Imagem de Peter H. Reynolds
Hoje o desafio é literário e tão simples como identificar o autor de cada uma das citações destes contos. Se possível sem batotas, mas cada um sabe de si. Os três escritores são portugueses. E digo são, embora já todos tenham falecido, porque os grandes escritores não morrem enquanto os seus livros forem lidos...
"E a mão trémula e enrugada poisou os dois cheques em cima da mesa.
O Dono da Casa olhou o gesto com um misto de furor, espanto e indignação. O Bispo, aquele prelado tão polido, estava a trair as regras do jogo. Às regras da boa educação respondia com problemas de consciência. Acusava-o a ele, Dono da Casa, de fazer negócios inconfessáveis e confusos. Acusava-o em palavras claras, inconfundíveis. Nem ao menos se exprimia indirectamente e por meio de alusões. E, no fundo da sua alma, teve grande vontade de receber o dinheiro e de dar ao Bispo uma resposta crua."
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Jantar do Bispo", "Contos Exemplares"
Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Jantar do Bispo", "Contos Exemplares"
"Mas realmente o que o encantava era o bode. Trouxera-o para casa ao voltar de umas férias na montanha. O bode acompanhara-o sem fazer questão e isso comovera Julião. Era um bode jovem, mas já com barba digna, que ficava a olhar para tudo com desdém, como prevendo inúmeras desgraças. Afeiçoaram-se um ao outro. Julião esmerava-se no tratamento e o bode, compreendendo que estava numa casa de respeito, passara a marrar apenas em polícias e cobradores. Mas comia, comia muito, comia tudo."
Mário-Henrique Leiria, in "O Bode Imarcescível", "Contos do Gin-Tonic"
Mário-Henrique Leiria, in "O Bode Imarcescível", "Contos do Gin-Tonic"
"A rainha tomou a mão da serva. E sem que a sua face de mármore perdesse a rigidez, com um andar de morta, como num sonho, ela foi conduzida para a Câmara dos Tesouros. Senhores, aias, homens de armas, seguiam num respeito tão comovido que apenas se ouvia o roçar das sandálias nas lajes. As espessas portas do Tesouro rodaram lentamente. E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da madrugada, já clara e rósea, entrando pelos gradeamentos de ferro, acendeu um maravilhoso e faiscante incêndio de ouro e pedrarias! Do chão de rocha até às sombrias abóbadas, por toda a câmara, reluziam, cintilavam, refulgiam os escudos de ouro, as armas marchetadas, os montões de diamantes, as pilhas de moedas, os longos fios de pérolas, todas as riquezas daquele reino, acumuladas por cem reis durante vinte séculos. Um longo ah, lento e maravilhado, passou por sobre a turba que emudecera. Depois houve um silêncio, ansioso. E no meio da câmara, envolta na refulgência preciosa, a ama não se movia... Apenas os seus olhos, brilhantes e secos, se tinham erguido para aquele céu que, além das grades, se tingia de rosa e de ouro. Era lá, nesse céu fresco de madrugada, que estava agora o seu menino. Estava lá, e já o Sol se erguia, e era tarde, e o seu menino chorava decerto, e procurava o seu peito!... Então a ama sorriu e estendeu a mão. Todos seguiam, sem respirar, aquele lento mover da sua mão aberta. Que jóia maravilhosa, que fio de diamantes, que punhado de rubis, ia ela escolher?"
Eça de Queiroz, in "A Aia"
Eça de Queiroz, in "A Aia"
ADENDA a 25 de maio de 2012: a identificação de cada autor e texto a sublinhado! Obrigada a todos pela participação e parabéns aos que acertaram e/ou pesquisaram!
(Obrigada, Tons de Azul!)
Conheço bem o 1º e o 3º...ou a 1ª e o 3º.
ResponderEliminarGosto dos dois, a primeira pela vertente humana que deixa transparecer nas suas obras-e que o filho não herdou-o 2º pelo realismo.
O último conto é analisado no 9º e a sua obra mais notável no 11º (também já a lecionei:)).
Há muito que não lecionava 9º, mas este conto nunca me saiu da memória.:)
O 2º conto não sei a quem pertence. Vou fazer uma pequena pesquisa.
Se não voltar é porque não encontrei.:)
beijinhos
Sem batota, encontrei logo (nem todos falam em bodes).
ResponderEliminarNão me lembro de algum dia ter lido contos deste autor lisboeta, falecido em 1980, no entanto o nome de uma das obras não me é estranho.:)
beijinhos e um excelente dia
Pois lamento a minha ignorância. Lembro-me do 2º trecho. Sei que já o li mas não recordo onde. Os outros dois sei de certeza que nunca li.
ResponderEliminarUm abraço
só respondo se me disseres 2 personagens que usavam a expressão "it's clobberin ' time!" :P
ResponderEliminarNão conheço nenhum dos livros, nunca li nenhum...para descobrir a que livros e autores pertenciam estas citações tive que recorrer à batota porque eu sei de mim e saber de mim é não saber quase nada...agora já sei, não tudo, mas o suficiente para responder a este desafio ;)
ResponderEliminarFazer batota nem sempre é mau, ao fazê-la estamos a aprender e eu aprendi uma palavra nova que nem sabia que existia :p
Gosto do 1º e do 3º autor, o 2º não conhecia...
