sábado, 29 de setembro de 2012

SÃO ROSAS, NÃO SÃO CRAVOS...

28 de Setembro de 1974:
Estava de férias em casa de uma amiga, em Vila Nova de Ourém - sim, porque naquela época as aulas só recomeçavam depois do dia 5 de Outubro, eram férias grandes mesmo!
Havia um baile lá na terra - da Uva, para comemorar o fim das vindímas - em que nos tinhamos comprometido a ajudar na organização. Trabalho de adolescentes, nestes eventos, passava por cobrar os bilhetes à porta, servir às mesas, mas por turnos, que a malta também se queria divertir e dançar. Tudo muito metódico e organizado.
Só que nessa tarde, começaram a surgir boatos de um golpe militar em Lisboa, cada um acrescentava mais uns pós da sua fértil imaginação: a minha cidade a ferro e fogo, pejada de mortos, a preocupação a crescer, já não conseguia conter as lágrimas, que brotavam em catadupa. Telefonei para casa, atendeu a minha irmã, que os meus pais tinham ido ao cinema (este gosto cinéfilo é de família), ela nem tinha dado por nada de anormal, mas também começou a ficar preocupada... Enfim, bem me tentavam acalmar, assim com umas palavras simpáticas, tipo "não, parece que só há meia dúzia de mortos", mas não estava nada convencida que me estivessem a dizer a verdade...
Só sosseguei quando a minha mãe telefonou, perto da hora do jantar, tinham ido e vindo do cinema sem reparar em qualquer golpe militar em curso. Claro que aí já não havia nada a fazer pelos meus olhos, vermelhos e inchados q.b. depois de tamanha choradeira.
O baile correu bem - depois de um susto destes, o que é que não corre?
Mas lembro-me que o grupo local tocou e cantou esta música:



Quem diria que, 38 anos volvidos, iria para a rua protestar pelo desagrado da situação a que o meu país chegou? A melancolia juvenil (publicada aqui a 6 de março de 2008, com o texto acima e a propósito de um desafio musical) deu lugar à convicção que vale a pena ir para a rua "lutar": a democracia e a liberdade não têm preço, por muito espinhosos que sejam os caminhos... tal como as rosas, afinal, não são cravos vermelhos!


Imagem do facebook

12 comentários:

  1. Cá por casa esse 28 também foi vivido em desassossego!
    Era dia de festa de anos...já não é!

    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Evidentemente, ROSA, recordar dias que já não são de festa é bem pior...

      No meu caso, foi mais "muito barulho por nada", mas nunca esqueci aquela aflição dos meus 15 anos...

      Abraço!

      Eliminar
  2. Eis uma daquelas canções que integram as minhas preferidas desde que a ouvi pela primeira vez!

    Até logo no Terreiro do Paço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Também ainda hoje gosto, SÃO, desde esse dia inquietante...

      Como é óbvio, não encontrei ninguém por lá, exceto a amiga com quem fui! Muita gente é no que dá... :)

      Eliminar
  3. Mas achas que a democracia e a liberdade estão em causa? O que está em causa é a independência económica dos povos e nações presos que estão à "ditadura" dos mercados.
    Bom fim de semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que democracia e que liberdade tens com essa ditadura (sem aspas) de mercado, capitalista ou como lhe queiras chamar, CARLOS II? É que não estou mesmo a ver...

      Escravos são escravos, qualquer que seja o modo de os escravizar!

      Bom fim de semana para ti também!

      Eliminar
  4. Eu não irei... primeiro, porque estou muito longe... depois, porque estou a trabalhar... estando a Fundação onde trabalho no grupo selectíssimo das 4 que estão condenadas à extinção, julgo que o melhor que posso fazer nesse dia, pelo meu país e pela minha vida, é trabalhar afincadamente, mostrar a qualidade do que faço e o tremendo equívoco que (mais uma vez) se está a cometer...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda não percebi muito bem a ideia do governo em relação às fundações, BRISEIS. Quer dizer, acho que ninguém, percebeu muito bem: quwerem cortar, o que é óbvio! Mas os critérios são nebulosos - em 558 que responderam ao censo especial, só acabam com 4? E depois ainda acabam com 30% dos susbsídios a outras, cujos órgãos já vieram a público afirmar que não recebem nenhum? Enfim, garanto que ainda não entendi... mas boa sorte para ti!

      Eliminar
  5. Gosto tanto desta melodia!

    ResponderEliminar
  6. Anónimo9/30/2012

    Gostei de ler sobre esta sua memória do 28 de Setembro de 74. Bem diferente da minha, que na altura estava a cumprir o serviço militar em Tomar. Estava de prevenção, claro...
    Claro que vale sempre a pena sair à rua e lutar. Elas não matam, mas vão moendo e água mole em pedra dura...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é, CARLOS, essa pequena diferença de idade hoje em dia não será notória, quando temos 15 anos é abismal: tropa já era mundo de crescidos! :)))

      Curioso é que nessa época era muito empenhada em lutas cívicas e políticas, depois de um hiato de mais de 35 anos (e, culpa minha, de quase desinteresse), lá volto à rua! Só pode furar mesmo, que incompetência, arrogância e experimentalismo, a par de clientelismo, têm limite, quando são sempre os mesmos a arcar com as consequências... ;)

      Eliminar

Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)