terça-feira, 29 de março de 2016

NOS CAMPOS DA FLANDRES

Neste fim de semana pascal deu na FOX Crime a mini-série "Convite para a morte" (2015), baseada num dos romances policiais mais espetaculares de Agatha Christie (e um dos meus favoritos). Como é óbvio, segui atentamente os 3 episódios, que foram exibidos pelas 9h30m da noite - fica a informação para quem quiser/puder ir espreitar. Depois calhou dar de caras com um documentário intitulado "Apocalipse da I Guerra Mundial", com bolinha vermelha e tudo, que não podia ser mais explícito sobre as atrocidades dessa guerra que ceifou inutilmente tantas vidas, há um século atrás.

Ora acontece que recentemente vários amigos bloguistas me enviaram mails para uma corrente de troca de poesias. Também acontece que não sou de correntes. Nem de (qualquer) poesia. Tenho até alguma aversão a auto-intitulados poetas que rimam luar com amar, julgando com isso ter escrito uma obra-prima. Que eventualmente poderá ser, se o versejador tiver menos de 8 anos de idade... Adiante! Portanto, foi sem qualquer remorso que não segui as correntes recebidas. Para provar que não sou assim tão insensível, nem tenho o coração totalmente empedernido, resolvi brindar-vos com um poema que me emocionou, quando via o documentário acima mencionado. Escrito pelo tenente coronel canadiano John McCrae, na Flandres, em 1915 - o então poeta e cirurgião viria a perecer em 1918, no surto de gripe espanhola que se propagou pelos exércitos que combatiam. De uma penada, também para satisfazer todos aqueles que precisam de mais poesia nas suas vidas...

NOS CAMPOS DA FLANDRES
Nos campos da Flandres
as papoilas estão florescendo entre as cruzes
que em fileiras e mais fileiras assinalam
nosso lugar; no céu as cotovias voam
e continuam a cantar heroicamente,
e mal se ouve o seu canto entre os tiros cá em baixo.

Somos os mortos... Ainda há poucos dias, vivos,
ah! nós amávamos, nós éramos amados;
sentíamos a aurora e víamos o poente
a rebrilhar, e agora eis-nos todos deitados
nos campos da Flandres.

Continuai a lutar contra o nosso inimigo;
nossa mão vacilante atira-vos o archote:
mantende-o no alto. Que, se a nossa fé trairdes,
nós, que morremos, não poderemos dormir,
ainda mesmo que floresçam as papoilas
nos campos da Flandres.

Tradução de ABGAR RENAULT

No original:
IN FLANDERS FIELDS
In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved, and were loved, and now we lie
In Flanders fields.

Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.

20 comentários:

  1. Tenho os episódios gravados, comecei a ver, adormeci o que me levou a crer que não será do meu gosto...mas como li todos os livros e vi todos os filmes porque normalmente gosto muito, guardei as gravações esperando que num dia qualquer me apeteça ver.
    Ás vezes não é a obra é o dia que não é o certo para o encontro :)))bjs

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    1. Tens razão, PAPOILA, há dias em que não estamos prái viradas, é esperar que passe... :)

      Beijocas

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  2. Também fiquei a conhecer por esse documentário e julgo que tinha postado no meu blog a 11-11 dum ano qualquer recente, adorei ver o documentário e aconselho o da IIGM que foi feito antes, uns 2 anos, mas não é pela poesia.
    Abraço
    Misha

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    1. O documentário é muito bom, independentemente da poesia, MISHA. Apesar de tudo há muito mais documentários sobre a II Guerra Mundial, pelo que muitas das histórias neles relatadas já não são exatamente uma surpresa. Agora em relação à I havia muita coisa que não sabia...

      Bem-vindo!

      Abraço

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    2. Sem dúvida, está muito mais bem documentada a IIGM que a IGM por tudo (filmagens, o holocausto etc), mas o "World at War" foi dos que mais me marcou, a maeira como é narrado as descrições e o começo, aquela abertura que só vai ser descrita 20 episódios depois é muito bom mesmo.

      Obrigado

      Abraço

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  3. O que eu perdi!! Costumo ver a Fox , mas este programa passou-me.
    Gostei do poema é dos tais que não rima luar com amar rsrsrs

    Beijinhos Téte

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    1. Por acaso soube pelo facebook que ia dar, MANU, que ninguém consegue estar permanentemente informado de toda a programação...

      A bem dizer, rima mais no original...:)

      Beijinhos

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  4. Nesta coisa do comando que volta atrás na programação posso dizer que sou uma "info-excluída". Nunca tentei a função. Tenho que aprender. :)

    As papoilas vão sempre florescer, indiferentes à guerra e aos mortos mas, neste caso, são um bonito símbolo de um facto histórico triste.

