O "Verão Quente" de 1975 terminou nesta data. Para os muitos que não vivenciaram o conturbado período do PREC, em causa estava uma luta pelo poder político entre militares e partidos, extremando-se posições radicais, o que deu azo a toda a espécie de abusos: saneamentos, ocupações, greves, nacionalizações, expropriações, manipulação dos orgãos de comunicação, ameaças e atentados bombistas. Para além dos oportunistas que surgem sempre nestas ocasiões e dos "retornados" que regressavam aos magotes das ex-colónias, muitos sem ter para onde ir...
Bom, na época frequentava o liceu e não há dúvida que os estudantes da UEC dominavam, até porque eram os únicos a ter uma estrutura organizada. Decidiam tudo: reuniões, convocações de greve (nem me lembro que motivos alegavam, mas tal como os alunos de hoje, desconfio que a gazeta não era muito mal vista), etc. Até que um dia lembraram-se de proibir o uso de emblemas de partidos "fascistas" - JSD e JC. Tal como os cachecóis ou barretes de uma claque de futebol actual, em 1975 muitos alunos costumavam exibir nas lapelas dos casacos ou nas camisolas o emblema da sua filiação partidária. Assim, organizados num piquete mais ou menos numeroso, os jovens comunistas circulavam pelo liceu verificando quem eram os prevaricadores e exigindo que os retirassem. Claro que havia quem recusasse e a cena caíu mal entre todos os restantes alunos, com ou sem partido, aventando alguns que o que eles queriam era apalpar as mamas às meninas "desobedientes". Ainda houve uns estalos para cá e para lá, nada de muito grave.
No dia da Independência de Angola (a 11 de Novembro desse ano), a malta da UEC programou uma comemoração num dos pátios, com o içar da bandeira angolana, logo pela manhã. Acontece que apareceram muitos alunos com os emblemas "proibidos" ao peito a urrar "Huh! Huh! Huh!" e um espertinho cortou a corda que içaria a bandeira, de modo que ela ficou a meia haste, com muita malta a aplaudir e aí começou mesmo uma trolha da grossa. Tanto que nem houve mais aulas, os UECs presentes tiveram de se refugiar na sala dos professores, apedrejados por todos os lados. Quando cheguei ao liceu, ia-me dando uma coisinha má: estava fechado, mas dois dos meus melhores amigos estavam lá barricados! A situação resolveu-se graças à grande organização do PCP da época: próximo estava um núcleo de trabalhadores do Metro, que se dirigiu à escola, alguns munidos com umas barras de ferro, entraram e o pessoal foi todo atrás, conseguindo resgatar a rapaziada apavorada da sala dos professores. Uma cabeça partida e um susto enorme para todos, sendo que alguns vândalos se entretiveram a partir vidros, no meio da confusão!
A última reunião de alunos convocada pelas "forças de esquerda" deu-se precisamente há 33 anos, em que se instigava a malta a ir para a rua gritar a favor da democracia. Pois, OK, já todos conhecíamos como é que ela funcionava para estes esquerdistas radicais! Quase bati palmas nessa noite, quando o barbudo do Duran Clemente foi retirado do ecrã da TV, substituido pelo Danny Kaye nos estúdios do Porto!
Enfim, o Clemente ocupou a RTP com a tropa, mas não percebo como o Dias Loureiro ou o Victor Constâncio conseguem ocupar o prime time da televisão pública nos últimos dias, só para confirmar a sua inocência e ignorância relativamente a todos os escândalos do BPN... Que armas é que eles usam???
Bom, na época frequentava o liceu e não há dúvida que os estudantes da UEC dominavam, até porque eram os únicos a ter uma estrutura organizada. Decidiam tudo: reuniões, convocações de greve (nem me lembro que motivos alegavam, mas tal como os alunos de hoje, desconfio que a gazeta não era muito mal vista), etc. Até que um dia lembraram-se de proibir o uso de emblemas de partidos "fascistas" - JSD e JC. Tal como os cachecóis ou barretes de uma claque de futebol actual, em 1975 muitos alunos costumavam exibir nas lapelas dos casacos ou nas camisolas o emblema da sua filiação partidária. Assim, organizados num piquete mais ou menos numeroso, os jovens comunistas circulavam pelo liceu verificando quem eram os prevaricadores e exigindo que os retirassem. Claro que havia quem recusasse e a cena caíu mal entre todos os restantes alunos, com ou sem partido, aventando alguns que o que eles queriam era apalpar as mamas às meninas "desobedientes". Ainda houve uns estalos para cá e para lá, nada de muito grave.
