domingo, 1 de fevereiro de 2009

OS PASSOS EM VOLTA


Herberto Helder é um ilustre desconhecido para a maioria dos portugueses ou, quando muito, o seu nome soa vagamente familiar. À excepção dos amantes de poesia, que esses sim, procuram incessantemente as suas obras que esgotam rapidamente. Escrito em 1963, "Os Passos em Volta" é um livro de contos que, não sendo autobiográfico, relata algumas das deambulações do homem pelo mundo, atravessando várias fronteiras reais, existenciais e imaginárias, ligeiramente semelhantes às da vida do próprio poeta e escritor: "Chegava com uma pequena mala de mão, uma dessas malas que levam apenas duas camisas e uma escova de dentes. A mala de um vagabundo ou descobridor de cidades."

Nascido na cidade do Funchal em 1930, Herberto Helder Luis Bernardes de Oliveira, (ou, pelo menos, assim o reza a net), escreve a páginas tantas: "Acerca da frase - 'Meu Deus, faz com que eu seja sempre um poeta obscuro.' - julgo haver alguma coisa a explicar. Para já não sei onde a li, se a li, pois bem pode ser que ma tenham referido e uma frase referida, não lida, torna-se menos do seu autor. Tracei-a a lápis na parede em frente da cama." Fiel a este princípio, mantém distância de todo o palco mediático, recusando entrevistas e bajulações alheias, inclusivé o Prémio Pessoa, que lhe foi atribuido em 1994. Algo que poderá ser compreensível através da leitura deste livro e do homem que "reside" nele, longe de ambições mundanas, contentando-se com parcos bens e raiando o surreal (nos dias que correm)...

Nem por isso se distancia da realidade que o envolve e no que se traduziram e traduzem os "brandos costumes" portugueses: "O rei sorri. Ergue o coração na mão direita e mostra-o ao povo. O sangue escorre-lhe entre os dedos e pelo pulso abaixo. Ouvem-se aplausos. Somos um povo bárbaro e puro, e é uma grande responsabilidade encontrar-se alguém à cabeça de um povo assim. Felizmente o rei está à altura do cargo, entende a nossa alma obscura, religiosa, tão próxima da terra. Somos também um povo cheio de fé. Temos fé na guerra, na justiça, na crueldade, no amor, na eternidade. Somos todos loucos."

O modesto livrinho - apenas 194 páginas, na 9ª edição - andou a passear na minha mala para colmatar tempos de espera ali e acoli. Mas tal como "os homens não se medem aos palmos", os livros também não se medem às páginas! Já era hora de deixar os calhamaços pomposos de lado e dedicar-me a um que me fizesse pensar, entre sorrisos...

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PARABÉNS, Tininha!

29 comentários:

  1. Mais um autor que leva a dar voltas pela minha cabeça e que espero ler, se encontrar algum livro dele, é claro.

    Parabéns à Tininha!

    Boa semana, Teté.

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  2. Olá Teté

    Este livro li-o há três meses atrás e espevitou-me a mente. Claro que na poesia o Herberto Helder é considerado hermético, é pena que não seja mais conhecido.

    E os meus Parabéns à Tininha.

    Beijinho
    Isabel

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  3. Tenho este livro na mesa de cabeceira para começar a ler.
    Trouxe-o a semana passada da livraria e já sei que me vou surpreender quando o ler. :)

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  4. Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
    Os amigos que enloquecem e estão sentados, fechando os olhos,
    Com os livros atrás a arder para toda a eternidade…
    Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
    Dentro do fogo:
    -temos um talento doloroso e obscuro.
    Construimos um lugar de silêncio.
    De paixão

    Uma canção de Vitorino, no cd "Flor de la mar"... Mas não conheço mais, esta tarde vou de compras, obrigado pela recordação...

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  5. tamanho não é documento, como dizem os brasis. já reparaste que são os livros mais pequenos que dão origem a muitos mais, muitos maiores? lá está o que dizias :)

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  6. eu estive para dizer algo sobre o excerto mas como estou a ser filmado... achei melhor não dizer nada e manter uma posição não suspeita...

