sábado, 16 de fevereiro de 2013

BICAS, COM DICAS!


Vitor Gaspar é um homem de muitos talentos - infelizmente camuflados pelo milhão de desempregados que tem no colo (descontando os ditos inativos, em desemprego de longa duração, que já desistiram de procurar emprego pelas vias do IEFP, que só os arranja de lupa e para lavar escadas pelo preço da uva mijona) - e, após muito refletir, lá encontrou outra solução para extorquir dinheiro à malta, sem ter de contratar mais pessoal para a fiscalização: servirmos todos de fiscais uns dos outros!

A ideia peca por pouco inovadora, já no tempo da "outra senhora" havia uma do género: qualquer vizinho podia denunciar outro por não ter licença para o isqueiro, o que dava direito a multa. Com a nuance que agora é no ato de qualquer compra, desde um simples café, a um quilo de batatas na mercearia ou a uma revista no quiosque da esquina que a fatura é absolutamente necessária. Tanto que qualquer distraído pode ser punido com uma multa avultada, nem sei se ao gosto do fiscal.

Se,  em princípio, ninguém tem nada contra a apresentação de faturas de restaurantes, oficinas de reparação automóvel ou supermercados, por exemplo, alguém se lembra de pedir uma por um croquete, gelado ou afim que dê no apetite? Com um fiscalzito ali à porta (ainda está para ver se a vizinhança também pode participar no "festarú"!), a "matar dois coelhos de uma cajadada" (quando um único chegava!), de multa em riste? E se não têm fiscalização para os comerciantes, como é que vão ter para toda a população? 

Ferreira Fernandes - um dos cronistas mais acutilantes da nossa praça - dá uma sugestão:    


"Bicas, perdão, dicas para fugir à multa

Quando saí do café, o homem, engravatado e educado, abordou-me: "Boa tarde, sou da AT, Autoridade Tributária e Aduaneira..." Eu, que nisto de diálogos com as autoridades tenho muito ano, desviei a conversa: "O senhor desculpe-me, mas como é que AT quer dizer Autoridade Tributária e Aduaneira?" Mas ele, também com muito ano, não atou nem desatou: "Mostre-me a fatura, por favor." E eu: "Fatura, não tenho." Ele: "Mas tem de ter, tomou café." Eu: "Não tomei, não." Ele, que a sabe toda: "O senhor entrou no café e como consumidor final tem de pedir fatura." Eu: "Mas qual consumidor? E final? De onde é que me conhece para me chamar consumidor final?! Entrei no café para aquecer." Ele: "O senhor está a obtemperar..." Eu sabia, ponham uma autoridade tributária a fazer de gnr e ele fica logo a falar como um gnr... Fugi para a frente: "Exijo uma lavagem ao estômago para ver se há cafeína." Olhei para o interior do café e vi as saquetas de publicidade: "E tem de ser Delta! Porque ainda devo ter resíduos do Nespresso que tomei em casa..." O tributário hesitou, guardou o papelinho da contraordenação (é o que eu dizia, é assim que eles chamam à multa) e mandou-me seguir. Fiquei a vê-lo a caçar outro cliente. Este estava tramado, ainda mastigava o croissant... Dali até à esquina, fui pelo passeio sempre a fazer sinais de luzes aos consumidores finais que iam em sentido contrário."

Ferreira Fernandesin "Diário de Notícias" de 14 de Fevereiro de 2013.

Imagem do facebook.

18 comentários:

  1. A Anita, ao fim de tantos anos (e olha que não parece ter envelhecido!) ainda vai ter problemas com a justiça!
    Tb gostei da crónica de F.F.! : )
    Abraço

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    1. A Anita é eternamente criança, CATARINA! Como só as personagens de ficção... :D

      Houve um tempo que não perdia nenhuma crónica de Ferreira Fernandes, mas embora continue a gostar, hoje leio menos jornais... ;)

      Abraço

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  2. A crónica tem piada, mas é uma brincadeira, porque é impossível, que alguem peça uma factura por tomar um café.


