quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A SOLIDÃO DOS NÚMEROS PRIMOS

Entre livros e com o de Paolo Giordano a aguardar vez na estante, foi por ele que me decidi ao saber que era um dos preferidos da Briseis

Alice é uma menina que odeia esquiar, mas desde os 4 anos que o pai a arrasta para a escola de esqui, pretendendo que se torne mais competitiva. Um acidente na neve determina que ela fique coxa de uma perna e que culpe o pai pela infelicidade. Por seu turno, Mattia é um rapazinho muito inteligente, que tem uma irmã gémea deficiente mental, Michela, que na escola é motivo de chacota dos outros alunos. Um dia, ao ser convidado para o aniversário de um colega, resolve deixar a irmã sentada num banco de jardim enquanto vai à festa, mas ao regressar não a encontra. 

Estes traumas de infância condicionam para sempre a personalidade e o comportamento de ambos até à adolescência: ela é anorética e ele mutila as palmas das próprias mãos com qualquer objeto cortante ao seu alcance. Por incapacidade ou desatenção os respetivos pais não os conseguem controlar e a postura anti-social não lhes angaria amigos. Mas é por essa altura que se conhecem, nessa solidão que o autor equipara à dos  números primos, nomeadamente à dos denominados primos gémeos: aqueles que formam "pares de números primos que estão próximos um do outro, aliás, quase próximos, pois entre eles existe sempre um número par que os impede de se tocarem realmente."

O enredo cronológico estende-se por um período de 24 anos (de 1983 a 2007), mas está longe de ser tétrico ou lamechas. Rude e cru em partes, comovente noutras, limita-se a retratar os sentimentos de solidão e de inadaptação frente à sociedade de pessoas (que se julgam) "diferentes". E nos mecanismos de defesa ou de ataque de que dispõem, compreendamos ou não as suas razões... Adorei!

Citações:

"Porque ela e Mattia estavam unidos por um fio elástico e invisível, sepultado debaixo de um monte de coisas de pouca importância, um fio que podia existir apenas entre duas pessoas como eles: duas pessoas que haviam reconhecido uma na outra a própria solidão."

"O arrepio que a percorreu foi uma agradável mistura de arrependimento e trepidação. Pensou que aquele corpo era só seu, que se quisesse até o podia destruir, devastá-lo com sinais indeléveis ou deixá-lo ressequir, como uma flor caprichosamente arrancada por uma menina e depois deixada a murchar no chão."

"Com o passar do tempo convencera-se de que já não sabia fazer nada fora do seu elemento, dos conjuntos ordenados e transfinitos da matemática. As pessoas, envelhecendo, ganhavam segurança, mas ele perdia-a, como se a sua fosse uma reserva limitada."

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As legendas para os cartoons do post anterior ainda estão em aberto até ao próximo dia 20 de dezembro. Serão todas devidamente republicadas dia 22 de dezembro! :)

20 comentários:

  1. Mais uma boa sugestão literária para ter em conta
    Beijocas

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    1. Ou não, PEDRO COIMBRA! :)

      Conheço quem tenha odiado o livro, porque já se sabe que cada um tem os seus gostos... :)

      Beijocas!

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  2. não percebi!
    em que parte da história é que entram os primos dela?

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    1. Os primos são só os números, VÍCIO! :)))

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    2. Por isto é que eu tento sempre que possível ler os comentários dos outros, e o VICIO já me fez rir, assim despretensiosamente logo pela manhã :D

      Beijinhos

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    3. O Vício é um brincalhão, no bom sentido, POPPY! E ainda bem... :)))

      Beijocas!

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  3. Já tinha lido uma crítica sobre este livro e fiquei curiosa!
    Mais um para a lista! :-))

    Abraço

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    1. É daqueles livros a que pouca gente deve ficar indiferente, ROSA! Adorando ou detestando... :))

      Abraço!

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  4. Acho que comecei a ver o filme, mas não vi tempo suficiente para ficar com uma opinião. A tua descrição parece bem mais interessante do que o que eu vi, que, confesso, me enfadou passado pouco tempo. A ler, para confirmar :)
    Beijinhos

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    1. O filme não vi, SAFIRA!

      Como já referi em comentário, as opiniões sobre o livro são muito díspares. Mas indiferente ninguém fica... ;)

      Beijocas!

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  5. Tenho tanta coisa para ler...

    Beijinho

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    1. Somos duas, SÃO! E ainda bem... :)))

      Beijocas!

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  6. Fui consultar o meu “notebook”. Li esse livro em setembro de 2009.
    Não posso dizer que adorei, como tu. É um livro que ganhou prémios, foi traduzido em muitas línguas ... e que me perturbou. Depois de o acabar de ler “ficou” comigo durante semanas e semanas. Para “desanuviar” comecei a ler “No god but God” de Reza Aslan...
    Abraço

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    1. Uma amiga minha detestou, CATARINA! Mas já se sabe que todos temos opiniões diferentes sobre livros ou filmes ou músicas e por aí adiante... :)

      Mas sem dúvida que é um livro que "mexe" connosco! Esse outro não conheço! ;)

      Abraço!

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  7. Anónimo12/12/2012

    Não sei explicar a razão de nunca me ter sentido atraído pela leitura desse livro, que há uns anos era já muito falado.
    Agora, em dois dias, leio o seu post e o da Briseis e começo a reequacionar a minha posição. Vou ver se aproveito os saldos da Bertrando, onde se encontram livros com descontos até 40% até ao final do mês. (Não, não estou a fazer publicidade...)

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    1. O livro é de 2008, CARLOS, e ficou badalado por ter recebido vários prémios! Mas isso no fundo não interessa nada, para gostarmos ou não... :)

      Também aproveitei uma promoção da FNAC para comprar 4 livros pelo preço de 3, que tive a sorte de acumular com um desconto de 20%. Resultado: cada livro ficou-me por 9,25 €, quando cada um custava 15 ou 16 €. E resolvi 3 presentes de Natal! :)))

      Esses "saldos" até devem ser publicitados! :D

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  8. Anónimo12/14/2012

    Se me apetece muito lê-lo, por outro lado há qualquer coisa que me diz que me vai entristecer.
    Fica a aguardar, ali em baixo...
    beijinhos:)

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    1. Claro que não é propriamente um livro alegre, NINA! Como não o são crianças ou jovens com traumas de infância destes... ;)

      OK, te aguardo! :)

      Beijocas!

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  9. Que bom que gostaste... =) também me apercebi, entre as pessoas a quem o recomendei, que não é um livro fácil de gostar, Acho que só pessoas com uma certa "bagagem" e uma certa "profundidade" são tocadas por ele. Digo "bagagem", não no sentido de história ou maturidade literária, mas experiências e gatilhos emocionais. Cada um tem os seus. Como uma nota que só alguns ouvidos conseguem ouvir... =)

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    1. Pois olha, BRISEIS, a minha teoria é que também depende do momento em que lemos certo livro, se estamos mais sensíveis ou não a determinados problemas! Este foi daqueles que calhou bem, mas admito que possa não agradar a toda a gente ou até chocar alguns... Uma amiga minha odiou! São gostos... :)

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)