domingo, 24 de maio de 2009

AS VELAS ARDEM ATÉ AO FIM


"As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai, foi publicado em 1942, em Budapeste, mas a sua vasta obra acabaria por ser proibida pelo regime comunista - que ascendeu ao poder, na Hungria, após a II Guerra Mundial - caindo no esquecimento. Desiludido, abandonou a sua terra natal, vivendo em vários países europeus até se instalar definitivamente nos EUA, onde se suicidou aos 88 anos. Curiosamente, alguns meses antes da queda do muro de Berlim, o que permitiu um renovado interesse pelos seus livros e a posterior consagração como um dos grandes escritores do século XX.

Os grandes temas da humanidade - amizade, solidão, paixão, traição, envelhecimento, morte e a decadência dos valores de uma sociedade aristocrático-burguesa - são abordados por um velho general (Henrik), durante um jantar com um amigo de infância e juventude (Kónrad), 41 anos depois do seu último encontro. Aparentemente, no ancestral castelo rodeado pelos bosques dos montes Cárpatos onde decorre a acção, nada parece ter mudado. Mas as convulsões no mundo e no íntimo das personagens apontam transformações que se sucedem de forma irremediável - a II Grande Guerra já iniciou a sua marcha. Em jeito de monólogo, o protagonista analisa todos os ínfimos pormenores do passado, tal e qual cirurgião ao utilizar meticulosamente o bisturi, traduzindo em palavras todos os segredos guardados durante tantos anos.

Um romance triste e melancólico, mas onde, ao longo das suas 153 páginas, perpassa uma escrita singela e encantadora, de uma magia quase poética...


CITAÇÕES:

"A educação que trazia no sangue da casa, da floresta, de Paris e da sensibilidade da mãe, impunha-lhe que uma pessoa nunca falasse daquilo que o afligia, antes suportasse tudo em silêncio. O mais sensato era não falar de todo, assim lhe ensinaram. Mas não conseguia viver sem afecto, e isso também fazia parte da herança. Talvez fosse a mulher francesa que trouxe à família o desejo de confiar os próprios sentimentos a alguém. Na família do pai não se falava de tal coisa. Precisava de alguém a quem pudesse mostrar o seu afecto: Nini ou Kónrad, e assim não tinha febre, não tossia, o seu rosto de menino pálido e magro tingia-se de cor-de-rosa, de entusiasmo e de confiança."

"No fim, o mundo não importa nada. Só importa o que fica nos nossos corações."

"Temos de nos conformar com aquilo que somos e de ter consciência, quando nos conformamos, de que em troca dessa sabedoria, não recebemos elogios da vida, não nos põem no peito nenhuma condecoração por sabermos e aceitarmos que somos vaidosos ou egoístas, carecas e barrigudos - não, temos de saber que por nada disso recebemos recompensas, nem louvores."

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Mais uma sessão do Clube de Leitura, ficando a próxima agendada para dia 10 de Julho, com a discussão do livro "Luz na Neve", de Anita Shreve.

23 comentários:

  1. É um tema sempre actual, porque o homem é o lobo do homem.
    Para que o mundo não esqueça.
    Bj Tété

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  2. Se é triste e melancólico não me fascina muito :|

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  3. Acho q já li um livro dele e não tenho a certeza de não ter esse ali na prateleira...já nem sei a qtas ando de livros, lol.Já acabei as 13 gotas e já vou na menina que não queria chorar, a continuação da história da sheila com a torey que tu fotografaste.
    Acho os livro dela fascinantes, por revelarem tanto daquilo q está por detrás do comportamento humano... por razoes totalmente distintas, sabes que eu fazia o mesmo q a sheila? Se me apontassem algum erro na escrita, ou se tinha uma nota inferior a 16, rasgava tudo e jogava no lixo...não suportava errar ou estar errada, incrivel. Infelizmente não tive nem tenho nenhuma torey ora me ensinar que isso não vale a pena lol... ;-)

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  4. têm que começar a publicar os resultados dessas reuniões de leitura :)

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  5. Já escrevi tanto sobre "os peixinhos da horta", que deixo este tema para depois.
    Este livro não li, mas já li outros livros deste autor.

    Boa noite, Teté!

