Um livro mágico!
Existem livros assim: embora as suas palavras sejam perenes e imutáveis, cada leitor faz dele a sua própria leitura e, no final, parece que todos leram um título diferente! "Sputnik, Meu Amor" foi-me recomendado pela Tons de Azul, em Outubro, um mês depois alguém me dizia que era um livro onde não se passava nada, para além de um triângulo amoroso (que só não era assim tão eterno, uma vez que no vértice principal a paixão é homossexual).
Concordando com a apresentação que a Tons de Azul escreveu (aqui), suponho que Haruki Murakami consegue ir ainda mais longe: de cada vez que lemos ou relemos uma determinada passagem encontramos novos significados em cada frase. Não que a linguagem seja complicada ou as palavras utilizadas invulgares, mas porque, de repente, compreendemos que uma simples expressão, a que não conferimos grande relevância anteriormente, é o seguimento do que se assemelhava a uma ponta solta do novelo. "Muitos romancistas japoneses são viciados na beleza da linguagem. Eu gostaria de mudar isso... A linguagem é... um instrumento para comunicar", afirmou o autor (in, "1001 Livros Para Ler Antes de Morrer"). Sem inúteis floreados, o escritor japonês vai entrelaçando as linhas tal e qual um pequeno bicho-de-seda tece o seu casulo, até obter um fino e suave tecido. Mas não desdenha do som de um pianista a executar uma música clássica, do pitoresco das paisagens gregas, da imagética do cinema, das referências literárias (patente no próprio título, tão análogo ao de Marguerite Duras) e da utilização de metáforas quase poéticas.
A nota introdutória esclarece o seguinte:
Existem livros assim: embora as suas palavras sejam perenes e imutáveis, cada leitor faz dele a sua própria leitura e, no final, parece que todos leram um título diferente! "Sputnik, Meu Amor" foi-me recomendado pela Tons de Azul, em Outubro, um mês depois alguém me dizia que era um livro onde não se passava nada, para além de um triângulo amoroso (que só não era assim tão eterno, uma vez que no vértice principal a paixão é homossexual).
Concordando com a apresentação que a Tons de Azul escreveu (aqui), suponho que Haruki Murakami consegue ir ainda mais longe: de cada vez que lemos ou relemos uma determinada passagem encontramos novos significados em cada frase. Não que a linguagem seja complicada ou as palavras utilizadas invulgares, mas porque, de repente, compreendemos que uma simples expressão, a que não conferimos grande relevância anteriormente, é o seguimento do que se assemelhava a uma ponta solta do novelo. "Muitos romancistas japoneses são viciados na beleza da linguagem. Eu gostaria de mudar isso... A linguagem é... um instrumento para comunicar", afirmou o autor (in, "1001 Livros Para Ler Antes de Morrer"). Sem inúteis floreados, o escritor japonês vai entrelaçando as linhas tal e qual um pequeno bicho-de-seda tece o seu casulo, até obter um fino e suave tecido. Mas não desdenha do som de um pianista a executar uma música clássica, do pitoresco das paisagens gregas, da imagética do cinema, das referências literárias (patente no próprio título, tão análogo ao de Marguerite Duras) e da utilização de metáforas quase poéticas.
A nota introdutória esclarece o seguinte:
"Sputnik
A 4 de Outubro de 1957, a União Soviética lançou, a partir do Centro Espacial de Baikonour, na República do Cazaquistão, o primeiro satélite artificial do mundo, o Sputnik I. Media 58 centímetros de diâmetro, pesava 83,6 quilos e completou a órbita da Terra em 26 minutos e 12 segundos.
A 3 de Novembro do mesmo ano, o Sputnik II foi por sua vez lançado no espaço com êxito. A bordo seguia a cadela Laika, que se tornou a primeira criatura viva a sair da atmosfera da Terra, mas o satélite nunca foi recuperado, e Laika foi assim sacrificada em nome da pesquisa biológica no espaço."
O que é que esta informação interessa ao desenrolar do romance? Pois, é esse o princípio segundo o qual as personagens percorrem o espaço: "Fechei os olhos e prestei atenção para ver se conseguia ouvir os descendentes do Sputnik que continuavam a dar voltas à Terra, tendo como único elo de ligação ao planeta a gravidade. Solitários pedaços de metal que se encontram de repente nas trevas do espaço, cruzam-se no seu caminho e depois separam-se para sempre. Sem trocarem uma palavra, sem fazerem uma promessa."
