Era apenas um café de bairro, pequeno, estreito e escuro. Foi obrigado a modernizar-se por um qualquer antepassado da ASAE, tornando-se um pouco mais iluminado. Já não existe, mas no toldo de entrada ostentava o pomposo título de “pastelaria”.
Os proprietários / balconistas costumavam ser simpáticos com os clientes, em estilos bastante diferentes – um com alguma prosápia de pseudo-intelectual, outro mais o homem lá da sua terra, com pronúncia axim - mas eram verdadeiros esclavagistas para os empregados. Resultado: semana sim, semana não, aparecia uma cara nova a servir às mesas. Contavam-se histórias mirambolantes, de um que fugira tão esbaforido dos patrões, que até lá deixara o próprio relógio...
A pastelaria era encomendada fora e muito má. Ríamos! Era como o bolo-rei: trazia “brinde”, nem sempre identificável. As sandes de pão com pão denunciavam um ténue vestígio a queijo, fiambre ou presunto, fatiados no mais transparente possível. Um cliente ocasional voltou lá a queixar-se que os chocolates que tinha comprado tinham bicho. Os preços praticados eram iguais aos das grandes e boas pastelarias da zona (que as há e essas ainda têm clientela!) Afinal eram ou não eram uma pastelaria fina? Hummm... Bom, adiante!
A frequência não podia ser mais variada: estudantes de todos os anos e cursos, donas de casa, vizinhos que passavam para beber um cafezinho, pessoal das barracas, homens que não prescindiam do seu fim de tarde - a discutir política e futebol - diante de uma imperial. Àquele antro chamávamos carinhosamente... o “entulho”!
Foi o local onde estudei e convivi com amigos, onde festejámos alegrias e partilhámos tristezas. E não é que o “entulho” deixou saudades em alguns de nós?
Este texto é uma reedição - que não costumo fazer - de um post publicado aqui a 15 de Novembro de 2007, mas serve como resposta ao desafio lançado por Carlos Barbosa de Oliveira nas suas "Crónicas do Rochedo". A imagem é da net.
Os proprietários / balconistas costumavam ser simpáticos com os clientes, em estilos bastante diferentes – um com alguma prosápia de pseudo-intelectual, outro mais o homem lá da sua terra, com pronúncia axim - mas eram verdadeiros esclavagistas para os empregados. Resultado: semana sim, semana não, aparecia uma cara nova a servir às mesas. Contavam-se histórias mirambolantes, de um que fugira tão esbaforido dos patrões, que até lá deixara o próprio relógio...
A pastelaria era encomendada fora e muito má. Ríamos! Era como o bolo-rei: trazia “brinde”, nem sempre identificável. As sandes de pão com pão denunciavam um ténue vestígio a queijo, fiambre ou presunto, fatiados no mais transparente possível. Um cliente ocasional voltou lá a queixar-se que os chocolates que tinha comprado tinham bicho. Os preços praticados eram iguais aos das grandes e boas pastelarias da zona (que as há e essas ainda têm clientela!) Afinal eram ou não eram uma pastelaria fina? Hummm... Bom, adiante!
A frequência não podia ser mais variada: estudantes de todos os anos e cursos, donas de casa, vizinhos que passavam para beber um cafezinho, pessoal das barracas, homens que não prescindiam do seu fim de tarde - a discutir política e futebol - diante de uma imperial. Àquele antro chamávamos carinhosamente... o “entulho”!
Foi o local onde estudei e convivi com amigos, onde festejámos alegrias e partilhámos tristezas. E não é que o “entulho” deixou saudades em alguns de nós?
Este texto é uma reedição - que não costumo fazer - de um post publicado aqui a 15 de Novembro de 2007, mas serve como resposta ao desafio lançado por Carlos Barbosa de Oliveira nas suas "Crónicas do Rochedo". A imagem é da net.
a tasca da Ti Júlia no secundário e o Troika do senhor Oliveira durante a licenciatura tinham os seus odores muito característicos mas foram palco de muitos debates políticos, futebolísticos e filosofias tão inocentes como incongruentes.
ResponderEliminarSuponho que a maioria de nós já tivemos tascas ou cafés onde debatemos fervorosamente as nossas ideias, MOYLITO!
ResponderEliminarE, como bem dizes, normalmente tão inocentes como incongruentes... :D
Também tinha um café desses!
ResponderEliminarNão tenho vindo aos blogs, não ando muito bem. Podes dizer à tua amiga que a partir de agora está à venda na Bertrand. Não deve haver nenhum exemplar em Faro mas é só encomendar.
Beijos
Bem, eu não tinha um café particular. Mas quando comecei a sair à noite ia sempre para o bar 'O Corsário',em Sesimbra, que, muitos anos depois, continua a ser o mesmo barzinho meio kitsh onde me sinto bem.
ResponderEliminarBeijocas
PS:adorei a imagem do café saturnino :)
Bem, pelo que contas, abençoada ASAE!
