Artur, jovem e alegre conquistador, regressou de mais uma expedição, anunciando no seu mais alto gorgolejar: "Ei, malta, nem sabem o que se está a passar por estas marés!"
O grande cardume dos riscadinhos foram os primeiros a aproximar-se, sempre desejosos de conhecer e comentar as últimas novidades, com a curiosidade que lhes era tão característica: "Conta, conta!", pediram em uníssono.
Enchendo as guelras de ar, Artur não se fez rogado: "Começou uma nova época balnear, os humanos estão de volta, até já avistei alguns por aí..."
Temerosa como sempre, a sua prima Vanda empalideceu brutalmente, parecendo prestes a desmaiar, mas pronta e delicadamente socorrida pelas suas amigas, ligeiramente estrábicas, sem saberem para que lado se virar...
O ancião lá do bairro dos Rochedos, franziu o sobrolho e vociferou com a raiva que lhe provinha da profundeza das suas tripas: "Mas é sempre a mesma coisa?! Estes humanos nunca mais aprendem que o seu território é em terra e continuam a invadir o nosso?!"
"Bandidos, que nos atiram estrelas à nossa cara, fingem dar-nos de comer para nos esfolar e matar e ainda colocam armadilhas de rede nos nossos caminhos, para peixicídios nunca vistos antes do seu aparecimento! E ainda conspurcam as águas aos sobreviventes, como seres desprezíveis e vingativos que são!", continuava, exaltado, num discurso muito politizado...
"Ai, e ainda nos levam para aquários, aqueles espaços pequenos de rochas invisíveis, para ficarem a olhar para nós todo o dia, contou o meu avô. E depois ficamos cheios de saudades...", lamuriou um dos netos de Nemo. "Vamos mas é esconder-nos, mano!", decidiu o outro. "Pois, mas sabes o que o avô disse...", soou ainda audível através das bolhas que deixara para trás, enquanto os dois se afundavam nos ondulantes tentáculos da anémona.
"Esconder-me para quê? Basta encostar-me à rocha ou ao coral, que ninguém dará pela minha presença. Aposto que nem vocês todos!" Se o momento não fosse tão grave, haveriam certamente alguns dichotes acerca do filho de um coral, mas assim poucos lhe prestaram atenção...
Rei, assim se auto-denonimava aquela fera (sem que ninguém ousasse contrariá-lo), esticou as suas longas e coloridas barbatanas pejadas de espigões venenosos e mortais e avisou guturalmente: "Eles que venham, que estou preparado para os receber de barbatanas abertas..." Apesar do tom ameaçador, alguns risinhos nervosos foram inevitáveis!
Romeu e Julieta, apaixonados como sempre, não concordaram com nenhuma das decisões dos seus vizinhos de bairro, porque de lutas e contendas já estavam fartos, desejavam apenas viver o seu amor e partir para mares mais pacíficos. Com toda a serenidade foi isso que comunicaram aos habitantes dos Rochedos - que partiriam de férias para alto mar, zona muito aprazível e sossegada para passar a temporada. "E quando voltam?" indagou um dos riscadinhos. Entreolharam-se e responderam sorridentes e em coro: "Nas próximas marés vivas!"
ps - não sendo versada em ictiologia, as fotografias dos peixes foram escolhidas pelas suas formas e cores espantosas, das imensas imagens que existem no Google, sem qualquer pretensão de tentar verificar de que oceanos ou aquários são oriundos...
Pois é ... as férias quando chegam... são para todos. Até para os peixes! Muito engraçado este post e com uma ótima escolha de fotos. :)
ResponderEliminarPois eu também ando a pregar aos peixes que estou memo memo a precisar de uns dias de férias num paraíso tropical de águas mornas e ...
ResponderEliminar8-/
- Cala-te pá e não te queixes qu’amanhã vais férias, duas semanas inteirinhas. E dá-te por satisfeito poderes molhar a minhoca no nosso rico mar.
