Embirro solenemente com a palavra propedêutico. Na verdade, a palavra (que significa "que serve de introdução ou de preliminar") insere-se em dois contextos diferentes, numa esfera pessoal:
1º As políticas do Ministério da Educação ao longo dos anos, em que por excesso de alunos que pretendiam ingressar no ensino superior se foram inventando umas soluções provisórias, em cima do joelho, posteriormente tornadas definitivas;
2º Um dos anos mais divertidos da minha vida.
No primeiro caso, poderia dar para rir, à conta dos governantes pós-25A prometerem mundos e fundos ao povo exultante. Mas às tantas não era bem assim, nem todos podiam ir para a faculdade, não é? E, se bem me lembro, primeiro começaram por um ano em que ninguém entrou na universidade (já li algures que houve umas raríssimas excepções, mas nem interessa agora), depois as imaginações mais desbragadas entraram noutra dimensão. Um serviço cívico para os jovens perceberem o que é trabalhar - nada contra, note-se! - uns e outros ainda andaram a pintar paredes e muros ou a fazer alfabetização nas províncias mais recônditas (ou a embebedarem-se em grupo lá na escancha), mas programação propriamente dita não existia. Alguns conseguiram emprego, a larga maioria ficou a olhar para o ar, tida como "malandra". Pois! E no final entraram aos magotes nos estudos universitários...
Estava-se mesmo a ver que aquele modelo não servia, havia que retemperar essas entradas, mantinha-se o serviço comunitário (embora ainda não se soubesse qual) e no fim do ano uns exames de Português e de Cultura Geral. Grande razia! Contestações várias, mas como o Cardia era homem de grandes soluções, tal como os seus antecessores e predecessores, inventou uma nova: o propedêutico! Um ano assim para rever a matéria dada no ano anterior e, iluminação das iluminações, com aulas emitidas na televisão, das 9 da manhã ao meio-dia e picos!
E aí começou o regabofe pessoal, partilhado com umas tantas amigas. Estávamos inscritas, já se auguravam duas épocas de exames a todas as disciplinas do liceu, com umas fórmulas matemáticas que resolviam os diferentes pesos das matérias para os cursos que queríamos seguir, os numerus clausus solucionariam o problema. Não havia cá programas ou essas coisas, cerca de uma dúzia de livros obrigatórios para Português, posteriormente começaram a pingar uns fascículos/sebentas, quase nas vésperas dos exames... e que esgotavam rapidamente!
Qual foi o divertimento? Juntávamo-nos de manhã cedo para a bica e íamos para casa umas das outras ver TV... ou jogar às cartas... ou assistir a aulas de grego ou à "Escrava Isaura" (telenovela no seguimento da emissão televisiva)... ou a beber chá com torradas... ou a conversar e a rir! Pronto, OK, jogávamos às cartas quase todos os dias, o resto vinha por arrasto!!!
Last but not least, Cardia foi o percursor de um ano "inexistente". Actualmente, corresponde ao 12º ano de escolaridade!
1º As políticas do Ministério da Educação ao longo dos anos, em que por excesso de alunos que pretendiam ingressar no ensino superior se foram inventando umas soluções provisórias, em cima do joelho, posteriormente tornadas definitivas;
2º Um dos anos mais divertidos da minha vida.
No primeiro caso, poderia dar para rir, à conta dos governantes pós-25A prometerem mundos e fundos ao povo exultante. Mas às tantas não era bem assim, nem todos podiam ir para a faculdade, não é? E, se bem me lembro, primeiro começaram por um ano em que ninguém entrou na universidade (já li algures que houve umas raríssimas excepções, mas nem interessa agora), depois as imaginações mais desbragadas entraram noutra dimensão. Um serviço cívico para os jovens perceberem o que é trabalhar - nada contra, note-se! - uns e outros ainda andaram a pintar paredes e muros ou a fazer alfabetização nas províncias mais recônditas (ou a embebedarem-se em grupo lá na escancha), mas programação propriamente dita não existia. Alguns conseguiram emprego, a larga maioria ficou a olhar para o ar, tida como "malandra". Pois! E no final entraram aos magotes nos estudos universitários...
