O segundo romance de Joaquim Almeida Lima, intitulado "O Rio Frio", decorre no ambiente rural da serra de Montemuro, numa pequena aldeia próxima de Cinfães, banhada por um dos rios que desagua nas margens do Douro.
O livro retrata uma época não muito distante - entre finais dos anos 60 e meados dos 70 - onde a inocência e o medo imperam, no evoluir de um povo inculto e totalmente submisso à Igreja e ao Estado. Medo dos mancebos que vão às sortes para serem incorporados num serviço militar e partirem para a guerra colonial, lá longe, em terras de África. E de toda a família que os vê partir, limitando-se a rezar para que voltem, por vezes em regressos transtornados pelo que viram ou foram obrigados a fazer naquelas paragens longínquas da sua aldeia. A inocência (ou a ingenuidade?) vai-se esbatendo, aos poucos...
Simão Pedro é um rapaz com sorte, no meio dos seus azares: filho único e órfão de pai, faz o 5º ano do liceu*, estudos muito superiores aos dos seus conterrâneos, o que lhe confere um cargo no posto de correios de Cinfães; ao cegar de uma vista, devido a uma pedrada no olho esquerdo durante uma brincadeira de infância, fica livre do serviço militar; e Maria Inácia, "moçoila apetitosa" que trabalha na taberna do Ti Messias, corresponde ao seu pedido de namoro, exigindo apenas o maior respeito. Acabam por casar!
Mas, há sempre um mas, alguns anos mais tarde - com a guerra do ultramar sem previsão de fim satisfatório - Simão Pedro é novamente chamado para ir às sortes. Casado, pai de três filhos pequenos e já chefe dos correios da vila levava a vida que sempre ambicionara. Desesperado, recorre a todos os seus conhecimentos, desde o médico que o declarou inapto até ao cónego Missas, mas o medo também bate à porta desses senhores, que pretendem manter-se acima de qualquer suspeita, não querem pessoas "com poderes especiais a fazer perguntas". Desconsolado e revoltado com as hipocrisias, não obtém qualquer resultado, exceptuando umas promessas de rezas. Após ser dado como apto para o serviço militar, o dilema do personagem avoluma-se. Terá de abandonar a família e o emprego que tanto gosta, dê por onde der. Mas vai andar aos tiros em África ou dar "o salto" para França? Será carne para canhão ou desertor? Dúvidas que nenhum homem devia ter de ponderar...
A D O R E I !!! (tanto pela história, como pela escrita singela e despretensiosa, mas muito envolvente)
O livro retrata uma época não muito distante - entre finais dos anos 60 e meados dos 70 - onde a inocência e o medo imperam, no evoluir de um povo inculto e totalmente submisso à Igreja e ao Estado. Medo dos mancebos que vão às sortes para serem incorporados num serviço militar e partirem para a guerra colonial, lá longe, em terras de África. E de toda a família que os vê partir, limitando-se a rezar para que voltem, por vezes em regressos transtornados pelo que viram ou foram obrigados a fazer naquelas paragens longínquas da sua aldeia. A inocência (ou a ingenuidade?) vai-se esbatendo, aos poucos...
Simão Pedro é um rapaz com sorte, no meio dos seus azares: filho único e órfão de pai, faz o 5º ano do liceu*, estudos muito superiores aos dos seus conterrâneos, o que lhe confere um cargo no posto de correios de Cinfães; ao cegar de uma vista, devido a uma pedrada no olho esquerdo durante uma brincadeira de infância, fica livre do serviço militar; e Maria Inácia, "moçoila apetitosa" que trabalha na taberna do Ti Messias, corresponde ao seu pedido de namoro, exigindo apenas o maior respeito. Acabam por casar!
Mas, há sempre um mas, alguns anos mais tarde - com a guerra do ultramar sem previsão de fim satisfatório - Simão Pedro é novamente chamado para ir às sortes. Casado, pai de três filhos pequenos e já chefe dos correios da vila levava a vida que sempre ambicionara. Desesperado, recorre a todos os seus conhecimentos, desde o médico que o declarou inapto até ao cónego Missas, mas o medo também bate à porta desses senhores, que pretendem manter-se acima de qualquer suspeita, não querem pessoas "com poderes especiais a fazer perguntas". Desconsolado e revoltado com as hipocrisias, não obtém qualquer resultado, exceptuando umas promessas de rezas. Após ser dado como apto para o serviço militar, o dilema do personagem avoluma-se. Terá de abandonar a família e o emprego que tanto gosta, dê por onde der. Mas vai andar aos tiros em África ou dar "o salto" para França? Será carne para canhão ou desertor? Dúvidas que nenhum homem devia ter de ponderar...
