Este tinha sido prometido, não foi esquecido, apenas adiado:
EÇA AGORA - Os Herdeiros de Os Maias
Alice Vieira, João Aguiar, José Fanha, José Jorge Letria, Luisa Beltrão, Mário Zambujal, Rosa Lobato Faria
Oficina do Livro (2007)
Tal como o título indica, é Eça de Queirós a catorze mãos (sim, porque nos teclados usam-se as duas!), a reviver “Os Maias” nos tempos que correm. Uma crítica incisiva, mordaz e hilariante!
Mais do que as minhas palavras, deixo aqui sete citações - uma por cada autor - que podem até nem ser as melhores, sem ordem sequencial e sem desvendar o final...
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“Isto não é um livro que eu esteja a escrever. É uma vida que eu estou a viver. São duas realidades muito diversas, e viver hoje em Portugal, entre louvores a Salazar e a ostentação dos novos-ricos, podes crer que não é coisa fácil.” JJL
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“Sempre se lembrava dela a andar pela casa toda, a resmungar, a dar ordens a que ninguém obedecia, a protestar, primeiro porque o trabalho era muito e se eles julgavam que ela tinha quatro braços; depois porque o trabalho era pouco e por que raio lá tinham metido a mulher-a-dias, ela dava conta do recado sozinha, aquilo era uma desfeita e ela já não estava em idade de aparar essas coisas, então que ficassem todos muito bem que ela ia à vida, casas onde trabalhar e por melhor salário era o que mais havia por aí.” AV
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“O caso é o seguinte: um amigo meu, homem de vastas posses, mas que entende manter o anonimato, por enquanto, lembrou-se de adquirir um título nobiliárquico. Isso vende-se? Talvez barão. Exacto, barão! Informe-se você do que houver disponível e não olhe ao preço. Uma coisa em bom. E o amigo Palma será devidamente recompensado, bem entendido.” MZ
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“Carlos riu muito, agradeceu, e reparou que os velhos chegavam mais cedo do que os novos. Porque gostam de observar tudo e porque aquele apetitezinho característico se anima à hora do jantar. Não lhe ocorreu que, em tempos idos, ensinavam as pessoas a serem pontuais.” RLF
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“Bem podiam pôr nos vossos gabinetes em letras garrafais para ler todos os dias: ‘Malta bem comida e bem fodida não se queixa.’ É uma máxima que vale mais que os vossos chavões gastos! O que é que vocês querem? Não lhes dão o mínimo dos mínimos, comem vocês tudo, o que é que querem? Que eles vos beijem os rabos?” LB
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“E Carlos, na mais negra das depressões, descurado o consultório, abandonados os doentes, partiu também, em fuga turística – para se atordoar, foi para Cancún, recusando os luxos que o dinheiro lhe podia facultar: viajou num voo charter, aceitou com indiferença que o avião ficasse empancado dois dias em Miami, enfrentou com indiferença ao chegar a Cancún, a saison dos furacões, que o bloqueou, com mais setecentos e cinquenta portugueses, na cave do hotel. Tudo lhe era indiferente. De Cancún, seguiu para Armação de Pêra. Queria, de facto, sofrer.” JA
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“- Ó Damásio, você tem de entender que a Trombeta é um jornal com pergaminhos. Nós temos princípios, estatuto editorial, tudo como deve ser! Se a notícia não é mesmo fidedigna, o preço é a dobrar...” JF
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Um livro para quem gosta de rir, sorrir e pensar!
Não me parece que seja necessário um grande esforço, para fazer Eça chegar aos nossos dias. A forma como ele descrevia os ambientes, as intrigas, o perfil de cada um dos personagens é intemporal, o que facilita muito as coisas. Fiquei com a pulga atrás da orelha, o que me vai fazer dar um saltinho à FNAC.
ResponderEliminarAquele abraço infernal!
quem sabe se me aparecer a vontade de ler...
ResponderEliminarforam 7 pessoas a escrever ou havia manetas?
Uma boa sugestão para quando eu acabar de ler o livro da Carolina Salgado...
