segunda-feira, 23 de maio de 2011

CAVALOS ROUBADOS

"Agora vivo aqui, numa pequena casa na extremidade oriental da Noruega. Um rio desagua no lago. Não é um rio muito grande, e no Verão torna-se baixo, mas na Primavera ou Outono corre enérgico, e há trutas a nadar nas suas águas. Já apanhei algumas. A foz fica apenas a cerca de cem metros de onde me encontro. Consigo vê-la da minha janela da cozinha quando as folhas da bétula caem."
É deste modo que ficamos a conhecer o narrador e personagem central de "Cavalos Roubados", de Per Petterson: Trong, um viúvo de 67 anos que, após perder a mulher num trágico acidente, resolve abandonar o bulício da cidade  e voltar para a vida simples do campo. Onde aliás pouco tempo viveu, mas que de alguma maneira lhe recorda as últimas férias que passou com o pai e os acontecimentos desse Verão de 1948, quando não passava de um rapaz de 15 anos.
Ao reconhecer Lars, o vizinho mais próximo, como irmão de Jon - seu companheiro de brincadeiras da época - as suas memórias regressam impetuosamente, ameaçando a necessidade de isolamento e a nostalgia por uma vida mais simples, que o levaram àquele recanto do mundo. Trong, cuja única companheira de evasão é a sua cadela Lyra, não pretende desvendar os segredos ou a explicação para as traições e abandonos do passado. Ele entende que "[...] quando se lê Dickens estamos a ler uma longa balada de um mundo desaparecido, em que tudo tem de se juntar no fim como uma equação, em que o equilíbrio daquilo que foi anteriormente perturbado deve ser restaurado de modo a que os deuses possam sorrir."  Mas se parece bem em Dickens, já não se entende nos romances contemporâneos rebuscados, em que as coincidências da ficção são difíceis de aceitar, segundo pensa. Nem na vida real, em que a maior certeza é ter dúvidas sobre os rumos traçados!  
Uma leitura séria e envolvente, ao longo de 275 páginas, em que  nem sempre nos identificamos com a personagem - nórdica, tímida, solitária, discreta, avelhentada e um pouco indiferente aos que o rodeiam ("nós é que decidimos quando nos magoamos."). Mas sem dúvida um romance original, que concedeu ao escritor norueguês vários prémios nacionais e internacionais! 
Merecidos, no meu modesto entender, mas não inteiramente partilhado pelas amigas do Clube! A sensação da "acção" residir apenas nas memórias de um homem tristonho, não agradou a todas...
xxxxxxx
A próxima sessão do Clube de Leitura foi agendada para dia 9 de Julho, com o título "Amor e Chocolate", de Dorothy Koomson.

20 comentários:

  1. Já conhecias este autor? Recomendas? :) Andava para te perguntar qual foi o livro que o JL Peixoto te autografou?

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  2. Não, CONSTANTINO, foi o primeiro livro que li dele! As recomendações são relativas, achei o livro muito original e pouco previsível, gostei francamente (fartinha que estou de americanices)! Mas onde todas concordámos é que era de leitura acessível... :)

    Foi "Cemitério de Pianos", uma vez que já tinha lido o mais recente dele - "Livro", de que aliás gostei muito! :D

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  3. Anónimo5/23/2011

    Leitura acessível nem sempre satisfaz, não é?
    Isto da leitura é tão pessoal!
    Mesmo assim, o enredo deixou-me de pulga atrás da orelha.:)

    jinhos e um excelente dia!

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  4. que estranho! ele fala em trutas e eu pensava que na Noruega só havia bacalhaus...

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  5. "A cavalos roubados não se olham os pêlos". Esta frase aparece no livro?

    Beijocas!

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  6. Pois é, gostos não se discutem...

    A mim pareceu-me interessante...já anotei ;)

    Beijinho :)

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  7. Mais uma vez, lamento que com tantos autores portugueses de excelência (a maior parte porventura jamais leste) insistas na "estrangeirada"...