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  7. Voltei para trás porque só agora me lembrei que a Teté me tinha perguntado sobre as imagens que publico. Algumas são óleos, outras aguarelas e a maioria são, ou fotografias trabalhadas, ou simplesmente imagens digitalizadas. Óleos e resinas eram o meu prato forte, mas tão cedo não posso trabalhar com produtos tóxicos. Vingo-me na virtualidade:)

    Beijinho
    Isabel

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  8. Não gosto d poesia Herberto Helder...

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  9. Tenho o "Poesia Toda", Teté.
    Posso emprestar-te...

    :))

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  10. Não conheço, mas será talvez um proximo mesmo se não sou muito amantes de contos.

    Parabens a Tininha.

    Beijokitas

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  11. São contos de um poeta?

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  12. Já li alguns poemas do Herberto Helder... mas poucos.

    A Teté nao é chata! Eu é que lhe estou grata por me dizer, que a flor estava errada. Percebo pouco de flores. Já lá pus outra, veja se essa é na verdade uma violeta.
    Eu gosto de flores mas só nos jardins e nunca nas jarras. Sou como a sua avó, nunca deixei a minha mae cortar os jarros do nosso jardim.

    Tenho visitas de Portugal com bolinhos/pastéis de bacalhau, azeitonas e o 1000 do JL!!!

    Boa noite, Teté!

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  13. Este acho que se encontra com facilidade, SUN!
    Boa semana para ti também!

    Suponho que ele próprio não quer ser mais conhecido, ISABEL! Mas concordo que este livro espevita mesmo a mente...
    Beijinhos!

    Acho que vais gostar, TONS DE AZUL! :)

    Não conheço, CONDADO! Mas é o mesmo género de onda, sim!
    Beijoca e boas compras!

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  14. Por acaso, nunca li nada dele...
    Mais 1 que fica em lista de espera...
    Ai, esta vida agitada!

    Beijinhos!

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  15. O Condado encontrou na biblioteca aí da outra margem, de maneira que imos partilhar e ler. Já dei uma olhadela num de poemas e gostei imenso (pressentia que ia gostar).

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  16. Pois, MOYLITO, alguns parece que apenas desperdiçam papel... quando podiam dizer tudo em meia dúzia de linhas! ;)

    Assizada decisão, VÍCIO! Não te esqueceste de sorrir, espero... :)

    Ah, essa parte de não poder trabalhar com produtos tóxicos é que é chata, ISABEL! Mas agradeço a explicação, que estava curiosa.
    Beijinhos!

    Então e estás no teu direito, TERESA DURÃES! Mas estes contos são em prosa, só li dois ou três poemas dele, por aí desirmanados...

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  17. Bem me parecia que era o teu género, CAPITÃO! :D
    Obrigada, mas quanto a empréstimos acho que já estamos conversados... ;)

    Eu gosto muito de contos, PARISIENSE, especialmente porque dão jeito em salas de espera.
    Beijokitas!

    Acho que ele é mais "famoso" como poeta, mas também é escritor e foi jornalista, VAN!

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  18. Poemas também li pouco, EMATEJOCA!
    Pois, o pouco que percebo de flores, ou melhor dizendo, gostaria de saber muito mais, devo precisamente ao jardim da minha avó e às explicações que ela dava sobre as plantas e as preocupações que tinha com elas.
    Hummmm... então bom apetite! O poema que está lá em cima no canto superior direito, vem no tal livrinho da Leya, que acompanhou o jornal!
    Boa noite!

    Mas este lê-se depressa, MATCHBOX32! Claro que quando se estuda, normalmente não dá muito tempo para outras leituras que não sejam as obrigatórias. E quando dá, apetece espairecer por outro lado... :)))
    Beijinhos!

    Bem me parece que faz o teu género, SUN! Mas depois logo dirás, né? (`_^)

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  19. :) Tenho a certeza que sim.

    Olha ontem fui ver o filme "O estranho caso de Benjamin Button". Adorei. Tem uma excelente história e saí da sala com imensos sentires à mistura. Hoje quando acordei ainda me sentia estranha. :)

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  20. e os livros que são praticamente desconhicidos é que valem a pena :) e de facto o calhamaço chateia-me, porque acaba por se perder em divagações...

    beijinhos

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  21. A poesia deste autor ... Tentei lê-la, mas deprime-me, embora lhe conheça valor literário.
    Um abraço
    Licas

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  22. Muito linda a tua prosa... e a poesia dele deve ser das tais que nos dão a volta ao pensamento... Um ser maravilhoso pelo que me pareceu.
    Beijinhos a ti, devoradora de livros e estantes inteiras... beijinho da laura.

