Recentemente enviaram-me por mail a (longa) palestra da jovem escritora nigeriana Chimamanda Adichie, em Oxford, que descrevia de uma forma algo caricata o que denominou de "o perigo da história única": por ser negra e africana, a maioria das pessoas que encontrou quando estudou nos EUA encaravam-na como uma desprovida da sorte, com um passado recheado de guerras e miséria. Um dos seus professores chegou a afirmar que os seu romance não era autenticamente africano, pois as personagens pareciam-se demasiado com ele próprio - um homem culto, da classe média - que andavam de carro e nem estavam famintas. Como se no enorme continente africano houvesse apenas uma única realidade...
O professor de Chimamanda não teria ficado desiludido com a "Parábola do Cágado Velho" de Pepetela, esse sim, um romance tipicamente africano, onde poderia identificar um "mundo de fogo e de ódio", em que "as palavras eram balas disparadas ao futuro de cada um".
Ulume é um aldeão que viu as filhas morrer e os filhos partir para a guerra, mas permanece junto a Muari que se recusa a abandonar a aldeia, esperando o regresso dos rapazes. Mas o local é alvo de permanente saque e conflitos entre tropas das diferentes facções e, um dia, julgando que ia morrer devido a uma granada que explodiu por perto, lembra-se da jovem Munakazi, cujos pés o fascinaram. Com o apoio da primeira mulher, pede esta em casamento, mas a rapariga está renitente em aceitar, pois sonha com outra vida na cidade próxima de Calpe. Casam, mas têm de fugir da aldeia, pois a soldadesca leva consigo todos os animais e colheitas de que se alimentam. Assim, quase acabam as visitas ao morro próximo, onde Ulume se aconselha com o cágado velho, que acredita ser sapiente...
Uma história de guerra e de confronto de tradições entre presente e passado, com a vantagem de ter saído da caneta de Pepetela, de quem sou fã incondicional!
CITAÇÕES:
"As pessoas se seguiam no uso da fala e Ulume calado e de olhos baixos. Não falaria em nenhuma circunstância, pois todos estavam a repetir o que ele conhecia, embora também soubesse que o importante da fala não era dar a conhecer a alguém algo de novo, mas apenas falar para estar junto com pessoas que têm os mesmos problemas e inquietações. E porque se está ali, e se fala, os problemas parecem menores."
"Até do Lago da Última Esperança veio gente, pois os mujimbos corriam rápido, muito mais que as pessoas, vá-se lá entender porquê."
"Ulume deixou o animal beber e foi à entrada da gruta depositar fuba de milho. Depois foi ele próprio beber a água da sua infância. E uma alegria muito calma começou a preencher todos os seus vazios, com a pureza da água, com a mensagem do cágado, com o mundo voltado ao normal."
O professor de Chimamanda não teria ficado desiludido com a "Parábola do Cágado Velho" de Pepetela, esse sim, um romance tipicamente africano, onde poderia identificar um "mundo de fogo e de ódio", em que "as palavras eram balas disparadas ao futuro de cada um".
Ulume é um aldeão que viu as filhas morrer e os filhos partir para a guerra, mas permanece junto a Muari que se recusa a abandonar a aldeia, esperando o regresso dos rapazes. Mas o local é alvo de permanente saque e conflitos entre tropas das diferentes facções e, um dia, julgando que ia morrer devido a uma granada que explodiu por perto, lembra-se da jovem Munakazi, cujos pés o fascinaram. Com o apoio da primeira mulher, pede esta em casamento, mas a rapariga está renitente em aceitar, pois sonha com outra vida na cidade próxima de Calpe. Casam, mas têm de fugir da aldeia, pois a soldadesca leva consigo todos os animais e colheitas de que se alimentam. Assim, quase acabam as visitas ao morro próximo, onde Ulume se aconselha com o cágado velho, que acredita ser sapiente...
Uma história de guerra e de confronto de tradições entre presente e passado, com a vantagem de ter saído da caneta de Pepetela, de quem sou fã incondicional!
CITAÇÕES:
"As pessoas se seguiam no uso da fala e Ulume calado e de olhos baixos. Não falaria em nenhuma circunstância, pois todos estavam a repetir o que ele conhecia, embora também soubesse que o importante da fala não era dar a conhecer a alguém algo de novo, mas apenas falar para estar junto com pessoas que têm os mesmos problemas e inquietações. E porque se está ali, e se fala, os problemas parecem menores."
