domingo, 20 de setembro de 2009

IR PRÒ MANETA

O ensaio de Vasco Pulido Valente baseia-se em inúmeros relatos de um período tenebroso da História de Portugal - daí 109 páginas contarem com 185 notas de rodapé - onde conclui que foi a revolta do povo que libertou "nove décimos do país" dos exércitos de Junot, "antes de Wellington (ainda Wellesley) pôr o pé em terra".

Quando as tropas napoleónicas invadiram Portugal em 1807, a família real, o governo e os elementos mais proeminentes da sociedade portuguesa zarparam para o Brasil, deixando a restante população à mercê de um invasor com fama de invencível, violento e ganancioso. Mas se, de início, Junot avançou pelo território sem entraves de maior, a revolta do povo - até por uma questão de sobrevivência - não tardou em surgir! Salvo raríssimas excepções, "as 'classes superiores à populaça' permaneceram prudentemente em casa. De porta fechada." Contudo, o general desvalorizou esta revolta pensando poder reprimi-la através de operações policiais. O que não se verificou!

Milhares de paisanos, "com paus e piques e a rara espingarda raramente nas mãos de vocações naturais" ou qualquer foice a jeito, fizeram retroceder as tropas de Loison numa guerrilha constante e eficaz, atacando os flancos e a retaguarda da sua coluna, que sofreu baixas significativas. Este general, que não tinha um braço, decidiu então retaliar na população civil, gabando-se das suas proezas militares, que consistiram em saquear, arrasar e incendiar "aldeias inteiras para punir actos de hostilidade", matando todos os homens, mulheres, crianças, velhos ou inválidos que encontrasse no caminho. A extraordinária crueldade dos seus métodos motivou que a "locução 'ir para o maneta' se [fixasse] perenemente na língua" portuguesa.

Durante três longos meses de chacinas, o povo (então já auxiliado por elementos de outras classes sociais) resistiu e perseguiu os invasores e todos os suspeitos de colaboracionismo - muitas vezes bastante injustamente, não isento de vinganças pessoais sobre os anteriores opressores (leia-se, "no senhor da terra, no rendeiro, no magistrado e no pequeno comerciante (e usurário).")

(Junot acabou por negociar com os generais ingleses a sua retirada do território nacional, na denominada "Convenção de Sintra", tendo-lhe sido permitido levar consigo grande parte do saque efectuado.)

CITAÇÃO:

"A nobreza colaborara com o invasor, o episcopado colaborara, o grande funcionalismo colaborara. Apenas o 'povo' nunca se tinha rendido, e aprendera à sua custa que a traição às vezes morava, ou quase sempre morava, em altos lugares."

17 comentários:

  1. Esta expressão de mandar "pró maneta" não sabia a origem, Teté.

    Desejo-te um excelente início de semana e com o meu obrigada pelas tuas palavras.

    Beijinhos,
    Isabel

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  2. mmmmm, um 1808 romanceado. E do vasquinho! :v hei-de ler! :h

    Sugiro-te o seguinte (só segues a sugestão se quiseres, ora). E se, nas barras laterais, pusesses uma lista destes livros todos que nos vais apresentando, quiçá com um link para o post em q é discutido?
    Assim, quando a qq um de nós apetecer um livro novo, em vez de andarmos horas de pescoço esticado e olhar franzido em busca do tal livro que nos poderá interessar, chegamos à livraria já com o nome do livro pretendido e eles procuram-no, no comput, por nós!! O que achas? Passavas a ser a nossa Marcelo Rebelo de Sousa! :y

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  3. Esses romances históricos são muito maçudos para mim.....

    Gosto imenso de Historia, mas prefiro vê-la em filmes.....não sou amante de livros históricos.

    Mas obrigadinha pelas informações que nos dás sobre os livros que lês.

    Beijokitas e boa semaninha.

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  4. excelente livro. aliás foi como a névoa a dissipar, não fazia a mínima ideia da enorme resistência do povo, ao mesmo tempo que "os senhores" se rendiam ao franceses.

    depois essa dos ingleses serem aliados também foi um bom embuste, é que na rendição, eles permitiram que o maneta levasse com ele tudo, incluindo grandes obras de arte que desconfio nunca voltarão a portugal...

    excelente escolha. beijinhos.

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  5. Li algumas notas sobre o livro e tomei conhecimento da expressão "ir pró maneta". Não fazia a minima ideia a sua origem.

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  6. só não concordo com o preço, daí ainda não o ter adquirido. mas foi-me já recomendado, também.

