domingo, 7 de fevereiro de 2010

O ADEUS DE ROSA

Fotografia de Ian Britton

SE EU MORRER DE MANHÃ
ABRE A JANELA DEVAGAR
E OLHA COM RIGOR O DIA QUE NÃO TENHO.

NÃO ME LAMENTES, EU NÃO ME ENTRISTEÇO:
TER TIDO A NOITE É MAIS DO MEREÇO
SE NEM CONHEÇO A NOITE DE QUE VENHO.

DEIXA ENTRAR PELA CASA UM POUCO DE AR
E UM PEDAÇO DE CÉU
O ÚNICO QUE SEI.

TALVEZ UM PÁSSARO ME ESTENDA A ASA
QUE NÃO SABER VOAR
FOI SEMPRE A MINHA LEI.

NÃO BUSQUES O MEU HÁLITO NO ESPELHO.
NÃO CHAMES O MEU NOME QUE NÃO VENHO
E DO MISTÉRIO NADA TE DIREI.

DIZ QUE NÃO ESTOU SE ALGUÉM BATER À PORTA.
DEIXA QUE EU FAÇA O MEU PAPEL DE MORTA
POIS NÃO ESTAR É DA MORTE QUANTO SEI.

Rosa Lobato Faria
(20/04/1932 - 02/02/2010)

Na missa de corpo presente da escritora, este poema foi distribuído e lido pelo seu filho mais velho. Não sei se escrito especificamente para a ocasião ou se se trata de um poema antigo, mas pessoalmente gostei muito, partilhando-o aqui com todos os amantes de poesia!

Não tenho por hábito escrever sobre a morte de pessoas públicas quando morrem - para isso estão aí os jornais, as rádios e as televisões, mais vocacionados para esse género de informação. No caso abri uma excepção, dada a originalidade da despedida...

11 comentários:

  1. Senti o poema mais como uma despedida, TERESA, que se adivinha em todos nós... :)

    Beijoca!

    ResponderEliminar
  2. Muito bonito.

    Para mim, a Rosa nem se encaixa muito bem no meu conceito de "figura pública" (erro meu, que certamente existirão milhentos argumentos para que assim seja considerada) mas sim alguém que se notabilizou por talento(s) que poucos terão igual, pela(s) arte(s). O resto é um mero detalhe.

    Gostei do poema, da forma como foi escolhido para a ocasião e da tua homenagem :)

    ResponderEliminar
  3. Poema lindo que fala com simplicidade deste dia que nos espera a todos.
    Simplicidade e franqueza era algo que eu admirava nesta mulher.

    Até sempre.

    Bom domingo para ti Tété.

    ResponderEliminar
  4. Premonitório e lindo este poema. Não é fácil escrever sobre a própria morte !
    Mulher admirável ! Ainda agora acabei de ver um programa em que ela foi homenageada, pelo Júlio Izidro, há 15 anos. Pelo menos foi-o em vida, o que nem sempre acontece. Esta mulher teve o condom de se manter sempre jovem. Parecia a Lobato Faria de hoje !
    .
    .

    ResponderEliminar
  5. Que poema tão comovente!
    Eu nunca li nada dela. Vi-a sim, numa entrevista na RTP 2, durante umas férias no Porto, começando a interessar por ela.

    Alguém deixou ali a garrafa de Coca-cola...
    Tu tens razão, Teté, há arte para todos os gostos, todavia os cinco copos com a urina da artista (foto na posta: É arte ou não?) enojou-me.

    A senhora que aparece em várias fotografias é a minha cunhada Elsbeth, que também pinta, e com quem eu faço a Rundgang todos os anos.

    Beijinhos da cidade da arte, da moda: o pequeno Paris!

    ResponderEliminar
  6. Anónimo2/07/2010

    Uma beleza!
    :)

    ines

    ResponderEliminar
  7. Concordo que "figura pública" não é o termo mais bem escolhidos para todos os talentos que evidenciou, PAX, aqui foi empregue mais no sentido de pessoa conhecida pelo público, à falta de denominação mais adequada.
    E não estive presente, note-se, que só a encontrei vagamente duas ou três vezes, em sessões de autógrafos!
    Mas quando li o poema fiquei emocionada, daí ter reproduzido aqui... :)

    Suponho que não existe praticamente ninguém que não admirasse a Rosinha (como era conhecida pelos amigos), PARISIENSE!
    Talento, elegância, sentido de humor, a par dessa simplicidade e franqueza...
    Boa semana para ti!

    ResponderEliminar
  8. Jovem de espírito sempre, como escritora, humorista, actriz e mulher, RUI! Poucos se podem gabar do mesmo... ;)

    Também me comovi com o poema, TERESA! Sem lamechices, só a realidade crua e nua do que poderá acontecer...
    Quanto à garrafa de coca-cola, garanto que vi uma cena parecida em Serralves, com três garrafas em fila, uma cheia, outra pela metade, outra vazia. E confesso que não considero aquilo arte (por acaso, fartei-me de rir com algumas peças exibidas!), mas há gostos para tudo! Essa dos flutes é mesmo nojenta, julgava que o conteúdo fosse champanhe, após umas horas de exposição... ~v
    Mas pronto, espero que tenhas gostado do resto, aí no "pequeno Paris"! :D
    Beijinhos!

    É, não é, INÊS?! :)

    ResponderEliminar
  9. não é um adeus, é um até já :D

    ResponderEliminar
  10. Ou até qualquer dia... MOYLITO! :D

    ResponderEliminar

Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)