Há vários anos, uma tia contou-me os problemas que tinha tido com um cartão de crédito. Como inglesa, quando os cartões de crédito apareceram no Reino Unido ela aderiu a um, satisfeita por lhe dar oportunidade de trocar os sofás da sala e de fazer mais umas comprinhas para a casa. Mas, como muitas vezes acontece nestes casos, esticou-se. Quando as primeiras contas apareceram eram elevadas, foi protelando alguns pagamentos, mas continuava a usar o bendito plástico sem grandes preocupações, já que ganhava bem. Como é habitual no sistema bancário, os juros dessas dívidas também foram aumentando, até que um dia descobriu que o próprio ordenado não chegava para fazer face à quantia de que era devedora. Aí, assustou-se! E, sem ver outra alternativa, pôs o meu tio a par da situação. Ele, português de uma geração habituada a fazer poupanças, mesmo auferindo uma remuneração inferior à dela, prontificou-se a pagar o montante devedor, desde que ela prometesse deixar de utilizar o dito cartão. E assim foi: ele pagou (ela depois fez questão de lhe devolver o dinheiro, em suaves prestações), enquanto ela garantiu a sua promessa cortando o plástico em pedacinhos.
Vem isto a propósito de quê? Que há muita gente por aí que caiu na mesma esparrela da minha tia e agora anda aí "ó tio, ó tio", sem ninguém que possa abonar? Também, mas pronto, não é novidade para ninguém que a sede consumista dos últimos anos muito contribuiu para isso e alguma daquela inveja de "se o vizinho tem, porque é que não hei-de ter?", idem! Com os bancos e outras instituições de crédito a facilitarem esse endividamento, mas agora não vem ao caso...
O que realmente queria evidenciar com o exemplo acima é que qualquer comparação do meu tio com a CE ou a Merkel, em relação ao nosso país, não passa de mera coincidência, por mais tendência que tenhamos em acreditar em milagres, em D. Sebastiões a aparecerem em dias de nevoeiro, em salvadores da pátria. A única e exclusiva preocupação dessa "gente" é com os credores, fecham os olhos às constantes mudanças das regras do jogo (mesmo que usurárias), exibem uma enorme indiferença perante as populações em geral. Importante é manter o sistema em vigor e castigar exemplarmente os culpados pelo não cumprimento.
Nem sequer é necessário entender muito de política ou de economia para perceber isto. Escusado será dizer que também ninguém precisa de amigos assim!
já na altura da 2ª guerra mundial os polacos diziam que os alemães para eles eram como irmãos porque os amigos podem-se escolher :h
ResponderEliminarPois, deve ser uma irmandade do género, VÍCIO! :P
ResponderEliminarConfesso que não sei bem o que são cartões de crédito. São os cartões que se recebe dos bancos, onde se tem dinheiro depositado?
ResponderEliminarNa tua história (não sei, se é verdadeira) o teu tio é que é o poupado.
Pois bem, Teté, a minha experiência é outra.
Acho que a maior parte dos portugueses são desgovernados, e a mim, chamam-me avarenta, porque tenho de ter €100 para gastar €10.
É claro, que os portugueses que conheço não lhes falta dinheiro para gastar, mas o que mais me irrita é o desperdício de comida, de energia e de água.
Uma familiar portuguesa costuma dizer com ar superior "aqui (Portugal) não é como a Alemanha" que para ela é uma pobreza franciscana, porque damos prendas mais moderadas, e, quando convidamos alguém não o matamos com tanta comida como ela costuma fazer.
De qualquer modo, todos nós temos que apertar o cinto — quer na Alemanha quer em Portugal — quer com a Merkel, quer com o Socrátes, quer com o Coelho.
PS: Removi o comentário, porque subitamente ficou publicado, sem eu o ter acabado de escrever.
Infelizmente é bem verdade o que aqui descreves. No entanto, também não é menos verdade que o Cartão de Crédito, quando bem utilizado e a pagar 100% é um verdadeiro aliado do desenrascanço e facilitismo. O problema do Cartão é que as pessoas o usam sem terem dinheiro na conta e aí é que está o princípio do fim. Os juros são elevados e nalguns casos completamente agiotas e o Zé Povinho nem disso quer saber, porque o que interessa é resolver o problema na hora.
ResponderEliminarEu uso um cartão que ainda me paga para o usar. Não gasto um cêntimo com ele, mas reconheço que para os menos informados é uma verdadeira armadilha.
Boa aposta a de hoje Tété. Beijinho
EMATEJOCA, de certeza que na Alemanha também há cartões de crédito. E é um cartão de plástico, como esses que o banco dá para poderes levantar dinheiro nas caixas multibanco espalhadas pelo país (cartão multibanco), com a diferença que para além disso podes fazer compras com dinheiro que não tens depositado - funciona como um empréstimo. Só no mês seguinte é que recebes a conta, que podes pagar na totalidade e (como diz o Kim) normalmente aí não costuma ter grande problema, ou pagar 50%, 20% ou 10% desse montante, mas que vão pagando mais juros. Dependendo do cartão, o crédito pode ser no montante do teu ordenado ou bastante superior a ele.
ResponderEliminarA história da minha tia/tio é verídica. E foi aí que decidi nunca ter nenhum, como não tenho. :)
Concordo contigo que em Portugal fazer uma festa normalmente é sinónimo de uma fartança de comida, por vezes bastante exagerada. E isso nem depende de se ter mais ou menos dinheiro, mas sim das próprias pessoas. Talvez seja cultural. Quanto ao desperdício de energia e de água, não estou a ver. Mas há sempre gente desgovernada em todo o lado, acho. Incluindo a dar prendas.
