quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A LIVRARIA

Em 1959, Florence Green, uma viúva de meia-idade, decide abrir a única livraria de Hardborough, na vila costeira inglesa onde reside. Para o efeito, pede um empréstimo bancário para adquirir Old House, "uma pequena propriedade com armazém próprio na primeira linha de praia", há muito desocupada devido à crença local de estar assombrada, sem compradores concorrentes à vista. Florence teve experiência no ramo livreiro no passado e está disposta a pô-la novamente em prática e a dinamizar a leitura naquele recanto do mundo, onde a vida cultural é praticamente inexistente.

Com o que ela não conta é com a subtil mas tenaz oposição ao projeto da figura londrina mais proeminente da vila, Violet Gamart, mulher do general com o mesmo apelido. Esta alude - numa das suas festas, para a qual foi inusitadamente convidada - que nutria outros planos para o local: "um centro de artes", com "música de câmara no Verão" e "palestras no Inverno", apelando a que reconsidere a sua decisão. Não havendo nada a reconsiderar, uma vez que o negócio já fora efetuado, Florence mete mãos à obra, tendo para tal a ajuda dos escuteiros, que montam as prateleiras das estantes na loja, e a de Christine Gipping, uma menina de 10 anos que a auxilia, após as aulas, na livraria e no serviço de biblioteca que entretanto idealizou. O inesperado apoio do velho Brundish, a personagem mais ilustre da terra, que se recusa a manter contatos com a vizinhança, é bem-vindo e animador, embora possa suscitar algum despeito na mulher do general, que nunca teve ocasião de privar com ele. Contudo, quando põe à venda o livro "Lolita", de Vladimir Nabokov, a animosidade contra a livraria começa a manifestar-se de outras formas...

Mais do que do enredo em si, gostei do modo como Penelope Fitzgerald narra e retrata aquela pequena comunidade conservadora e hipócrita (numa escrita clara e concisa, mas em que se tem de ler nas entrelinhas das palavras que não se proferem!), apenas aparentemente amável e prestável, mas indiferente a qualquer inovação ou progresso. Coisa que está longe de acontecer somente em vilórias inglesas dos anos 50!

Note-se ainda que apesar da publicidade na capa, e sendo este romance um dos finalistas ao conceituado prémio literário Booker Prize, não foi com ele que a escritora o conquistou, mas sim com "Offshore", em 1979.

Citações:

"Resumindo, enganou-se a si mesma fazendo de conta durante um momento que os seres humanos não estão divididos em exterminadores e exterminados, os primeiros predominando em qualquer altura. A força de vontade nada serve sem um objectivo."

"- Por favor, não fiques com a ideia de que não quero considerar-te para o trabalho. É só porque, na verdade, não pareces ter idade suficiente, ou força.
- Não pode dizer isso só de olhar. A senhora parece velha e não tem ar de forte. Não fará grande diferença, desde que fique com uma de nós. Somos todas muito habilidosas."

14 comentários:

  1. Fiquei muito convencida com esta tua opinião, Teté! E embora tu saibas que a minha pilha de livros é tão grande como a tua e as compras estão bem restritas, este livro vou querer ler. :) Gostei muito da capa.
    Beijocas

    ResponderEliminar
  2. Anónimo2/15/2012

    Nunca li nada dela, mas o seu post aguçou-me a curiosidade...

    ResponderEliminar
  3. Também quero ler...gostei do título, da capa e do que contas :)

    Vai prá lista :)

    A minha lista está enorme...vais levar-me à falência (smile com pau na mão), mas que fazer?

    Não é à toa que te chamo "minha crítica literária" (assobiando)

    Beijinho :)

    ResponderEliminar
  4. Temos este livro na biblioteca onde trabalho, mas ainda não o trouxe para casa, mas depois de ler a tua critíca, Teté, até o vou trazer e lê-lo.

    ResponderEliminar
  5. Não conhecia a autora, mas parece que vale a pena lê-la...
    Bjs

    ResponderEliminar
  6. E é daqueles que se folheiam de uma penada, que o espacejamento e tamanho das letras e os capítulos curtos, ajudam, TONS DE AZUL! Além de ter umas meras 173 páginas, que se leem quase como um conto... :))

    Beijocas!

    ResponderEliminar
  7. Também foi o primeiro que li da escritora, CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA... :)

    ResponderEliminar
  8. Aposto que a tua lista é tão extensa como a minha, MARIA! Mas enfim, não se pode ler tudo, nem a nossa bolsa o permite, portanto olha, é ir lendo o que ainda está ao nosso alcance... :))

    Tenho um grande defeito como "crítica literária": só leio o que gosto, o que não gosto ponho de lado (ou nem começo a ler)! Mas gosto de escrever sobre livros, é verdade, especialmente sobre aqueles que mais me cativam... :D

    Beijocas!

    ResponderEliminar
  9. Lê-se num instante, EMATEJOCA, e suponho que vais gostar, apesar da simplicidde da história! :)

    ResponderEliminar
  10. Difícil deve ser não gostar, porque ela escreve muito bem, TERESA. Do meu ponto de vista, evidentemente! :)

    Beijocas!

    ResponderEliminar
  11. Como gostei das escritoras que “descobri” em janeiro: Tatiana de Rosnay e Jhumpa Lahiri, continuo a ler os seus livros. Desde que me habituei a ouvir os audiobooks enquanto conduzo, tenho tempo para ler muito mais livros do que no tempo pré-audiobook! Estamos apenas em meados de fevereiro e já estou no terceiro livro! Não me recordo de ter lido livros dessa escritora. A anotar.

    ResponderEliminar
  12. Não tenho esse audio-book, CATARINA, mas certamente iria gostar, se fizesse viagens diárias mais longas! ;)

    Já deixei essa fase de ler todos os livros de um autor que gosto, quero ler livros diferentes de escritores que me são desconhecidos, experimentar o sabor de outras palavras. Nos intervalos vou lendo ou relendo policiais, que me agradam quase sempre. Donna Leon será uma das próximas leituras, as outras que referes ainda não conheço. Lá chegarei... acho! :D

    Continuação de bons livros (audio ou outros) para ti! :)

    ResponderEliminar
  13. nunca tinha ouvido falar e por interessante que me pareça, e parece, no puedo :)

    ResponderEliminar
  14. Pois, no se puede leer todo, MOYLITO! (nada a ver com o AO, é apenas o meu portunhol "arranhado") :))

    ResponderEliminar

Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)