A D O R E I !!! (tanto pela história, como pela escrita singela e despretensiosa, mas muito envolvente)
CITAÇÕES:
"- Não tenhas ilusões, Maria Inácia, a gente vai para lá uns putos e vem de lá uns monstros. É o que eles fazem da gente. Não fazem de nós homens, como eles dizem, porque um homem não faz certas coisas. Agora os monstros sim, são capazes das maiores brutalidades. Mas eu não quero falar mais disto, desculpa, minha irmã, mas falar disto não me faz bem."
"Tanta fotografia em todo o lado, um jazigo que não uma moldura, um sorriso que já não quer dizer nada. Como pode sorrir assim quem já morreu? Sabia essa pessoa que um dia desapareceria? Decerto saberia, sabemos todos, mas fingimos esquecer, se não, a vida não valia nada. Mesmo assim, sempre acabamos por pensar, o tempo passa a correr e um dia será a nossa vez de habitarmos, sorridentes, um jazigo em forma de moldura. E dirão de nós: coitados, já se foram."
"Havia já quem dissesse: 'Eles que venham cá mexer nas minhas terras que eu os corro à sachada'. E não era por falar, que para aquela gente os animais e a terra vinham logo a seguir a Deus e aos filhos - o que se compreende, se pensarmos que estamos a falar do seu ganha-pão."
"Tanta fotografia em todo o lado, um jazigo que não uma moldura, um sorriso que já não quer dizer nada. Como pode sorrir assim quem já morreu? Sabia essa pessoa que um dia desapareceria? Decerto saberia, sabemos todos, mas fingimos esquecer, se não, a vida não valia nada. Mesmo assim, sempre acabamos por pensar, o tempo passa a correr e um dia será a nossa vez de habitarmos, sorridentes, um jazigo em forma de moldura. E dirão de nós: coitados, já se foram."
"Havia já quem dissesse: 'Eles que venham cá mexer nas minhas terras que eu os corro à sachada'. E não era por falar, que para aquela gente os animais e a terra vinham logo a seguir a Deus e aos filhos - o que se compreende, se pensarmos que estamos a falar do seu ganha-pão."
* Actual 9º ano.
Obrigada, Inês! (a outra, não a Anja)
A guerra do Ultramar dá pano para mangas e outras peças de vestuário. A quantidade de dramas que não devem ter existido por esse Portugal fora. Um dia conto-te o do meu pai...
ResponderEliminarBeijo!
Deve ser uma bela estória :) Eu por cá ando ainda a tentar acabar de ler o meu..Fuquei a meias e tenho de ler !
ResponderEliminarBoas leituras :) E bom resto de semana ;)
Mais uma para a caracolada? a Outra e mais eu?
ResponderEliminarNão conheço, é bom saber
ResponderEliminarPelo que descreves deve er uma bela história, que nos treata os anos cinzentos de uma parte da década de sessenta e setenta.
ResponderEliminarBeijinhos
Olá linda,
ResponderEliminarTenho tido tanto trabalho que não tenho tempo para andar aqui a visitar-vos quanto mais ler.
O que descreves dá mesmo vontade de ler este livro.....quem sabe se não arranjarei um bocadinho de tempo!!!
Beijokitas
parece interessante :) quem sabe se não lhe boto a vista em cima? :)
ResponderEliminarjá deves ter reparado que não sou muito apreciador de leitura (talvez por preguiça) mas por vezes, e se a leitura me prender de inicio) dedico-me a ela.
ResponderEliminarontem deram-me a conhecer o livro de alguém (que já tive a oportunidade de ver declamar um poema deitado no chão frente a uma audiência num anfiteatro) e gostei bastante.
se estiveres interessada passa neste site e vê pormenores.
http://www.antoniopaiva.net/
Eu cá prefiro os rios com agua mais quentinha.....mas afinal é de um livro que se fala aqui e não de água...
ResponderEliminarJá li muito quando andava pelas arábias....mas.... este parece-me um livro interessante.
Beijinho
Eu tenho a antiga 1.ª classe tirada com recurso a orelhas de burro, Teté.
ResponderEliminarAchas que poderei publicar um livro com tal matéria?
É, muita gente deixou tudo para ir defender um país que nem nos pertencia por direito...Muitos lá ficaram, muitas noivas abandonadas, eles refizeram as vidas lá, enfim, foi apenas sofrimento e nada mais... Eu era miuda nem ligava a nada, só mais tarde já adulta entendi o porque de tudo isso...mas, já era tarde..beijinhos.
ResponderEliminarHummm e lembaste-me que tenho de postar os meus últimos livros lidos ;)
ResponderEliminarParece-me uma boa leitura! De facto são temas bem fortes e que ainda mexem muito connosco (muitas vezes através de casos de família).
ResponderEliminarA Guerra e a morte... Lembro-me de em criança pensar muitas vezes "- Como têm as pessoas coragem para morrer?"
Que ingénuo...
Beijocas :)
Guardei o nome do autor e o título desse livro para o comprar no Porto, aqui é impossível encontrá-lo. Só romances do Saramago ou Lobo Antunes.