No dia da Independência de Angola (a 11 de Novembro desse ano), a malta da UEC programou uma comemoração num dos pátios, com o içar da bandeira angolana, logo pela manhã. Acontece que apareceram muitos alunos com os emblemas "proibidos" ao peito a urrar "Huh! Huh! Huh!" e um espertinho cortou a corda que içaria a bandeira, de modo que ela ficou a meia haste, com muita malta a aplaudir e aí começou mesmo uma trolha da grossa. Tanto que nem houve mais aulas, os UECs presentes tiveram de se refugiar na sala dos professores, apedrejados por todos os lados. Quando cheguei ao liceu, ia-me dando uma coisinha má: estava fechado, mas dois dos meus melhores amigos estavam lá barricados! A situação resolveu-se graças à grande organização do PCP da época: próximo estava um núcleo de trabalhadores do Metro, que se dirigiu à escola, alguns munidos com umas barras de ferro, entraram e o pessoal foi todo atrás, conseguindo resgatar a rapaziada apavorada da sala dos professores. Uma cabeça partida e um susto enorme para todos, sendo que alguns vândalos se entretiveram a partir vidros, no meio da confusão!
A última reunião de alunos convocada pelas "forças de esquerda" deu-se precisamente há 33 anos, em que se instigava a malta a ir para a rua gritar a favor da democracia. Pois, OK, já todos conhecíamos como é que ela funcionava para estes esquerdistas radicais! Quase bati palmas nessa noite, quando o barbudo do Duran Clemente foi retirado do ecrã da TV, substituido pelo Danny Kaye nos estúdios do Porto!
Enfim, o Clemente ocupou a RTP com a tropa, mas não percebo como o Dias Loureiro ou o Victor Constâncio conseguem ocupar o prime time da televisão pública nos últimos dias, só para confirmar a sua inocência e ignorância relativamente a todos os escândalos do BPN... Que armas é que eles usam???
E na ressaca do Verão Quente estreei-me na então chamada instrução primária...
ResponderEliminarBelos tempos!
;)
Pensei que ias queixar-te dos pézinhos frios!! é que aqui o briol começou em força! :D
ResponderEliminarOs meus pais contam histórias parecidas! =D
Sempre que sai Angola na conversa, os portugueses entram em conflito sentimental-económico, como se a alguém que está na reserva tivera que voltar a trabalhar, non?
ResponderEliminarMas seguramente é uma visão errónea...
uma arma muito poderosa chamada "governo"!
ResponderEliminarpara que servem os amigos?
quanto ao verão quente... tinha 2 anos! os meus interesses eram muito mais interessantes ;)
Nessa altura as pessoas ainda lutavam pelas suas convicções, pelos seus ideaís.......hoje só lutam pelo dinheiro e poder, nada mais.....
ResponderEliminarFoi nesse verão quente que eu cheguei de Angola (infelizmente)!!!
Beijokitas
Belos tempos porque eras criança ou pela confusão generalizada, CAPITÃO?
ResponderEliminarEnfim, na instrução primária não costumavam existir greves de alunos, se bem me lembro... :)))
Imperdoável, VAN! Esqueceste-te que tenho uma escalfeta?! :)))
Claro que contam, que ninguém que viveu aqueles momentos conturbados esquece facilmente!
Mas que aqui também está um frio do caraças, não tenhas dúvidas... ;)
Não, CONDADO, achas que os putos dos 12 aos 19 anos estavam ligados a conflitos económicos? Nem de política percebiam muito, mas a nível sentimental eram uns mestres: "O quê, aquele badalhoco tirou o emblema do peito da minha namorada/irmã/prima/amiga?" Foi aí que a coisa ferveu...
O relato é desses tempos juvenis, não da minha visão actual... (`_^)
Pois, VÍCIO, também me parece que a arma será essa, para além de outros compadrios!