ResponderEliminareça é um grande escritor...precisava de ler isso para acreditar que todos possam estar à altura de perceber como se repete eça de queirós. o que é muito difícil...pelo que sei é uma reinvenção de diálogos e situações de vários livros...
ResponderEliminarBelzebu, por incrível que pareça, os preconceitos de finais do século XIX não são tão diferentes dos actuais, que não seja relativamente fácil fazer uma equiparação! Já fazer rir ou sorrir, é mais difícil... Abraço!
ResponderEliminarVício, o maneta era o outro, do Fugitivo...
Livros são sempre sabores a serem descobertos...
ResponderEliminarSe chegar/tiver por cá,leio sim.
Obrigada pela partilha.
Beijo!
Capitão, aqui o filhote também teve pachorra para ler isso. Nós, nem por isso! :)
ResponderEliminarFernando Pessoa, não disse que escreviam todos como o Eça. O livro baseia-se nos Maias, a história é decalcada, as nuances é que são de épocas diferentes... E pronto, neste prevalece o sentido de humor!
Os Maias estão para mim como o alho está para os vampiros.
ResponderEliminarKátia, são bons sabores para alguns... Mas para quem gosta é divertido de certeza! :)
ResponderEliminarJinhos!
Fausto, escusavas de explicar, que já sabia! :)))
O Eça é de um tempo em que a escrita dele parece saída de um livro dos dias de hoje, ou antes; o Eça sabia o que vinha lá e era um visionário..se era..costumo ler o que ele escreve também do outro lado..ora procura nos livros de Fernando de Lacerda o médium português, já falecido, e que foi chefe da policia em Lisboa...há 4 volumes e podes ler as conversas dele ali...sob mediunidade..podes rir-te, mas se tiveres aceso lê..o homem tem cá um jeitão para escrever..tinha e tem ainda...
ResponderEliminarOs Maias têm um grave problema, que é a imposição aos jovens de o lerem. Ao fazer parte do curriculum de Português B no secundário, faz com que se crie uma adversão ao livro. Acho estúpido que se imponha leitura de um livro, em vez de se deixar que se escolha o livro a ler e se apresente um trabalho sobre essa leitura.
ResponderEliminarAi, Laurinha, se a minha vovó te ouvisse... estava aqui a benzer-se!!! Ela tinha pavor de sessões espíritas! Eu não acredito muito - até pelo número de charlatães que andam por aí a enganar terceiros... mas já é crença antiga! Jinhos, nina!
ResponderEliminarCrest, também acho estúpida essa imposição, na verdade os putos deviam poder escolher uma leitura que lhes fosse aprazível, de uma lista de livros aconselhados, digamos. Mas suponho que alguns andam tão distantes da leitura, que nem saberiam o que escolher...
ResponderEliminarDe qualquer forma tive os Maias como leitura obrigatória (e não só, que na época eram cerca de 20 e tal livros, nos 3 anos que antecedem a entrada na Faculdade), de todos deve ter sido o que mais gostei... Crítica de costumes e preconceitos vários, a par de um romance tão elaborado, que não devia ser muito comum na época... O Eça gostava de dar a volta aos assuntos! E chamar os hipócritas pelos nomes...
Neste caso é só um exercício dos sete escritores - que considerei hilariante, como já disse - que decalcam a história e a transpõem para a actualidade. E claro que o perfil das personagens não pode ser idêntico ao das gentes do final do século XIX, mas ainda mantém algumas similaridades... :)))
Eu estava a brincar, Teté...
ResponderEliminarCapitão, também calculei que sim! :)))
ResponderEliminarehhh tété eu não ando em embusteiros nunca andei, leio e sonho e sinto-os ahhh eça é que é eça... a tua avó agora já não se benzia, já deve saber que é diferente do que pensamos... só do lado d elá é que sabemos como elas são... mas para mim, é verdade é sim..espera para chegares à minha idade e começares a ter curiosidade...
ResponderEliminarbeijinhos muitos muitos...
Infelizmente não sei ler
ResponderEliminarAh, Laurinha, não era minha intenção dizer-te no que deves ou não acreditar. Eu não alinho muito nisso, portanto estava só a dar a minha opinião... Jinhos, rapariga! ;)
ResponderEliminarBem-vindo, Porco barbudo!
