Em miúda, praticamente só utilizava o metro lisboeta para ir à baixa, à costureira, ao dentista ou ao cinema, nas férias. Ou seja, era raro! A escolas - primária, ciclo e liceu - eram todas relativamente perto, de manhã cedo o meu pai levava-nos de popó, o regresso a casa já era a pé, de início acompanhado, mas depressa nos habituaram a vir sozinhas. Ainda passávamos debaixo da janela da minha avó, se ela não estava à espreita como de costume, gritávamos "Vovó!" e lá aparecia ela toda sorridente a acenar... Atravessávamos Sete Rios mas, na zona de maior trânsito, esperávamos que o polícia sinaleiro (eheheh!) nos mandasse passar... Semáforos ainda eram uma modernice desconhecida!
Como a estação de metro aqui da zona terminava em Sete Rios, frente ao Jardim Zoológico (denominação atual), as alternativas eram os elétricos amarelos, que tinham correspondência com o metro para quem seguia até Benfica - ou seja, saía-se do metro por um certo caminho, o "pica-bilhetes" picava e já não se pagava segunda viagem - ou os autocarros verdes, de carreira ou o comboio, para os residentes da Amadora e de Sintra. Pelo primeiro ano de liceu (chamava-se 3º, na altura, depois 7º unificado), muitas vezes vinha de elétrico à "pendura", com uma amiga. Tipo desporto "radical", pelo gozo da coisa! Nem era muito necessário, para mim eram apenas duas paragens de distância, para ela quatro, mas alguns revisores mais abrutalhados tomaram-nos "de ponta" e já nos andavam a prometer estalos, "como aos rapazes". De modo que mudámos a estratégia: como toda a malta atirava os bilhetes para o chão, bastava apanhar um do dia à saída (não tinham data, mas o código era simples de decifrar: Q para quarta-feira, I para quinta e sei lá que mais), saltar uma frágil grade metálica, passar pelo "pica" e apanhar o elétrico... nas calmas! Aos 12//13 anos aquilo fazia muito sentido - se havia quem não precisava dos bilhetes, porque é que nós não podíamos aproveitar?
Todos os transportes públicos costumavam circular a abarrotar de gente,
só os autocarros é que tinham um número limitado de passageiros. Assim, e poucos anos depois dessa fase, numa tarde primaveril de um calor inusitado, enfiada no metro e a suar as estopinhas (ainda vestida com uma camisola de gola alta), julguei que morria por lá! A carruagem parou entre duas estações, quais ares condicionados quais carapuça, tudo ali enfiado como sardinha em lata,, eu já só suava e tremia, faltava-me o ar, às tantas trepei por um banco acima, para respirar junto ao postigo da janela que abria. Julgam que alguém se queixou, após a surpresa inicial?! Enganam-se! A aflição foi tão grande, que ninguém me tomou por adolescente malcriada. Mas pronto, preferi não voltar a utilizar o metro (e a fazer figuras tristes!), enquanto não me passasse aquele terror claustrofóbico. Durante cerca de 30 anos, raramente andei...
Sem recurso a psiquiatras ou psicólogos (outro género de modernice!), já voltei a viajar underground, mas o metro lisboeta também evoluiu bastante, como já relatei aqui. Dito isto, ainda pareço uma saloia lá dentro, especialmente quando não há ninguém para atender nas bilheteiras e tenho de lidar com aquelas maquinetas, quando julgo carregar o cartão com umas quantas viagens e afinal só dá para uma (e, mesmo assim, com a ajuda do segurança)!
Um dia, talvez consiga fazer a tal "reportagem"!
A propósito das bilheteiras automáticas no metro .... imagina então a figura de uma certa provinciana algarvia quando vai até Lisboa :))
ResponderEliminarLinda menina que tu me saíste, eu a pensar que tinha aqui uma amiga certinha e direitinha e depois leio estas coisas??? ai ai ai :p
ResponderEliminarPrimeiro anda aos papéis, depois põe os pés em cima dos bancos pa respirar...ai ai ai :p
Era por causa destas e outras, poupar dinheiro e não querer ser mais uma sardinha, que muitas vezes andei a pé, prá escola, pró trabalho, pró cinema e sabia tão bem...nunca andei aos papéis e não pus os pés nos bancos keu sou(era) uma menina bem comportada :p
Queres que eu te ensine a andar de metro??? ehehe
As nossas estações de metro hoje são um luxo, mas ainda se vê muito lixo...