ResponderEliminarComo só contas uma parte da história, fiquei com curiosidade de saber o resto. Fazes como a Yadé Kara, uma autora de Berlim com raízes turcas. Ontem à noite, ela apresentou dois livros na Biblioteca de Duisburg, deixando as pessoas na expectativa de saber o resto. Hoje, vou à biblioteca buscar o "Selam Berlin".
PS: É, realmente, o Diogo e parece o Torquato Tasso com a coroa de louros.
É sempre a mesma coisa: ou o comentário desaparece, como no sábado, ou fica duplicado. Desculpa, Teté!
ResponderEliminarApesar do teatro da guerra, parece ser bucólico e muito interessante nas passagens pelo interior. A sua resenha revelou muito do romance, no entanto, sem comprometer nem um pouco a história. Aliás, muito ao contrário, estimula a vontade de o ler.
ResponderEliminarUm beijo!
Tens razão, RAFEIRITO, não devem ter faltado dramas por este país fora. Fico à espera de ouvir essa história... :)
ResponderEliminarBeijoca!
Deixa estar que de vez em quando também me acontece, MYLLANA! :)
Metem-se outras prioridades de caminho, e o livrito lá fica para trás...
Boa semana para ti também!
Nem faço ideia se ela gosta de caracóis, INÊS! Mas se gostar, why not??? :)))
Dá-me ideia que não vai passar muito despercebido, TERESA DURÃES! Mas eu não sou crítica de literatura, o tempo o dirá... :)
Uma história simples, sobre gente simples, JC, mas muito humana!
ResponderEliminarQuantas não se poderiam contar sobre esses anos cinzentos?
Beijinhos!
Ah, PARISIENSE, mas esse volume de trabalho passa, depois logo vês o tempo que arranjas para ler.
Depende um bocado de se ter vontade, né? :)
Beijokitas, linda!
Bota que vale a pena, MOYLITO! :D
Olha lá, VÍCIO, e a quantidade de gente que diz ler "mundos e fundos" e não lê nadica de nada, ahn?!
Vou espreitar, vou, embora poesia não seja exactamente a "minha onda"... :)
(mas a curiosidade é!) :D
Quanto à preferência por águas mais quentinhas, estamos ambos de acordo, GOVERNADOR!
ResponderEliminarEste não é um livro das Arábias, é mais de um passado português não muito distante... :)
Beijinho!
Hoje em dia, REIZÃO, uma boa meia-dúzia, a reflectir sobre como o menino ficou traumatizado, que até nem quis estudar mais... :D
Pertencia por "direito", sim, LAURINHA, que as leis eram eles que as faziam à sua maneira, embora nem o mundo, nem os povos locais concordassem... Como é que podia correr bem?!
E sim, parece-me sempre que todas as guerras são difíceis, mas esta tocou na pele a muitos portugueses, tanto pelos que iam, como pelos que ficavam!
Mas sim, também só percebi mais tarde... felizmente! :)
Jinhos, nina!
Ora aí está uma boa ideia, LOPESCA! :)))
É, TÁ-SE BEM!, a ingenuidade tem hora marcada... :)
ResponderEliminarMas que a guerra colonial mexeu com a vida de muita gente, não restam dúvidas!
Beijooocas! :)*
Oh, EMATEJOCA, mas se se conta a história toda, tipo resumida e com a papinha toda feita, quem é que vai ler o livro e tirar as suas próprias conclusões?
Bem me parecia que era o Diogo... :D
Mas não te "enerves" com os comentários em duplicado, triplicado (ou mais) - que vou apagando - chato é não chegarem!
Acontece, mas pronto, fossem esses todos os problemas... ;)
Nem a intenção era contar "tintin por tintin" a história (estória) do livro, OLIVER! :D
Mesmo que aqui o meu "canto" não tenha assim objectivos definidos à partida, estimular a leitura (deste romance, de outros livros ou blogues), nunca me pareceu má ideia... :)))
Uma beijoca!
Adorei o post! Apanhas-te muito bem o espírito...
ResponderEliminarObrigada Teté.
:)
Ainda bem que gostaste, ANÓNIMO(?)!
ResponderEliminar:)
Olá Teté! Espero que estejas boa, moça! :)
ResponderEliminarFiquei bastante curiosa em relação a este livro e vou anotar para uma próxima aquisição.
Aproveito para dizer que o "Húmus" de Raul Brandão não é um livro de contos, mas sim uma história que se pode dizer que contém muitas histórias. :)
Beijinhos
Ah, estou fina, TONS DE AZUL! :)))
ResponderEliminarDe Raúl Brandão só li a "Morte do Palhaço", livro obrigatório no 1º ano do propedêutico, que tinha outros contos! Daí a associação de que poderia ser outro livro de contos...
Beijinhos!
tenho este livro para ler este verao. :)
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