Nunca tinha lido um livro de ficção de Isabel Allende (os que li são uma espécie de diários, dedicados a sua filha Paula, que morreu prematuramente com uma doença rara), e muito menos visto o filme "A Casa dos Espíritos". Esta espécie de "dois em um" de livro e filme surgiu agora, acicatados pela sugestão da Tons de Azul, que recomendou vivamente o livro. O filme, confesso, vi no YouTube, infelizmente numa versão dobrada em brasileiro. Mas foi o que consegui arranjar, já que depois de ler tinha curiosidade de ver.
Como a Tons de Azul bem explica, trata-se da história da família Trueba, liderada pelo determinado, apaixonado, despótico e retrógrado Esteban (Jeremy Irons), órfão de pai, que desde cedo teve a mãe e a irmã Férula (Glenn Close) a seu cargo. O seu noivado com Rosa termina inesperadamente com a morte repentina desta e ele resolve abandonar a mina onde trabalha para se dedicar inteiramente a reerguer o rancho que o pai deixou na falência. O que consegue. E é aí que decide casar com Clara (Meryll Streep), a irmã mais nova da sua antiga noiva, uma rapariga estranha, que tem premonições sobre o presente e o futuro e parece viver sempre num mundo fantasioso muito próprio. Nos primeiros anos, o casamento decorre normalmente, já que Férula vai viver com o casal e é uma grande aliada da cunhada, tentando poupar-lhe todos os esforços e o governo da casa, para o qual ela não tem aptidão. Mas a devoção que lhe dedica provoca os ciúmes do irmão, que a expulsa de casa.
Entretanto, o casal teve três filhos: Blanca (Winona Rider) e os gémeos Jaime e Nicolau. No entanto, à medida que eles crescem, vão desapontando o pai, tanto por demonstrarem um espirito mais moderno e menos conservador, como pela paixão assolapada (e correspondida) que Blanca nutre por Pedro Tercero (Antonio Banderas) - o filho do seu capataz e, simultaneamente, o maior revolucionário da região - desde a tenra infância.
Sem revelar o final, para quem queira ler estas 337 páginas escritas em 1982, posso avançar que nem o ultra-conservador Esteban Trueba esperava tanta violência "gratuita" na ditadura de Pinochet. Como também não é difícil imaginar...
E o que dizer sobre o filme, de 1993? Apesar do excelente naipe de atores, a produção reduziu personagens, simplificou o enredo, abreviou (e quase descontextualizou) as partes históricas. Daí que se só tivesse visto o filme, até tinha gostado bastante. O que é dizer muito sobre um filme com quase 20 anos. Mas sem dúvida que preferi o livro. Gracias, Tons de Azul!
Citações:
"[O sacerdote] Era partidário de vencer as fraquezas da alma com uma boa chicotada na carne. Era famoso pela sua oratória desenfreada. Os fiéis seguiam-no de paróquia em paróquia, suavam ouvindo-o descrever os tormentos dos pecadores no Inferno, as carnes estraçalhadas por engenhosas máquinas de tortura, os fogos eternos, os garfos que trespassavam os membros viris, os répteis asquerosos que se introduziam pelos orifícios femininos e outros suplícios que introduzia em cada sermão para espalhar o terror de Deus."
"Isso serve para tranquilizar a consciência, minha filha - explicava a Blanca - Mas não ajuda os pobres. Eles não necessitam de caridade mas sim de justiça."
"Se pôde ser ministro da educação sem ter terminado a escola, também pode ser ministro da Agricultura sem ter visto uma vaca inteira em toda a sua vida."
Mas homens como o ultra-conservador Esteban Trueba foram os responsáveis pela violência "gratuita" na ditadura de Augusto Pinochet.
ResponderEliminarClaro que foram, EMATEJOCA, mas no caso Esteban Trueba reconheceu o erro. O que é mais que muita gente consegue, teimosamente a apoiar gente que não merece (e não, não estou a referir-me a políticos estrangeiros)!
EliminarPor muito que não "simpatizemos" com um político, há sempre que o diferenciar de um ditador!
Este foi o primeiro livro que li desta autora já há muito anos. Em espanhol por não o ter encontrado em português. Um livro extraordinário na minha opinião. Li quase todos os livros que escreveu exceto Paula, O jogo de Ripper e O bosque dos pigmeus. Tb vi o filme A casa dos Espíritos, creio que de um realizador europeu (não me recordo se norueguês) que não teve tanto sucesso como o livro.
ResponderEliminarComo tu, Catarina, este foi o primeiro livro que li desta autora já há muito anos.
EliminarTambém li quase todos os livros que escreveu excepto Paula.
Também vi o filme do realizador Bille August que é dinamarquês, mas educado na Suécia.
Sabia que era um realizador europeu mas não tinha a certeza de que nacionalidade. Tive pena, na altura, que o filme (tanto quanto me apercebi) não tivesse tido o mesmo sucesso do livro. Se bem me lembro, considerei uma boa adaptação cinematográfica.
