segunda-feira, 29 de junho de 2009

CONTOS DE MORTE


O entusiasmo pelos livros de Pepetela é recente, com o "grande" Jaime Bunda a abrir caminho, com dois policiais hilariantes, tal como escrevi aqui no ano passado. A Sun já tinha aconselhado a leitura destes "Contos de Morte", que se lêem assim numa penada (94 páginas, com uma letra granjola, qu'é que querem mais?!) e algum dia havia de calhar...

Pelo título pode dar ideia que estes contos são algo tenebrosos e tristes, mas longe disso, Pepetela (nascido Artur Pestana) narra vivências de gente comum, no presente e no passado, com o sentido de humor e o espírito crítico que o caracterizam, onde por vezes também pairam a mesquinhez, a ignorância e a maldade que reside em cada ser humano.

Transcrevo duas citações, só para dar um "cheirinho":

"Faustino ainda não tinha aprendido com os outros colonos que em Portugal se habituavam a ter só gente acima deles e, de repente, caídos em África, descobriram ter muita gente abaixo deles afinal. E exerciam até à exaustão sobre esses deserdados da vida o pequenino poder com que de repente se maravilhavam."

"-Esse país é bué, mãe, esse país é bué!
Dona Fefa bem conhecia os entusiasmos repentinos do filho pelo país, aprendidos nos livros da escola, embora contrariados constantemente na rua. Desta vez ele vinha daí mesmo, da rua, se espantava ainda mais ela por tanto patriotismo. Parou de mexer a colher de pau na panela de feijão com óleo de palma, limpou as mãos ao avental, disse com voz cansada, explica então como esse país é bué, que mentira mais te pregaram? Que não era mentira, não, ele tinha visto mesmo, mãe, petróleo a sair do chão, aí no quintal de Dona Isaura."

20 comentários:

  1. Eu vou cometer uma grande heresia. Nunca tinha lido Pepetela. Li o primeiro há 15 dias: "O Planalto e a Estepe". Acreditas que consegui ler da primeira à última frase sem uma pontinha de emoção? E quando um livro não me emociona, não me causa riso nem choro, não me arrepia nem me faz suar quente ou frio eu não fico com boa opinião. Resumindo, não gostei.

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  2. Nunca li nada desse autor, mas fiquei com curiosidade. Neste momento, só me apetece estar deitada no sofá azul da varanda, e ler, dormir, fazer festas ao Casimir, comer gelado (eu que nem gosto de gelados), mas aqui arrebentou o calor. Sufoca-se!!!

    Beijinho de boa noite!

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  3. O Pepetela nunca me fascinou.
    Mia Couto não! Gosto imenso! Aqueles contos cheios de palavras reinventadas!

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  4. Como não li esse livro, PREDATADO, não posso botar opinião.
    E sim, um livro que não me diga nada em termos de emoções ou do entendimento do enredo, até desisto muito antes do meio (normalmente, entre as primeiras 20/30 páginas!) ;z
    Cada um tem as suas próprias preferências de leitura, não é? Não me parece que aí haja heresia... :e

    Delirei com o Jaime Bunda, EMATEJOCA, o inspector policial mais improvável do mundo! :))
    Mas gostos são gostos, não é?!
    Aqui está calor, mas com chuva e humidade, num clima quase tropical! (safa-se o Algarve, ao que parece...) :z
    Beijinhos e... bom dia!

    Opiniões, não é, RODERICK? :D
    Mas também só li um livro do Mia Couto, do qual até gostei e escrevi aqui, mas esta fase de literatura africana é recente, de modo que ainda tenho de ler muito mais, embora não me pareça que vá ajuizar quem é o escritor melhor que quem... :g

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  5. A mim cada dia me fascina mais a literatura africana e brasileira. De tão mergulhada que ando nelas parece-me, às vezes, que nem vou ser capaz de ler outra coisa. Mas são etapas, eu sei.

    Alegro-me de que gostasses.

    Beijoca

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  6. É simplesmente a melhor maneira de viajar sem sair do lugar . É o que costumamos dizer!
    Mas sendo assim...vai mais um pra minha lista!
    Beijokas e boa continuação!

