que detém o tesouro do
    verdadeiro
    AMOR!
    (Kiro)

    Mais uma emoção rola no ar... que maravilha poder contar com tanta gente impregnada de amor!!!
    Encantada por assim dizer... Enamorada pela vida...
    Amando o amor...
    E pelo Amor sendo amada...

    Como todo boa menina/adolescente vc teve o seu príncipe como num conto de fada pessoal... que nós todas fazemos por sermos mulheres...
    Ficou claro o Encantamento que existiu entre vcs... muito bom!!!
    Isso é real demais!!!
    Obrigada por sua participação bem adequada à fase, viu???

    "Orvalhou o próprio Céu ante a face do Senhor"...
    Bjm encantado e tenha uma noite amorizada

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  11. Lindo encantamento por aqui.valei!Linda flor também!!beijos,chica

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  12. Penso que a história ainda continua...

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  13. Bem-vindas, SANDRA, SOCORRO, TETÊ, ORVALHO e CHICA!

    Pelos vistos a blogagem foi um sucesso, já vi que teve 50 participações. Não prometo que vá ler todas, mas faço questão de ler as vossas e comentar. Mas amanhã, porque aqui já é tarde... :D

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  14. SANDRA, só tive tempo para dar uma espreitadinha, mas imagino que com uma adesão tão grande haverá histórias encantadoras... :)

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  15. Teté, lindo encantamento e prazer em conhecê-la. Parabéns pela sua participação! Forte abraço!

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  16. SÃO, são realmente memórias minhas, mas resumidas e parciais - pois a história é mais longa! :)

    Obrigada e abracinho para ti!

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  17. Pelo menos são aquelas que se importam e nos importam, VIC, e não as estrelas do circo... :D

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  18. Obrigada, RAINHA! A beleza depende muito dos olhos de quem vê... :))

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  19. MARIAZINHA, é só uma partezinha resumida de uma história real, um pouco mais comprida... :))

    Para quem andou no liceu D. Pedro V, eram os circuitos e os passeios da época! Sete-Rios era a última estação de metro para os residentes em Benfica, Carnide, Amadora, Pontinha e por aí adiante, onde depois se apanhavam os autocarros ou carreiras para essas zonas! Agora o metro já chega a todas, felizmente! :D

    Beijocas!

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  20. União dos Estudantes Comunistas (UEC), RAUF! E, na altura, bastante Marxistas, Leninistas e Estalinistas... :))

    Beijocas!

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  21. Blogagem coletiva, no sentido do tema ser conjunto para os vários blogues que aceitaram aderir, MOYLITO, mainada! :))

    Por essa de "cadáver esquisito" queres significar escrita a várias mãos?!? :D

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  22. É, SOCORRO, às vezes chega assim de mansinho e devagarinho, como quem não quer a coisa... :)

    Mas que marca, marca! :D

    Obrigada e beijocas!

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  23. Oi, TETÊ, quase homónima nos blogues e homónima fora do virtual... :D

    Como já referi mais acima, ainda não tive tempo para dar uma passadinha pelas restantes postagens (duvido que consiga todas, dada a grande adesão), mas amanhã é garantido pelo menos a quem me visitou! É que a hora aqui é mais tardia... :)

    Beijocas!

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  24. Como é que acha que acabou, CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA? Muito idealismo e imaturidade, nestas idades, pois... :))

    O namoro, posterior a esta fase, ainda durou cerca de dois anos! :D

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  25. Sabes que pensei em ti, TERESA? Quando estava a escrever e a lembrar essa época, pensei que devias ter memórias e percursos idênticos! :)

    No nosso caso vivemos tudo aquilo na época, namorámos cerca de dois anos e... acabámos por nos afastar! C' est la vie! :D

    Mas gostei do teu final feliz! Mais madurinhos resulta melhor, certamente! :)

    Beijocas!

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  26. ORVALHO, não sei se nesta idade não confundíamos um pouco a pessoa com aqueles ideais que tínhamos do amor, daí às vezes acabar em desilusão!

    Mas facto é que para quem os viveu, intensamente, são sempre momentos inesquecíveis... :)

    Obrigada e beijocas!

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  27. Obrigada, CHICA! Também achei piada à foto para ilustrar o texto... :)

    Beijocas!

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  28. A história continuou, EMATEJOCA, mas a parte que queria contar era apenas a do encantamento... :))

    Não vaio haver sequela, portanto! :D

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  29. Bem-vinda, MARIA LUIZA! :)

    Obrigada pela sua visita, amanhã passarei pelo seu canto! :D

    Abraço!

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  30. Olá Teté,
    você escreve muito bem. Encantei-me com a história do seu principe encantado e do percurso caminhado por vocês os dois.

    É tão bom quando as histórias encantadas virão realidade.
    Beijinhos e os meus agradecimentos pela sua participação na coletiva.
    Rute

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  31. Que lindo este encantamento!Quando nos encantamos não importa como é ou como deveria ser, é aquilo que vem de dentro e nos encanta...
    Paz e bem
    Gostei e fiquei por aqui...

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  32. Muito bela história!!!Encantamento,fase que precisamos entender os porques de ser como é!!!Bjs .Estou com postagem em dois blogs tentando mostrar algo mais.
    zildasantiago.blogspot.com
    rumoslibertadores.blogspot.com

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  33. Bem-vinda, RUTE! :)

    E obrigada duplamente, tanto pelas tuas simpáticas palavras como por teres tido esta iniciativa (conjuntamente com as outras Rs) tão bem sucedida e que teve tanta adesão! :D

    Por mim, adorei participar! :))

    Beijocas!

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  34. OK, entendi-te, MOYLITO! :D

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  35. Bem-vinda, BEL RECH!

    O Encanto chega muitas vezes sem o esperarmos, assim de surpresa... :)

    Paz para ti também!

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  36. Bem-vinda, ZILDA!

    Esse entendimento não será igual para todos e, por vezes, nem é absolutamente necessário vascular as razões. É assim e mais nada... :)

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  37. Olá!"Encantei-me" com as tuas palavras, parece que estava a palmilhar as ruas de Lisboa com vocês. Gostei da tua maneira de relatar o encantamento que foi surgindo aos poucos de uma amizade...acho que na maioria das vezes acontece assim!
    Adorei tua participação!
    Beijinhos, cá do Norte!

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  38. Bem-vinda, LINA!

    Não sei se para a maioria das pessoas o encanto nasce da amizade, comigo foi (quase) sempre assim... :)

    Obrigada, amanhã faço-te uma visitinha!

    Beijocas!

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  39. Ah, Teté!! Por onde andas o seu príncipe agora? Divertido, simpático e brincalhão, cativante e sedutor... perfeito!! Infelizmente ou felizmente, a vida se encarrega de selecionar as pessoas que permanecerão do nosso lado.
    Obrigada por participar da coletiva e vamos que vamos para a próxima etapa!!
    Bom Domingo!! Beijus,

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  40. Há momentos em que tudo nos parece perfeito, LUMA, mas depois a vida se encarrega de demonstrar que estamos erradas... :)

    Tive muito gosto, não há nada a agradecer! :D

    Beijocas!

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)