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    1. É verdade que ideias destas só podem parecer anedota, EMATEJOCA, mas facto é que há quem as tenha! Duvido é que vão para a frente... Felizmente! :)

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  3. Ao que nós chegámos... a sério...
    Eu já tenho uma preparada: se algum dia me aparecer o famoso fiscal, eu ponho o meu ar mais inocente e envergonhado, dou uma palmada na testa e grito "ai! esqueci-me de pedir a factura! ainda bem que o senhor fiscal me apareceu, se não, nunca mais me lembrava!!"... talvez com esta me safe...lol

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    1. Invenções... é no que dá, BRISEIS! Ouvi uma história em que um cliente abordado, por um fiscal, apontou o balcão do café de onde acabava de sair e disse-lhe para ele ir lá buscar... :)

      Mas, nestas coisas, cada um inventa o que bem lhe dá na gana! ;)

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  4. Desconfio que se me "apanham" em delito, o fiscal vai ter trabalho. Então se for mais pequeno do que eu, é capaz de ter mesmo problemas. Beijoca.

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    1. O "trabalho" vai ser tanto, que não terão mãos a medir, RAUF! E com gente mal-disposta, então... :)))

      Beijocas

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  5. Ferreira Fernandes, brilhante como sempre!

    Eu declaro desde já: não peço facturas, naão guardo factiras, não mostro facturas!!!

    Bom fim de semana

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    1. É verdade, SÃO! Sempre gostei das crónicas dele! :)

      A questão nem é só pedir faturas de tudo e mais alguma coisa, também é guardá-las! É preciso ter um grande arquivo "morto" em casa... :P

      Bom domingo para ti!

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  6. Eu não pedirei facturas a ninguém.
    No tempo das vacas gordas eu aceitaria a lei. Hoje, NÃO!
    Beijinho Teté

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    1. Estou convencida que a medida não terá grande sucesso, KIM! Não só por "atropelar" uma série de leis, como pela trabalheira que é guardar todas (para lá do espaço necessário para tal) do simples café, à despesa do restaurante... ;)

      Beijocas!

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  7. Hoje acordei a pensar neste assunto.
    Já sei que estás na dúvida se eu penso ou se tenho pesadelos ao acordar. Admito que ambas a probabilidades são válidas, mais esta do que aquela.
    Eis a minha conclusão: tudo isto faz parte de um quadro de revista (da Revista à Portuguesa, entenda-se)!
    Porque na verdade isto não pode ser coisa séria; não pode!
    A "Manelinha" quando foi Gaspar no governo do Barroso também teve essa ideia, lembras-te?
    Vem agora o Gaspar que é a "Manelinha" do Coelho com uma reprise, mesmo argumento e mesmos actores que continuam sendo medíocres.
    É uma lástima que quando têm ideias destas isso não se reflicta num desarranjo intestinal "à boca da urna" que os deixasse sentados por 8 dias (mínimo).

    Beijokas, sorrindo livre de impostos e sem factura!

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    1. Também não acho que seja coisa séria, KOK: são mais "vaipes" que lhes passam pelo tutano, já de si um bocado embotado por só circularem nos gabinetes, julgando ter descoberto a pólvora. E depois descobrem que não só a ideia não é original, como não é exequível de pôr em prática, para lá de amplamente contestada por tudo e por todos!

      O maior problema é mesmo esse: a mediocridade de toda esta gente que nos governa! Agora, como anteriormente, não muda muito. Nem os possíveis futuros candidatos a governantes são muito diferentes. Uma cambada do piorio, que só se serve para política para se capatultar, estando-se nas tintas para o povo que os elege! :P

      Beijocas, sempre sorridentes, sem impostos ou faturas! :D

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  8. Quererão faturar à custa do medo?

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    1. Eles faturam sempre à conta do medo, LUISA, com teorias do género de "ou nós ou o caos". Pois, pois... :S

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  9. Não sei onde vão arranjar fiscais para isto quando nem para fazer trabalho de escritório têm pessoal que chegue, bem pelo menos é o que ouço.

    Deve ser para intimidar mesmo... Enfim, métodos estranhos!

    Beijocas

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    1. Métodos estranhos mesmo, POPPY! Porque se não têm fiscais para os comerciantes, dificilmente o terão para toda a população. E esse clima de medo não ajuda em nada... :P

      Beijocas

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)