Estava-se mesmo a ver que aquele modelo não servia, havia que retemperar essas entradas, mantinha-se o serviço comunitário (embora ainda não se soubesse qual) e no fim do ano uns exames de Português e de Cultura Geral. Grande razia! Contestações várias, mas como o Cardia era homem de grandes soluções, tal como os seus antecessores e predecessores, inventou uma nova: o propedêutico! Um ano assim para rever a matéria dada no ano anterior e, iluminação das iluminações, com aulas emitidas na televisão, das 9 da manhã ao meio-dia e picos!
E aí começou o regabofe pessoal, partilhado com umas tantas amigas. Estávamos inscritas, já se auguravam duas épocas de exames a todas as disciplinas do liceu, com umas fórmulas matemáticas que resolviam os diferentes pesos das matérias para os cursos que queríamos seguir, os numerus clausus solucionariam o problema. Não havia cá programas ou essas coisas, cerca de uma dúzia de livros obrigatórios para Português, posteriormente começaram a pingar uns fascículos/sebentas, quase nas vésperas dos exames... e que esgotavam rapidamente!
Qual foi o divertimento? Juntávamo-nos de manhã cedo para a bica e íamos para casa umas das outras ver TV... ou jogar às cartas... ou assistir a aulas de grego ou à "Escrava Isaura" (telenovela no seguimento da emissão televisiva)... ou a beber chá com torradas... ou a conversar e a rir! Pronto, OK, jogávamos às cartas quase todos os dias, o resto vinha por arrasto!!!
Last but not least, Cardia foi o percursor de um ano "inexistente". Actualmente, corresponde ao 12º ano de escolaridade!
Aqui a isso chamavam-lhe COU (curso de orientación universitaria) mas não orientavam nada. Consistia em aulas, obrigatórias para quem queria obter o grado de bacharelato (que supostamente rematara no ano anterior) destinadas à preparação do exame de ingresso na universidade. Acho que foi o ano mais duro de cantos vivi, antes e depois -falando de estudos.
ResponderEliminaré sempre a mesma coisa! as mulheres nunca estão satisfeitas com os propedêuticos... ou preliminares... ou lá o que é!
ResponderEliminareu também tive aulas pela televisão!
no posto 737 da telescola! velhos tempos em que a certa hora parávamos de estudar para ver os desenhos animados!
Lembro-me bem desse ano em que as m/primas faziam como tu, jogavam as cartas e viam a escrava Isaura ( afinal era novidade, né )... eu já não apanhei esse propedêutico, mas á custa disso muitos desistiram de estudar , ou melhor os pais mandaram-nos trabalhar.......
ResponderEliminarHoje a coisa não anda muito melhor, mas......já lá vão 30 anos....hihihiihi
Beijokitas
E actualmente o 12.º ano de escolaridade equivale, do ponto de vista dos conhecimentos adquiridos, à antiga 1.ª classe!
ResponderEliminarai o meu 12º ano. Cada vez que me lembro dele... solto uma gargalhada!
ResponderEliminarNão orientavam nada, SUN? Sei lá, se calhar andaram a congeminar os modelos... conjuntamente! Embora aqui, no primeiro ano (que foi o meu), nem aulas houvesse a não ser na TV!
ResponderEliminarPessoalmente, achei muito divertido jogar às cartas às 9 da manhã... (*_*)
Umas insatisfeitas, é o que é, VÍCIO! :)))
A telescola surgiu um tempo antes, mas dentro das escolas, segundo creio, estas passavam na manhãs da RTP, para quem quisesse assistir e entrar na faculdade... Nem por isso deixou de ser animado! :D
Já lá vão cerca de 30 anos, ou mais, PARISIENSE! Evidentemente que algumas desistiram, quando arranjaram emprego, que não era tão fácil de encontrar assim...
E ná, não mudou muito, não! ;)
Beijocas, nina!
Ah, REIZÃO, deves estar a falar sobre as Novas Oportunidades, que com uma 4ª classe mal amanhada se fazem de uma penada até ao 12º ano! :/
ResponderEliminarNem acho muita graça, ponho sempre em dúvida se o filhote de um dia para o outro não me vem dizer que prefere esse facilitismo, em vez de estar lá a "moinar" durante anos... ;)
Se foi semelhante ao meu propedêutico (primeiríssimo, em estilo cobaia), TERESA DURÂES, uma gargalhada é pouco... :)))
Engraçado,
ResponderEliminarSó conhecia o termo associado ao 12º ano!
