quinta-feira, 27 de agosto de 2009

TUBARÃO 2000

Em quantos quiproquós se pode meter um homem? Em muitos, se ele se chamar Marcelino Bandeira Fagundes da Gama...

No seguimento de "Coca-Cola Killer", António Victorino D'Almeida oferece uma leitura completamente alucinante, sobre as diatribes de Marcelino - homem fascizóide, mesquinho e centrado no seu umbigo, pouco esperto por natureza - que ascende a cargos diplomáticos à conta de muita lambebotice aos ricos e poderosos, em troca de alguns "favores" (evidentemente!), que o levam a enveredar pelos sinuosos caminhos da política, da diplomacia, da religião, da música rock, do futebol e da pornografia. Dono de um palavreado empolado, raramente entende o significado das missões duvidosas que lhe atribuem, o que o leva a vivenciar situações bastante caricatas e bizarras. Na sua ambição desmedida de promoção social (e consequente dinheirama), sem discernimento suficiente para se olhar ao espelho, considera-se um "cidadão correcto e exemplarmente cumpridor dos seus deveres sociais e privados, carenciado de faltas ou pecadilhos dignos de confissão..." Na verdade, arrogância e presunção não lhe faltam, nomeadamente junto aos seus subordinados e gente do povo.

Mas as personagens abstrusas de "Tubarão 2000" não se limitam ao narrador/protagonista, multiplicam-se em catadupas: o professor Napolearte Bonapão (cujo pai era adepto de Napoleão Bonaparte, mas, infelizmente, o funcionário do Registo era meio surdo e não entendeu bem o nome), que gosta de pregar estalos em caras alheias - inclusivé na de Marcelino; o cineasta Lúcio Luz, que realiza longuíssimas metragens muito aclamadas em França, mas que ninguém entende, e ainda tem uns "ataques" de baba quando alguém o critica; Carvalhedas, um anão devasso num cargo importante, que se esmera numa vingança contra um arquitecto camarário, por não conseguir chegar aos botões de cima do elevador; uns criados paraguaios, recomendados pela nova-rica Ludovina Mocho, que são hábeis no uso das armas; e muitos, muitos mais...

488 páginas de puro gozo e 'non sense', mas que de alguma forma retratam caricaturalmente algumas pretensas "elites" da sociedade actual. Em suma: ADOREI!!!

CITAÇÕES:

"Obriguei-me a reagir ao estado de estupor, espetando a ponta de um canivete numa nádega, o que me levou a soltar enormes gritos de dor, não tanto pela ferida, muito superficial, mas sobretudo pelo efeito do álcool que achei conveniente espargir na região atingida, e que escorreu como um implacável caudal de lava incandescente para zonas tão recatadas como sensíveis!"

"[...] um posto como aquele que ocupava em Londres exigia um conhecimento minucioso de todos os diários e hebdomadários: horas por dia ocupado a ler as linhas e outras tantas a decifrar as entrelinhas, que são muito mais complexas, pois não têm nada escrito!... [...]"

"De Lisboa, com viagens e estadias pagas por várias entidades oficiais, veio uma animada comitiva de trinta e nove pessoas, mas só oito estiveram na projecção, devido a enxaquecas, telefonemas urgentes e confusões de fusos horários que retiveram as outras nos hotéis, fora as que se enganaram nas ruas e deram por si na plateia de outros espectáculos."

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PARABÉNS, MICHEL!

13 comentários:

  1. Bom dia nina tété, o que me ri por ler a palavra estupor logo na primeira folha do que diz o livro, ehhh, ainda continuo sem saber o que quer dizer, porque o meu tio se fosse um xico esperto, quando me interrogou e fomos interrompidos plo pote a escaldar água, devia ter acabado a pergunta e seguidamente, depois do pé atado, explicaria o que quer dizer essa palavra que ainda não sei...mas, em breve vou estar com ele e voltarei a perguntar-lhe, mas, dessa vez sem pote na lareira...