ResponderEliminarNão me digas! Aos 2 anos, devias ser um chuchalista... :D
Bem sei, PARISIENSE, que um dos meus amigos que ficou barricado era do MPLA, tinha entrado no liceu há pouco tempo vindo de Angola, nem percebeu o porquê daquela confusão toda...
Quanto ao resto, é mesmo mainada!
Beijokitas, nina!
ok! eu não te digo!
ResponderEliminarmesmo que quisesse, não me lembro :D
No liceu em que eu andava a UEC não tinha essa força. Ali quem tinha mais força era o MRPP. Como te deves lembrar eram inimigos ferozes...
ResponderEliminarNessa época eu era bem revolucionária, era injénua e idealista (como era próprio dessa idade)...
Hoje os "jovens" estão-se perfeitamente nas tintas para a política e mutos há que nem estão recenseados(!).
Será que algum dia chegaremos ao meio termo?
eles têm um bocadinho de tempo de antena a mais para justificar a sua "inocência" não têm?
ResponderEliminaré mesmo uma boa pergunta. por que será que lho dão?
Conseguem ocupar o prime-time, sim senhor, mas agora de uma forma mais democrática. Ola-ré! Quer dizer, a falta de vergonha agora é institucionalizada, logo mais legal.
ResponderEliminarBelos tempos que eu andei à porrada com os gajos do MRPP.
O 25 de Novembro não deixa de ser igualmente uma data importante.
Não te lembras se usavas chucha, VÍCIO? :)))
ResponderEliminarA força deles era a sua organização, INÊS, até porque couberam quase todos na sala dos professores... seriam prái uns 50 militantes! Por acaso não me lembro se proibiram também os emblemas do MRPP, mas sim, andavam sempre à batatada.
Duvido que se chegue a meio termo, até porque os políticos que temos não motivam ninguém... a não ser por uma eventual ambição política pessoal! :)
Têm um tempão a mais, MOYLITO! Mas só alguns... como no Triunfo dos Porcos! ;)
ResponderEliminarPois, CARLOS, pode-se dizer que a falta de vergonha foi legalizada!
Confessa: a malta pelava-se era por andar à traulitada, ser do MRPP, do PCP ou de qualquer outro partido era um mero pormenor...
E sim, foi quando a coisa acalmou, que o Otelo deixou de ameaçar que punha todos os fascistas no Campo Pequeno, que o Saramago foi corrido do DN, que o Vasco Gonçalves perdeu influência e que finalmente o Pinheiro de Azevedo conseguiu governar até às eleições legislativas, sem o governo cair mensalmente... :)))
Ah, isso já na sei, nem os conheço ehhh, ams que lá vão mamando e tirando e enchendo o saco do Pai Natal deles, isso sim!...tadinhos...pois..beijinhos.
ResponderEliminarAcho que a arma se chama "jogo de bastidores"...
ResponderEliminarAcho que é a Incompetência!
ResponderEliminarPS - Excelente texto!
Beijocas
Pois é, LAURINHA, para eles há Pai Natal durante todo o ano...
ResponderEliminarTadinhos, uma ova!
Jinhos, nina!
"Jogo de bastidores" ou o de "bem mexer os cordelinhos", RAFEIRO?
Jinho!
Bom, SORRISOS, se todos os incompetentes tivessem direito a entrevistas em prime-time, ui, ui, a programação dos próximos 30 anos estava completamente tomada! ;)
Obrigada e beijocas!
Triunfo de quem, de quem? Lá está, não é o Triunfo dos patos, dos cavalos, das vacas, das ovelhas, nem dos cães, mas sim dos Porcos.
ResponderEliminarFoi uma sábia escolha, digamos.
Hummm... Ainda me faltavam 2 aninhos...
ResponderEliminarlol!
Beijinhos
O Orwell era um "rapaz" muito avançado para a época, MOYLITO! Ele percebeu logo que os porcos iam triunfar... :)))
ResponderEliminarLOOOOLLL, também já sabia disso, MATCHBOX31! (mas, se queres que te diga, os programas partidários da época eram todos muito, mas mesmo muito mais esquerdistas...)
Beijinho!