O ensaio de Vasco Pulido Valente baseia-se em inúmeros relatos de um período tenebroso da História de Portugal - daí 109 páginas contarem com 185 notas de rodapé - onde conclui que foi a revolta do povo que libertou "nove décimos do país" dos exércitos de Junot, "antes de Wellington (ainda Wellesley) pôr o pé em terra".
Quando as tropas napoleónicas invadiram Portugal em 1807, a família real, o governo e os elementos mais proeminentes da sociedade portuguesa zarparam para o Brasil, deixando a restante população à mercê de um invasor com fama de invencível, violento e ganancioso. Mas se, de início, Junot avançou pelo território sem entraves de maior, a revolta do povo - até por uma questão de sobrevivência - não tardou em surgir! Salvo raríssimas excepções, "as 'classes superiores à populaça' permaneceram prudentemente em casa. De porta fechada." Contudo, o general desvalorizou esta revolta pensando poder reprimi-la através de operações policiais. O que não se verificou!
Milhares de paisanos, "com paus e piques e a rara espingarda raramente nas mãos de vocações naturais" ou qualquer foice a jeito, fizeram retroceder as tropas de Loison numa guerrilha constante e eficaz, atacando os flancos e a retaguarda da sua coluna, que sofreu baixas significativas. Este general, que não tinha um braço, decidiu então retaliar na população civil, gabando-se das suas proezas militares, que consistiram em saquear, arrasar e incendiar "aldeias inteiras para punir actos de hostilidade", matando todos os homens, mulheres, crianças, velhos ou inválidos que encontrasse no caminho. A extraordinária crueldade dos seus métodos motivou que a "locução 'ir para o maneta' se [fixasse] perenemente na língua" portuguesa.
Durante três longos meses de chacinas, o povo (então já auxiliado por elementos de outras classes sociais) resistiu e perseguiu os invasores e todos os suspeitos de colaboracionismo - muitas vezes bastante injustamente, não isento de vinganças pessoais sobre os anteriores opressores (leia-se, "no senhor da terra, no rendeiro, no magistrado e no pequeno comerciante (e usurário).")
(Junot acabou por negociar com os generais ingleses a sua retirada do território nacional, na denominada "Convenção de Sintra", tendo-lhe sido permitido levar consigo grande parte do saque efectuado.)
CITAÇÃO:
"A nobreza colaborara com o invasor, o episcopado colaborara, o grande funcionalismo colaborara. Apenas o 'povo' nunca se tinha rendido, e aprendera à sua custa que a traição às vezes morava, ou quase sempre morava, em altos lugares."
Quando as tropas napoleónicas invadiram Portugal em 1807, a família real, o governo e os elementos mais proeminentes da sociedade portuguesa zarparam para o Brasil, deixando a restante população à mercê de um invasor com fama de invencível, violento e ganancioso. Mas se, de início, Junot avançou pelo território sem entraves de maior, a revolta do povo - até por uma questão de sobrevivência - não tardou em surgir! Salvo raríssimas excepções, "as 'classes superiores à populaça' permaneceram prudentemente em casa. De porta fechada." Contudo, o general desvalorizou esta revolta pensando poder reprimi-la através de operações policiais. O que não se verificou!
Milhares de paisanos, "com paus e piques e a rara espingarda raramente nas mãos de vocações naturais" ou qualquer foice a jeito, fizeram retroceder as tropas de Loison numa guerrilha constante e eficaz, atacando os flancos e a retaguarda da sua coluna, que sofreu baixas significativas. Este general, que não tinha um braço, decidiu então retaliar na população civil, gabando-se das suas proezas militares, que consistiram em saquear, arrasar e incendiar "aldeias inteiras para punir actos de hostilidade", matando todos os homens, mulheres, crianças, velhos ou inválidos que encontrasse no caminho. A extraordinária crueldade dos seus métodos motivou que a "locução 'ir para o maneta' se [fixasse] perenemente na língua" portuguesa.
Durante três longos meses de chacinas, o povo (então já auxiliado por elementos de outras classes sociais) resistiu e perseguiu os invasores e todos os suspeitos de colaboracionismo - muitas vezes bastante injustamente, não isento de vinganças pessoais sobre os anteriores opressores (leia-se, "no senhor da terra, no rendeiro, no magistrado e no pequeno comerciante (e usurário).")
(Junot acabou por negociar com os generais ingleses a sua retirada do território nacional, na denominada "Convenção de Sintra", tendo-lhe sido permitido levar consigo grande parte do saque efectuado.)
CITAÇÃO:
"A nobreza colaborara com o invasor, o episcopado colaborara, o grande funcionalismo colaborara. Apenas o 'povo' nunca se tinha rendido, e aprendera à sua custa que a traição às vezes morava, ou quase sempre morava, em altos lugares."
Esta expressão de mandar "pró maneta" não sabia a origem, Teté.
ResponderEliminarDesejo-te um excelente início de semana e com o meu obrigada pelas tuas palavras.
Beijinhos,
Isabel
mmmmm, um 1808 romanceado. E do vasquinho! :v hei-de ler! :h
ResponderEliminarSugiro-te o seguinte (só segues a sugestão se quiseres, ora). E se, nas barras laterais, pusesses uma lista destes livros todos que nos vais apresentando, quiçá com um link para o post em q é discutido?
Assim, quando a qq um de nós apetecer um livro novo, em vez de andarmos horas de pescoço esticado e olhar franzido em busca do tal livro que nos poderá interessar, chegamos à livraria já com o nome do livro pretendido e eles procuram-no, no comput, por nós!! O que achas? Passavas a ser a nossa Marcelo Rebelo de Sousa! :y
Esses romances históricos são muito maçudos para mim.....
