A leitura deste romance absolutamente fascinante de Kate Morton (com o título original de "The Shifting Fog") foi demorada, até porque depois não resisti à tentação de ler e reler mais umas passagens, para garantir que não perdera nenhum dos fios desta teia de enredos, que se encontram tecidos numa malha muito semelhante à da famosa série inglesa "Família Bellamy" - que a RTP exibiu lá para meados dos anos 70, para quem se lembrar. Os acontecimentos sucedem-se nos nobres salões, com todo o orgulho e preconceito de uma aristocracia inglesa quase a entrar em vias de extinção, a par de na cozinha, onde a criadagem se reúne, sofrendo também as perdas e amarguras de uma sociedade em transformação, durante e após a I Guerra Mundial.
Grace, a única sobrevivente desta história, tem 98 anos e vive num lar, até ao dia em que recebe uma carta de uma jovem cineasta, Ursula, a pedir-lhe que "desse uma olhada nos cenários" que representam a casa de Riverton, onde a 22 de Junho de 1924 ocorreu a trágica morte de um poeta. Essa carta despoleta uma série de recordações na velha senhora, que passou a vida a fingir esquecê-las, resolvendo, entretanto, relatar ao seu neto, Marcus, todos os segredos que guardou ciosamente para si. Ela entrou em Riverton aos 14 anos, como criada, precisamente pouco antes do início dessa guerra, e manteve-se ao serviço da família por mais de uma década. Agora, velha e cansada, nem forças tem para escrever essas memórias, de modo que as dita para um gravador, numa voz "indistinta, gasta, quase inaudível", diferente da que ouve na sua cabeça e nos seus sonhos.
Entrecortando passado e presente, aos poucos vamos conhecendo as personalidades distintas das duas irmãs, Hannah e Emmeline Hartford, cujo destino se vai entrevendo em cada linha das 472 páginas, lembrando o som do relógio da sala de visitas de Riverton e a "discreta insistência com que marcava a passagem do tempo: paciente, inflexível, frio - como se de algum modo soubesse, mesmo então, que o tempo não era amigo de quem habitava naquela casa." Mas ilusões e desilusões não acontecem apenas na fidalguia, estendem-se aos serviçais, sendo que estes têm uma maior liberdade para sair daquelas paredes ancestrais, mas nem sempre o fazem...
Excelente!!!
Grace, a única sobrevivente desta história, tem 98 anos e vive num lar, até ao dia em que recebe uma carta de uma jovem cineasta, Ursula, a pedir-lhe que "desse uma olhada nos cenários" que representam a casa de Riverton, onde a 22 de Junho de 1924 ocorreu a trágica morte de um poeta. Essa carta despoleta uma série de recordações na velha senhora, que passou a vida a fingir esquecê-las, resolvendo, entretanto, relatar ao seu neto, Marcus, todos os segredos que guardou ciosamente para si. Ela entrou em Riverton aos 14 anos, como criada, precisamente pouco antes do início dessa guerra, e manteve-se ao serviço da família por mais de uma década. Agora, velha e cansada, nem forças tem para escrever essas memórias, de modo que as dita para um gravador, numa voz "indistinta, gasta, quase inaudível", diferente da que ouve na sua cabeça e nos seus sonhos.
Entrecortando passado e presente, aos poucos vamos conhecendo as personalidades distintas das duas irmãs, Hannah e Emmeline Hartford, cujo destino se vai entrevendo em cada linha das 472 páginas, lembrando o som do relógio da sala de visitas de Riverton e a "discreta insistência com que marcava a passagem do tempo: paciente, inflexível, frio - como se de algum modo soubesse, mesmo então, que o tempo não era amigo de quem habitava naquela casa." Mas ilusões e desilusões não acontecem apenas na fidalguia, estendem-se aos serviçais, sendo que estes têm uma maior liberdade para sair daquelas paredes ancestrais, mas nem sempre o fazem...
Excelente!!!
CITAÇÕES:
"Desejava independência e aventura, no entanto, era prisioneira - uma prisioneira confortável e bem cuidada, mas ainda assim prisioneira. A independência exigia dinheiro. O seu pai não tinha dinheiro para lhe dar e não a deixavam trabalhar."
" - É um crime absoluto. É o que é. Um inconveniente atroz. A melhor semente de Inglaterra deixada apodrecer nos campos de França, enquanto as jovens senhoras ficam a ver navios, sem sequer ter par para o baile. É uma conspiração, digo-te. Uma conspiração alemã - os seus olhos dilataram-se perante a possibilidade - para impedir a elite inglesa de procriar!"
