quinta-feira, 12 de julho de 2012

UM BANCO DE JARDIM...

... traz-me sempre gratas recordações do passado, quando todos tínhamos tempo para nos sentarmos a descansar em plena rua, para observar o que nos rodeava, para pular deles para o chão em voo infantil imaginando conquistar o mundo, para fazer das suas costas o dorso de um cavalo imaginário, para jogar às escondidas, para conversar, namorar... e depois disso, pouco mais! Nunca mais tive "tempo" para me sentar num, para além de breves pausas durante um passeio, para aliviar a fadiga das pernas e pés...

Curiosamente, a imagem de um banco de jardim recorda-me sempre um vizinho já velhote, sentado num dos três bancos bem próximos da porta do prédio onde morava durante horas seguidas, a esculpir figuras em pedaços de madeira com o seu canivete, em gestos lentos mas certeiros, que tanto podiam resultar numa colher de pau (a maioria) como noutra peça mais artística e burilada.

A vizinhança dizia que o homem era um bêbado inveterado, que tinha mau feitio, que não gostava de crianças, para nos afastarmos dele. O que era parcialmente verdade. Certo é que a família o punha a andar para a rua de manhã, porque o apartamento era pequeno e atrapalhava as lides domésticas - onde já se viu um homem enfiado em casa o dia inteiro?! Ele voltava para almoçar, se não se metesse na taberna entretanto,  e depois regressava novamente à rua. Nem sequer havia ainda televisão à tarde, para se entreter...

Ele falava pouco, quase nada até, mas sempre que se sentia incomodado com a presença das crianças por perto, era muito elucidativo, afastando-as com a mão, como quem sacode moscas incómodas. Mas tinha dias em que parecia gostar da nossa presença, a olhar estupefactos para a sua habilidade de "escultor". Como era avô de um amigo nosso, não nos acanhávamos nada de ficar ali plantados a mirar o seu passatempo. A questão era simples: se ele nos "enxotasse", íamos embora; senão, por vezes ficávamos, outras decidíamos por qualquer outra brincadeira.

Também nunca esqueci a alegria do Zé, o nosso amigo, no dia em que o avô lhe ofereceu a peça que estava a esculpir e que todos admirámos (salvo erro, um cavalinho!) - o avô, operário fabril reformado, nunca lhe tinha dado nada, porque nada tinha. Para lá da sua arte, um pouco rudimentar, mas indubitável! Mas aquele presente também significava que, afinal, o homem nem desgostava de nos ver à roda dele...

Hoje em dia seria considerado um artesão e as suas peças vendidas como artesanato. Como os tempos mudam, não é?

10 comentários:

  1. Não mudam assim tanto, pois os velhos continuam a incomodar , de maneira lata.

    Mas gostei da estória.

    Um beijinho.

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    1. A minha mãe costuma dizer que gerações se dão com gerações, SÂO! Até hoje não sei se concordo inteiramente, porque temos muito a aprender com os mais velhos... e também com os mais novos, embora em diferentes níveis! :)

      Gentinha chata, velha, nova ou assim-assim há sempre, né? ;)

      Beijinho!

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  2. Gosto de falar com os velhos e até já escrevi sobre isso e sobre eles.
    Afinal uns mais e outros menos, todos seremos velhos um dia e talvez tenhamos a "sorte" de encontrarmos alguém que nos escute!
    Porque na sua grande maioria eles pouco mais exigem para não se sentirem (tão) sós!

    Beijokas com os "velhos sorrisos!

    §-não tive oportunidade de colaborar nas legendas. Sorry!

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    1. Nunca simpatizei com velhos chatos, KOK! Nem com novos chatos! Nem com chatos de um modo geral! Só espero nunca me tornar numa chata... porque para velhota, óbvio que estou a caminhar! :))

      À parte chatos, gosto de falar com pessoas de todas as idades! Porque se aprende sempre, com o conhecimento ou com a vontade de mudar o mundo... :D

      Beijocas e sorrisos novos para ti, cá da "cota"! 8)

      § - nada de pedir desculpas, OK? não estamos todos os dia inteiro em frente ao computador... ;)

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  3. Apesar de tudo, em cada velho há uma enciclopédia!
    Beijinho Teté

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    1. Em alguns sim, KIM! Noutros nem por isso e nem sequer tem a ver com as habilitações literárias de cada um, mas sim com as rabujices ou queixumes, que não são apelativas em nenhuma idade... :D

      Beijocas!

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  4. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas a relação entre os velhos e os novos sempre foi assim e nunca vai mudar...os mais velhos afastam os mais novos por não terem paciência para eles e por pensarem que eles também não têm paciência para os mais velhos...muitas vezes é apenas um mal entendido, se uns e outros parassem um bocadinho para se ouvirem talvez esta relação "difícil" fosse diferente...tinham tanto a aprender juntos...

    Se os mais novos pensassem que os velhos já foram novos, e que eles um dia mais tarde também irão ser velhos...

    No entanto há velhos e novos também, que são uns grandes chatos eheheh

    Gostei da história :)

    Beijinho :)

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    1. Generation gap, MARIA! Mas concordo contigo, que muitas vezes é apenas um mal entendido, e que não se aproveita o melhor de uns e outros... :))

      Os novos não pensam que um dia vão ser velhos e, por vezes, os velhos têm uma certa "inveja" da energia e vontade dos "putos" quererem mudar o mundo... Então se são do Restelo, piora um pouco! :D

      Também concordo que há chatos em todas as idades! ;)

      Beijocas, ó filósofa!

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  5. os velhos têm este mau-feitio terrível de não morrer rapidamente. é certamente implicância da parte deles...

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    1. "Implicância" deles e de há muito tempo, MOYLITO... sem compreensão por parte dos restantes! :S

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)