Beijinho :)
Hey, minha linda, mas que idade tens tu?!
ResponderEliminarPelos vistos, também ainda andaste nos autocarros de dois pisos(que eu lamento imenso terem deixado de circular)...
Beijinhos
acho que devias usar mais e com maquina fotografica pronta! as paisagens são lindas
ResponderEliminarAo tempo que não ando de metro, mas é daqueles transportes que não gosto nada de andar apesar de ser bastante útil.
ResponderEliminarA primeira vez que andei de metro tinha 5 anos e foi com a minha mãe.
ResponderEliminarEstava na estação das Picoas, a minha mãe pensou que eu estava sentir-me mal, toda eu mudava de "cores"!
E ainda hoje não vou muito "à bola" com o facto de andar de metro. Se tenho alternativas, não vou andar debaixo do chão!
Tudo isso que descreves se passou comigo (incluindo o terror da carruagem do Metro ficar parada entre estações)e sinto esses tempos da mesma maneira.
ResponderEliminarNas horas de ponta, chegava a demorar 1 hora de autocarro desde casa, aqui na Lapa, até ao Aeroporto, onde trabalhava. Era mesmo uma seca, Teté :)
ResponderEliminarJá nada é o que era. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mudam-se as pessoas. Mesmo eu que estou habituado a Lisboa desde mais ou menos os meus 14 anos, já tanta coisa mudou. Mas não o meu sentimento pela cidade que me viu nascer.
ResponderEliminarNómada
Oi Teté, estou atrasada para ler sobre a BCAP, mas fui lá "nos fundos" para ver sua participação, sempre muito boa! Aproveitei e vim viajando nos seus posts e, literalmente viajo! Quanto a este post atual, console-se comigo pois também não sei lidar bem com máquinas! Basta mudar a posição do teclado (nas máquinas de saque rápido) para que eu me atrapalhe toda e, no nervoso, esqueço a senha... Mico completo! rs...rs...rs... Bjks Tetê - Avaliando a Vida
ResponderEliminarSó me ocorre dizer: Que sorte tiveste em poder andar a pé. longe de casa, tão cedo.
ResponderEliminarOs miúdos de hoje, nas zonas urbanas já não podem dar-se a esse luxo...ou ainda poderão?:)
beijocas, sem fobias de apertos...e apertões;)
Nina
Ai como eu me revi a viver em Sintra e a estudar em Lisboa! E que saudades! Mas eu adorava andar de metro e ainda hoje, quando vou a Lisboa, enfio-me no metro e vou para todo o lado. Saía do comboio no Rossio, enfiava-me no metro para Entrecampos - fim de linha - e depois, o elétrico até ao Campo Grande para depois subir a pé a alameda que levava à Faculdade. Belos tempos! Mas saí de casa às 6.45 da manhã para estar nas aulas às 8.30. E não morri, nem tive depressões. Tive-as, mais tarde, na pasmaceira de vida em Leiria, anos 70/80...
ResponderEliminarA mesma que a minha, de certeza, LUISA, que também nunca as tinha visto mais gordas... :))
ResponderEliminarMais uma recordação! Sei muito bem do que falas. Eu apanhava o eléctrico onde, quando tinha dinheiro, adquiria o bilhete-operário (ida e volta por sete tostões) e gozava a festa que era aquela aventura, entre Benfica e a Praça do Chile. Quantas vezes eu fiz este caminho a pé!!!
ResponderEliminarQuantas pessoa saberão hoje, quanto é sete tostões?
De facto não era muito normal as miúdas andarem à pendura, mas "noblesse oblige".
Do metro não me posso queixar, pois além de não ser claustrofóbico, agrada-me imenso o facto de não me ver apanhado por engarrafamentos.
Era o tempo das candeias, mas não havia dinheiro que pagasse a adrenalina de saltar do eléctrico em andamento.
Obrigado pelo souvenir
Beijinho Tété
Dizem "os entendidos" que em miúda eu era um bocado rabina, MARIA! Mas é capaz de haver uma grande dose ser exagero nisso... :))
ResponderEliminarNunca foste ao salto no metro, andaste à pendura nos elétricos, nada?!? Xi, que nerd! (que é como os putos agora dizem) =))
Já aqui também contei sobre o dia em que vim a pé, depois de uma matiné no Tivoli, até Benfica, com a agravante que dois amigos não me quiseram deixar vir sozinha, vieram também, um trânsito do caraças na hora de ponta, chovia e só tínhamos um guarda-chuva. Quando chegámos a casa, até as cuecas estavam encharcadas... Mas lá entrar no metro, era ó entras! E tenho mais outras dessas... :D
Queres ser minha professora de Metro, é? :))
Beijocas ó teacher!