"Até do Lago da Última Esperança veio gente, pois os mujimbos corriam rápido, muito mais que as pessoas, vá-se lá entender porquê."
"Ulume deixou o animal beber e foi à entrada da gruta depositar fuba de milho. Depois foi ele próprio beber a água da sua infância. E uma alegria muito calma começou a preencher todos os seus vazios, com a pureza da água, com a mensagem do cágado, com o mundo voltado ao normal."
Olá Tété
ResponderEliminarSou um fã incondicional de parábolas ou não tivesse eu aquela costela que tu sabes. E olha que eu acredito na sapiência do cágado.
Um beijinho
Eheheh, KIM, não sou muito de crendices, mas pronto, cada um com as suas, não é? :))
ResponderEliminarBeijocas e continuação de boas férias!
Oi! filha. Que nome de livro. Cágado Velho.
ResponderEliminarÉ como me sinto. um CAGADO VELHO...
jinohs
que coincidência!
ResponderEliminarnunca tinha ouvido falar nesse livro e no domingo passado, em passeio por Caxias, vi-o numa feira de velharias que estava a decorrer no jardim junto à marginal.
prendeu-me o olhar pelo titulo.
Estou a lê-lo neste momento.
ResponderEliminarPepetela além de ser da minha terra natal, Benguela, é um escritor que me diz muito, pois muitos dos livros ddele fazem-me voltar ao passado, a m/terra, á m/praia, as m/ruas de menina e moça.
Beijokitas
Só conheço o Casal dos Cágados, nos arrabaldes da vila de Alhadas!
ResponderEliminar... os mujimbos correm rápidos!
ResponderEliminarNunca o li, apenas em entrevistas nas revistas e nada mais, um dia quem sabe, gosto e fico leitora, para já, não ando numa de ler, gosto mais do pc... Beijinho da laura
ResponderEliminarnão gosto de parábolas. por isso mesmo não fui para ciências. era muitos cálculos para uma cabeça já preenchida com letras :)
ResponderEliminarNá, não acredito, ZÉ!!! Qual cágado velho, qual carapuça, aposto que ainda estás aí para as curvas... :))
ResponderEliminarJinhos!
O título é original e prende a atenção, VÍCIO! Mas este que li saiu recentemente com a revista Visão (a um eurito), duvido que estivesse nessa feira de antiguidades... (a não ser que alguém o quisesse "descartar" como tal!) =))
Bom, PARISIENSE, duvido que este te faça lembrar esses tempos, que este retrata a guerra pós-25A (de passagem foca guerras anteriores, mas só isso!) Mas também adoro Pepetela, que só conheci recentemente... :D
Beijokitas!
Já conheces mais que eu, REIZÃO, que esse Casal não conheço... :D
ResponderEliminarLá isso correm, JONAS!!! ;))
LAURINHA, ler tem de ser um prazer, senão qual é o sentido?! ;)
Beijinhos!
Preencher a cabeça com letras também é bom, MOYLITO, que para estatísticas e números andam cá os nossos governantes! Não é que percebam muito do assunto, mas pronto! (estive quase a acrescentar o S, mas ainda não foi desta... :)))
Oh, MOYLE, eu tenho a cabeça cheia de letras e sou das Ciências =D.
ResponderEliminarTETE, fiquei curiosa. Mas sabes, mais curiosa fiquei com a escritora de que falas no inicio do post... ainda tens esse email? :D
Convenhamos que nem toda a gente tem jeito para todas as áreas, VANI! :))
ResponderEliminarNão sei pôr aqui em link a tal palestra da Chimamanda, que podes encontrar neste endereço (cerca de 20 minutos):
http://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html
(é tudo pegado, obviamente)
Também acho que lá chegas só através do nome da escritora. :D
Ainda não li nada deste autor! Comprei este mesmo livro por essa mesma razão, pois quero conhecer a sua escrita! Se gostar depois tenho de pedir-te mais algumas dicas, uma vez que és fã! :)*
ResponderEliminarPara mim, TONS DE AZUL, este não é o livro que mais gostei de Pepetela, embora seja mais sério que os dois da série Jaime Bunda, que me fizeram rir à gargalhada... :))
ResponderEliminarQual é a moral da história então?
ResponderEliminar