    ;)

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  8. Teté,
    Aguçaste-me a curiosidade. Já anotei o nome dos dois livros que mencionaste. A lista está a ficar cada vez mais longa... Entre o trabalhar a tempo inteiro e o blogar (e todas as outras responsabilidades a cumprir) o tempo de leitura está a diminuir e não posso passar um dias sem ler uma meia dúzia de páginas!

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  9. Parece-me um sugestão verdadeiramente interessante tivesse eu um pouco mais de tempo. Até o meu lema “um filme por dia não sabe o bem que lhe fazia” teve de ser abolido.
    Sei que as pessoas nórdicas têm uma postura mais fria e distante mas a verdade é que isso que dizem sobre nos decidirmos quando nos magoamos algo que mesmo eles não devem conseguir. E seria tão bom se tivéssemos esse domínio sobre os nossos sentimentos ;)
    Mas também acho que se assim fosse perdíamos um pouco da nossa humanidade.
    Um Beijo. :)

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  10. Às vezes fico com a sensação de que todos renasceremos se voltarmos às origens.
    E às vezes também fico com a sensação de que se o fizesse iria roubar galinhas e vendê-las ao dono.
    Cavalos roubados podem estar afinal onde a imaginação desperta com o orvalhar da manhã. Palpita-me que me agrada este roubo de equídios.
    Beijinho Tété

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  11. Claro que até na leitura cada um tem os seus gostos, NINA!

    Pessoalmente, não gosto muito de livros demasiado previsíveis. Nem daqueles que temos de os ler junto a um dicionário, porque senão não percebemos patavina.

    Vou apenas dando a minha opinião, à medida que os vou lendo, quase todos de ficção, mas que vale o que vale... :)

    Beijocas e boa noite para ti!

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  12. Na Noruega há mar com bacalhau e rios com trutas, VÍCIO! :))

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  13. Não, RAFEIRITO, esse-diz-que-é-uma-espécie-de-provérbio não aparece no livro! :D

    Beijocas!

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  14. A "discussão" não gira em torno de gostarmos ou não do livro, MARIA, mas sim de como o entendemos e interpretámos e este, por acaso, teve algumas interpretações diferentes.

    Mas todas concordámos que tem uma escrita simples (no sentido de perceptível por todos, não de simplória) e que prende o leitor... :)

    Beijinhos!

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  15. No caso do Clube de Leitura, a decisão do livro a ler é por votação, TEONANIZI! E já lemos alguns autores portugueses: o primeiro de todos por exemplo, foi o pior livro do Eça! :)

    Quanto ao resto, tens razão! Já devia ter lido o livro que me recomendaste, há uns largos tempos... :D

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  16. Pois, também é raro o dia que passo sem ler pelo menos algumas páginas, CATARINA! :)

    E já mencionei aqui vários livros, mas a verdade é que nem todos têm os mesmos gostos literários! Portanto é uma mera opinião, que vale o que vale... ;)

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  17. Pois é, PSIMENTO, quando estamos em fase de picos de trabalho, arranjar tempo para ler ou ver filmes torna-se mais complicado! Acontece a todos... :)

    Nós por cá até temos um "ditado" ao contrário: só não se sente, quem não é filho de boa gente! Fernando Pessoa dixit!

    O norueguês (do livro) tem uma mentalidade muito diferente da nossa, daí nem sempre entendermos essa sua frieza. Que também serve para se proteger de desgostos... ;)

    Beijocas!

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  18. A ideia dele é um bocado essa, KIM, ultrapassar o desgosto voltando a um local semelhante ao que tinha sido feliz na infância. Só que, evidentemente, a inocência, a imaturidade e aquela sensação de ter a vida toda pela frente não renascem das cinzas... :)

    Beijocas!

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  19. a descrição soa bastante bem até, embora esteja um pouco à margem do que tenho lido, parece-me. mas fica a nota :)

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  20. De uma coisa podes estar certo, MOYLITO: o escritor escreve muito bem, todas concordámos nesse ponto! :)

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)