    Ah, esse personagem é o tipico politico que nada sabe de Leis e sentires e se mete ali apenas pelos tachos e não de melhorar o alimento do Povo...
    Beijinhos.

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  2. Acertaste em cheio, LAURINHA, que a personagem do livro é um ser completamente... idiota! (é o mínimo que se pode dizer) :))

    A do estupor calhou por acaso (ou não, que em tantas frases escolhi esta), aqui tem um sentido de "entorpecimentos das faculdades intelectuais", mas no mais popular adequa-se a estafermo, pessoa feia e de má índole e por aí fora. Ná, não perguntes ao teu tio, tantos anos depois, imagino que ficou chocado na época.

    E águas passadas, já se sabe... ;)

    Beijoca grande, nina!

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  3. talvez me tenhas convencido a ler um livro...

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  4. Andei com o coca cola killer nas mãos,mas não me decidi...obrigada por me tirares do impasse :D :z. E esse tubarão, também há-de marchar! :y

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  5. cheira a Sharpe :)

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  6. Logo vi porque levei o estalo naquele dia, ehhhh, minha querida tété, o que me rio..então o meu tio sentiu-se ofendido com o meu dito e vai daí.pimba, ma slevou com o pote dágua a ferver..ora nem mais..assim ficou a saber que não se estala a mão por um dá cá daquela palha.... ahhhh, mas em breve vou lembrar-lhe, acho que nos vamos reunir na casa da minha avó, só vive lá uma velha tia e vai ser giro, os meus primos são todos muito mais novos que eu, 20 anos..os mais velhos...e sou mais como parente afastada, uma tia...mas adoro-os a todos e vai ser giro e o tio há-de ouvir a narrativa ali mesmo...um xi pa ti. laura

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  7. Acho que vou seguir o teu conselho, teté.

    Beijinhos!

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  8. Perdi a conta a quantas vezes o autor escreve a palavra quiproquó, VÍCIO! Mais de 20, de certeza, que o tal de Marcelino só se mete em alhadas... :))

    O "Coca-Cola Killer" foi publicado inicialmente em 1982, VANI, este incide numa época mais recente - li que retratava a era cavaquista (no livro não diz isso em lado nenhum), mas acho que não difere muito dos restantes elencos ministeriais que entretanto nos governaram... :p
    Fartei-me de rir, mas, simultaneamente, também faz pensar em que raio de gente é esta que esteve e está no poleiro! :-w
    Bom, ainda bem que te tirei desse impasse! :y

    É diferente, mais político, mas também acho que é livro para ti, MOYLITO! :D

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  9. Se o teu tio tinha quase a tua idade, é natural que os filhotes dele tenham quase a idade dos teus, LAURINHA! :D
    Mas sim, não é nome que se chame a ninguém que se estima... ;)
    Beijocas, nina!

    Vais gostar, MATCHBOX32! (ou, pelo menos, parece-me um bocado o teu género...) :))
    Beijinhos!

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  10. Se outro já era alucinante este deve ser fora de série! Tenho mesmo de ler a sequela das aventuras do Marcelino! :)

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  11. Tenho quase a certeza que vais gostar, TONS DE AZUL! Fartei-me de rir! =))

    Mas, apesar da caricatura, dá que pensar como é possível sermos governados por esta espécie de crápulas... ;)

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  12. Teté, agradeço-te a indicação desse excelente livro que pelas citações penso ser de um estilo literário muito próximo do de um autor que tenho estado a ler estendido na minha toalha, ao sol e ao sabor das ondas, um tal de Jorge Pereira, conheces? Are you!?!

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  13. Jorge Pereira, PAULOFSKI?! Hummm... acho que já ouvi falar... =))

    A diferença parece-me ser a sequência (ou mais ou menos) dos vários quiproquós em que este protagonista se envolve, enquanto no outro se relatam "episódios" mais ou menos estanques... Topas?! :))

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Sorri! Estás a ser filmad@ e lid@ atentamente... :)