sexta-feira, 29 de julho de 2016

AS GÉMEAS DO GELO

E agora, aqueles que têm mais ou menos uma ideia das leituras que costumo apreciar, perguntam-me com algum espanto: mas porque é que vais escrevinhar sobre este livro, se o detestaste, com tantos livros empolgantes que leste nos últimos tempos (esta é só para aqueles que têm bola de cristal e usam turbante na cabeça, claro!)?

A resposta é simples: foi combinado num grupo de leitura do facebook os participantes lerem e darem a sua opinião. Hoje, às 11 da noite, hora à qual não sei se poderei estar em frente ao computador - daí ficar aqui com alguma antecedência, "transfiro" para o FB assim que puder. Dito isto, aviso desde já todos os eventuais interessados nesta leitura que este post contém SPOILERS, portanto é para parar de ler já!

Se há coisa que acho piada nos ingleses é aquela mania de que castelo, palácio ou mansão que se preze tem por ali um fantasma a cirandar. Mas se tem piada no reino da lenda ou de histórias contadas junto à lareira em noites de inverno, já não tem tanta quando para dar um final a um livro um bocado esquisitóide se tenta impingir o fantasma. Por mim, a credibilidade vai logo pelo cano!

Gémeas idênticas, Lydia e Kirstie têm 6 anos quando Lydia morre acidentalmente ao cair de uma varanda. Após a tragédia, Sarah e Angus Moorcroft, os infelizes pais das meninas, resolvem abandonar Londres e ir viver para o farol de uma ilha escocesa desabitada, que herdaram de uma avó, com Kirstie. E aí, pouco depois de se instalarem na casa em ruínas, a criança alega que os pais se enganaram, quem morreu foi Kirstie e o nome dela é Lydia. O que não lhe granjeia grande popularidade na nova escola, as outras crianças têm medo e fogem dela, excluem-na completamente das suas brincadeiras - isto quando não a perseguem ou acuam. 

Enquanto a confusão da identidade da miúda (habituada a fazer parte de uma dupla) e o desgosto devastador dos pais soa a possível e até verosímil, o diálogo quase inexistente do casal e mesmo assim quase sempre recheado de mentiras começa a pesar ao longo das 314 páginas. Latente está também a questão da culpa no acidente. Sem se entender porquê. Angus bebe demais, Sarah é completamente desequilibrada, com tantas dúvidas e angústias - chega a crer que o marido é pedófilo, só porque a filha lhe diz que ele beijava a irmã com frequência. Mais adiante, lá para o final, descobre-se que ela teve uma grave depressão, que não se lembra de nada do acidente. Porque em vez de estar a tomar conta das filhas, estava enrolada com um fulano num quarto da casa, com a porta fechada. E as miúdas, curiosas com a novidade, resolveram trepar pela varanda e espreitar pela janela do quarto, quando uma se desequilibrou e caiu - e a outra ficou com o remorso de não ter tido força para a segurar...

Pronto, dadas estas explicações, que final dar a uma mãe "desnaturada" destas? A morte, evidentemente! E toca de pôr o cãozinho a fugir numa noite de tempestade, em que mãe e filha estão convenientemente sozinhas na ilha. Aterrorizadas, trocam confissões e acabam por abandonar a casa do farol rumo à segurança do continente, através de um lamaçal que lhes permite a passagem na maré baixa. Angus, preocupado com elas, apesar da enorme bebedeira, está a fazer o percurso em sentido inverso e parece-lhe ver  uns vultos. Quando chega a casa só encontra Kirstie, encolhida a um canto. Então quem saiu de casa, de mão dada com Sarah, na noite da tempestade? A única interpretação possível é Lydia, a filha que morreu. Ou o fantasma dela, portanto. O corpo da mãe é encontrado no epílogo. "Milagre" é o cão ter escapado ileso... Tenham dó!

