Francisco Lázaro, um atleta olímpico português que correu a maratona em 1912 e que morreu durante a prova, deu o mote para José Luís Peixoto escrever este romance "onde há uma família infinita"...
Embora as personagens com o mesmo nome do malogrado atleta se confundam ao longo de três gerações - pai, filho e neto, todos narradores deste livro - o escritor relembra em nota final que a ficção é absoluta. O que se suspeita desde o início, já que telefones a tocar e a música da telefonia só surgiriam muitos anos depois nos lares do povo. Ou que o pai que morre possa narrar parte do enredo ou dialogar com a neta que nem sequer viu nascer. Ou que o tio que cegou numa brincadeira de infância se repita no sobrinho-neto, de igual modo.
É sobretudo uma história que se repete, que passa de pais para filhos como um testemunho das primeiras décadas do século XX: os homens a trabalhar, a embebedarem-se na taberna, a trazerem para casa a violência dos vapores do álcool ou a alternarem nos braços de outras mulheres, porque a virilidade é ponto de honra; elas em casa, a tratar dos filhos e das lides domésticas, a aceitar uns "empurrões" de vez em quando, fingindo não reparar nas infidelidade "gritantes" a todos os olhos! Em suma - eles brutamontes incapazes de demonstrar o seu carinho a não ser durante o namoro, elas submissas e escravizadas, porque não podia ser de outra maneira...
Distinguir os sentimentos verdadeiros de todas estas personagens é difícil, até porque elas próprias não as admitem. Têm medo, muito medo, da morte e da distância que acarreta de todos os que amam, sem o expressarem verbalmente. E culpa: "Existiram domingos. Olhando para trás, é impossível evitar a sensação de que muitos foram desperdiçados. Hoje, sinto que me bastaria apenas mais um domingo para conseguir resolver tudo. Logo a seguir, sinto que talvez não. Logo a seguir, tenho a certeza de que sim. Um único domingo, desde a manhã, sempre clara e inconsciente, um dia inteiro para aproveitar, desperdiçar até ao começo da noite: ilusão criada por um planeta que gira sobre si próprio."
Gostei muito de "Cemitério de Pianos", da ambiência que envolve esse recanto mágico da carpintaria-oficina familiar, escape para todos os sonhos. Embora nem sempre entenda a "modernidade" de textos que fluem como pensamentos entrecortados, ainda que com um toque poético...
quantas e quantas pessoas deixam passar dessa maneira "os domingos"...
ResponderEliminarnão sabia que havia cemiterios desses! pensei que os pianos acabavam cremados :D
Isto tem alguma coisa a ver com o teres terminado as férias? ;)
ResponderEliminarBeijocas!
Quando o li também me senti um pouco confusa com essa "modernidade", Teté. Depois percebi que a ideia era conseguir passar a ideia de pensamentos soltos que vão passando na cabeça de um atleta, enquanto corre.
ResponderEliminarEstou a ver que estás a ficar "fã" do JLP. ;)
Beijocas e bons mergulhos!
Imagino que muitas, VÍCIO! ;)
ResponderEliminarTambém acho que só existem na imaginação do autor... :)
Não, RAUF! Só um dos livros que li durante as férias... :)
ResponderEliminarBeijocas!
Já sou fã, TONS DE AZUL, delicio-me com a sua escrita, apesar dessas "modernidades"... :D
ResponderEliminarObrigada a ti, por me teres dado a conhecer este escritor e despertar uma certa curiosidade... :)
Beijocas! (os mergulhos terão de aguardar nova oportunidade!)
a curiosidade em redor de Peixoto tem-se acumulado ultimamente e, mais dia menos dia, adquirirei um exemplar precisamente deste livro, que é o que me prende mais a atenção.
ResponderEliminarSó li dois, MOYLITO, ainda hoje me falaram de um 3º, que parece ser mais pesado! Mas gostei tanto dos que li, que não vou perder a oportunidade de um "novo"... :D
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