Martin Urban "frequentava os primeiros anos do liceu quando a expressão 'bota-de-elástico´ constituía calão corrente, mas já se apercebia de que figurava e sempre figuraria nessa categoria. Um homem entroncado de ombros quadrados, fronte quadrada, queixo quadrado e concepção de vida não menos quadrada."
Podia ser por aqui que Ruth Rendell iniciava a caracterização do personagem principal deste policial escrito em 1980, mas não, a descrição aparece lá pelo meio das 232 páginas. Fidedigna, porque tudo nos leva a crer que Martin é um contabilista sério que leva uma vida chata e rotineira, até ter a sorte de ganhar uns largos milhares de libras num totobola. Com uma "chave" fornecida pelo seu amigo Tim Sage, um jornalista de gestos efeminados, pelo qual nutre sentimentos contraditórios. Mesmo "adivinhando" que Tim atravessa dificuldades financeiras, não está disposto a partilhar com ele a sua sorte, mas dispõe-se a dividir o seu recente pecúlio com outras pessoas que, a seu ver, estão mais necessitadas da sua ajuda - o que consegue, no caso do filho de um lojista indiano a precisar urgentemente de uma cirurgia, mas não nos restantes seleccionados. Quando a "esmola" é grande os pobres desconfiam das suas nobres intenções ou, eventualmente, supõem estar a ser contratados para serviços menos recomendáveis...
Ao apaixonar-se por uma jovem florista as suas prioridades mudam. Embora antiquado, como sempre: "[...] tratando-se de assuntos práticos de interesse comum, Martin deixou bem claro que adoptava o princípio que quem manda é o homem. Nesse, como em todos os de nível superior ao de determinar o que ela devia vestir ou porventura o que deviam comer, partia do ponto assente de que as decisões lhe competiam e apenas a consultava por mera cortesia." O que ele está longe de imaginar, é que o mundo já deu muitas voltas desde que esses pensamentos eram quase unânimes nas cabeças dos homens e que, na realidade, as relações sociais (ou amorosas)... nem sempre aparentam ser o que são!
Escusado será referir que Ruth Rendell nos encaminha para um final surpreendente e tenebroso. Mas gostei. Muito!
Ler esse tenho a certeza que ainda não o li. Não sei se tenho ali no monte dos 432 livros por ler. Vou investigar e se tiver vou dar prioridade. Entretanto recuei uns anos e fui ler O Velho que lia romances de amor, um clássico do Sepúlveda que valeu a pena.
ResponderEliminarEsse é um dos meus livros preferidos de Sepúlveda, CONSTANTINO! :)
ResponderEliminarTambém tenho prái umas prateleiras de livros por ler, mas alguns suponho que nunca os abrirei, que não há tempo para tudo... :))
Mais um a acrescentar à já longa lista. E o tempo mesmo lendo todos os dias? Constatei que o blogue me tira o tempo que há menos de um ano dedicava à leitura. Agora não há tempo para mais do que meia dúzia de páginas por noite.
ResponderEliminarParece bem interessante, mas fizeste-me lembrar que está ali "Cem anos de Solidão" e ainda não estou como quero para o ler.
ResponderEliminarUm gde beijinho
Essa de um totobola com chave de outra pessoa acaba por dar sempre confusão quando sai premiado como aquele caso do casal de namorados cá em Portugal ! :))
ResponderEliminarHá um baralhar de sentimentos e prioridades que normalmente não correspondem ao que seria mais privisível quando do apenas "se me saísse,..." !
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Mais um prá minha lista, parece-me interessante :)
ResponderEliminarE agora que a Nina falou dos "Cem anos de solidão"...bolas ainda não consegui ler este livro por inteiro de tão baralhada que estava a meio e ainda esquecer a história para começar a lê-lo de novo :|
Beijinho :)
fiquei com uma duvida... ele nutre sentimentos contraditórios a quê? :|
ResponderEliminarVou tentar apanhar para ler :)
ResponderEliminarTens sempre aquela vantagem dos livros audio, CATARINA, que considerei uma ideia muito interessante, para quem faz longos percursos diários de carro... Enfim, contínuo a preferir o livro, mas não deixa de ser uma alternativa e a pessoa sempre vai colmatando a falta de tempo para as leituras! :))
ResponderEliminarE sim, o blogue tira um bocado de tempo para outros passatempos - por mim, preferi ver menos televisão... :D
E por acaso é um livro em que é preciso um bocado de concentração, NINA - já o li há muitos anos, influenciada pelo entusiasmo de uma amiga! :D
ResponderEliminarBeijocas!
O livro gira em torno disso e também me lembrei desse caso tristemente célebre, RUI! :)
ResponderEliminarO meu sogro, aqui há uns anos, dizia que se lhe saísse, mandava pintar todos os prédios da rua dele - eheheh, os filhos não gostaram muito da ideia e tenho a certeza que os senhorios também iam desconfiar de tanta prodigalidade... :))
O livro não é muito fácil, não, MARIA, basta as personagens da família terem todas nomes muito semelhantes, quando não iguais, ao longo das gerações! :))
ResponderEliminarE sabes que com a tia Ruth eu sou suspeita, que adoro os livros e a escrita dela! ;)
Beijocas!
A personagem é "bota de elástico", mas sente-se fisicamente atraído pelo amigo, para "compensar" passa as noites a sonhar que o enche de socos! Topas, VÍCIO?! :D
ResponderEliminarEste comprei em 2ª mão na Feira do Livro de Lisboa, o que é raríssimo fazer, LOPESCA, só porque os livros da escritora estão esgotadíssimos! Quer dizer, ainda apanhei uns quantos de bolso, mas têm uma letrinha tão minúscula que são de difícil leitura, tenho de ir intervalando... :D
ResponderEliminarenquanto não acabar o 2666 não me comprometo com nada :)
ResponderEliminarE nem é para comprometer, MOYLITO! Cada um tem os seus gostos... :))
ResponderEliminarTenho que escrever o meu comentário mil vezes até ficar publicado.
ResponderEliminarFiquei com tal curiosidade, que vou tentar fazer esta pergunta outra vez:
Qual é o título original deste policial da Ruth Rendell?
O título original é "Lake of Darkness", TERESA! :)
ResponderEliminarSorry quanto aos comentários, que parece que têm melhorado um pouco, mas ainda está cheio de falhas. Deles, obviamente! :P