Mas ninguém está a dizer que não temos de apertar o cinto ou de pagar as nossas (do país) dívidas. Acontece é que temos o ordenado mínimo e médio mais baixo da Europa (o mínimo, em Espanha, é quase o dobro) e dos impostos mais altos, os preços dos bens essenciais são sensivelmente os mesmos dos nossos vizinhos espanhóis, a gasolina é mais cara e quando a CE ou a Merkel aparecem, tipo conselheiros, a dizer as medidas que têm de ser seguidas pelos nossos governantes, já sabemos que nos lixamos quase todos. E, em abono do seu mui amado capitalismo, ainda permitem que as tais agências de rating subam os juros da nossa dívida, quase diariamente?! A minha indignação neste momento ultrapassa os trastes dos nossos políticos (que ainda temos mais essa), estende-se a estes "amiguinhos" da treta, que só vêm cifrões em frente do nariz e se estão nas tintas para que os portugueses passem fome, como vem sendo cada vez mais frequente, com tanto desemprego.
Enfim, são desabafos!
Beijocas!
ps - já que tinhas apagado o comentário, eliminei-o! ;)
Pois, KIM, é isso mesmo: o desenrascanço às vezes contribui para um enrascanço ainda maior. E sim, ainda há quem recorra a outros empréstimos, para pagar empréstimos anteriores e aí instala-se o caos. As pessoas parece que não sabem fazer contas... :P
ResponderEliminarBeijinhos! :)
Um ex-amigo e ex-gerente bancário tanto me moeu a moleirinha que me levou a abrir conta bancária na instituição bancária que representava. Por arrastamento domiciliei despesas, aderi a PPR’s e chegou à minha carteira o cartão dourado. Nunca fui muito na conversa das facilidades e plafons que o dito cartão de plástico me iria trazer. Era fácil demais e os bancos nunca deram nada a ninguém, o se é bom cliente ou então... Ao fim de uma anuidade devolvi o cartão e o meu ex-amigo tinha sido “mobilizado” para outra agência, possivelmente para angariar mais e mais.
ResponderEliminarAs pessoas não têm grandes noções de economia e os bancos sabem disso. Mantemos uma dependência financeira. Os “clientes” são o resultado da especulação e do consumo excessivo. Eles ggitam com o dinheiro fácil, incentivam-nos a puxar dos VISA’s, para o consumismo exacerbado, contraímos dividas para pagar por elas juros cada vez mais exorbitantes. Temos muita culpa no cartório, é certo, mas temos de estar atentos e não dar crédito às contemporâneas donas brancas, tanto às de cá da praça como a outras que tais do tal mercado europeu!
Não diabolizo o cartão de crédito. É útil e prático para fazer pagamentos, desde que não nos esqueçãmos que não podemos gastar mais do que ganhamos.
ResponderEliminarUtilizo-o com frequência e pago sempre no mês seguinte, para não ter de pagar juros.
Claro que as pessoas tem culpa ou são ignorantes, PAULOFSKI, mas também é uma verdade que os bancos não se cansam de aliciar as pessoas a ficarem cada vez mais dependentes financeiramente.
ResponderEliminarOlha, ainda recentemente recebi do meu banco uma carta a perguntar se não queria 10 mil euros emprestados, para fazer obras em casa ou uma viagem... Julgava que já tinham acabado com essas propostas, mas, pelos vistos, nem por isso. Obviamente, foi directa para o lixo! :P
Também não diabolizo os cartões de crédito, CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA, especialmente para quem viaja dão muito jeito. Mas muita gente, por falta de informação/conhecimento (e algum espírito consumista à mistura, evidentemente), começou por aí a ficar encalacrada de dívidas...
ResponderEliminarPessoalmente não tenho, o cartão multibanco chega-me perfeitamente! :)
Eu não desdenho do cartão de crédito ! É preciso é saber utilizá-lo ! Garanto que só ganho dinheiro com a sua utilização. Fundamental é que na altura do pagamento se faça a liquidação por inteiro (o que não lhes agrada nada ). Em todas as compras que faço o cartão credita-me 1% ; nas gasolinas credita 2,5% e há serviços em que credita 5%. Tudo isso representa mais que o custo anual do uso do cartão.
ResponderEliminar.
Oh, RUI, mas não critico quem tenha cartão, evidentemente.
ResponderEliminarSó que realmente é preciso saber usá-lo e nem todos sabem, como no exemplo da minha tia e de tantos outros... ;)
É por isso que isto me revolta. Nunca pedi um empréstimo, nunca tive cartão de crédito, nunca gastei o que não tinha. Porque é que tenho de pagar uma dívida que não contraí?
ResponderEliminarPior, ANA, é que todos temos de pagar pela crise e pelas falências (fraudulentas?) de dois bancos, que tinham autorização do Estado para funcionarem como autênticas Donas Brancas, enquanto os culpados andam aí à solta, armados em vítimas (mas cheios da massa)... :((
ResponderEliminareles mandam-me essa porcaria a pontapé para casa, mesmo de bancos em que não tenho conta. mandam contratos de empréstimos, só a precisar de assinatura... até me passo. não sou muito poupado, mas gastar sem ter também não me parece.
ResponderEliminarPois, de vez em quando ainda fazem umas "prospecções de mercado", MOYLITO, no intuito da malta ainda se endividar mais... :P
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