quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

OS PARAÍSOS ARTIFICIAIS

A primeira vez que li este poema não o entendi, talvez por ser muito nova na época. Recentemente, voltei a lê-lo e, de repente, fazia todo o sentido:
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OS PARAÍSOS ARTIFICIAIS
Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
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Na minha terra, não há árvores nem flores.
As flores, tão escassas, dos jardins, mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.
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Os cânticos das aves - não há cânticos,
mas só canários de 3º andar e papagaios de 5º.
E a música do vento é frio nos pardieiros.
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Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
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A minha terra não é inefável.
A vida da minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
Jorge de Sena
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O trânsito, as buzinas, as sirenes, os comboios, os aviões, as obras infindáveis nos prédios ou nas ruas, as portas a bater, as vozes longínquas e inaudíveis, o caminhar apressado da gente não dá azo a um pouco de calma e ponderação. Dinâmicos, activos e enérgicos serão quase todos, mas não se lembram de parar para pensar no rumo a seguir... para um destino mais que certo! É isso que faz de Lisboa uma cidade inefável, infelizmente com bastantes pardieiros!
Aqui fica um clip um pouco mais animador (simbólico, é certo!) sobre uma forma de mudar...


23 comentários:

  1. O gajo mora no Mónaco e ainda se queixa!?

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  2. O gajo mora uns palmos abaixo do chão, que morreu em 1978... :)

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  3. esse poema assenta que nem uma luva à minha terra... infelizmente são palavras que assentam em muitas terras do nosso portugal.

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  4. Olá Tété!

    "Na minha terra, não há árvores nem flores.
    As flores, tão escassas, dos jardins, mudam ao mês,
    e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores..." isto é actual e horrível, mas verdadeiro...
    Será o preço que temos que pagar, em nome da dita civilização moderna???

    Beijos

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  5. Infelizmente, RSM, creio que tens razão! Mas eu só posso falar do que conheço melhor, no caso, em Lisboa!

    MJF, mas também não é preciso exagerar, não é verdade? Modernidade está bem, mas com conta, peso e medida! Jinhos!

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  6. O homem só parará quando esgotar irremediavelmente os recursos do planeta. A mentalidade, a sociedade e a qualidade que nos oferecem para a vida não nos permite pensar no amanha, apenas no hoje... e um dia, será mesmo tarde demais...

    Como exemplo, veja-se o caso da ilha da pascoa, cujos habitantes foram morrendo um a um por terem explorado até ao limite os recursos da ilha. Uma ilha outrora cheia de árvores, com solos agricolas riquissimos! Como tinham aquela pancada de fazer aquelas estátuas malucas aos deuses malucos deles, foram gastando as árvores...deixando de haver árvores, deixou de haver raizes que "adubassem" e "segurassem a terra"... o mar mais facilmente a invadiu, o sol mais facilmente a secou, a terra mais facilmente foi arrastada pelo mar...e um dia o solo deixou de produzir alimento. E era uma vez um povo inteiro.
    Os incas são outro exemplo de um povo que explorou mal os recursos e que não se adaptou a novas circunstancias. Temos a ideia um pouco erronea de que foram os espanhois que acabaram com a civilizalção inca, mas tal não é verdade; quando os espanhois chegaram, já a civilização inca e azteca estava em declinio. Prova é que machu pichu por ex só foi descoberta nos nossos tempos, portanto, espanhol algum alguma vez lá meteu os pés (pelo menos algum q tenha vivido para contar), pelo que eles tinham onde se refugiar. Acontece que eram povos muito violentos que andavam sempre à porrada...os espanhois não eram os unicos sanguinarios...

    Enfim, desviei-me um niquinho, mas é a prova de como o desenvolvimento insustentavel e as mentalidades egocentricas podem destruir civilizações inteiras.

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  7. nao me digas que o gajo faleceu para nao pagar impostos... sabe muito!

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  8. Pois ainda bem que assim foi...
    Os poetas dizem umas coisas... por vezes para dizer outras.
    Se tomamos à letra... lá se vai...
    Cumprimentos

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  9. Pois, VANADIS, mas quando esgotar os recursos do planeta, o homem também tem os dias contados... :(
    Já sabes que aqui estás à vontade para falar do que te apetecer, não me parece que te tenhas desviado do tema, só falei em Lisboa porque é o local que conheço mais de perto, mas estou certa que pelo país e pelo mundo fora haverá muitos outros exemplos...
    Com (maus) exemplos já dados por outras civilizações, como tu referes!