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  6. Teté sempre estive reticente em relação a este livro que já me passou várias vezes pelas mãos.
    A tua crítica elucidou-me um pouco mais sobre a história e fiquei com vontade em lê-lo. :)

    Beijinhos

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  7. Coitado do lobo, KIM! O homem é a hiena, o crocodilo, a serpente, o escorpião do homem, de lobo, às vezes, só o vestir a pele de carneiro...
    Mas é verdade que alguns homens têm tendência a esquecer: felizmente, não são todos! :)
    Beijocas!

    Entendo, LOPESCA! Mas não me restam dúvidas que é um pequeno grande livro... ;)

    Olha, VANI, nem sabia que o livro da Torey tinha continuação: na profissão dela, muitas outras histórias deverá ter para contar.
    A sede da perfeição (especialmente em crianças) pode acarretar comportamentos do género.
    Mas também é coisa que se ultrapassa com o tempo... ;)

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  8. Olha, MOYLITO, fizeste-me lembrar a filha de uma componente do "Clube", que, com ar de grande sabedoria, considerava que tinha de ser elaborada uma ficha de leitura... ;)
    Já agora, até uma acta da reunião, que era bom para tornar o divertimento numa grande chatice... :D

    Foi o primeiro que li, EMATEJOCA, suponho que não será o último, embora não seja para já...
    Bom dia para ti! :)*

    Lê, que vale a pena, TONS DE AZUL! Tenho ideia que vais gostar... :)
    Beijinhos!

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  9. Só venho aqui pra eu mesma lembrar que preciso acabar de ler meu livro :)

    PS: Fiz um coments na post debaixo mas como vi pelo telemóvel não vi direito a imagem.Tava muito pequenina e depois que vi q os peixinhos da horta na verdade não são peixinhos hahaha mas valeu . Qualquer hora dessas tento fazer aqui em casa.

    Beijokas e boa semana.

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  10. Um livro que se fosse escrito hoje estaria sempre actual.....para onde caminham os valores????

    Beijokitas e boa semanita

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  11. E logo agora que a minha mãe ligou, chorosa, e a minha tia ontem me dizia; laurinha vá-se preparando para tomar conta da mãe, credo, a minha vida daria uma volta de mil graus, nem diria 45...mas, a vida muda, consoante vamos avançando e depois, sabe Deus o fim de cada um, mas, suicidio? caramba...Mals abemos o que nos espera nessa idade tardia... fiquei sorumbática depois de ler este homem a suicidar-se com aqueles anos...beijinhos laura.

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  12. Olá Teté

    Suicídio, desencanto, solidão, impossibilidade de se ser numa época em que a voz era amordaçada. Não falar, resistir em silêncio, muita da herança judaico-cristã impregnava os ambientes de tantas famílias pertencentes à aristocracia e à média-alta burguesia.

    Foi uma leitura que fiz, só por aquilo que aqui li, pois o livro não o li.

    Ontem fiz os peixinhos da horta, alambazei-me.

    Beijinhos
    Isabel

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  13. tenho este livro na fila dos livros a comprar

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  14. excelente escolha Tete, esse livro é fant'astico!!!

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  15. Para te ser muito sincero, nunca tinha ouvido falar.

    Beijinhos!

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  16. Afinal não tinha esse livro aqui, confundi-o com um chamado almas cinzentas, por ter uma capa muito semelhante. Achei eu...

    A criança q não queria falar é qd a sheila é pequenita. A criança que não queria chorar é qd elas se encontram mais tarde, a sheila com 14 anos e ainda com problemas...a torey ajuda-a, mais uma vez, e só lá para os 18 é que ela começa a entrar nos eixos... ;-)
    Sinto um carinho enorme pela torey, a sério. Que coragem e encanto de mulher. Tomara q tivessemos todos toreys nas nossas vidas, pra nos ensinar a ignorar traumas e modificar comportamentos...

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  17. E agora q já acabei tb esse, na sei que hei-de ler...lol. Tenho uma data deles em espera...
    Talvez o 1804 (ou lá o q é) sobre como uma rainha louca e o dom pedro mudaram a historia de portugal e do brasil lol...mas tb tenho ali um do haruki murakami, pah...e uma carrada de outros...ai, indecisão, indecisão...