ResponderEliminarGosto imenso de Historia, mas prefiro vê-la em filmes.....não sou amante de livros históricos.
Mas obrigadinha pelas informações que nos dás sobre os livros que lês.
Beijokitas e boa semaninha.
excelente livro. aliás foi como a névoa a dissipar, não fazia a mínima ideia da enorme resistência do povo, ao mesmo tempo que "os senhores" se rendiam ao franceses.
ResponderEliminardepois essa dos ingleses serem aliados também foi um bom embuste, é que na rendição, eles permitiram que o maneta levasse com ele tudo, incluindo grandes obras de arte que desconfio nunca voltarão a portugal...
excelente escolha. beijinhos.
Li algumas notas sobre o livro e tomei conhecimento da expressão "ir pró maneta". Não fazia a minima ideia a sua origem.
ResponderEliminarsó não concordo com o preço, daí ainda não o ter adquirido. mas foi-me já recomendado, também.
ResponderEliminarEssa expressão desconheço completamente mas pelo menos aprendi um ditado novo :P
ResponderEliminarE mais um dica pra ler mas ando tão preguiçosa.....
Mas isso tem que passar.
Bjks
Quanta informação. Não sabia quem teria sido esse maneta. Essa de levarem parte de saque ficou-me atravessada.
ResponderEliminarEsta expressão ou parecida é muito usada pela minha amiga Beatriz, quando se fala desta época da nossa história. Claro, que ela se refere ao povo nortenho! Porém não sabia a origem
ResponderEliminarDesejo-te uma óptima semana.
Xiiiiii e eu que pensava aderir a uma revolta popular! Depois de ler isto, nem o diabrete mais corajoso se atreve ahahah
ResponderEliminarO melhor será juntar-me a ELES quanto antes ihihih
dentadinhas
Adoro este tipo de "estórias".
ResponderEliminarQuando me é possivel e sempre que me lembro também gosto de falar destas coisas.
A gente está sempre a aprender.
Beijinho Tété
Kim
Também se encontra na net, ISABELINHA, mas o livro é mais explicativo!
ResponderEliminarForça aí, amiga, que estamos todos a torcer por ti! :)
Beijinhos!
A grande diferença entre o 1808 e este livro, VANI, é que o primeiro é visto numa perspectiva actual e este a tentar entender a mentalidade da época, que suponho que consegue... :D
Agradeço a tua sugestão, já pensei nisso, mas assim num compacto ou coisa. Todos os livros e respectivos links parece-me difícil! :))
Se leres, esquece as notas de rodapé, que só podem ser interessantes para quem pretenda fazer uma tese sobre o mesmo tema...
(aqui só para nós, o tio Marcelo não lê aqueles livros todos, todas as semanas, só folheia... ;))
Gosto de História, PARISIENSE, mas também não sou amante de livros só históricos. Gostei deste, por ter uma perspectiva diferente da habitual e ainda dar uma explicação lógica para uma expressão usual que não conhecia a origem! Aliás, pelos vistos, não sou a única... :)
Beijokitas e boa semana para ti também!
Pelo que entendi do livro, S.G., o povo lutava por uma questão de sobrevivência - se as terras que cultivavam fossem saqueadas, não teriam o que comer - os restantes estavam caladinhos, com receio de perder a cabeça, literalmente. Uma "rendição" relativa, portanto!
ResponderEliminarOs "aliados" ingleses, pois, foram mais ou menos uns embusteiros, se bem que posteriormente tivessem controlado o território "à sua maneira"... :)
Beijinhos!
Nem tu, CARLOS II, nem quase ninguém sabe a origem da expressão! Segundo Vasco Pulido Valente é esta e até acredito que seja. :)
Não faço ideia do preço do livro, MOYLITO, a "recomendação" é limitada para quem aprecia estes ensaios sobre a nossa História... :g
É uma expressão popular, MYLLANA, que pelos vistos quase todos nós desconhecíamos a origem... :D
ResponderEliminarMas a preguiça para ler acontece a todos, de vez em quando! :p
Beijocas!
O que levaram do saque, PAULOFSKI, ficou "atravessado" a muita gente da época e suscitou novas revoltas. Aliás, suponho que os próprios ingleses, quando voltaram às suas terras, não foram "de mãos a abanar". Deixaram-nos com a expressão do maneta e foi um pau... :p
Tanto quanto sei, EMATEJOCA, a expressão é usada por todo o país, e significa que já não se vai ver de volta. Não especificamente sobre esses tempos revoltosos... :))
Óptima semana para ti também!
CUSQUINHA, isto das revoltas populares não é 'pêra doce', que muitas vezes descambam... :))
ResponderEliminarMas pronto, estes episódios aconteceram no início do século XIX, nós já estamos no XXI!!! Alguma coisa há-de ter mudado... acho?! :D
Dentadinhas carinhosas para ti também!
São 'estórias' dentro da História, KIM, não duvido que estamos sempre a aprender!
Por mim, sei que tenho aprendido muito na blogosfera, com outros conhecimentos diferentes do meu! E gosto de os "explorar", no bom sentido! ;)
Beijinhos para ti!
Não fiquei convencida :)
ResponderEliminarNão ficaste convencida com o quê, LOPESCA?
ResponderEliminarCom o livro (depende de se gostar de ensaios históricos, embora as notas de rodapé sejam uma seca!) ou com a historieta do maneta? Esta última garanto que está lá, com todas as letras... :D