Lembro-me bem dessa medida (remendos, é o que eles sabem fazer melhor) e da minha amiga Anabela aproveitar o tempo para fazer a escrita da loja de mobilia do pai eheheh
Oh, oh, PASCOALITA, os mais novos pensam que os remendos são só de agora, o Ensino anda há muitos anos remendado. (para não falar na troca de nomes de MEC e MEIC e liceu com escola secundária ou C+S e por aí adiante!)
ResponderEliminarE também já trabalhava na altura, em part-time, a tomar conta de crianças num Infantário... não só para lhes cantar cantilenas (nunca fui tão cantora como nessa época), mas também para lhes dar a sopa e mudar-lhes as fraldas! :)))
Ahahahah, eu apanhei esse 12º ano de escolaridade e com 3 disciplinazecas. Foi a ramboiada total, porque sobrava muito tempo livre. Infelizmente, não ajudou nada à organização do tempo e uma vez na faculdade, com 10 disciplinas pra fazer num ano, cada uma com o triplo do trabalho que aquelas do 12º davam... pois, foi o desastre total.
ResponderEliminarNão me preparou nada, aliás, despreparou-me!!
ResponderEliminarMuié, andas profíqua, não te consigo apanhar o ritmo a tempo e horas! :)
ResponderEliminarfoi quase isso :) quase.
ResponderEliminarnão houve um ano em que fosse interdito entrar na universidade, houve foi uma grande confusão e polémica porque se começou a falar pela 1ª vez em números cláusulos. entre o serviço cívico e o famoso propedeutico ainda houve aquele ano que se poderia chamar "tudo ao molho e fé em deus"
o ano "tudo ao molho e fé em deus" começou em Outubro com serviço civico (muitos ainda foram colocados) em Dezembro o ministério anunciou que afinal acabava-se o civismo e ía tudo fazer exame (e lá foram realizar a 1ª prova), entretanto surgem as aulas (chamar aquilo aulas é como... adiante) pela tv e o ME anuncia o famoso salvador da pátria o exº Propedeutico, que no ano seguinte arrancou em força, já aperfeiçoado (cof cof maldita tosse que não me passa) e que viria mais tarde a ser substituido pelo 12º ano (que entre uma coisa e outra venha o diabo e escolha)
e cá andamos nós os civicos, os molhos, os propes e os décimos segundos.
e o ensino/educação que não há meio de sair dos preliminares e chegar à porra do orgasmo
Que ricas aulas ó nina, chá torradinhas e a escrava isaura, essa nunca vi, pois estava longe e lá não transmitiam , ou antes, acho que so tivemos tv em África a partir do ano de 1970, por ai, se não estou enganada... Boa estranja, arranja, sempre onde pospegar com os peurapeudicos ou lá como é isso...
ResponderEliminarBeijinhos, agora são cursos, são coisas e loisas, diz-se que disse, já não se diz, já diz-se que faz-se, enfim...haja ensino bom para todos e todos tenham emprego e isso é que conta... laura.
Ai rei da lã, obrigadinha, mas levantaste-me a moral, eu a pensar que era burra e afinal nã sou, tenho quase o curso universitário, se tenho a antiga 4 classe.Ora toma...
ResponderEliminarmudam os nomes :)
ResponderEliminartete, não tem a ver, mas: http://pequenoquiproquo.blogspot.com/2008/11/existem-desafios-mais-complicados-que.html
ResponderEliminarLOOOOOOOOOOOL. E eu tb tenho um parecido...e o Match idem...LOOOOOOL! Andam a estudar demais pah! ou entao sou eu q não me ocupo loool.
beijinho!
Pois!
ResponderEliminarTambém me lembro desta barafunda toda. Passei por todas as mudanças. Mas para quê?
Que resultou delas e ...das que hoje se pretende implementar?
Confesso que hoje me assusta pensar que tenho 2 netos que têm que passar por esta embrulhada toda....
Boa noite
Licas
Ah, pois é bebé... digo, VAN! Nós também tinhamos muito tempo livre, até porque não sabíamos o que estudar, para as seis disciplinas do ano anterior, às quais já fizéramos exame (ou dispensado do dito, consoante as notas fossem superiores a 14, ou não)!
ResponderEliminarA ideia sempre me pareceu a de desincentivar quem quer estudar, um ano de estagnação não costuma ajudar, em NADA!
Pois, a postura é quase diária... :)))
Olá Teté!
ResponderEliminarTenho estado toda a noite a tentar entrar aqui, mas houve sempre um virus, que me impediu. Agora consegui, mas são 5 da manha, e estou a ficar cansada.