Hããã!!!
então surgiu o tubarão e, concordando com o Rei, disse:
ResponderEliminar- Sim, sim... eles que venham que eu cá os espero!
eheheeh gostei muito desta história :)
ResponderEliminarÉ a revolta dos peixes???
Eles têm razão, nós invadimos o seu espaço quando chegam as férias, já para não falar que os comemos e pomos em aquários, mas eles só não fazem o mesmo porque não conseguem respirar fora de água...
Beijinho :)
está nas tuas mãos escrever uma nova "Quinta dos Porcos" mas em versão "Viveiro dos Peixes" :)
ResponderEliminarQuando estou no Porto, passo imenso tempo diante dos aquáriso que tenho em casa. Dão-me imensa paz e são fonte inspiradora.
ResponderEliminarAcontece ainda, que foi graças aos meus aquários, que uma amiga que não via há 30 anos me descobriu na blogosfera :-)))
CBO
Digamos que o texto foi construído em torno das fotos, e não o contrário, LUISA! :))
ResponderEliminarEra bom que chegassem para todos, mas aqui nem sempre é assim. Mas pronto, do mal o menos, agora o fim de semana prolongado (este ano) já ninguém nos tira... :D
E quem não está, PAULOFSKI? Só os que já foram este ano... e mesmo esses... :e
ResponderEliminarPois, de paraíso tropical, também me devo contentar a olhar para estes peixinhos ou outros da mesma proveniência, mas já me dou satisfeita por dar uns mergulhos no nosso mar! :D
Boas férias para ti e beijocas! :)
Eheheh, VÌCIO, esse tubarão não pertencia ao gang... =))
ResponderEliminarBom final!
Não é revolta nenhuma, MARIA, apenas uma brincadeira sobre o que eventualmente os peixes pensariam ou diriam se fossem gente, aproveitando algumas fotos do Google para ilustração... :))
ResponderEliminarAh, nem sou vegetariana nem nada disso e adoro aquários! :)
Beijocas!
Uma coisa é uma brincadeira, MOYLITO, outra uma grande obra como a de George Orwell, seu... seu... gozão! :D
ResponderEliminarTambém adoro aquários, CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA, aqui o texto funciona apenas tipo legenda (de brincadeira) para acompanhar as fotografias dos peixes... :)
ResponderEliminarPor acaso é engraçado como as pessoas se "reconhecem" no virtual, via alguns interesses que tinham no passado... :))
Poxa, logo eu que sou tão sensível a contos infantis. Gostei tanto que de repente fiquei com pena de comer peixe. Se vens daí com uma historinha de memés e vaquinhas, ainda acabo em vegetariano. Mas se me depois contares histórias de rosas e amores-perfeitos de coentros e pés-de-salsa, da bela alfacinha e do espargo, ponho-te um processo por tentativa de homicídio, por me tentares matar à fome.
ResponderEliminarOntem quando li esta história tão engraçada também me lembrei da "Quinta dos Porcos".
ResponderEliminarVamos lá ver se hoje fico mais uma vez a ver peixinhos ou se consigo publicar o meu comentário?
EMATEJOCA AZUL
Ah, CONSTANTINO, longe de mim querer matar-te à fome! E depois onde é que eu ia ler aqueles deliciosos pequenos contos que publicas? :))
ResponderEliminarA cadeia alimentar funciona mesmo assim, todos se comem uns aos outros: é uma questão de sobrevivência... :D
"Animal Farm" é um daqueles livros que quem o lê nunca se esquece, EMATEJOCA! Garanto que não tinha a mínima pretensão de imitar o autor... :))
ResponderEliminarFico na dúvida se o problema dos comentários ainda é do blogger ou do gmail! Mas pronto, desta vez saiu! :D
Beijocas!
Que conto interessante! E as fotos foram muito bem escolhidas... (Não necessariamente nesta ordem! : )) )
ResponderEliminarHá fotos lindíssimas de peixes, CATARINA, escolhi algumas e escrevi o texto em volta, que não é exactamente um conto, mas uma brincadeira... :))
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