"Regressámos a Londres no dia 19 de Julho de 1919, o dia da procissão de paz. [...] A tinta com que se redigira o tratado estava ainda húmida, as sanções que levariam à amargura e exclusão responsáveis pela guerra mundial seguinte, mas as pessoas lá na terra desconheciam tudo isto. Pelo menos naquela altura. Estavam apenas felizes por o vento sul não arrastar mais o som da artilharia através do canal. Que nas planícies de França não iriam morrer mais rapazes às mãos de outros rapazes."
"A desilusão era inevitável; depois dos anos 20 veio a depressão dos 30 e depois outra guerra. E as coisas ficaram diferentes depois desta. Da nuvem de cogumelo da Segunda Guerra Mundial não emergiram novos memoriais, triunfantes, desafiadores ou optimistas. A esperança pereceu nas câmaras de gás da Polónia. Uma nova geração de feridos de guerra foi enviada para casa e uma segunda lista de nomes foi gravada na base das estátuas que já existiam; os filhos debaixo dos pais. E nas mentes de todos havia o atormentado conhecimento de que um dia os jovens iriam cair uma vez mais."
" - É um crime absoluto. É o que é. Um inconveniente atroz. A melhor semente de Inglaterra deixada apodrecer nos campos de França, enquanto as jovens senhoras ficam a ver navios, sem sequer ter par para o baile. É uma conspiração, digo-te. Uma conspiração alemã - os seus olhos dilataram-se perante a possibilidade - para impedir a elite inglesa de procriar!"
"Regressámos a Londres no dia 19 de Julho de 1919, o dia da procissão de paz. [...] A tinta com que se redigira o tratado estava ainda húmida, as sanções que levariam à amargura e exclusão responsáveis pela guerra mundial seguinte, mas as pessoas lá na terra desconheciam tudo isto. Pelo menos naquela altura. Estavam apenas felizes por o vento sul não arrastar mais o som da artilharia através do canal. Que nas planícies de França não iriam morrer mais rapazes às mãos de outros rapazes."
"A desilusão era inevitável; depois dos anos 20 veio a depressão dos 30 e depois outra guerra. E as coisas ficaram diferentes depois desta. Da nuvem de cogumelo da Segunda Guerra Mundial não emergiram novos memoriais, triunfantes, desafiadores ou optimistas. A esperança pereceu nas câmaras de gás da Polónia. Uma nova geração de feridos de guerra foi enviada para casa e uma segunda lista de nomes foi gravada na base das estátuas que já existiam; os filhos debaixo dos pais. E nas mentes de todos havia o atormentado conhecimento de que um dia os jovens iriam cair uma vez mais."
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PARABÉNS, MOYLE!!!
(Obrigada, TONS DE AZUL, pela recomendação deste livro fantástico!)
Ah, olha, sou a primeira e perdi o pio! ;)
ResponderEliminarJust Kidding!
Gostei da descrição. Quando acabar de ler os meus (não serão 1246, mas já são demais para o meu conforto emocional, que stresso imenso só de os ver na prateleira, alguns há anos) volto ao teu blog e faço a respecagem de uma série de títulos que me ficaram. Por ora, bani a compra de livros. Hoje ainda andei a folhear uns, mas só mesmo pelo ´vício' de examinar um livro, senti.lo nas mãos, abri-lo ao calhas e ler duas ou três linhas e imaginar-me a descobri-lo. Enfim, nada que a minha determinação - coadjuvada pelos 17 a 23€ de preço de capa - não controle perfeitamente. É impressão minha ou os livros andam mesmo estupidamente caros? Chiça!!!
Beijos e boas leituras. O que se segue?
Começando pelo fim, SAFIRITA, ainda no fim de semana passado falámos nesse preço exorbitante dos livros em Portugal: um amigo meu comprou um livro em inglês pela net e o mesmo título em português para uma adolescente da família (não me lembro do título na "berra", mas não era isso que estava em causa), mesmo com portes e tudo o primeiro saiu a metade do preço! A "cultura livresca" sai cara cá no burgo! Também não consta que os tradutores fiquem milionários com a tradução... :p
ResponderEliminarQuanto a este livro, tenho quase a certeza que é a "tua cara"! :D
Ui, se ficasse stressada de os ver na prateleira "waiting for me", acho que também me dava um coisinha má! E nem tenciono ler todos (os 1248, que o número vai crescendo)... ;)
Beijocas, que as boas leituras seguem já a seguir (só muito raramente menciono as mais fracotas)! ~xf
Fantástico, são livros de que gosto, a forma da narrativa, com as suas verdades e realidades daqueles tempos, tem que se lhe diga!
ResponderEliminarTive uma coleção, já não sei se eram sete livros, todos d amesma história passada nos arredores de Londres, minha nossa, adorei aquilo, guardei-os ciosamente, mas foram ao ar na cheia da garagem, como já te tinha dito..a aristocracia inglesa era muito ciente do seu papel...