Nunca tinha lido nada de S. K. Tremayne ou de Tom Knox, ambos pseudónimos do escritor e jornalista britânico Sean Thomas. Embora entenda que haja quem goste do género de terror, não creio que este livro cumpra essa função - é demasiado soft para aterrorizar alguém. A escrita é acessível e até convida a ler, mas torna-se muito repetitivo e a "reviravolta" final é bastante incongruente. E meio a dar para o moralista, também.

Citações:

"E não há nenhuma razão para que a Lydia não fique em segurança na ilha, desde que não se perca em deambulações. É uma ilha. Ela tem sete anos e pode ficar sozinha, sem o menor risco, em casa. Não temos varandas."

"Ouço as ratazanas na arrecadação. Porque é que o 'Beany' não as mata? Este cão é patético. Taciturno, deprimido, amedrontado."

"Não é tanto a minha própria morte que é intolerável, mas sim a morte daqueles que me rodeiam. Porque os amo. E parte de mim morre com eles. Portanto, todo o amor, se quiserem, é uma forma de suicídio."


12 comentários:

  1. Vade retro!... O livro, evidentemente :)


    Beijufas e bom final de semana

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  2. Não gosto de livros de terror. Mesmo “soft”, passo… : )

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  3. Nunca tinha lido nada de S. K. Tremayne ou de Tom Knox, mas também não sou aficionada de livros de terror como as minhas filhas: Lulu e Vannie.

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  4. Nunca li (em vez de "tinha lido") nenhum romance deste autor, mas depois de ler os SPOILERS é que cheguei à conclusão que é um péssimo livro de terror. Embora eu não goste deste tipo de leitura, há romances de terror com qualidade.

    Bom fim de semana sem qualquer espécie de terror.

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  5. O tema não me seduz nunca o escolheria independentemente de quem o escrevesse.
    Bom fim de semana, beijinhos

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  6. "...todo o amor, se quiserem, é uma forma de suicídio."

    Bolas! Credo!
    é mesmo um livro de terror!

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  7. Não fiquei convencida..terror , mesmo soft, não é a minha praia, mas gabo-te a paciência e a brilhante análise que fazes do livro.

    Bom fim de semana

    Beijocas

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  8. Hoje passo só para deixar o meu beijinho. Desculpa Teté.

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  9. Tetéamiga

    Estou ATERRORIZADO com o livro que leste e que não vou ler. Odeio os livros (?????) de terror. Por isso, esta noite vou dormir descalço e vou já tomar o meu chá de camomila (dois pacotinhos) Porra! Se tivesse tido o tsunami de ler "As Boémi... oops, Gémeas do Gelo" ia já para o forno crematório, onde talvez pudesse aquecer. Brrrrrrrrrr!!!

    Qjs do Leãozão

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  10. Pelos vistos, não sou a única a achar pouca piada aos livros de terror. E maus então,são do piorio...

    Dito isto as citações demonstram bastante a insensatez do escritor: uma criança de 7 anos está em segurança sozinha numa ilha abandonada? E o amor como forma de suicídio? Não há pachorra para frases idiotas!

    Beijinhos a todos!

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  11. Mais neve/gelo!? :D

    A tua capacidade de leitura é notável!... e gabo-te a paciência!
    Eu sei que compromissos são compromissos... e se ficaste de dar uma opinião, obviamente que o tinhas de ler primeiro.

    Conseguiste com este post (e consegues o mesmo com outros posts que contenham crítica literária ou cinéfila) algo notável: demonstrar-nos com a tua lucidez e espírito de síntese quando um livro ou um filme valem ou não a pena! Transformaste-te, se calhar sem saber, numa "especialista"... e de respeito!

    Beijinhos sem medo
    (^^)

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    1. Não posso apanhar muito Sol, AFRODITE, de modo que enquanto a "minha malta" está na praia vou aproveitando para ler na esplanada ou junto à piscina, AFRODITE... :)))

      Obrigada e beijocas!

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)