EliminarAo contrário de ti, o primeiro livro que li dela foi "Paula", CATARINA. Que me impressionou pelos motivos óbvios, depois li "A Soma dos Dias", que é uma espécie de continuação, se bem que a filha já tivesse morrido. E tinha este e outro livro dela pendurado na estante, à espera de ser lido. O "toque" da Tons de Azul ajudou a despoletar um interesse maior e como não tinha visto o filme... ;)
Eliminar"O Jogo de Ripper" é o livro que se segue no próximo Clube de Leitura, mas como a sessão será só lá para finais de setembro ou princípios de outubro, ainda nem sequer comprei...
Suponho que teria gostado mais do filme (do qual até gostei), se não tivesse lido o livro, que me pareceu francamente melhor! Até em termos do sentido do enredo, se bem que o esoterismo está presente em ambos!
A nacionalidade do realizador passou-me ao lado quando vi, EMATEJOCA, fiquei a saber por ti que era dinamarquês e educado na Suécia. Para o filme em si, não me parece muito relevante e, apesar do excelente naipe de atores, considero o livro mais bem "construído"... ;)
EliminarCATARINA, a adaptação até pode ser razoável (quem é que tem pachorra para filmes de 3 ou mais horas, para serem fiéis ao livro?), como vi quase a seguir a ler fiquei um pouco desiludida. Mas também é verdade que se tivesse visto o filme no cinema já não tinha vontade de ler o livro. Resumindo: até foi melhor assim, que gostei muito do livro!
EliminarGosto muito de ler Isabel Allende. A edição que tenho deste seu primeiro romance é dos anos 80 (da Difel) e já se encontra com o papel a ficar oxidado, com o cheiro doce característico do papel envelhecido. Já o li há tanto tempo que merece nova ronda. :)
ResponderEliminarOra aí está coisa que raramente faço: reler livros, LUISA! Das poucas vezes que "bisei" os livros que mais gostava, não sei porquê, li-os com outros olhos e gostei menos... :)
EliminarLi o livro e vi o filme, também li Paula e Afrodite este foi-me emprestado.
ResponderEliminarBom fim de semana Teté.
Beijinho e uma flor
Além deste só li "Paula" e "A Soma dos Dias", FLOR DE JASMIM, que são diários auto-biográficos - este foi o primeiro de ficção que li da escritora.
EliminarBeijocas floridas!
Li vários livros dela!
ResponderEliminarTambém vi o filme!
Foi há muito tempo mas lembro-me que gostei dos dois!
Abraço
Rosa dos Ventos
Também gostei dos dois, ROSA, mas preferi o livro. Porque a história fazia mais sentido... ;)
EliminarAbraço
Por acaso foi o único livro dela que li e gostei muito. Li-o há já muitos anos, mas lembro-me que gostei muito.
ResponderEliminarBeijinhos e boas leituras.
É um livro "forte", que dificilmente esquecemos, GRAÇA|! ;)
EliminarBeijocas e boas leituras para ti também!
ResponderEliminar~
~ ~ Foi o primeiro livro que li de Isabel Allende e, espíritos à parte, adorei, até porque a morte de Allendedeixou o mundo civilizado em estado de choque, assim como a morte de Pablo Neruda.
~ ~ O filme conta com artistas estupendos. Também gosto, mas é sobre um guião e só pode ser apreciado por quem conhece o romance.
~ ~ ~ ~ ~ ~ B e i j o q u i n h a s. ~ ~ ~ ~ ~ ~
O livro tem algum esoterismo (que normalmente me desagrada profundamente), no caso não achei particularmente exagerado, MAJO. Se bem que no filme isso só seja focado de passagem, a falta do contexto histórico - e quem é que não conhece essa triste História do Chile? - as personagens banidas do enredo original e a simplificação do argumento não compensam inteiramente a excelência dos atores. Bem vistas as coisas é uma outra história, se bem que parecida... ;)
EliminarBeijocas
Li obras dela e gostei.
ResponderEliminarEste filme não vi.
Bom fim de semana, ma belle
Li pouco dela e de ficção este foi o primeiro, SÃO! O filme também só vi a seguir... :)
EliminarBeijocas
O livro é muito bom e ainda bem que gostaste da sugestão. ;) Quanto a mim , ainda não arrisquei ver o filme...
ResponderEliminarNão é tão bom, na minha opinião, TONS DE AZUL, mas só pelo naipe de atores vale a pena. Eu é que agradeço... :)
EliminarGosto de Isabel Allende. Li o livro e vi o filme depois. Como habitualmente, preferi o livro. Para mim, "O meu país inventado" é, a seguir à Casa dos Espíritos, o melhor livro deal
ResponderEliminarBeijinhos
De Isabel Allende só tinha lido os livros/diários mais ou menos auto-biográficos, CARLOS. Mas gostei desta ficção, que aqui e li dão a conhecer a história do Chile durante várias décadas do século XX. No filme pouco se nota disso, para além do desvario ditatorial de Pinochet.
ResponderEliminarBeijocas
É tão fixe quando podemos comparar a mesma obra em dois suportes distintos!
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