"Imagine se, num dia qualquer, os brasileiros acordassem com a notícia de que o Presidente da República tinha fugido para a Austrália, sob a protecção de aviões da Força Aérea dos Estados Unidos. Com ele teriam partido, sem aviso prévio, todos os ministros, os integrantes dos tribunais superiores de Justiça, os deputados e senadores e alguns dos maiores lideres empresariais. E mais: nessa altura, tropas da Argentina já estariam a marchar sobre a Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a caminho de Brasília. Abandonado pelo governo e todos os seus dirigentes, o Brasil estaria à mercê dos invasores, dispostos a saquear toda e qualquer propriedade que encontrassem pela frente e assumir o controlo do país por tempo indeterminado."
É com estas palavras que Laurentino Gomes, jornalista e editor brasileiro, inicia "1808" (publicado pela D. Quixote) - sobre o período da ida da corte portuguesa para o Brasil, na época.
O livro esteve em discussão no "Clube de Leitura", Sábado passado, mas por razões várias que não interessa agora explicitar, só uma das pessoas presentes acabou de o ler. Pessoalmente, parei na página 90 e decidi não ler mais. Como expliquei na reunião, o critério inicial parece-me completamente adulterado: como é que se pode avaliar, actualmente, a vivência de outros tempos?
Não contesto que o autor escreve bem, que efectuou uma pesquisa e investigação enorme (ele ou alguém por ele, já se sabe), mas tratou os dados de uma forma jornalística, como se estivesse a realizar uma entrevista com o passado. A debitar uns pontos de vista de permeio, para ilustrar a sua visão: "Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil."
Porque é que a rainha enlouqueceu? Porque é que o príncipe se amedontrou? Nenhuma dessas questões é desenvolvida e ainda surgem umas opiniões sobre a Inquisição, a escravatura, o comércio esclavagista, a ignorância vigente, a higiene doméstica (no tempo do "água vai"), etc. e tal. Na perspectiva de HOJE???
Com mais personagens que qualquer romance russo (até à dita página), sofre do problema de muitos jornalistas que se metem a escritores: querem colocar toda a pesquisa no livrito! O que gera um calhamaço...
*****
Bom, mas a próxima sessão ficou agendada para 5 de Julho, com "Os Filhos do Imperador" de Claire Messud.
É com estas palavras que Laurentino Gomes, jornalista e editor brasileiro, inicia "1808" (publicado pela D. Quixote) - sobre o período da ida da corte portuguesa para o Brasil, na época.
O livro esteve em discussão no "Clube de Leitura", Sábado passado, mas por razões várias que não interessa agora explicitar, só uma das pessoas presentes acabou de o ler. Pessoalmente, parei na página 90 e decidi não ler mais. Como expliquei na reunião, o critério inicial parece-me completamente adulterado: como é que se pode avaliar, actualmente, a vivência de outros tempos?
Não contesto que o autor escreve bem, que efectuou uma pesquisa e investigação enorme (ele ou alguém por ele, já se sabe), mas tratou os dados de uma forma jornalística, como se estivesse a realizar uma entrevista com o passado. A debitar uns pontos de vista de permeio, para ilustrar a sua visão: "Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil."
Porque é que a rainha enlouqueceu? Porque é que o príncipe se amedontrou? Nenhuma dessas questões é desenvolvida e ainda surgem umas opiniões sobre a Inquisição, a escravatura, o comércio esclavagista, a ignorância vigente, a higiene doméstica (no tempo do "água vai"), etc. e tal. Na perspectiva de HOJE???
Com mais personagens que qualquer romance russo (até à dita página), sofre do problema de muitos jornalistas que se metem a escritores: querem colocar toda a pesquisa no livrito! O que gera um calhamaço...
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Bom, mas a próxima sessão ficou agendada para 5 de Julho, com "Os Filhos do Imperador" de Claire Messud.
já leste o Codex 632? gostei imenso!
ResponderEliminarJá desvendei TUDO sobre o Rogeiro na safira!!!
beijinhos
Ah, ah, ah, CARVOEIRITA, já me fartei de rir contigo logo de manhã...
ResponderEliminarNunca foi meu professor, mas conheci-o pessoalmente, para destilar "veneno" não havia melhor!
Quanto a livros de jornalistas - o que referes é do José Rodrigues dos Santos - tenho alguma incapacidade de ler a pesquisa toda, até o "Rio das Flores" (Miguel Sousa Tavares) me pareceu ter 100 páginas a mais...
Jinhos para ti!
Não li esse livro tété, e não sou muito amante dos livros que relatam tão bem que mal historia. Tenho na m/mwesinha de cabeçeira 2 assim que começei a ler e deixei a meio e um deles é justamente o "Rio de Flores" de Miguel de Sousa Tavares, que tambem já cansei de tanto promenorzinho e vira o disco e toca ao mesmo...
ResponderEliminarEntrtetanto já li outros e esse e o "Conspiração" continuam lá.
Beijinhos
E essa gente lá quer saber de factos históricos?!
ResponderEliminarHaja historietas para vender ao povoléu...