Já o tempo transpõe as ténues e esbatidas fronteiras entre o surreal e o real, entre o sonho e "este ermo desprovido de humor a que damos o nome de realidade". Onde o "maestro" japonês faz oscilar a sua simbólica batuta, de modo a tornar audíveis as dúvidas e incertezas dos solitários personagens, movimentados pelos seus sonhos, desejos e paixões. "Qual é a diferença entre signo e símbolo?"
Repito: um livro mágico!
A 3 de Novembro do mesmo ano, o Sputnik II foi por sua vez lançado no espaço com êxito. A bordo seguia a cadela Laika, que se tornou a primeira criatura viva a sair da atmosfera da Terra, mas o satélite nunca foi recuperado, e Laika foi assim sacrificada em nome da pesquisa biológica no espaço."
O que é que esta informação interessa ao desenrolar do romance? Pois, é esse o princípio segundo o qual as personagens percorrem o espaço: "Fechei os olhos e prestei atenção para ver se conseguia ouvir os descendentes do Sputnik que continuavam a dar voltas à Terra, tendo como único elo de ligação ao planeta a gravidade. Solitários pedaços de metal que se encontram de repente nas trevas do espaço, cruzam-se no seu caminho e depois separam-se para sempre. Sem trocarem uma palavra, sem fazerem uma promessa."
Já o tempo transpõe as ténues e esbatidas fronteiras entre o surreal e o real, entre o sonho e "este ermo desprovido de humor a que damos o nome de realidade". Onde o "maestro" japonês faz oscilar a sua simbólica batuta, de modo a tornar audíveis as dúvidas e incertezas dos solitários personagens, movimentados pelos seus sonhos, desejos e paixões. "Qual é a diferença entre signo e símbolo?"
Repito: um livro mágico!
Fiquei seriamente interessada. Já é meu hábito ir para livrarias ler coisas deste senhor, mas até agora ainda não comprei nada.
ResponderEliminarBj,
(i)
Haruki Murakami, é de facto dos melhores escritores da actualidade.
ResponderEliminarAdorei, adorei e adorei! Li esse livro e fiquei completamente estarrecida, viciada, apaixonada! Já o li há uns meses mas é impossível esquecê-lo! Mal possa vou a correr comprar outro dele!
ResponderEliminarDeve ser um livro bastante interessante!
ResponderEliminarAbraço
Magia é comigo!!
ResponderEliminar;)
Uma grande beijoca e desejos de um bom ano!!
Quando encontrar um livro do Haruki Murakami, darei uma vista de olhos.
ResponderEliminarBoas Entradas e beijinhos :)
Bem-vinda, INÊS BRITO!
ResponderEliminarEste deve ser lido de uma penada (são só 198 páginas), para não perder o fio à meada... :)
Beijoca!
Sim, em todas as críticas que li aparece como tal, CREST! Mas nunca tinha lido nenhum dos seus livros, de modo que o impacto foi maior... :)
Também fiquei com vontade de ler mais alguns livros do escritor, PHYSALIA PHYSALIS! :D
Bem-vindo, TEORIA DO KAOS!
ResponderEliminarÉ mesmo!
Abraço!
Eh, eh, eh, também gosto muito de magia, GATINHA! :)
Beijoca grande para ti e um BOM 2009, também!
É, não há nada como ler para crer, CAPRICCIO! :)
Boas Entradas para ti também!
Gostei da descrição que fazes da escrita de Murakami: atinadíssima desde o meu ponto de vista. Li outros dele, mas concordo plenamente: escreve de maneira que te vai envolvendo sem dares por isso.
ResponderEliminarBom, SUN, a descrição cinge-se a este livro, que foi o primeiro que li dele! Mas tenciono ler mais... (`_^)
ResponderEliminarNao conheco este livro. Mas vim aqui para outro assunto: recebi do Artista Maldito o Prémio Dardos. O seu nome foi o primeiro que me ocorreu para lho dar. Caso aceite e goste escrevo o seu nome no meu blogue.
ResponderEliminarVolto aqui para ler com mais atencao. Neste momento tenho a casa cheia de gente e muitíssimo que fazer.
BOAS FESTAS!
Ah, Teresa, agradeço, fico sempre muito lisonjeada, mas na verdade já o recebi.
ResponderEliminarO que não gosto mesmo dos prémios é ter de os distribuir, já que acho impossível comparar blogues com temáticas tão diferenciadas e depois com uma série de regras lá à medida dos seus inventores, que normalmente me parecem desadequadas. Assim, costumo passar a todos, mas também há quem não goste...