Mas pelo menos sabes escrever, o que já não é mau! :P
LOOOL!! a conversa tá boa, sim senhora!
ResponderEliminarPor acaso já estive com esse livro na mão. Só que tenho tantos pra ler que resolvi esperar mais um pouco! Até porque ADORO o Eça!!!!
Tb tive os Maias como leitura obrigatória, e não me custou nada ler, ADOREI! E tb me granjeou uma nota catita na disciplina, heheheheh! ;-)
Tb tive de ler o Amor de Perdição, do Camilo, e, juro-te, ri-me tanto, mas tanto, mas tanto...tanto...!
O que me custou mesmo a ler, demais, foi as viagens na minha terra da almeida garret. ODIEI. Li numa noite, de directa (era o ultimo dia estipulado para ler o livro) e, abrenuncio, que sacrificio...não gostei nada daquilo...
Os maias não. Foi com eles que tomei contacto com a critica social e com a ironia. Adorei, e ainda li mais do eça, quase tudo (tirando a cidade e as serras, dado o trauma com as viagens na minha terra...). Li inclusive uma adaptação das Minas de Salomão feita pelo Eça, e está um espectaculo. Do tempo dele, é o único que gosto.
Concordo que a leitura não deveria ser imposta. Mas, tb vejo perfeitamente q os hábitos de leitura não estão em todos. A modos que é como dizes: uma lista de livros aconselhados e seria uma análise dessa obra escolhida. Tive uma disciplina na Universidade (Historia e Filosofia das Ciencias) que foi assim mesmo: tinhamos de escolher um livro de uma lista (o meu foi Ciencia, Curiosidade e Maldição) e no exame deveriamos fazer um resumo de acordo com os topicos dados no exame (claro que fiz o resumo em casa e o decorei...LOOOL).
Contudo, punha-se uma questão: não poderia ser feito um teste sobre essa obra, porque não seria o mesmo teste especifico para todos! E a coitada da profe (ou do profe) não podia estar a fazer um teste diferente para todos, baseado num livro diferente pra todos, né?...se uma turma tem 30 alunos e ela tiver, sei lá, 5 turmas...oh páh...não é lógico.
Se for para se fazer um trabalho, o pessoal copia das várias analises de livros que existem agora e não aprende nada...
Portanto, a melhor solução é impor uma leitura... assim a profe (eu digo a profe pq no tempo da leitura dos maias eu tinha uma, Lol) podia acompanhar a leitura e ajudar na análise. Cada um com o seu livro, é impossivel.
Outra solução seria uma votação para se escolher um livro de uma lista. Vá lá, um livro por turma (já é uma trabalhadeira, mas enfim).
Pois estás como eu, Vanadis! No outro dia estive a contar os livros que tenho para ler: são prái 20 ou 21. Tenho impressão que alguns vão ficar... à espera!
ResponderEliminarTambém li esses 3 na época, mas o que gostei menos foi o do Camilo. Aquilo parecia um Corin Tellado, mas cheio dos rococós da época, com meninas a morrer de amor e de tanto suspirar... Bah! Mas como tu dizes, eram esses que entravam para exame, para trabalhos votavam-se outros livros.
No propedêutico (antigo 12º ano) deram-nos uma lista enorme - não tinhamos aulas, então eles acharam que iam pôr a malta a ler. Claro que ninguém leu tudo, ou pelo menos foram poucos os que o fizeram! E com tanto livro bom do Eça, resolveram que o mais interessante era a "Correspondência"... Do que gostei mais foi da "Manhã Submersa", um livro algo tenebroso. Com o "Eurico o Presbítero", fiz batota, comprei um resumo, eh, eh, eh! Mas ainda era o "Malhadinhas", "O Barão e outros contos", "O Delfim", já não me lembro de todos!
Por outro lado, acho que para quem não gosta de ler, tanto lhe faz que seja o Eça, ou outro qualquer. Também não faz sentido que os autores obrigatórios sejam do século XIX, o que cativa menos ainda os putos para a leitura...