quinta-feira, 13 de novembro de 2008

UM PUNHADO DE MOEDAS...

O meu avô teve vários colegas e amigos que se dedicavam à numismática. Sem ser coleccionador, começou a reparar melhor nas moedas e foi juntando umas quantas, no intuito de as trocar pelo seu valor facial, a quem estivesse interessado. Com o passar dos anos, as moeditas de lado para coleccionadores eram cada vez mais (tomara todos nós podermos fazer o mesmo!), resolveu começar a fazer a sua própria colecção. Até porque era assunto que vinha à baila frequentemente no seu círculo de amizades, julgava-se entendido...

Lembro-me de o ver de volta das suas moedas, a limpá-las com uma escovinha, suponho que lhes passava um qualquer tipo de verniz, deixava-as secar e metia-as em bolsinhas plásticas. E ia falando, da "flor de cunho" e assim, enquanto eu e a minha irmã, miúdas, o observávamos naquele ritual, como se ele fosse uma espécie de Tio Patinhas (sem caixa-forte).

Quando se reformou, tanto ele como a minha avó resolveram ir viver para o "campo" - quer dizer, na região dita "saloia" dos arredores de Lisboa, algures entre Loures e Caneças, numa pequena vivenda com jardim, rodeada de terrenos e matagais, perto de nenhures, onde já costumavam passar as suas férias, desde a adolescência da minha mãe. Adiante!

Óbvio que uma das intenções do vovô era aprofundar melhor os seus conhecimentos de numismática e arranjar mais tempo para o seu hobby. Um dia, irritado, percebeu que tinha sido enganado por alguns dos numismatas que conhecia, pegou num punhado de moedas sem valor e atirou-as para longe, para trás do muro...

Já referi que a vivenda ficava no meio de nenhures? É verdade! Mas havia um celeiro por perto, onde pernoitava uma vaca chamada Sebastião (escusam de perguntar, que não sei porquê) mais umas ovelhas e o dono do dito ainda cultivava umas hortas por ali. Homem pobre e analfabeto - confesso não saber se os terrenos eram dele, mas também ninguém dava um tostão furado por aquilo, naqueles tempos - vivia numa economia de subsistência. Até que encontrou o seu tesouro!!!

Adivinharam! Foi mesmo as moeditas que o vovô mandou fora, num momento de irritação! Entusiasmado, não cabia em si de contente, ao regressar a casa encontrou o vizinho a regar as plantas no jardim. Chamou-o e, com ar conspirador, contou-lhe do seu achado. A negociata que se seguiu foi dura e difícil: ao meu avô roía-lhe a consciência de ter dado falsas ilusões a outra pessoa; o homem estava renitente em prescindir do seu tesouro!

Resumindo: o meu avô acabou por comprar as moedas que tinha deitado fora, pela segunda vez, mas tranquilo, que ali não havia engano...

17 comentários:

  1. :))

    Bom homem, o teu avô, Teté!

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  2. Ganda avô, ganda homem...o meu pai também colecionava e eu e a neide temos muitas moedas de coleção, e em rands nem se fala, chegamos a encher um garrafãozito delas de um e dois e cincoc entimos..prá li estão...amoantoadas nalguma saquita agora... mas o vizinho que achou o tesouro, que alegria por um punhadod e moedinhas, tadinho..rica história nina. beijinhos.

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  3. Era mesmo, CAPITÃO! :)))

    Eh, eh, eh, LAURINHA, não colecciono moedas, até porque elas não param muito tempo na carteira... ;)
    Esta história tem "barbas", na minha família, embora possa não parecer o meu avô era um homem muito calmo. Daí todos termos achado piada a que num momento em que perdeu as estribeiras, ter pago literalmente por isso... :)))
    Jinhos, nina!

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  4. Tete, essa memória é um must! O teu avô era um doce, essa é que essa. :))

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  5. Ao ler-te relembrei as histórias do meu, que saudades senti!

    Beijo grande para ti

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  6. esta história poderia praticamente ser uma parábola:)

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  7. Era um doce, sim, VAN, ainda hoje me "orgulho" dele (e da vovó também)! :)))

    Saudades, INÊS?! Independentemente de qualquer credo religioso, os "nossos" estão sempre vivos dentro do nosso coração! Nem que seja numa historiazita simples, como esta... :)
    Jinhos grandes para ti!

    Parábola, MOYLE? Pronto, OK, pode conter uma "moral" de outras épocas, mas ao escrever a intenção não era a moralidade... :)

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  8. o teu avô é esperto! conseguiu valorizar as moedas!

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  9. sim, mas foi uma forma de elogiar a história:)

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  10. Eh, eh, eh!
    Adorei a história! Deliciosa mesmo...
    O meu avô continua com essa colecção tem dossiers e dossiers cheios de moedas no sotão! Lol!

    Beijinhos

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  11. É, VÍCIO, desvalorizou-as e valorizou-as, mais depressa que uma Bolsa esfrega um olho... :)))

    Ah, então obrigada, MOYLE! :D

    Ah, pois, MATCHBOX31, ele também tinha catálogos e livros de história que ia consultando para analisar as moedas... :)))
    Beijinhos!

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  12. Passatempo do mais lindo que existe, a Numismática. Mas o que me prendeu mesmo a atenção foi o nome da vaca. As ovelhas, ao menos, tinham nomes normais?

    Beijoca!

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  13. Suponho que as ovelhas não eram baptizadas, RAFEIRITO! :D

    Quanto ao passatempo, confesso que o acho um bocado chato...

    Beijoca!

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  14. Uma bonita história e ainda para mais da vida real :)

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  15. Da vida real de outros tempos, LOPESCA! :)

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  16. precisamos é de mais pessoas assim!!

    Tambem tenho ali umas moedas com mais de muitos anos (1800 e troca o passo).. já devem dar para qualquer coisita :)

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  17. Então, olha, FAUSTO, guarda-as para o dia em que precises delas mesmo para qualquer coisinha... PS3, incluída! :)))

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)