Nunca gostei de história, não sei porque, não é coisa que me fascine, Reis, Rainhas, Imperadores, Imperatrizes, etc, etc, não gosto e pronto!!
ResponderEliminarBeijinhos :)
Hoje é o 1º Aniversário do Sexo com Arte e Humor, 13 de Maio de 2008,,,, aqui fica o CONVITE para a “festa”, o “bolo” e o “Presente” virtual solicitado!!!!
ResponderEliminarAgradecimentos antecipados pela presença, sem a sã camaradagem existente em toda a Blogoesfera seria impossível comemorar agora este 1º ano,,,, OBRIGADO!!!!! HCL
(http://sexohumorprazer.blogspot.com/)
Mmm, já perdi o apetite então. Lol. Estou para iniciar a Sombra do Vento, já leste? Têm-me aconselhado muito esse. Mas só gosto de ler à noite...e ultimamente não passo da primeira frase,lol.
ResponderEliminarO JR dos Santos não é só jornalista. É um excelente comunicador. Consegue fazer uma pesquisa aprofundada, reunir a informação relevante e comunicá-la de forma a que todos a possam entender. Não é um Nobel da Literatura, mas, como já disse, é um excelente comunicador e investigador. Ficas agarrada aos livros dele. Experimenta ler o codex, ;-). É história de portugal pura e dura, na época dos descobrimentos.
Olaré, já passei pelas terras que descreves, estive em Brasili cidade ainda dos seus 45 anos quando lá fui há coisa de 4 anos ou seriam 3, ja esqueci, estive em S. Paulo no Rio, em Belo Horizonte, Brasilia e na Goiania, tudo lindo, enorme, mas a pobreza fazia-me sentir tão mal...O Brasil precisa de quem o endireite, o ame e o proteja, mas esse escritor devia ser um visionário, quem sabe.. Já começo a entrar na onda, mas ainda não é hoje que percorro os blogues a quemd evo visitas...a vista ta cansada e o corpo tamém. Beijinhos a ti.
ResponderEliminarNão li este livro e também não está em lista de espera. E pelo que escreves não me parece que vá ficar... :)
ResponderEliminarBeijinho
PARISIENSE, adoro História, mas assim com H maiúsculo. Visões distorcidas já é outra conversa.
ResponderEliminarDe qualquer das formas, o Miguel Sousa Tavares escreve um romance com enquadramento histórico, este não, não tem romance nenhum pelo meio... (e ainda mete umas estatísticas e umas conversões monetárias, para além de fornecer múltiplos pormenores insignificantes)
Jinhos, nina!
CAPITÃO, por acaso foi com essa ideia que fiquei: umas historietas para vender em barda, para comemorar os 200 anos da chegada da Côrte ao Brasil, acentuando que os portugueses eram umas cobrinhas venenosas...
Pois, com tantos livros para ler ia perder tempo com aquilo???
CONCHITA eu gosto e muito! Mas normalmente não leio livros de história - consulto-os!
Este como está escrito como se fosse romance, sem romance nenhum pelo meio, nem para isso dá...
Jinhos! :)
Ainda bem que gostas de História, Teté!
ResponderEliminarA História é a minha perdição, sobretudo o período medievo...
Até amanhã
Por muito que o livro relate as coisas numa visão do mundo actual, nada me tira da cabeça que o que os senhores fizeram foi fugir com o rabinho entre as pernas. :)
ResponderEliminarACIDOCLORIDRIX, que bela data de comemoração... :)
ResponderEliminarMas pronto, já dou lá uma espreitadela!
Lê que vale IMEEEEENSO a pena, VAN. Foi o melhor livro que li nos últimos tempos...
O Codex 632 está aqui pendurado na prateleira em lista de espera, mas normalmente tenho pouca pachorra para livros de jornalistas, que querem mostrar "trabalho" dando imensos pormenores sobre a pesquisa em si... Mas como jornalista e pivot, não tenho nada a apontar-lhe!
Ai, LAURINHA, vai devagar, OK? Também já estive no Rio (cidade maravilhosa), em S. Salvador - de passagem - e noutros locais brasileiros menos conhecidos. E no Rio a sensação foi mesmo essa: um grande fosso social, uns muito pobres e outros a viver no luxo e na riqueza. Impressionante! Mas como cidade é lindíssima...
Jinhos e abraços, nina!
TONS DE AZUL, como digo, não li o livro todo. Porque é que o autor escreveu o livro? Cá para mim, para dar o seu ponto de vista jornalístico sobre a História, o que é perfeitamente dispensável - mas talvez com o olhómetro na venda do livro e na comemoração dos 200 anos...
ResponderEliminarGosto de História, sim, CAPITÃO, mas normalmente não leio livros de História (tirando todos aqueles que tive de ler), só os consulto. ;)
Até amanhã!
Então olha, MELGA, podes ler o livro à-vontade, que o senhor jornalista concorda contigo... ;)
Eu consulto e... leio, com enorme prazer. ;)
ResponderEliminarAté porque encaro a História estruturalmente, marimbando-me para os respectivos actores.