Beijinhos, momentinho de leitura bem bom..laura.
Mais um livro daqueles que parecem ser muito bons...
ResponderEliminarOlha, o meu tá enconstado aqui lado e já nem sei se recomeço e ou continuo mas com alguns factos esquecidos :(
Correria do diaa dia...Afeeeee!
Bom São João e beijokas!
aí está um lvro que desperta a minha curiosidade!
ResponderEliminarSeria um livro que eu gostaria de ler, pelo enredo, pela historia,.....adoro historias que se passaram em tempos de guerra......
ResponderEliminarMas sabado fui a um grande centro comercial( coisa rara porque detesto centros comerciais) e estive justamente a ver livros que me interessariam, e é de doidos os preços deles...como se pode assim incentivar a canalhada a ler????Claro que eles preferem dar 20€ por umas calças do que por um livro, né!!!!!!
Em França lia imenso e a maioria dos livros eram acessiveis....aliás ainda em Dezembro comprei lá um de Marguerithe Duras e custou 10€...
Mas aqui se até os livros escolares são um negácio, como se pode educar este povo e ajudá-lo a ser um pouco mais culto?????
Pois é o dinheiro das grandes multinacionais fala mais alto.
Já me deviei do assunto....hihihihih
Beijokitas
Costumo comprar os meus livros, e não são poucos, numa Feira Alternativa do Livro que se realiza no Parque das Nações. Não é sempre nem é uma que lá também se faz que só tem livros antigos. É uma feira em que tem vários vendedores e bancas. Costumo comprar a um rapaz que é o Rui almeida que tem sempre as novidades a quase metade do preço.
ResponderEliminarSe quiseres posso dar-te o e-mail dele e assim ele vai-te avisando quando se realiza e por vezes até envia listagens!
Beijos
472 páginas? só com letras?
ResponderEliminarvou ali apanhar um pouco de ar e já volto...
a 22 de Junho morreu um poeta mas a 22 de Junho nasceu outro:D
ResponderEliminarOBRIGADO :D
:) Sabia que ias gostar de ler esta história que também tanto me apaixonou!
ResponderEliminarSoube bem reler certas passagens e ler a tua crítica ao livro. Beijinho
P.S. Sim os postais não podiam faltar para a minha colecção. :) Compro sempre um ou dois, mas as fotos são sempre mais.
Por acaso gosto muito de autores ingleses, LAURINHA, mas esta até é australiana, se bem que tenha retratado lindamente a época, para já não falar das histórias que se entrecruzam, de nobres e plebeus. :)
ResponderEliminarO que resta da aristocracia inglesa, ainda continua a ser, com aquele arzinho snob que só eles! :n
Beijinhos, nina!
Pois, MYLLANA, há tempos assim, em que a leitura tem de ficar para trás... :|
Bom São João para ti e beijocas!
Suponho que és capaz de gostar, TERESA DURÃES! (embora não conheça muito bem os teus gostos literários) ;)
É um livro que se passa em tempo de guerra, PARISIENSE, mas dos que em casa ficam a aguardar o regresso dos seus soldados, o que me parece igualmente mau, porque nem todos sobrevivem... :s
E dos anos loucos que se seguiram... :z
Quanto ao preço dos livros em Portugal, parece-me um bocado "pescadinha de rabo na boca": como há pouca gente a ler, as edições são pequenas e por isso mais caras. Mas como são caras, nem toda a gente tem acesso aos livros que gostaria de ler! :-/
Da última vez que estive em Londres também encontrei os clássicos de Charles Dickens a 1 libra. Aqui, não passa na cabeça de ninguém livros a 1 ou 2 euros... :(
Beijokitas, nina!
Estou interessada nesse mail, sim, RODERICK! E não é que compre muitos livros (muitos deles são oferecidos no Natal, nos anos ou só porque saíram numa revista e não interessam ao próprio), mas gosto sempre de cuscar essas novidades... ;)
ResponderEliminarGracias e beijocas!
Também tem números, nas páginas e nos capítulos, VÍCIO! =))
(mas cada um com os seus gostos, né?)
Ah, MOYLITO, o poeta era um personagem ficcional, mas pensador moylístico só há um... :D
(só reparei na data da "morte" do poeta quando andava a rever algumas passagens, mas coincidiu!) :)
Não lhe chamaria crítica, TONS DE AZUL, mas apenas um apontamento! :)
A única coisa que não gostei no livro foram as gralhas, não sei se de revisão, se de tradução ou ambas. Uma ou outra ainda me parece normal, mas topei várias. :(
Mas obrigada a ti, que sem a recomendação talvez nunca o tivesse lido... ~c