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  7. Ainda não li nada deste autor. Acho que está na hora de o conhecer! :)

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  8. Asoro os livros de Pepetela, pois em todos eles me encontro em algum lugar, ou ele não tenha nascido na minha terra natal , Benguela.

    Esse ainda não li, pois ultimamente não tenho tido muito tempo para isso mas claro que é um dois que está já na fila para eu ler.

    Agora abriste-me ainda mais o apetite.

    Beijokitas

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  9. Sim!
    Também não estou a tirar o valor de Pepetela, bem pelo contrário.
    Apenas li um livro dele e estava à espera de "um outro Mia Couto".
    Talvez por isso, me tenha desiludido.
    Não devia ir em busca de nada, mas sim esperar encontrar algo de novo.
    Foi o meu erro quando li Pepetela!

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  10. Não conheço, de qualquer forma não sou grande fã de contos. Gosto de uma boa história com centenas de páginas :-) (parece que estavas a adivinhar, ontem preparei um post sobre leitura, a publicar brevemente). Bijou

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  11. Ultimamente ando sem inspiração para ler... não sei o que se passa mas, este ano, apenas li 2 ou 3 livros até agora...

    Beijinhos!

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  12. comecei a ler Pepetela precisamente com o Jaime Bunda... e adorei!!! vou ver se leio este

    beijinhos, boia semana

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  13. euh...quem nunca leu nada do pepetela (e assim a modos que não está no seu top cem de coisas para fazer antes de morrer) pode comentar na mesma? ~w

    é que eu passei aqui de fugida, e como não conheço o livro em questão não posso mandar bitate, mas queria a tua douta opinião, caso já tenhas lido alguma coisa do moço, sobre José Rodrigues dos Santos. É que me ofereceram o codex 632 como se se tratasse do suprasumo da batata, e não só estou chocada com a linguagem de merceeiro, muito, muito longe do que eu esperaria de um jornalista catedrático, como também não consigo perceber a genialidade da obra em si, e sinto-me aborrecida como um coelho morto desde a página 35...

    Eu sei que não tem a muito a ver com o teu post, directamente, mas é literatura na mesma, certo? ;)
    Beijinhos

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  14. Com a Pina Bausch desaparece uma das grandes criadoras universais do século XX. E há algo da criação desse século e da passagem para o século XXI que morre com ela.
    É uma perda irreparável, porque ela era ÚNICA. Ela criou o Tanztheater em Wuppertal, ou melhor, ela era o Tanztheater de Wuppertal. Sem ela, vai acabar uma época famosa no Teatro em Wuppertal e na Alemanha.

    O céu do Porto ficou assim azul, depois de eu ter dado uns bons retoques a essas fotografias antigas.

    Boa noite, Teté!

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  15. Na verdade, SUN, há duas ou três opiniões que prezo na blogosfera, no que respeita a livros, em termos de serem coincidentes com as minhas. A tua é uma delas! (*_*)
    Mas gosto de variar, essa fase em que só lia um autor já passou... mas a alguns, volto com prazer! :D
    Beijoca!

    É verdade, MYLLANA, viajo mais em livros do que ao vivo e a cores... :)
    Beijokas!

    E nunca é tarde, TONS DE AZUL! :)
    (não tenho a certeza se vais achar tanta piada como eu, porque o autor carrega na tecla da ironia, por vezes um pouco perversa... como a realidade!) ;)
    Escuso de te dizer que as tuas opiniões em relação a livros também são as que mais acompanho, né? :D

    O lugar, as gentes, uma outra maneira de estar na vida, tudo transparece em Pepetela, PARISIENSE! Mesmo não nascendo em Benguela pode-se gostar, né? :))
    Beijokitas, nina!

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  16. Olha, estamos ao contrário, RODERICK: Mia Couto - 1; Pepetela - 3! Mas tanto com um como com outro, tenho curiosidade de ler mais. Não de supetão, intervalando com outros escritores. Só de americanices é que estou farta... :))

    Ah, MIKAS, isso aqui não é grande adivinhação: volta não vira, regresso aos livros! :z
    Pessoalmente gosto de histórias bem contadas, numa página ou em 700! :D
    Beijocas!