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  18. Mas daquilo que parece estar a emanar desse livro...eh pah, acho q não é uma boa altura pessoal para o ler... :D

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  19. Eh, eh, eh, MYLLANA, não era essa a intenção! "Recordar-te" do livro que tens para ler ou assim... :)
    Quanto aos peixinhos, pois, o nome engana... :D
    Beijokitas para ti e boa semanita também!

    Ou por onde caminharam, PARISIENSE? Na verdade, está tão atrás como isso... :/
    Jinhos e boa semana para ti, nina!

    É, LAURINHA, também não percebi o suicídio de um homem que já tinha passado por tanto. Mas "o coração tem razões que a razão desconhece" já afirmava o Pascal, lá para o século 17 ou coisa...
    Há coisas que não mudam, daí este livro continuar a ser tão actual (apesar de umas nuances da época, em que as mulheres não eram tidas em grande conta)
    Jinhos, nina!

    É verdade, ISABEL, os "amordaçados" nunca esquecem que o foram, os restantes... hummm... qué que isso interessa?! Esperemos que nunca experimentem!
    Ui, verifico que és tão fã como eu dos "peixinhos"! Aqui também não sobrou nenhum para amostra!
    Beijinhos!

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  20. Suponho que vais gostar, TERESA DURÃES! ;)

    Embora não seja muito a minha "onda", ESCARLATE.DUE, também gostei bastante! :)

    Há sempre uma 1ª vez, MATCHBOX32! :)))
    Beijinhos!

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  21. Bom, quanto ao livro, VANI, começo por dizer que também não estava muito numa onda de ler um romance triste e melancólico, mas apesar disso gostei bastante...

    Tenho de ler o seguimento da história nesse livro da Torey (o 1º li-o de uma penada), que nem sabia que era continuação.

    E concordo absolutamente que fazem falta mais professoras destas, no ensino especial, que em Portugal está entregue a professores "normais", que raramente lidam bem com a situação - já aqui falei de uma sobrinha minha que, por ser disléxica, foi parar a uma aula de ensino especial (45 minutos ou coisa, por semana), em que o professor se limitava a berrar que eram todos "burros"! (em pequeno áparte, tomara que alguém tivesse gravado alguma daquelas aulas, porque é óbvio que nem todos os professores estão capacitados para dar esse apoio, mas partir para ofensas aos alunos com problemas de aprendizagem - vários, que os putos eram todos reunidos numa só aula - revela uma total incapacidade de leccionar quem quer que seja).

    Enfim, Toreys não existem por aí aos pontapés, daí considerá-la uma grande mulher, por partilhar em livro as suas experiências, que podem ajudar alguns professores, até os menos habilitados para esse ensino. Os sensatos, que quanto aos histéricos e esparvoeirados não me parece haver muito a fazer!

    Não acabei de ler o 1808, que alguns acharam engraçado, mas a mim irritam-me prismas históricos visualizados com os olhos de hoje em dia...

    Se quiseres assim um livrito mais leve e para rir (fora o Rafeirito), Mário Zambujal, Moita Flores, Pepetela podem ser algumas opções em língua portuguesa. Ou o "Coca-cola killer" do Vitorino de Almeida, que também é um delírio! :)))

    Beijocas, amiga!

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  22. Mmm, o coca cola killer chamou-me a atenção...e o priorado do cifrão, já leste? do joao aguiar? eu adoro o gajo, mas destestei o 7o herói, um dos ultimos dele, a modos que ando com medo de me desiludir com o priorado do cifrão! :D

    Tenho um do pepetela pra ler, sobre um indio que vai pela primeira vez à civilização :D.

    Moita flores? mmmm, eu tenho um embirranço com o homem...lol...!

    Ah, tenho de dar mais atenção ao mário zambujal então.

    Agora comecei a ler um de ficção cientifica portuguesa, Lua NOva. Mas ainda so vou no inicio...

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  23. Já estive com esse livro na mão, mas não o cheguei a comprar, VANI. Dele li essencialmente crónicas e uns livros infanto-juvenis.

    Os Jaimes Bunda do Pepetela são de morrer a rir. Tenho outro dele em stand by, não sei se será cómico.

    Quanto ao Moita Flores, antipatize-se ou não com o homem (não é o meu caso), tem alguns livros bem engraçados: "Não há lugar para divorciadas" e "Em memória da Albertina, que Deus haja!", por exemplo. E o Zambujal também...

    Boas leituras pour toi! :)))

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)