Enfim, nunca se consegue agradar a todos, né?
Obrigada à mesma! :)
Continuação de Boas Festas aí por Dusseldorf!
:) Sim a história é muito mais que um triângulo amoroso.
ResponderEliminarÉ agradável saber que temos gostos literários em comum!
Eu também já o recebi duas vezes - o primeiro está muito lá no fundo do blogue.
ResponderEliminarO que é para uns um bom blogue pode para outros nao o ser.
Eu sou uma pessoa muito prática e nao aprecio os blogues esotéricos.
Escolhi-a a si por termos coisas em comum e nao só o nome.
Tem razao quando diz que nunca se consegue agradar a todos. Bem, eu nem quero agradar a todos...
É como a minha históris. A Teté achou-a com um final feliz - aqui todos foram contra mim, pois acharam que enganei a Vanessa.
Continuação de Boas Festas aí também - em Dusseldorf está um dia lindo de sol e com 4 graus negativos.
deve dar jeito ter um livro magico! o inconveniente é que se tem de comer coelho muitas vezes...
ResponderEliminarPelos vistos temos mesmo, TONS DE AZUL! :D
ResponderEliminarOh, EMATEJOCA, não digo que a Vanessa não ficasse desapontada, mas certamente um dia mais tarde entendeu que a ideia era um bocado utópica, para não dizer perigosa!
Por estas bandas está um dia daqueles de fugir: nevoeiro, chuva, frio (menos que aí, certamente, mas as casas lisboetas não estão tão equipadas para se protegerem do frio como as alemãs)!
Saudações!
Tens alguma coisa contra o coelho no cardápio, VÍCIO? :D
Pois, já vi que és outro que ah e tal e coiso, coitadinhos, tão queriduchos e fofinhos! Não percebo é porque não têm pena das vacas, dos porcos, do bacalhau ou do pargo! Também são animais, lá por não terem um pelo macio e uns olhinhos pestanejantes...
Bom, e agora que já fiz este longo discurso sobre a igualdade entre os animais, o livro é mágico, mas não saltam coelhos lá de dentro como se fosse uma cartola, OK? :)))
eu nem sei o que hei-de seleccionar para leitura, mas a lista é enorme e estão todos à espera na estante :)
ResponderEliminarbj
Pois, estás como eu, S.G.! Mas já peguei num dos Natal, aos outros vou lá quando tiver tempo... :)))
ResponderEliminarJinho!
Nunca li nada do Mia Couto. Encontrei este vídeo, por acaso, ao procurar uma outra coisa no YOU TUBE.
ResponderEliminarTenho muitos sapatos sujos, mas estes a que o Mia Couto se refere, nao sao os meus. Excepto a minha passividade perante a injustica, a miséria e todos os problemas deste mundo.
Espero, que continuemos a nossa amizade virtual em 2009.
Que este Novo Ano lhe traga a si e à sua família tudo de bom.
Não sei bem se será passividade, EMATEJOCA, a verdade é que sozinhos pouco podemos fazer... infelizmente!
ResponderEliminarCom certeza que continuaremos, que ambas compreendemos diferenças de opinião, que certamente teremos num ponto ou noutro!
BOM 2009, Teresa!
Li-o recentemente, mas não de uma penada, e em condições francamente más, entre comboio e metro.
ResponderEliminarConcordo com a capacidade de envolvência, e com a linguagem fabulosa, com os ritmos certos, mas quero ler outra coisa antes de me pronunciar mais a sério. Gostei, mas não adorei. E, por não me ter marcado particulamente, chego à conclusão que me devo ter perdido nos meandros da análise dos personagens, cujas bizarras atitudes não consegui perceber muito bem. Ficou-me um sabor a vago.
Beijocas
Confesso que também me perdi um pouco na leitura, SAFIRITA, principalmente devido a várias interrupções.
ResponderEliminarMas quando o acabei, reli a parte inicial toda novamente, pois estava-me a escapar qualquer coisa, nomeadamente nas histórias da Laika e dos outros cães mortos em benefício de crenças chinesas, aquela metáfora de "matar o cão" e mais algumas cenas que vão sendo encadeadas entre sonhos e o outro lado do espelho...
Também quero ver se leio mais alguns, para formar uma opinião sobre o escritor, esta é apenas sobre este livro.
Beijocas!