sexta-feira, 6 de maio de 2011

TELHADOS BAIXOS

Não sei se esta expressão de "telhados baixos" é comum, lembro-me de a ouvir inúmeras vezes em criança pela voz da tia Marita (e depressa adoptada por quase toda a família), quando a conversa era mais "picante" e eu e a minha irmã andávamos por perto. Quer dizer, o "picante" da época era muito relativo: casais que se separavam, mães solteiras, mulheres que se suspeitava andarem na "má vida" e assim. Mas não era de bom tom falar desses assuntos perante as meninas! A expressão tinha o condão de nos irritar solenemente, porque cedo percebemos que se tratavam de assuntos censurados aos nossos ouvidos... 
Curiosamente, não tiveram maneira de evitar sabermos que um dos nossos vizinhos tinha sido preso pela PIDE - nessa noite, duas das suas filhas mais novas, com quem brincávamos na rua frequentemente, bateram à nossa porta a convidar-nos para um "baile" de despedida. Nem sei como a minha mãe deixou, mas certo é que fomos ao nosso primeiro "baile", que além delas e dos outros quatro irmãos que viviam no apartamento, tinha lá a maltosa quase toda da rua, um gira-discos a tocar... e chegava para a "festa". Só a filha mais velha, que na altura teria os seus 16 anos ou coisa e tomava conta de toda aquela miuçalha, parecia um bocado chorosa e preocupada, mas também dançou como os restantes convivas. As despedidas não pareceram "para sempre", mas no dia seguinte não voltámos a encontrar nenhum dos filhos do "revolucionário", distribuídos por familiares e instituições - como soubemos uns dois ou três anos mais tarde, ao encontrar precisamente as nossas amigas, felizmente juntas em casa de uma tia, em Sesimbra.
Claro que agora os tempos são outros, os putos recebem informação em catadupas via televisão ou internet, não há "telhados baixos" para ninguém, inclusivamente os pais não poupam os filhos das suas próprias preocupações. Mas quando uma amiga minha coloca no FB a pergunta de uma catraia pequena à sua mãe (amiga dela, note-se!), dá para pensar o porquê de passarmos de 8 para 80:
- Oh mãe, achas que quando eu tiver filhos a crise já passou?

BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS!

16 comentários:

  1. será que ela já anda a pensar como é que pode evitar a gravidez até a crise passar?:-/

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  2. Passo para desejar muita saudinha!

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  3. E não começa nada mal, já com uma crise existêncial!

    Bom fim-de-semana

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  4. Não conhecia essa expressão... quanto à pergunta reflete certamente as preocupações dos adultos. Os miúdos interiorizam-nas e é isso que dá.

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  5. Nunca tinha ouvido esta expressão... mas gostei!!!

    A pergunta da miúda diz-nos como a crise preocupa miúdos e graúdos.
    Pois bem, sei muito bem ao que tu queres chegar com este teu texto, e concordo contigo, nem 8 nem 80.

    Fiquei aliviada por achares graça à fotografia do chapéu, pois ontem à noite quando a publiquei, fechei a caixa dos comentários com receio que fosse políticamente incorreta, e tencionava tirá-la hoje de manhã.

    Não comentes ainda o encontro do Círculo Literário de hoje, porque só amanhã é que vou falar do livro que discutimos hoje.
    Esta noite estou a morrer de sono.

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  6. Quando tiver filhos? Por este andar, nem quando tiver netos!
    Agora já não há "telhados baixos" Tété. Os putos sabem-na toda. E a arquitectura também é outra!
    Beijinho amiga

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  7. Não creio, VÍCIO, que aí a pergunta iria ser outra... :))

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  8. Saudinha para ti também, TEONANIZI! :D

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  9. Crise existencial incutida pelo que ouve a toda a hora, PAULOFSKI! Fazer o quê? :[

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  10. Claro que interiorizam, LUISA! Mas se nem muitos pais percebem o que se passa, imagina na cabeça das crianças. Vale que já poucas acreditam em papões e homens do saco... ;)

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  11. Até hoje não sei se a expressão era só usada como "código" na minha família ou comum, EMATEJOCA! Muito corriqueira não é, que nunca a vi escrita em lado nenhum... :)

    Tenho para mim que basta os adultos andarem preocupados com a crise, as crianças pequenas não precisam nada de se angustiar antes de tempo. Não quer dizer que se ponham numa redoma, evidentemente, mas é um exagero deixarem que oiçam os pessimistas do costume na TV ou grandes e preocupadas conversas parentais... :-t

    Percebi que ainda ias acrescentar algo ao post do teu círculo literário, daí não ter comentado.

    Quanto à moda do chapelito da Beatriz, claro que tem piada, não vejo onde possa ser politicamente incorrecto. :D

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  12. Até podes ter razão, KIM, mas não concordo nada que os pais ou outros familiares deixem catraios pequenos escutar todos os seus pessimismos e preocupações. As crianças não são parvas, acabam por perceber que algo vai mal, mas não precisam de entrar em "parafuso" antes de viver a sua meninice... :n

    A arquitectura mudou, tanto de edifícios como da sociedade, mas há prós e contras nessa mudança!

    Beijocas, amigo! :)

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  13. hoje não há telhados de nenhum tipo. como chover é como cai em cima dos miúdos... é que já bastaria todo o excesso de informação que assoberba a criançada mas não, tens muita razão, os pais ainda agravam ao não seleccionarem perante os miúdos o que dizem. responsabilizar é bom, dizer a verdade é fundamental, mas há maneiras de o fazer.

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  14. Excesso de informação não me parece bom para ninguém, MOYLITO, com cada um a dar a sua opinião, muitas vezes contraditória e raramente concreta. Agora se os adultos ficam baralhados com o excesso, dá para imaginar os putos, né? 8-o

    Mas pronto, cada um com os seus métodos educativos (ou não)! 8-/

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  15. Pelos vistos a expressão não é só da "Tia Idalina"... numa busca pelo sentido desta expressão o Sr. Google encaminhou-me até aqui. Talvez seja uma expressão típica de Lisboa..será?

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  16. A minha tia Marita era espanhola, RUI, embora vivesse há muitos anos em Lisboa. Até hoje ainda estou para perceber se a expressão foi inventada por ela, se era da sua terra natal ou lisboeta, que não a voltei a ouvir... :)

    Ah, e bem-vindo! :D

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)