ResponderEliminarBeijocas!
pelo que li posso suspeitar que os empregados em renovados mais regularmente que os produtos à venda...
ResponderEliminarTodos nós temos coisas simples do dia a dia que nos deixaram saudades.....sejam elas boas ou não....vista assim a esta distância de anos...hahah
ResponderEliminarBeijokitas
Uma verdadeira bodega!
ResponderEliminarCom um serviço assim tão... digamos, personalizado, espanta-me que tenha tido tanta clientela para além das baratas!
ResponderEliminarApesar de tudo a tua "pastelaria fina" tinha o charme da diferença.
ResponderEliminarFicam-te as boas recordações e esquece a fatia de queijo a fugir do pão.
Quanto aos patrões desse género, são uma classe em extinção.
Bj Tété
LINDO!!!
ResponderEliminarTambém quero...
Se ainda existisse eu tinha que saber onde era.
ResponderEliminarAssim tinha a certeza que não pararia por lá ! :)))
.
E fez muito bem em reeditar o post. Agradeço a participação e farei o link amanhã, porque hoje ainda há um post sobre o desafio das cidades para publicar.
ResponderEliminarGostei do texto mas, pela descrição que faz, não me admira que tenha fechado...
Todos temos algum café/poiso de antigamente, não é, TERESA DURÃES? :)
ResponderEliminarQuanto ao recado, já transmiti!
Beijocas e as melhoras!
É esse kitsch que é giro, SAFIRITA, porque cafés e bares há muitos. Alguém terá grandes recordações da fauna fina da Versalhes ou afins?! Foi-se lá beber um chá com a vovó, quando muito... :D
Beijocas!
ps - também achei piada à imagem, embora com o texto só tenha mesmo a parecença de outra galáxia...
Uma parente antiga da ASAE, RAFEIRITO, mas fechou porque os patrões já estavam na idade da reforma ou por aí... :))
Beijocas!
Eheheh, VÍCIO, tinham uma vitrine com chocolates, que os clientes habituais nunca pediam. Só um incauto pedia aquilo, que alguns empregados marchavam mais depressa... =))
ResponderEliminarComo deves calcular, PARISIENSE, não é do "entulho" em si que tenho saudades (muito menos da pastelaria), mas do convívio, encontros e até desencontros que aconteceram no local... :D
Beijokitas!
Naquela bodega a cerveja nunca faltava, REIZÃO! (aqui para nós, era assim das poucas coisas que se podiam consumir com confiança...) :e
Já vi ratos e baratas em cafés de Lisboa, PAULOFSKI, mas uma das poucas vantagens lá do estaminé é que passavam a vida a limpar as mesas, os vidros da montra, as vitrinas do balcão, nunca lá vi nenhum/a. Como cliente assídua que era... :D
ResponderEliminarClaro que ficaram as boas recordações, KIM, principalmente das pessoas com quem mantive convívio durante esses anos. Continuo a dar-me com algumas, até! Tudo o resto é pormenor de somenos importância... :)
Beijoca!
Eheheh, GATINHA, já não existe! E mesmo que existisse, provavelmente já não teria o mesmo "encanto"... :z
Lembras-te do cometa Halley, RUI? Pois, naquela altura andávamos todos aluados, tudo o resto era pormenor. Hoje já não teria a mesma piada... :))
ResponderEliminarAinda bem que dá para o desafio, CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA, que não tem comparação com esses grandes e maravilhosos cafés do mundo... :D
Mas fechou porque os patrões já estavam "entradotes", muito antes da verdadeira ASAE andar por aí a fechar cafés por "dá cá aquela palha"!
Que delícia de "entulho"...aqui costumávamos frequentar a cantina da faculdade ou então um local mais próximo do centro da cidade que chamávamos de "sujinho".Hoje não teria a mesma graça, nem nós o mesmo estômago :o)
ResponderEliminarNunca tive assim um café como o teu! Não tive um café certo. Normalmente íamos para a praia ou ficávamos nos bancos de jardim da avenida. Mas na Universidade tinha por hábito frequentar um em Faro. Gostava especialmente daquele, pois tinha um ambiente bastante acolhedor. Era o nosso "velinhas", por ter velas em todas as mesas! Perdia a hora quando ia até lá e depois no dia seguinte é que eram elas para ir trabalhar! lol
ResponderEliminarClaro que não teria a mesma graça, TURMALINA, nem a mesma vontade de frequentar, mas o importante não era a comida ou o local: era mesmo o vai-e-vem de pessoal! :))
ResponderEliminarO "sujinho" parece-me um bom tema de seguimento para os "Cafés da nossa vida", se me permites a sugestão... ;)
Ah, TONS DE AZUL, para além da confraternização no café (vulgo, "entulho"), uma das razões porque lá ia era para estudar. Em casa, com a caminha ali tão perto, ui... =))