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  7. Essa expressão desconheço completamente mas pelo menos aprendi um ditado novo :P

    E mais um dica pra ler mas ando tão preguiçosa.....
    Mas isso tem que passar.
    Bjks

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  8. Quanta informação. Não sabia quem teria sido esse maneta. Essa de levarem parte de saque ficou-me atravessada.

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  9. Esta expressão ou parecida é muito usada pela minha amiga Beatriz, quando se fala desta época da nossa história. Claro, que ela se refere ao povo nortenho! Porém não sabia a origem

    Desejo-te uma óptima semana.

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  10. Xiiiiii e eu que pensava aderir a uma revolta popular! Depois de ler isto, nem o diabrete mais corajoso se atreve ahahah

    O melhor será juntar-me a ELES quanto antes ihihih

    dentadinhas

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  11. Anónimo9/21/2009

    Adoro este tipo de "estórias".
    Quando me é possivel e sempre que me lembro também gosto de falar destas coisas.
    A gente está sempre a aprender.
    Beijinho Tété
    Kim

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  12. Também se encontra na net, ISABELINHA, mas o livro é mais explicativo!
    Força aí, amiga, que estamos todos a torcer por ti! :)
    Beijinhos!

    A grande diferença entre o 1808 e este livro, VANI, é que o primeiro é visto numa perspectiva actual e este a tentar entender a mentalidade da época, que suponho que consegue... :D
    Agradeço a tua sugestão, já pensei nisso, mas assim num compacto ou coisa. Todos os livros e respectivos links parece-me difícil! :))
    Se leres, esquece as notas de rodapé, que só podem ser interessantes para quem pretenda fazer uma tese sobre o mesmo tema...
    (aqui só para nós, o tio Marcelo não lê aqueles livros todos, todas as semanas, só folheia... ;))

    Gosto de História, PARISIENSE, mas também não sou amante de livros só históricos. Gostei deste, por ter uma perspectiva diferente da habitual e ainda dar uma explicação lógica para uma expressão usual que não conhecia a origem! Aliás, pelos vistos, não sou a única... :)
    Beijokitas e boa semana para ti também!

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  13. Pelo que entendi do livro, S.G., o povo lutava por uma questão de sobrevivência - se as terras que cultivavam fossem saqueadas, não teriam o que comer - os restantes estavam caladinhos, com receio de perder a cabeça, literalmente. Uma "rendição" relativa, portanto!
    Os "aliados" ingleses, pois, foram mais ou menos uns embusteiros, se bem que posteriormente tivessem controlado o território "à sua maneira"... :)
    Beijinhos!

    Nem tu, CARLOS II, nem quase ninguém sabe a origem da expressão! Segundo Vasco Pulido Valente é esta e até acredito que seja. :)

    Não faço ideia do preço do livro, MOYLITO, a "recomendação" é limitada para quem aprecia estes ensaios sobre a nossa História... :g

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  14. É uma expressão popular, MYLLANA, que pelos vistos quase todos nós desconhecíamos a origem... :D
    Mas a preguiça para ler acontece a todos, de vez em quando! :p
    Beijocas!

    O que levaram do saque, PAULOFSKI, ficou "atravessado" a muita gente da época e suscitou novas revoltas. Aliás, suponho que os próprios ingleses, quando voltaram às suas terras, não foram "de mãos a abanar". Deixaram-nos com a expressão do maneta e foi um pau... :p

    Tanto quanto sei, EMATEJOCA, a expressão é usada por todo o país, e significa que já não se vai ver de volta. Não especificamente sobre esses tempos revoltosos... :))
    Óptima semana para ti também!

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  15. CUSQUINHA, isto das revoltas populares não é 'pêra doce', que muitas vezes descambam... :))
    Mas pronto, estes episódios aconteceram no início do século XIX, nós já estamos no XXI!!! Alguma coisa há-de ter mudado... acho?! :D
    Dentadinhas carinhosas para ti também!

    São 'estórias' dentro da História, KIM, não duvido que estamos sempre a aprender!
    Por mim, sei que tenho aprendido muito na blogosfera, com outros conhecimentos diferentes do meu! E gosto de os "explorar", no bom sentido! ;)
    Beijinhos para ti!

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  16. Não fiquei convencida :)

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  17. Não ficaste convencida com o quê, LOPESCA?

    Com o livro (depende de se gostar de ensaios históricos, embora as notas de rodapé sejam uma seca!) ou com a historieta do maneta? Esta última garanto que está lá, com todas as letras... :D

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)