sexta-feira, 7 de março de 2008

SUBIR A CALÇADA


Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.

(excerto do poema "Calçada de Carriche" de António Gedeão)

Ainda há muita calçada pela frente, para que a vida de nenhuma mulher se assemelhe a esta descrição. Está nas mãos de todos nós...

Bom fim de semana!


17 comentários:

  1. fabuloso!

    obrigado por essas palavras. mas eu diria que, o que está nas nossas mãos é a vida de uma mulher nunca ser assim.

    bom fim-de-semana.

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  2. As coisas já foram bem piores, Teté!

    Bom fim de semana.

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  3. A calçada já foi muito mais comprida teté. E só não é mais curta porque a mulher continua a sentir e a viver o preconceito o tabu o medo da emancipação.

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  4. E vem mesmo a calhar na véspera do Dia da Mulher...mas há tanta realidade assim, e muito pior...o preconceito continua a existir e muitas vezes calado e bem calado, disfarçado no seio da vergonha social de se deixar acontecer...e ir acontecendo pela calada!

    Gosto muito de Gedeão. Quase que idolatro. Muito bem escolhido. É daqueles autores que nunca precisaram de me dizer que tinha de estudar e analisar...descobri-o sozinha, e de vez em quando a lágrima não é de preta mas sim de susana, ao sabor das suas palavras!

    A concentração de ontem foi mais uma ligeira pressão e antevisão do que poderá ser amanhã...imagina só a minha agenda "social" para amanhã: de manhã ir tirar um dente de siso que está a querer começar a nascer e a fazer das suas e de tarde a ver se estou boa para a manifestação...a ver vamos!

    P.S. Andam muitas almas gémeas por aí do Peixoto, então!! Quem gosta de jogar matrecos...fale comigo! eheheheheheh...
    ;))
    Beijinhos bem grandes amiga.

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  5. FERNANDO PESSOA, este poema é realmente fabuloso!

    E nunca deveria ser assim, a vida de qualquer mulher, mas, infelizmente para muitas, ainda é...

    Para não falar daquelas que não sobem calçadas, mas que têm de usar "burkas", ou lá como aquela indumentária se chama.

    Sinto-me muitíssimo privilegiada! :)

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  6. se se pode chamar vida a algo deste tipo...
    um bom retrato do passar do tempo quase mecanizado de muita gente!

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  7. Claro que foram, CAPITÃO!
    Mas já não vivemos na Idade da Pedra, não é? ;)

    VIOLETO, preconceito, tabu e medo, concordo! Mas não me parece que seja da emancipação em si, mas de ficar fora do baralho e de não ter homem ao lado... Enfim, da exclusão (genericamente falando)!

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  8. Fabuloso sim, enormemente fabuloso, certo tal e qual o que muita smulheres deixam que façam de suas vidas.... este home o Gedeão...tem cá uma queda pás palavras... beijinho, adorei.

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  9. Sempre actuais...estas palavras de Antonio Gedeão.....
    lamentavelmente......
    E infelizmente somos nós as mulheres que muitas vezes deixamos que assim seja...pouco importa as razões e cada uma tem as suas....e a primeira será uma questão de educação!!!!!!

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  10. Um excelente fim de semana, e

    anda amiga, amiga, sobe que sobe, sobe a calçada...

    (gosto tanto deste poema)

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  11. nao sei o que diga a um poema... nao sou fã...

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  12. Pois é verdade, SU, mas quase nem se dá por nada, que as pessoas tentam disfarçar...

    Também gosto muito de Gedeão, mas por acaso até foi uma professora de Português do liceu que me deu a conhecer este grande poeta e este poema, especificamente. É o que dá ter bons professores: a gente não esquece o que eles nos ensinam... :)))

    Sim, esse programa está sobejamente preenchido e não é assim lá muito agradável! Que corra tudo bem, amiga!

    Quanto aos matrecos, costumava dizer que tenho o curso superior de matraquilhos, uma vez que na Faculdade jogava todos os dias... Agora, claro, estou um bocado destreinada (mas conseguia ganhar ao meu marido e ao meu filho juntos, eh, eh, eh)

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  13. Quase mecanizado, VÍCIO? Não estou a ver onde viste o "quase"... ;)

    É, LAURINHA, lembraste do Obélix que caiu dentro do caldeirão da poção mágica em bebé? Ao Gedeão parece que lhe aconteceu a mesma coisa, só que em vez da poção, estava cheio de palavras, também elas mágicas... Jinhos, nina!

    Ora nem mais, PARISIENSE! E a educação é desde pequenino... Tenho malta da minha geração, que os pais estavam fora de casa a trabalhar e às filhas davam-lhes as tarefas caseiras de fazer o almoço delas e prós manos, arrumar a cozinha, fazer a cama delas e dos manos, etc, e tal. Os ninos (nem falaria se fossem pequenos, mas já tinham 18 ou 20 anos) eram um lordes... ;)

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  14. Ná, INÊS, não vou subir calçada nenhuma... Já somos duas a gostar do poema :))) Excelente fds para ti também!

    Ah, FAUSTO, mas se falasse de ondas talvez marchasse... :)

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  15. Ora, Teté, não exagere! Estas coisas ainda acontecem, é certo, especialmente em nações muito pobres, ou, com culturas muito diversas em referência a ocidental. Neste caso, nosso julgamento é irrelevante, e só o correr do tempo tornará as coisas mais justas, pelo menos aos nossos olhos ocidentais.
    Beijos!

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  16. OLIVER, o poema não é meu (com muita pena minha, diga-se de passagem) e já é antiguinho. Daí a achar que está obsoleto, no mundo ocidental, é uma passada muito larga... Nem acho que seja "privilégio" só de nações pobres e no meio dos pobres, tudo muito escamoteado pela vergonha de denunciar a situação...

    Mas claro, é só um ponto de vista!
    Jinhos!

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  17. Falta de ego ;)

    Com amor próprio todas as barreiras são transponíveis :D

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)