Quantas histórias podem coexistir dentro do mesmo enredo? Todas as que quisermos, se pensarmos bem no que é o decurso de uma vida, mesmo que ainda nos primeiros 30 anos. Invulgar é que as personagens principais entrem não só para dentro do mundo descrito no livro "A Crisálida de Ar" - resultado da parceria de Tengo com a jovem Fuka-Eri - como de um conto intitulado "A Cidade dos Gatos" da autoria de um escritor alemão (que não sei se existe realmente) e, a certo ponto, até uma incursão por "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll. Descontando o sempre presente (e notório, até pelo título!) Big Brother de George Orwell, em "1984". Ou outros já referidos no primeiro volume...
De algum modo, recorda um pouco a criatividade de Woody Allen em "A Rosa Púrpura do Cairo", em que o protagonista do filme sai do ecrã para dar alento e esperança a Cecília, uma empregada de mesa infeliz, que se refugia no cinema para esquecer as suas mágoas. O filme é de 1985, pelo que suponho que a coincidência não será casual!
Bom, mas à medida que as 434 páginas se vão sucedendo e vamos descobrindo alguns dos segredos de Aomame e Tengo, também o mundo em que inadvertidamente entraram (o de 1Q84) vai surgindo cada vez mais fantástico e inverosímil: como personagens de ficção dentro de outras ficções, tentam apenas não ser meras marionetas manobradas por um Povo Pequeno, que parece já ter decidido o seu destino, pouco favorável para ambos.
Embora o enredo gire em torno do romance (não diria platónico, mas por-viver!) das personagens, entre metáforas e referências óbvias às religiões e aos sistemas políticos, também Murakami, tal como Orwell, denota um profundo desencanto com todos os líderes, presentes ou passados.
Uma trilogia empolgante, sem dúvida, mas em que é pouco previsível um final feliz... É esperar, até ler o próximo volume!
"O mundo tem dois sistemas, o «ca-pi-ta-lix-mu» e o «co-mu-nix-mu», que se odeiam mutuamente. No entanto, ambos os sistemas têm problemas sérios e, globalmente, o mundo segue uma direção que não é boa. O «co-mu-nix-mu» começou por ser uma ideologia notável, com ideais elevados, mas certos políticos egoístas deformaram-no."
"A meu ver, as religiões que se fundamentam numa ideia do fim do mundo são todas uma farsa, em maior ou menor grau."
"A partir de uma certa idade, a vida transforma-se num processo ininterrupto de perda. Tudo aquilo que é importante na vida começa a escapar-nos da mão, vai caindo como os dentes de um pente. E o que fica no seu lugar são apenas imitações sem qualquer importância. As capacidades físicas, as esperanças, os sonhos e os ideais, as certezas e as pessoas amadas, todas essas coisas vão desaparecendo, até não restar nenhuma. Algumas anunciam a sua partida, ao passo que outras se dissipam, um belo dia, de repente, sem aviso prévio."
Olá!
ResponderEliminarTenho um selinho para ti no meu rol. Passa por lá.
Bjs.
Já vi, TERESA DIAS! Obrigada! :)
EliminarBeijocas
Confesso que sou suspeita no que toca a Haruki Murakami. Sou uma enorme fã da sua escrita e dos próprios enredos dos seus livros (Torci para que ganhasse o Nobel da Literatura mas ainda não foi desta vez...) Como admiradora dos seus livros, posso dizer que já li esta segunda obra, mas infelizmente ainda não tive a possibilidade de terminar a trilogia.
ResponderEliminarSão sempre empolgantes e imprevisíveis os destinos que Haruki Murakami dá aos seus personagens e fico muito contente por partilhares da minha opinião. É sempre bom encontrar amantes de uma boa literatura.
Até à próxima.
P.S: http://divagacoesdeumacibernauta.blogspot.pt/ Se quiseres fazer uma visitinha, o No Mundo da Lua estará à tua inteira disposição.
Bem-vinda, DANIELA! :)
EliminarNão li muitos livros de Murakami, este é apenas o quarto. O primeiro que li e gostei foi o "Sputnik". Mas nada de muito transcendente. No ano passado li "A Sul da Fronteira, a Oeste de Sol" e aí sim, virei fã. Portanto, a trilogia ficou logo na calha... :D
Torço para que tenhas um bom começo na blogosfera! :)))
Um escritor sem apego a lideres quer do presente quer do passado... É interessante a visão que ele tem tanto do comunismo como do capitalismo resumida na frase que nos apresentas.
ResponderEliminarBeijocas
Bom, a visão é a que as personagens transmitem, POPPY! No caso da citação, resulta das lembranças de uma adolescente de como a ensinavam na escola... :)
EliminarBeijocas
Não tenho tido tempo para avançar nos três livros que tenho entre mãos...
ResponderEliminarE muito menos para pensar na tua excelente proposta!
Adorei o filme "A Rosa Púrpura do Cairo"!