    Acontece, MATCHBOX32, especialmente quando se tem de estudar em livros para cima de chatóides (estou a falar da minha experiência estudantil, não da tua, certo?) :p
    Beijinhos!

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  17. Ah, LEONOR, nem te reconhecia com este endereço... :))
    Também estou curiosa em ler mais do autor, à medida que for surgindo. O Jaime Bunda nas férias do ano passado foram mesmo uma desbunda, dava comigo a rir à gargalhada em todo o lado, para espanto de todos os circundantes... :)
    Beijinhos e boa semana para ti também!

    À-vontade, SAFIRITA! ~w
    Mas também não posso botar opinião, que nunca li nada dele, tenho esse e outros dois em casa (grandes calhamaços, que até atrapalham para transportar na mala), segundo me disseram ele conduz o enredo como uma pesquisa jornalística, a explicar tintin por tintin o trabalhinho que teve, o que torna um bocado chato. Opinião alheia, não a minha, que nunca li! E nem estou com grande curiosidade de ler, mesmo o Miguel Sousa Tavares, no "Rio das Flores" tinha para lá umas 100 páginas a mais bem dispensáveis - gostei do livro, note-se! - o que parece ser "trauma" de jornalista português ("mostrar" que se estudou o assunto)... ~s
    Quanto ao resto, se ao fim de 30 páginas não estou a simpatizar com a escrita/leitura, epá, com tantos livros interessantes, passo para outro! :a
    Beijocas!

    Oh, EMATEJOCA, imagino a tua indignação ao ler o meu comentário. Mas se tens comentadores portugueses e brasileiros, por mais que percebam que é uma perda enorme para o teatro de dança alemão de Wuppertal, como referes, achas que alguém conhecia a Pina Bausch? Talvez um ou outro, mais versado nessas lides (o que não é o meu caso). Sendo que, além do mais, não acredito em pessoas insubstituíveis em instituições (pode ser difícil arranjar alguém à altura para o cargo, talvez não com o mesmo empenho, mas é assim), acredito, sim, que a nível de familiares e amigos não o sejam.
    Hummm... bem precisava de uma dicas para retocar fotos, que a última vez que tentei pus um "olho negro" a uma com um reflexo vermelho no olhar... b-(
    Bom dia para ti! :)

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  18. Minha querida Teté!

    Não fiquei nada indignada com o teu comentário - tu tens toda a razão: são poucas as pessoas em Portugal ou no Brasil, que conheciam a Pina Bausch. Claro que na Alemanha toda a gente sabe quem era a Pina Bausch, mas dos meus/minhas amigos/amigas e familiares ninguém ficou tão chocado como eu com a morte inesperada dela.
    Em Wuppertal à porta do teatro está tudo cheio de velas e flores, queria ir até lá, mas o calor é tanto, que não me deixa sair de casa.

    Eu também não sei ao certo como retocar fotografias: umas ficam muito boas como a do Big Ben, outras boazitas como as do Porto e outras horríveis. É uma questão de sorte.

    Adoro os teus comentários, Teté, porque não são daqueles só a mandar beijinhos e a dizer sempre a mesma coisa: "lindo... lindo... lindo..."!!!

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  19. por acaso também nunca li mas tenho uma certa curiosidade. sobretudo para saber se consigo perceber algum tipo de africanidade na escrita.

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  20. Bom, EMATEJOCA, fico mais satisfeita por não teres ficado indignada com o meu comentário. A morte inesperada faz-nos sempre impressão, até a anunciada, mas já se sabe que a vida é assim!
    Também não tenho muita pachorra para esses comentários de beijinhos e "lindo", quando se topa à légua que nem sequer se leu o texto! :g
    Quanto às fotografias, ainda tenho muito a aprender em relação aos retoques... :))

    MOYLITO, Pepetela transpira africanidade por todos os poros: na escrita, na linguagem, nas gentes, nos lugares que descreve, numa própria maneira de estar diferente na vida... :))

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)