Beijinho :)
E amei a imagem :)))
ResponderEliminarClaro que eu nem leio muito, nem lecciono literatura ! :)
ResponderEliminarTive que ser batoteiro !
O 1º e o 3º são de autores muito conhecidos. Já do 2º nunca tinha ouvido falar.
1º A casa era grande, branca e antiga. Em sua frente havia um pátio quadrado.
2º Julião amava os animais (e o autor gostava de Gin ) !
3º Era uma vez um rei, moço e valente, senhor de um reino abundante em cidades e searas.
(e aquela palavra "nova" de que fala a maria, também não fazia a mínima ideia do que era ! eheh )
.
Só consegui identificar a 1ª, as outras batota:)
ResponderEliminarBom fiz batota e voltei. Já sei quem são os autores. Nunca li os textos em primeiro e 3º embora goste muito dos autores. Do segundo autor nunca li nada, mas tenho a certeza de já ter lido este texto. Talvez tenha sido em algum blogue mas sim sei que o li.
ResponderEliminarUm abraço
1º - A daquele gajo que tem um nome cuja sigla parece uma doença venérea :)
ResponderEliminar2º - Imarcescível é uma palavra magnífica ;)
3º - O nosso supra sumo da ironia.
(Batotei [excepto no 2º]) :P
O 1º é de um homem?
ResponderEliminarBolas! E eu que juraria que era uma ela! Ando a confundir as leituras todas.:(
beijinhos:))
Nina
Pode ser uma vergonha, mas não reconheci qualquer dos textos, Teté. Jã se fosse poesia... Tás a ver como são as coisas?
ResponderEliminarNão recorri à batota e sou incapaz de responder. Sinto-me tão inculto como o Manuel que a esta hora está prestes a dar um passo importante na vida. Já está à porta :-)
ResponderEliminarNão me recordo, portanto, não sei!
ResponderEliminarBom, NINA, se tivesses avançado o nome de cada um... a brincadeira tinha acabado depressa: 100% certa! :))
ResponderEliminarUma grande beijoca!
Curioso é que é o menos conhecido, ELVIRA! :)
ResponderEliminarAbraço!
Duas personagens dessa Coisa, VÍCIO?! OK, fica para uma próxima oportunidade... =))
ResponderEliminarSaber de ti é não saber quase nada, MARIA?! Eheheh, estás a ser modesta... :))
ResponderEliminarE claro que aprendemos com as pesquisas, qual é a dúvida? :D
A imagem foi a Tons de Azul que partilhou no FB, também amei. Daí o meu obrigada a ela! :)
Beijocas!
Amanhã (mais logo) conto uma história relacionada com o 2º, RUI! :))
ResponderEliminarA palavra "nova" está na origem de nunca me ter esquecido deste conto! :D
Mas tudo certo, evidentemente! (nem se esperava outra coisa de um mestre de pesquisas...) :)
E já não é mau, RAINHA! O que interessa acaba por ser a brincadeira em si, não tanto o método para lá chegar... :))
ResponderEliminarEra como te dizia, ELVIRA, o 2º é o menos conhecido dos três. E sim, o conto é tão curto, que é possível que o tenhas lido num blogue. Já os outros dois é muito menos provável... :))
ResponderEliminarOutro abraço!
Gajo com nome de doença venérea (?!) não entrou aqui, MOYLITO! :))
ResponderEliminarSabia que ias direto ao imarcescível, que foste a única pessoa que li a usar a palavra! :D
Resumindo: a batota foi fifty fifty! :)
Não, NINA, não é um homem! Não se pode ir atrás de todas as dicas... :))
ResponderEliminarBeijocas!
Deixa estar, VIC, que em poesia era eu a ter um rotundo falhanço, a não ser que fossem aqueles muito conhecidos e óbvios... :D
ResponderEliminarComo as armas e os barões assinalados, o poeta é um fingidor ou eles não sabem que o sonho... :))
Ah, ainda não fui espreitar o Manuel, CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA, provavelmente só amanhã, mas fica prometido! :)
ResponderEliminarAcontece a todos, CATARINA! Estes para mim, são daqueles mais memoráveis, mas outras pessoas poderão ter outras preferências... :))
ResponderEliminaracertaste numa :p
ResponderEliminarAh, foi, VÍCIO? Olha que surpresa... =))
ResponderEliminarA Sofia de Mello Breyner não é mãe do MST? Acho que já me meti os pés pelas mãos, então! :P
ResponderEliminarEra a mãe dele, sim, MOYLITO! :)
ResponderEliminarAcontece nas melhores famílias... :D
Não sabia responder a este desafio dos contos. :(
ResponderEliminarNão tens que agradecer nada, Teté! ;)
Beijocas
Tenho de agradecer sim, se não fosses tu não conhecia o autor da imagem, TONS DE AZUL! :)
ResponderEliminarQuanto aos contos, são daqueles que me ficaram sempre na cabeça. O que não é igual para todos... :D
Beijocas!
Cheguei tarde!!!
ResponderEliminarO conto do meio não conhecia, os outros dois, até os tenho aqui em casa e, quando era adolescente adorava o último.
Também eu, EMATEJOCA! Fui buscar estes que me dizem mais e me pareceram mais acessíveis para "adivinhar"... :))
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