    Não sei se terá sido essa a razão, mas suspeito que não, FAUSTO. Se foi, é óbvio que atingiu o objectivo! :)

    VIEIRA CALADO, pois, a primeira vez que o li estava no 7º ano do liceu (antigo, que agora corresponde ao 11º) e a profª de português estava fascinada com o poema e eu não conseguia achar piada nenhuma. Um poema a falar de rendas elevadas? Que graça é que tinha? Só hoje entendo o seu significado... Cumprimentos para ti também!

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  10. Não vejo népia.
    Mas saúdo a lembrança de Jorge de Sena!

    Bom fim de semana, Teté!

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  11. Está extraordinariamente, extrapoladamente fabulástico! :)
    No meu lugar existe o cantar dos pássaros, o sossego da manhã e o burburinho do mar.

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  12. Bom fim de semana para ti também, CAPITÃO!

    TONS DE AZUL, bom, aqui os pássaros ainda não se calaram, só que o seu cantar é abafado por uma série de outros ruídos... Quanto ao resto, ná, não existe mesmo aqui por estas bandas!

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  13. Gostei muito do video!!
    Beijos e um bom fim de semana :)

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  14. Jinhos e bom fim de semana para ti também, CONCHITA!

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  15. poema que deve levar a refectir, todos fazemos a cidade e todos devemos fazer muda-la um bocadinho...um bom fim de semana , gostei imenso de passar por aqui

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  16. Bem-vinda, CALMINHA!

    Ora nem mais! Se todos nos esforçarmos, conseguimos fazer cidades dignas, em vez de selvas de betão...

    Bom fim de semana para ti também!

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  17. Amanhã não há Bussaco!
    É o que me ocorre dizer sobre a temática.
    Estamos a falar de refrigerantes, não é?

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  18. Poetas e trovadores
    Precisam-se neste momento
    O mundo anda num lamento
    Precisamos de ouvir
    Cantar canções de amor...

    Que façam gemer as guitarras
    E levantem as suas vozes
    Contra as guerras que não acabam
    E os ódios que aumentam
    E a todos levam à loucura...

    Poetas e trovadores
    Dedilhai vossas guitarras
    Cantai o apelo ao amor
    Cantai para que ele venha
    Acabar com o desamor...

    Porque o ódio cresce por todos os lados
    E viver a odiar é um pecado
    Que será pago
    Por toda a humanidade...

    Poetas e trovadores
    Vinde todos cantar a vossa canção,
    Apelai e cantai a todos os amores
    Para que se acabem as nossas dores!...

    Ah, os poetas...mas ai vai uma da sminha spoesias que está no livro que vais air em breve...
    beijinhos e poetas escrevem e muitas vezes dizem uma coisa e querem dizer outra..é mesmo... jinhos a ti,

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  19. Refrigerantes, REI?
    Só se for para os olhitos... :)

    Ai a nina LAURINHA e os seus poemas-canção... :)
    E sim, nem sempre se deve tomar à letra cada palavra, mas mais o significado do que realmente se pretende dizer ou insinuar...
    Jinhos, linda!

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  20. Olha que Almada também não anda muito longe dessa "turbulência" toda...

    Belo poema...faz todo o sentido sim.

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  21. Pois, SU, nem Lisboa, nem Almada, nem metade das grandes cidades portuguesas...

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  22. Após a leitura do poema, é inevitável a vontade de ir embora para Pasárgada. E nem precisa ser amigo do rei.
    Uma ótima escolha, Teté. Especialmente nas cidades que transformaram-se em verdadeiras selvas de concreto.
    Beijos!

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  23. OLIVER PICKWICK, se fosse só o betão (concreto) a mais... O problema é que as pessoas seguem a onda, viram autómatos, robots ou que quer que lhes queiras chamar, vivem a vida à pressa... quase sem tempo para a viver e saborear, nos tempos livres, nos bons momentos!

    Jocas!

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)