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    1. Ah, aprendi a ver programas dos últimos dias, LUISA, porque há sempre milhentas coisas que me escapam e tenho interesse em pelo menos espreitar. Às vezes também apanho com cada banhada... ;)

      Eu gostei dessa simbologia das papoilas...

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  5. Bem haja por declará-lo. Já me sentia mal por quebrar todas as correntes. De poesia, de tudinho que existe, que isto de correntes é uma erva daninha que se faz favor. Invasoras correntes.

    O poema é muito bonito, sim. A natureza é implacável. Também vi um nico desse programa sobre a primeira guerra. De Agatha Christie li e vi "O convite para a morte". Mas não agora. Ainda que aproveite a onda para rever os episódios de que tenho menos memória:)

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    1. Como grande fã de Agatha Christie vejo quase tudo o que aparece na TV - até porque alguns não são assim muito fieis ao original, que normalmente é melhor. Gosto de ver as diferenças, BEA! :)

      Em relação às correntes, mesmo que bem intencionadas como esta, também tenho por hábito não seguir nenhuma - irritava-me sobretudo a ameaça que algo de mau nos aconteceria se a quebrássemos (que aqui não tinha). Crendices parvas em pleno século XXI? Para além da trabalheira que dava... ;)

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  6. As guerras também têm destas coisas boas que florescem na imaginação dos que sofrem porque estão na guerra e pelos sofrimentos a que assistem diariamente, comuns a todas as guerras.
    O poema já o conhecia. É, de algum modo, uma papoila nascendo num campo de morte.

    Abaixo as correntes! Abaixo os poetas fajudos. Pim!

    Beijokas acorrentadas a sorrisos.

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    1. Acho que conheço esse PIM de algum lado, KOK! :)

      É natural que várias pessoas conheçam o poema, já que não sou grande conhecedora da matéria...

      As guerras não têm nenhuma coisa boa - ou, melhor dizendo, o sofrimento escusado e inútil não augura nada de bom, nem em forma de verso...

      Beijokas soltas e em liberdade!

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  7. Eu dei seguimento a essa corrente.
    Uma vez sem exemplo.
    Beijocas

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    1. Bom, PEDRO, acontece que por aqui recebi 4 mails dessa mesma corrente... ;)

      Beijocas

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  8. Sem que pretenda ser tido alguma vez como poeta, (mas já tendo rimado luar com mar, amar ou jantar, em idade maior) mostro-te de seguida o que escrevi em finais de 2008 a propósito do que ouvi a eruditos intelectuais sobre guerras más e guerras boas (que eu nunca pensei que houvessem: guerras boas).

    Não vejo o sol nem a névoa
    Nem a chuva caindo na terra;
    Sinto a dor e sinto a mágoa,
    E sinto a raiva que o meu peito encerra.

    Não quero aqui ser um morto,
    Um infeliz ou um mendigo.
    Que nesta terra de escravos
    Qualquer um morre sem sentido.

    Não quero guerras nenhumas.
    Não quero as más nem as boas!
    Porque eu nunca, nunca Percebi
    A razão de matar pessoas!

    Com tantas catástrofes no mundo:
    Cheias, terramotos ou epidemias,
    São necessários mais métodos
    Para matar quem morre de fome?
    Ou quem não come por vários dias?

    E foi assim que surgiu este poema (poema???).
    Eu sei que não é por escrever uns versos que alguém é poeta. Porque:

    Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
    Do que os homens! Morder como quem beija!
    É ser mendigo e dar como quem seja
    Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

    É ter de mil desejos o esplendor
    E não saber sequer que se deseja!
    É ter cá dentro um astro que flameja,
    É ter garras e asas de condor!

    É ter fome, é ter sede de Infinito!
    Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
    É condensar o mundo num só grito!

    E é amar-te, assim, perdidamente…
    É seres alma e sangue e vida em mim
    E dizê-lo cantando a toda a gente!

    Beijokas versadas em sorrisos

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    1. Eheheh, mas eu estou muito longe de ser crítica de poesia, estava só a dar um exemplo, não quer dizer que não existam poemas emocionantes que usam essas rimas, KOK! É até mais a presunção do eu-sou-poeta que me irrita - mais do que a própria poesia!

      Quanto à Florbela, pois, até é capaz de ter usado essa rima, mas gosto de quase tudo o que ela escreveu. Contradições? Talvez não, que ela era uma grande poetisa... :)

      Beijokas em prosa!

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  9. Não conhecia o poema. Gostei

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Não conhecia o poema. Gostei.
    um beijinho

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)