Desde ontem que não páro de pensar na minha avó. O que pode parecer estranho, dado que ela faleceu há quase 23 anos. Mas a explicação é simples: ela tinha pavor de trovoadas!
Assim, ontem, antes de sair de terras algarvias, ainda dei um mergulho na piscina, em jeito de despedida de férias. O céu estava ligeiramente nublado, mas o Sol ainda dava um ar da sua graça. Zarpámos para Lisboa, às tantas começa a chuviscar, devagarinho, depois mais intensamente, no fim o carro estava a ser apedrejado por uma saraivada de granizo. Não se via quase nada à frente, parecia que saía fumo da estrada. Uns minutos depois a chuva atenuou, mas o céu começa a iluminar-se constantemente com relâmpagos e raios, por vezes acompanhados de estrondosos trovões quase em simultâneo. Foram mais de 100 km nisto, em plena planície alentejana, às tantas já não sabíamos se estávamos a passar pela tempestade ou se ela estava a acompanhar-nos na viagem. Perto de Grândola o dia clareou, em Alcácer do Sal o Sol voltou a sorrir, embora timidamente. Lisboa estava cinzenta, mas não chovia nem trovejava.
Hoje fomos dar um passeio até à praia da Torre – as férias ainda não acabaram - sentámo-nos na esplanada apreciando a calmaria das águas do rio quase mar, o movimento dos barcos, uns desportistas a nadar em preparação para o que supusémos ser uma prova de triatlo. Um fim de tarde pacato e sossegado... De volta a casa passámos pelo hipermercado, começa outra vez a mesma cena, um pinguinho, outro e mais outro, uma bátega de água, a noite iluminada por uma espécie de lâmpada fluorescente avariada, o rugido da trovoada ora distante, ora a tentar furar-nos os tímpanos...
Não gosto de trovoadas. Assustam-me, pelo inesperado! Mas, simultaneamente, recordam-me sempre a minha avó. Que nesses dias, fechava a casa toda a sete chaves, desligava o quadro eléctrico, não permitia que ninguém tocasse em nada de metal – se fosse hora de almoço ou de jantar, a refeição era adiada até passar a tormenta, porque pegar em talheres nem pensar – e sentava-se a um cantinho do quarto, numa cadeira, a rezar o terço, soltando de vez em quando umas expressões do tipo “Valha-nos Deus!” ou “Deus nos acuda!” E aquele aparato todo transformava-se num quase pânico, para nós, enquanto crianças. Adorava a minha avó, que era católica praticante, muito alegre, nada dada a lamúrias, excepto... nesses dias!
Jantámos ao som do ribombar dos trovões, persiana fechada sim senhora para não levar com os flashs, venho para a net e dou com um post da Vanadis da Grafonola – ateia convicta – a falar do marketing religioso, que Jeová, Deus ou Alá a fulminem com um raio, se assim não for. Ahn? Então ela é que escreve todas essas heresias/pontos de vista e eu é que ando aqui debaixo de raios e coriscos há dois dias?
Mistérios...
-----
Post-scriptum – Este post era para “sair” a 11, mas já que atrasei umas horitas, aproveito para enviar um grande beijinho de Parabéns à minha amiga Nilza. Tudo de bom para ti, querida, hoje como nos tempos vindouros...
Assim, ontem, antes de sair de terras algarvias, ainda dei um mergulho na piscina, em jeito de despedida de férias. O céu estava ligeiramente nublado, mas o Sol ainda dava um ar da sua graça. Zarpámos para Lisboa, às tantas começa a chuviscar, devagarinho, depois mais intensamente, no fim o carro estava a ser apedrejado por uma saraivada de granizo. Não se via quase nada à frente, parecia que saía fumo da estrada. Uns minutos depois a chuva atenuou, mas o céu começa a iluminar-se constantemente com relâmpagos e raios, por vezes acompanhados de estrondosos trovões quase em simultâneo. Foram mais de 100 km nisto, em plena planície alentejana, às tantas já não sabíamos se estávamos a passar pela tempestade ou se ela estava a acompanhar-nos na viagem. Perto de Grândola o dia clareou, em Alcácer do Sal o Sol voltou a sorrir, embora timidamente. Lisboa estava cinzenta, mas não chovia nem trovejava.