Eheheh, SÃO, celebrei 19360 dias no dia 8 de Março deste ano! :))
ResponderEliminarClaro que andei e tornei a andar nos autocarros de dois pisos, de elétrico quase deixei de andar em 1973, quando os retiraram da estrada de Benfica, embora reforçassem as carreiras de autocarros. Benfica estava a crescer e não era só nos locais onde o elétrico passava... :D
Beijocas!
As paisagens não digo, mas algumas estações têm azulejos lindíssimos, VÍCIO! :D
ResponderEliminarPois, imagino que não fosse só eu a sentir-me claustrofóbica dentro do metro, CARLOS II! :)
ResponderEliminarPois é bastante útil mesmo, especialmente para quem trabalha no centro de Lisboa, RAINHA! Mas recusei andar durante muitos anos! Agora não tem qualquer comparação... :)
ResponderEliminarEm podendo, também ainda prefiro ir à superfície. Mas há locais em que se perde muito tempo a chegar, ANA! Não há dúvida que no metro é um instante! Mas mesmo isso não me convencia, quando era aquela sardinha em lata, à hora de ponta, dias de bola e não só... :)
ResponderEliminarImagino que sim, quando o trajeto é diário, VIC! :)
ResponderEliminarBem-vindo, NÓMADA!
ResponderEliminarMuda-se muita coisa mesmo, mas as pessoas só tem tendência a falar no que muda para pior. No caso do metro, mudou para muito melhor... :)
Estás atrasada nada, TETÊ vens sempre a tempo de ler... :))
ResponderEliminarObrigada! É, sei que não sou só eu a ter dificuldades com maquinetas destas modernaças... :D
Beijocas!
Ainda há muito miúdo que anda sozinho por aí, NINA! Porque os pais não estão atentos ou não sei ao certo. Lembro-me de um colega do meu filho que aos 10 anos de idade andava por aí até às 10 e tal da noite, além se ser ele que ia buscar o irmão de três anos à escola... :P
ResponderEliminarMas enfim, a maioria não anda mesmo, sem pelo menos ser vigiado! :)
Beijocas!
Ehehe, também subi muitas vezes essa alameda da universidade a pé, GRAÇA! Mas é verdade que o metro é muito mais rápido e hoje já chega até lá. Se bem que hoje os estudantes vão quase todos de popó, o que no "meu tempo" era raro acontecer... :)
ResponderEliminarPois, imagino que de Sintra até à faculdade os trajetos diários fossem morosos! ;)
Eheheh, sete tostões nem tem conversão em euros, KIM! :D
ResponderEliminarEntre Benfica e a Praça do Chile ainda era um bom esticão a pé! Mas a malta tinha boas pernas para andar... e andava! :))
Pois aqui a tua amiga andou à pendura, sim. Embora até o revisor achasse estranho. Feminista que se preze, começa cedo a lutar pela igualdade, nem que seja na asneirola... =))
Hei de voltar a andar de elétrico um dia destes, que tenho saudades! :)
Beijocas!
As aventuras de uma lisboeta em Lisboa! Ahahah!
ResponderEliminarTambém conheci essa Lisboa, mas nunca fiquei fechado no metrô (à la française).
ResponderEliminarPorém fiz uma coisa que tu, tenho a certeza, não fizeste: por andar na pendura "despendurei-me" duas vezes do sacana do eléctrico para não ser agarrado pelo sacana do pica-bilhetes; resultado: joelhos (e calças) rasgados.
Beijokas tipo passe :))))
As aventuras e desventuras, CATARINA! :))
ResponderEliminarNão, KOK, atirar-me do elétrico em andamento nem por isso! Demasiado apreço pela minha integridade física! :))
ResponderEliminarE já tinha ficado várias vezes fechada no metro, mas apenas um ou dois minutos, naquela vez conjugaram-se uma série de fatores... ;)
Beijocas tipo bilhete, que passe ainda não havia! :)
Adorava o electrico amarelo :)))
ResponderEliminarSomos duas, LOPESCA! :))
ResponderEliminardesafio-te a andares de metro em Coimbra :P
ResponderEliminarQuem sabe um dia, MOYLITO! :D
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