Abraço
Ora aí está coisa que não entendo, ROSA: ter 3 livros em mãos! :)
EliminarMuito esporadicamente tenho dois, quando o livro que estou a ler é um calhamaço que dificilmente transporto na mala. Aí ponho um mais pequeno na mala, para o caso de ter de esperar em qualquer lado, se possível de contos ou assim de leitura fácil... :D
Abraço
Sobre este livro nada posso dizer, a não ser que também o quero ler, pois tal qual como George Orwell e Haruki Murakami também eu tenho um profundo desencanto por todos os sistemas políticos.
ResponderEliminar"A Rosa Púrpura do Cairo" é, na minha opinião, um dos melhores filmes do meu Woody!
Não me lembro de nenhum escritor alemão que tenha escrito "Die Stadt der Katzen", lembro-me sim, do escritor chinês Lao She ter escrito um romance com esse nome.
EliminarBoa noite!
PS: Vamos ver, se este comentário fica, pois estou farta de escrever comentários aqui e noutros blogues e a rede/net vai abaixo.
Então se leres depois diz-me a tua opinião, EMATEJOCA! :)
EliminarTambém gostei do filme, embora não seja o meu favorito de Woody Allen. Mas é daqueles primeiros que gostei... :)
Aacabei de fazer a pergunta no facebook, a ver se alguém sabe quem é, EMATEJOCA. Porque Murakami fala em conto e não em romance e refere genericamente um autor alemão. Disso tenho a certeza. Agora a história também pode ser da sua lavra, não é? Mas obrigada pela tua dica! :)))
EliminarBoa noite e bons sonhos!
ps - por aqui tem dias, mas hoje não tenho tido dificuldades de comentar! :D
Lamento ser politica ou literariamente incorreta, mas não consigo gostar de Murakami. Fiz um esforço, li o "Kafka à beira-mar", mas não me convenceu nem um bocadinho.
ResponderEliminar"A Rosa Púrpura do Cairo", sim, absolutamente!
Beijinhos.
Não és nada politicamente incorreta, TERESA, cada u tem os seus gostos. Também não consigo ler Saramago e há quem o idolatre! Como diz uma amiga: "Há livros que não são o nosso número"! E o mesmo se diga em relação a autores. :)
EliminarEsse do Kafka não li, mas sei de uma amiga que também desistiu de o ler precisamente nesse livro! E voltamos ao mesmo: gostos! :D
Também gostei do filme!
Nunca li nada deste escritor e de Allen também não gosto muito.
ResponderEliminarAlém disso, estou com vontade de chicotear este bando de vis criaturas, apadrinhadas pela múmia caloteira de Belém!!
Que tenhas um resto de dia bem melhor que o meu.
Murakami é daqueles escritores que ou se ama ou se odeia, SÃO! Não conheço ninguém que o considere um escritor assim-assim... :)
EliminarJá de Woody Allen não gostava nada dos seus primeiros filmes, este foi um dos primeiros que me reconciliou com o seu cinema e depois vieram outros... :D
E sim, nos próximos dias há de aparecer muita gente com a mesma vontade. Cambada!
Beijocas
Como tenho que abastecer a estante... se calhar vou pensar nesta trilogia :)
ResponderEliminarUma boa ideia, para quem aprecia Murakami. O que não acontece com todos os leitores, LUISA! :)
EliminarAs tuas escolhas de leitura sao sempre muito interessantes e informativas.
ResponderEliminarE agora vou deitar-me que e tardissimo!
Boa noite.
Tento que sejam informativas, mas não em demasia: para não estragar o prazer de outros ao lerem o mesmo livro, CATARINA! :)
EliminarBoa noite para ti!
À espera de livros da fnac para descobrir Haruki Murakami
ResponderEliminarPEDRO COIMBRA, Haruki Murakami ou se ama ou se odeia. Não pela escrita propriamente dita, que é bastante acessível, mas pela criatividade e fantasia dos seus enredos... :)
EliminarGostei da análise. Quanto ao terceiro volume digo-lhe desde já que, logo no início vai aparecer um terceiro personagem que a vai tornar a narrativa mais empolgante e a vai levar a recordar o inspector Colombo E mais não digo....
ResponderEliminarJá li uma crítica ao 3º volume, CARLOS, e refere essa personagem, que já tinha passado pelas páginas deste, embora de raspão... Quanto ao resto, ainda é uma surpresa! :)
EliminarOntem requisitei da biblioteca o livro “O Jogo do Anjo” que faz parte de uma trilogia (fiquei agora a saber) de Carlos Ruiz Zafón sem nunca ter ouvido falar deste autor (que me lembre).
ResponderEliminarConhece-lo? Já leste algum livro dele?
CATARINA, li três livros de Zafón, dei a minha opinião (pouco abonatória) sobre esse e outro que li. O que não publiquei aqui "A Sombra do Vento" e o primeiro que li... adorei! :)
EliminarMas lembraste bem, que amanhã (mais logo) sai post sobre o livro dele que gostei! :)
Abraço
Thanks! : ))))
EliminarFoi um prazer relembrar um bom livro, CATARINA! :)
EliminarAchei curioso falar num conto intitulado "A Cidade dos Gatos", dado que sou autora de um livro intitulado "A Cidade dos Gatos" que pode ver aqui: http://acidadedosgatos.com
ResponderEliminarEsse conto está no livro 1Q84 volume 2?
Obrigada