Hoje fomos dar um passeio até à praia da Torre – as férias ainda não acabaram - sentámo-nos na esplanada apreciando a calmaria das águas do rio quase mar, o movimento dos barcos, uns desportistas a nadar em preparação para o que supusémos ser uma prova de triatlo. Um fim de tarde pacato e sossegado... De volta a casa passámos pelo hipermercado, começa outra vez a mesma cena, um pinguinho, outro e mais outro, uma bátega de água, a noite iluminada por uma espécie de lâmpada fluorescente avariada, o rugido da trovoada ora distante, ora a tentar furar-nos os tímpanos...
Não gosto de trovoadas. Assustam-me, pelo inesperado! Mas, simultaneamente, recordam-me sempre a minha avó. Que nesses dias, fechava a casa toda a sete chaves, desligava o quadro eléctrico, não permitia que ninguém tocasse em nada de metal – se fosse hora de almoço ou de jantar, a refeição era adiada até passar a tormenta, porque pegar em talheres nem pensar – e sentava-se a um cantinho do quarto, numa cadeira, a rezar o terço, soltando de vez em quando umas expressões do tipo “Valha-nos Deus!” ou “Deus nos acuda!” E aquele aparato todo transformava-se num quase pânico, para nós, enquanto crianças. Adorava a minha avó, que era católica praticante, muito alegre, nada dada a lamúrias, excepto... nesses dias!
Jantámos ao som do ribombar dos trovões, persiana fechada sim senhora para não levar com os flashs, venho para a net e dou com um post da Vanadis da Grafonola – ateia convicta – a falar do marketing religioso, que Jeová, Deus ou Alá a fulminem com um raio, se assim não for. Ahn? Então ela é que escreve todas essas heresias/pontos de vista e eu é que ando aqui debaixo de raios e coriscos há dois dias?
Mistérios...
-----
Post-scriptum – Este post era para “sair” a 11, mas já que atrasei umas horitas, aproveito para enviar um grande beijinho de Parabéns à minha amiga Nilza. Tudo de bom para ti, querida, hoje como nos tempos vindouros...
Me VI nesse post! Também morro de medo das trovoadas.E lembrei da minha estrela e musa de todo sempre que agia igualzinha a sua vovó...com direito a cobrir os espelhos da casa com panos enormes também e todos os rituais qua a sua fazia,exceto ficar orando.Ela ao contrário contava casos,de pessoas que saiam às ruas em dias assim e que eram fulminadas por raios....vixe!! e isso me dava mais medo!!A chuva de granizo é outra coisa horrorosa! aqui em Salvador não tem,mas morei uns tempos numa cidade que tem sempre e também não gostei nada da experiência...bem,os arroubos da natureza são singulares e devem acontecer por mais que não queiramos.
ResponderEliminarObrigada! Lembrar também da minha vovó e de suas particularidades sempre me faz bem.
Beijo!
Eu adoro trovoadas!
ResponderEliminarEntão se estiver junto ao mar...
Há lá coisa mais bela?
O Sócras também adora trovoadas, não há raio que o parta :)
ResponderEliminarLOLOLOLOL, tété, és um must, fartei-me de rir com este post!! Deixa tar que os céus me enviaram uns belos raios!!! até filmei um!!! assim que o descarregar para o pc, vou postar o raio que são pedro me enviou. Mas a pontaria não é muita, pois caiu a 60 Km e acertou num homenzinho que -não me perguntem porque- estava debaixo de uma árvore...
ResponderEliminarQuando está de trovoada visto a farda de trovador...
ResponderEliminarNão aprecio intempéries, mas o que mais me afronta, por estranho que possa parecer, é o barulho do vento!