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  23. Opá...tu nem me fales deste livro...tenho uma história com ele deveras dolorosa...
    Foi-me oferecido quando eu andava na faculdade, no meu dia de anos, por uma pessoa extremamente especial para mim...entretanto deixei de ver essa pessoa e dois anos mais tarde, o livro também desapareceu, com dedicatória e tudo!!! Estava na minha estante numa outra casa onde morei. Numa altura em que não estava lá, apareceu lá um hóspede que esteve lá esse fim-de-semana (nada mais nada menos que o Fernando Alvim) e que andou a bisbilhotar os meus livros. Sem autorização minha levou esse livro para ler...já passaram uns seis anos e é óbvio que nunca recuperei esse livro...que era de uma preciosidade intensa para mim...para além de todo o seu inquestionável conteúdo. Ou seja, um Alvinzeco com a mania do estrelato ficou com ele! pelos vistos, não lhe tem servido de inspiração para escrever o que quer que seja com talento: deduzo que ainda não o tenha lido ao fiom destes seis anos.

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  24. É sempre complicadissimo encontrar um livro do Herberto Helder nos escaparates. Principalmente porque, segundo consta, agora não há reedições. Ou se compra no lançamento ou chapéu.

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  25. É verdade, também envio os parabéns à Tininha.

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  26. Bem me parecia que ias gostar, TONS DE AZUL! :)

    Bom, mas há calhamaços e calhamaços, S.G.! Não tenho tido muita sorte com os últimos, mas há bons livros que são volumosos, sem terem páginas de blá, blá, blá! ;)

    Bom, LICAS, só li alguns poucos poemas dele, mas deste livro gostei muito!
    Beijocas!

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  27. Não sei porquê, LAURINHA, acho que não ias gostar muito deste. Ele põe em dúvida a existência de Deus, não como certeza, mas como dúvida existencial.
    Jinhos, linda!

    Xi, SU, acho que me passava dos carretos se me fizessem uma dessas. E pedia o livro de volta, fosse como fosse. Já é difícil quando emprestamos a amigos e eles "esquecem-se" de devolver, agora assim tirado à má fila, sem autorização?
    Mas tens razão, muita dessa malta tem mania que lá por ser uma "estrelinha", todos caem redondos aos seus pés à sua passagem e ainda ficam gratos por serem tratados como vassalos. Não há pachorra!
    Beijocas, amiga!

    Pois, PREDATADO, o que ouvi dizer é que o próprio autor não quer reedições dos seus livros de poesia, quando publica um novo completa com os anteriores. Agora estes de prosa - este já é 9ª edição - acho que se continuam a reeditar. ;)

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  28. Ahá! E eu tenho uma série de poemas desse senhor passados das antologias poéticas da biblioteca de Sesimbra direitinho para uns cinco ou seis cadernos a4 que guardo carinhosamente. Agora não me lembro de nenhum em particular, mas sei que, para ter passado para o caderno, foi porque gostei muito.

    Mas contos, a bem dizer, falta-me paciência... nunca achei muita piada a histórias pequenas. Apesar de nestas coisas o tamanho ser mesmo o menos importante. Mas ainda não calhou ler nenhum autor cujos contos me encantassem. Bom, o oscar wilde, que adoro, assomou-se-me agora de repente...Raios! olha não interessa, que agora não vou apagar tudo!
    Beijinhos

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  29. Adoro contos, mas estes não são bem de encantar, são mais de dar que pensar, SAFIRITA!

    Conheço poucas bibliotecas em Lisboa, uma vez por outra fui à Nacional e à da Gulbenkian quando andava a estudar. Ambas de muito difícil acesso, com um inquérito pormenorizado sobre o que íamos lá fazer. Ler, não chegava... :S

    Enfim, nunca mais fui! Mas se calhar é uma ideia experimentar ir agora, a ver como está... ;)

    É que ainda por cima há livros que saíram de moda, estão fora de circulações comerciais e nunca os conseguimos encontrar a não ser em bibliotecas!

    Jinhos!

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)