Há uns 3 dias estavamos a falar em estudos e eu quis dizer este termo "propedêutico" e não me lembrava - e as minhas visitas portuguesas, a quem eu pedi para me dizerem como se chamava o pré-universidade, não sabiam do que eu estava a falar.
Eu não tive essa experiência,
devido ao facto de eu ter estudado na Uni Düsseldorf.
Boa noite! Bom dia, vou tomar o pequeno-almoço.
Ah, ah, ah, ESCARLATE.DUE!
ResponderEliminarAqui o maridão andou a pintar paredes. Eu fiz o primeiro propedêutico, via TV etc. e tal. No ano anterior, dos três amigos que foram a exame num serviço cívico que não o foi, dois "chumbaram" a português.
Suponho que a inovação das aulas televisivas só aconteceu no início do "meu" (ARGH!) propedêutico, mas cívicos, aos molhos, propes ou décimos segundos, certo é isso mesmo: preliminares demais, para orgasmos a menos!!! :/
Ah, LAURINHA, mas aquilo lá eram aulas? Como diz a Van, despreparou, em vez de preparar! Se já se fizeram os exames, para quê ficar um ano parado, para voltar a fazê-los um ano depois, sobre as mesmas matérias???
E deixa-te lá de "burrices", que disso não tens nada... :D
Jinhos, nina!
É, MOYLITO, os nomes têm mudado muito, o resto nem por isso... ;)
Ah, bem me parecia VAN, mas não fui investigar... :D
ResponderEliminarA minha PDI é relativa, que boa memória não me falta... ;)
LICAS, assusta toda a gente, desde os próprios (cobaias?), a pais, tios e avós que gostam de ver os jovens crescer com um mínimo de sanidade mental!
A actual ministra é má? E os anteriores, uns santinhos, não?! Para mim, este foi o pior de sempre, que afectou todas as gerações vindouras. Já morreu, mas nem por isso me parece que o devamos elogiar por um "trabalho" feito em cima do joelho...
Bom dia!
É, EMATEJOCA, à velocidade que postas, não consigo acompanhar todos... se tivesse lido, esclarecia! :D
Beijocas e bom pequeno almoço!
Ei, mas olha que eu não fiz exames no 11º eheheeh. Nem no 12º. Só tive as chamadas "especificas" e a "prova de aferição de matemática", que contavam para a entrada na universidade, apenas (não para a nota do secundário e do 12º). E,ainda por cima, fi-las naquele ano de greve dos profes universitários, a modos que nunca sabiamos se iamos ter um exame ou não...engraçadamente, na especifica de matemática, alguem se lembrou de andar a correr, num dos corredores de uma qq universidade do país, a berrar que "a prova de matemática estácá fooooooraaaaaa!!!!". Claro que foi imediatamente anulada em todo o país. E, food ace, mas era muito mais fácil do que a prova novamente agendada... :S
ResponderEliminarA de quimica, foi adiada. A de biologia, como era a ultima, metemos na cabeça que não iria ter lugar e, de facto, na parte da manhã todos os exames foram boicotados. Mas, na parte da tarde...tau, exame de biologia. E não tinha estudado nada... :D
Ps - aqui a "bebe" apanhou o último ano da chamada "velha reforma".
ResponderEliminarAh, VAN, também só fiz dois exames no antigo 7º ano do liceu (que acho que já se apelidava 2º do complementar ou coisa, actualmente 11º), mas por ter dispensado às outras disciplinas.
ResponderEliminarBem sei que depois do Cardia houve muito mais bagunçada, mas a rainha de Inglaterra não falava em "annus horribilis" se tivesse feito aquele propedêutico, sem nada a que se agarrar (nem livros ou material de apoio, só aquelas aulitas via TV). Ah, e a Católica e a Universidade Livre (acho que esta já não existe) ainda abriram um ano zero - a pagantes, está claro - para os futuros alunos que não tivessem entrada nas públicas (mas só para algumas áreas).
Essa de provas anuladas também recordo vagamente, porque aí as minhas preocupações já eram outras, mas alguns alunos terem acesso ao exame antes da hora? Olha, ainda foi outro caso que ficou por deslindar. O que, diga-se em abono da verdade, neste país é mato...
Quanto à "velha reforma", pois, cá pra mim parece-me a tal herança do Cardia! :S