ResponderEliminarSempre fui uma paiaxonada pelas trovoadas, pelo mau tempo e pelo vento. Adoro ver os relâmpagos, seja no mar seja na serra. Ontem, fui a correr a apanhar a minha roupa pois começou a chover de repente e fiquei pela janela a observar os raios a riscarem os céus. Espectacular...o Sky reagia sonolento, acordando uma ou outra vez. O ritual com a minha avó e até com a minha mãe era semelhante ao que descreveste! Afastar das janelas, não pegar em talheres, tirar os fios de prata, desligar tudo, e ficar em silêncio...eu e o meu irmão não podíamos dizer "piadas" que ficavam assustadas pois poderíamos sofrer um qualquer catigo divino! Contavam-nos histórias das pessoas que morriam nas trovoadas em encruzilhadas ou debaixo das árvores, sim...mas nunca deixei de admirar a beleza desta manifestação da Natureza. Aprecio o silêncio que serve de "bastidores" à sua ocorrência...parece que estamos sós no mundo; cada um de nós mais sós do que o costume. A solidão como uma capa...
ResponderEliminarApetecia-me escrever algo na Teia, menos melancólico mas não encontrei as palavras certas e o que ia escrevendo saí-me muito "dark"...optei por colocar um poema que saiu na Antologia Do Mar Grande e D`Outras Águas no ano passado...cuja temática era precisamente o líquido...mas este poema servia o meu estado de alma de ontem...e talvez ainda o de agora.
O tempo cá de dentro é diferente do de lá de fora.
Um beijinho grande.
Ao contrário de ti, adoro trovoadas, de vê-las em forma de relâmpago de senti-las com o ribombar dos trovões, daqueles que até abanam o esqueleto! Adoro!
ResponderEliminarHá uns séculos, quando eu era criança tb, havia uma senhora que tinha o mesmo ritual da tua avó, escondia-se no quarto, rezava imenso e tapava a cabeça com uma almofada. hehehehehe
Quando vieres à praia da Torre podias fazer uns sinais de fumo ou assim...
beijo d'enxofre
Oh, Kátia, essa de tapar os espelhos nem nunca tinha ouvido. Qual seria a razão?
ResponderEliminarE a dualidade da questão é mesmo essa: não gosto de trovoadas, mas lembro-me sempre da minha vovó, que era assim que a chamávamos, o que acaba por me trazer um sorriso. E acho bom lembrarmo-nos delas como eram realmente, com defeitos e qualidades, como nós próprias!
Jinhos, soteropolitana!
Ná, Capitão, as nossas noções de beleza estão um bocado desfasadas...
ResponderEliminarBem-vindo, António Sabão.
ResponderEliminarDeixa estar, que mais cedo ou mais tarde, aquela proazinha pedante também há-de ser fulminada por um raio. Queres apostar?
Já te vou fazer uma visitinha...
Credo, Vanadis, o homenzinho estava debaixo da árvore?
ResponderEliminarAh, mas vou ficar à espera de ver esse raio! Que assim previsível, não me assusta por aí além...
Oi, Aninhas!
ResponderEliminarGosto do barulho do vento e da chuva (sem ser bátega ou granizo), quando estou na cama aconchegadinha. Assim em directo, tu cá tu lá, hummm... não sou apreciadora!
Aproveitar a trovoada para fazer trovas fardado, Pelintra?
ResponderEliminarNunca tinha pensado nisso...
Oh, Su, mas o poema estava tão consentâneo com o estado de espírito, que se reparaste utilizámos muitas das mesmas palavras - de modo diferente, é claro! Por isso é que perguntei quando o tinhas escrito. Mas adorei mesmo!
ResponderEliminarPelos vistos, não era só a minha vovó a ter "respeito" pelas trovoadas - ela nunca disse que tinha medo, o que a bem dizer seria má definição, aquilo era pânico mesmo!
Mas ela teve vários cães e gatos ao longo dos últimos anos (em simultâneo), até os bichos se encolhiam todos com tamanha aflição! Achas que ficavam sonolentos como o SKY?
Jinhos, amiga!
Oh, Diabba, sinais de fumo só se for com o cigarrinho, e ainda por cima tu já deixaste de fumar, cof, cof! que ainda te intoxico...
ResponderEliminarMas se vivesse lá perto, podes ter a certeza que me ia sentar na esplanada mais vezes, a beber umas imperiaizinhas ao fim da tarde. Em vez de andar de bicicleta de selim de gel, que ainda por cima dão dores no traseirovsky...
