Yasunari Kawabata foi o escritor japonês que recebeu o prémio Nobel da Literatura em 1968. "A Casa das Belas Adormecidas", publicado pela primeira vez em 1961, tem apenas 138 páginas, mas dificilmente se poderá considerar uma leitura agradável - não pela forma de escrever, acessível a todos, mas pela própria temática.
Aos 67 anos, Eguchi ainda é sexualmente ativo, ao contrário de alguns dos seus amigos que, para satisfazerem os seus desejos de contato com raparigas jovens e frescas, que talvez apelem mais às suas recordações libidinosas que as velhas esposas de sempre, frequentam a casa das belas adormecidas, onde jovens mulheres repousam nuas em camas prontas para os receber, sedadas por potentes soporíferos e sem dar acordo do que as rodeia. Apesar da diferença de circunstâncias, Eguchi não recusa o presente do seu amigo e também ele vai lá passar uma noite. Depois outra e mais outra. Ou seja, também ele se fascina com a casa, resvalando para o terreno perigoso da sua imaginação e oscilando entre o desejo de as violar, estrangular, acariciar impudica ou carinhosamente ou simplesmente observar as posturas dos seus corpos nus e desacordados, relembrando os de outras mulheres do seu passado. E essas poucas páginas evoluem sempre em torno deste mote...
Nem vale a pena referir que um escritor não se define apenas por um único livro, mas neste, salvaguardando a escrita acessível em si, detestei tudo: o machismo da personagem, a consequente decadência de sentimentos muito centrados no próprio umbigo (ou um pouco mais abaixo), a ideia de que por ser velho (e pagar aquela espécie-de-serviço) tudo lhe é permitido.
Ah e tal que é outra cultura e outro tempo? Pois, é óbvio! Mas daí a voltar a perder (o meu) tempo com literatura deste género, tão acentuadamente deprimente, vai um passo de gigante...
CITAÇÕES:
"De facto, àquela casa vinham velhos incapazes de tratarem uma mulher como mulher, mas dormir calmamente ao lado de uma rapariga como aquela, era, sem dúvida ainda, umas das suas consolações ilusórias na sua perseguição da vida que se escapava: eis o que Eguchi compreendeu na sua terceira visita àquela casa."
"O que conduz o homem ao «mundo dos demónios» é mesmo, ao que parece, o corpo da mulher."
"Que uma rapariga tão provocante como aquela, treinada como ela estava, tivesse podido manter-se virgem, era sinal evidente não do respeito dos velhos, nem do seu cuidado em manter os compromissos, mas, sim, da sua assustadora decrepitude. A virgindade da rapariga, por contraste, demonstrava o horror da velhice."
Esse não me cativa.
ResponderEliminarNunca li, ma sou fã da literatura japonesa. Neste momento Haruki Murakama está sempre nas minhas leituras prioritárias.
ResponderEliminarUma boa semana
Bom, a mim também não, CATARINA! Nem no primeiro capítulo, mas estava à espera que se desenrolasse mais alguma coisa... ;)
ResponderEliminarCARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA, só li um livro de Murakami e também gostei! Não tinha nada a ver com este... ;)
ResponderEliminarTeté,
ResponderEliminarJá leste algum dos dois livros de Khaled Hosseini?
The Kite Runner e A Thousand Splendid Suns? A não perder.
Pesquisei no google: os títulos em português são:
ResponderEliminarO caçador de Pipas e A Cidade do Sol, respetivamente.
Não conheço nem de nome, CATARINA! Mas já fui pesquisar e tem muito bom ar! Este ano já não, a ver se no próximo dou uma espreitada. Até porque gosto de ir conhecendo autores diferentes do habitual, que saiam um pouco daquela mentalidade judaico-cristã reinante a ocidente... :)
ResponderEliminarObrigada pela dica!
era parece-me, pela descrição, um livro que só um japonês escreveria :P
ResponderEliminarTambém fiquei com essa sensação, MOYLITO! Até porque noutros países dificilmente seria publicado... ;)
ResponderEliminar