Interessam-me as conjunturas aos mais diversos níveis: político, social, económico, psicológico...
Deixo a estupidez do culto da personalidade para o Hermano, esse insígne inventor de factos históricos...
Já estou a escrever em demasia, ao contrário do que é hábito...
Agora sim. Até amanhã! :)
Não li mas penso que também não o vou fazer. E olha que até gosto bastante de romance histórico. Ando com as leituras atrasadas e em prateleiras...infelizmente.
ResponderEliminarUm beijinho grande...
CAPITÃO, ah, mas eu gosto tanto de ver o Hermano... Adoro a forma como ele conta as histórias, a esbugalhar os olhos e a gesticular... Até o consegui ouvir a contar a história dos 3 pastorinhos, mesmo não acreditando na historieta... :)))
ResponderEliminarMas percebo o que queres dizer: o culto das personalidades históricas (heróicas?!) desvia um pouco do cerne das questões conjunturais, que são mais relevantes para compreender o evoluir dos acontecimentos, do que se o protagonista foi o A ou B...
Hasta mañana! :)
Ah, SU, um dos problemas foi esse: este livro não é um romance!
ResponderEliminarÉ um relato de factos históricos, em que o jornalista faz corta e cola de vários depoimentos, para dar o seu ponto de vista.
Com isto não quero dizer que discorde com tudo o que ele escreve, acho que é faccioso, até porque parte da perspectiva errada...
Pois é, os livros ficarem em lista de espera mais tempo do que nós gostaríamos, acontece a todos...
Beijoquinhas!
Eu ontem li "a dica da semana" :)
ResponderEliminarRecomendo!!
Lol so digo coisas parvas ai ai...
Ainda bem que dizes mal do livro... agora já não o leio!!! (Nem sabia da existência do dito cujo) hehe
Beijinhos
RP, nem o lês tu, nem eu! ;)
ResponderEliminargostaste do Sousa Tavares?
ResponderEliminaresquece, já vi nos comments :)
ResponderEliminarMas foi lançado boato sobre quem? (Desculpa vir cá só assim, mas estou mesmo sem tempo... Regresso para breve, espero.)
ResponderEliminarGostei do Rio das Flores, sim, MOYLE! Algumas páginas seriam dispensáveis, pelo menos para quem percebe de história, parece chover no molhado, os romances em si são um pouco inverossímeis para a época, mas em termos de enquadramento, do modo de pensar da época, achei muito bom. E consegue uma certa isenção, dando os pontos de vista pró e contra o regime salazarista. Lê-se bem! :)
ResponderEliminarIGNOTA, já respondo lá no teu cantinho OK?
Vou também voltar à comunidade de leitores...É um vom exercício.
ResponderEliminarUm bj
Também acho, JASMIM!
ResponderEliminarMesmo que não seja só pela leitura, o convívio também é agradável... :)
Beijocas!
Ih Teté...Li esse livro e achei horroroso.Não gosto de livros do tipo.Mas,li/leio porque é sempre bom ---as vezes--ler algo que as pessoas falam muito,para não se perder o fio da meada.Achei mesmo que o tal jornalista não teve o apuro exigido para o que se propôs.
ResponderEliminarE achei coincidência o nome do autor que citou depois o José...por ter o sobrenome da família,será que somos parentes?Lol
Brincadeiras a parte,vejo muitos textos em blogs que são imensamente superiores a muitos que se dizem escritores.
Enfim...
Beijo!
:)
ná ni ná não! lê o codex... vais gostar... ;-) o JR Santos não é esse tipo de jornalista que se limita a pespegar a pesquisa. Ele pesquisou, estudou, tirou conclusões e elaborou uma teoria tão plausível que até assusta. E vai apresentando factos às ideias. Confesso que o que me prendeu mais foram as descrições de portugal nos descobrimentos, entre muitos outros temas, e não o romance que dá azo à discussão.
ResponderEliminarOh, querida KÁTIA, parentela somos todos, é pena que às vezes desavindos, por questões insignificantes...
ResponderEliminarLivros "da moda" passam rapidamente, quanto a mim, este não tem "pernas para andar"...
Mas já sabes que aqui só conta a minha simples opinião - e a dos comentadores, está claro - admirava-me se tivesses gostado! Nada dessas coisas de ser brasileiro (um ponto de vista diferente da história que nos "martelaram" na cabeça em miúdas, em que os portugueses eram sempre os heróis).
Mas do ponto de vista de hoje, que os portugueses eram todos tão maus na época (cadê os outros?), começou a aborrecer-me demasiado. O Napoleão então era um queriducho! Báh!!! Passo!
Melhores textos em blogs também encontro, de qualquer das formas é diferente...
Beijocas, amiga!
Bem, com tanta gente a dizer-me que tenho de ler o "Codex 632", é porque o livro deve valer a pena, VAN!
ResponderEliminarPara já fica em "stand-by", que a lista de espera não chega à dos hospitais, mas é grandota...
Por falar nisso, vou abrir mais um livrinho...
Fui! :)))