Jinhos para o teu inferno!
Nem sabe o que me ri ao ler isto!
ResponderEliminarLOL muito bem.
Visite e comente o meu blog!
Também tenho pavor de trovoada!!
ResponderEliminarEspero que não passe por cá, no norte.
Boa semana :)
Tenho o computador de frente para uma janela e as minhas noites têm sido acompanhadas por flashs e mais flashs. Há lá coisa mais bonita? Melhor mesmo só em frente ao mar, ao pé de uma lareira acesa...
ResponderEliminarEu gosto de trovoadas e quando era pequenino até tive uma namoradita chamada Bárbara - uma santa por sinal... :))
ResponderEliminarTalvez por isso, sempre estive imune - mesmo com aquelas grandes que, às vezes, se apanham nos aviões.
Bem Binda de Bolta, TeTé
As trovoadas extasiam-me. A minha avó, que era adoptiva e minha avó na mesma, incutiu em mim o gosto pela leitura. Só por isso, que a terra lhe seja leve.
ResponderEliminarNunca aqui tinha pousado. O tempo é escasso. Estou contente por cá ter vindo. Agora tenho que me ir embora. Longa vida teté.
Também tive uma avó das trovoadas, que rezava a Santa Bárbara.
ResponderEliminarO Skywalker está muito "humanizado"! Reacções pouco previstas...um pouco como os seres humanos!
ResponderEliminarReparei sim na coincidência das palavras! É assim a questão da Sintonia! ;)
Beijinhos amiga!
Hahaha.Ela dizia que o espelho "atraía" os raios e que era bom cobrí-los pra evitar danos maiores.Esqueci de falar que as panelas de alumínio também eram bem guardadas e pelo mesmo motivo.
ResponderEliminarEu também a chamava de 'vovó'.E como ela adorava,visto com os demais a chamava de 'minha avó'...:)
Navegadora, não sei se era motivo para riso, sei que só ri depois...
ResponderEliminarDe qualquer das formas, bem-vinda!
Conchita, também espero que não tenha passado a norte, que não desejo trovoadas a ninguém, gostando ou não!
ResponderEliminarNão tenho pavor, isso era mais a minha vovó, mas assusto-me um bocado com os ruídos e os flashs inesperados...
Um bom fim-de-semana para ti também!
Xi, Fausto, viraste estrela de cinema para levares com tanto flash?
ResponderEliminarAinda tens de me explicar essa de estar em frente ao mar, com uma lareira acesa... Ah, ah, ah!
Jinhos, companheiro da irmandade!
Eduardo, essa da Santa Bárbara já passou por aqui, que isso nem sabia e, provavelmente, a minha avó também não...
ResponderEliminarImune às tempestades? De avião? Cruzes, credo, que aí acho que morria de coração!
Bem-vindo, Violeto!
ResponderEliminarLonga vida, depois das tempestades?
Ah, ando a fazer por isso...
Quanto à leitura, é companhia para a vida inteira, ainda bem que a tua avó te deu o gosto!
É, Elora, aprendi contigo (ou com a tua avó) que a Santa das trovoadas se chama Bárbara.
ResponderEliminarNão sei porquê, mas acho que o nome condiz...
Ah, Su, o teu Skywalker já viu muitas guerras nas estrelas, daí essa descontracção toda...
ResponderEliminar'Tá que ajudas a ele não ficar stressado. O meu Nicky ficava nervoso, possivelmente porque também fico, mesmo sem metade dos traumas da minha avó.
Jinhos, amiga!
Tachos, panelas, talheres era tudo metálico, de modo que nem se podia tocar.
ResponderEliminarMas essa dos espelhos atraírem os raios, nem me lembro se existia... sei que não os cobria com panos!
Agradeço-te a explicação.
Jinhos e um bom fim-de semana para ti!
eu acho a trovoada espectacular!
ResponderEliminarjá passei varias horas a olhar para o ceu para ver bem aaueles flashs!
quanto à data... por baixo da area de edição podes alterar a data e hora!
Obrigada Vício, pela indicação: vou experimentar!
ResponderEliminarJinhos e bom fim-de-semana!