Fotografia de Ian Britton
Então ontem, após mais um banho de gel, resolvi regressar a pé para casa - sim, porque com as enormes chuvadas a carripana meteu água, não me apeteceu conduzir um lago ambulante. O percurso não é longo, nos tempos de liceu (até mais distante) fazia-o diariamente, conhecia cada estabelecimento comercial como a palma da minha mão. Como o Natal está a chegar, dar uma espreitadela às montras não me pareceu má ideia, inclusivamente antevendo os presentinhos da época.
A tarde fantástica de céu azul e temperatura amena convidava ao passeio, mas do dito comércio tradicional reconheci muito pouco: o bazar do senhor Jorge (será?) cheio de flores artificiais à porta e uma vitrina com tampos de sanita baratos - que rica prenda, hein?; uma sapataria que permanece incólume, com um aspecto limpo arejado; a de electrodomésticos idem; três mercearias que exibem maçãs vermelhas, dióspiros laranjas e uvas verdes (brancas onde?) em escaparates à porta, que prendem a atenção dos transeuntes pelo colorido e pelo ténue aroma - numa delas, o empregado cumprimentou-me; as farmácias modernizaram-se e as padarias têm um ar mais asseado do que antigamente.
Mas tudo o resto? As lojas que sobreviveram ao tempo parecem escuras, feias ou até sujas, com as montras atravancadas de objectos de gosto muito duvidoso, que nunca viram um espanador em cima. No pronto a vestir, por exemplo, impera uma moda do género que a minha mãe seria capaz de usar há 30 anos. As que desapareceram deram lugar a estabelecimentos de comes e bebes, algumas com pomposos nomes de pastelaria ou cervejaria, mas que tresandam às tascas antigas - cheiram a vinho e a fritos gordurentos quando se passa por perto, com poucas excepções! Evidentemente também não faltam lojas de chineses ou indianos, sendo que essas são indefinidas em relação ao ramo de comércio. A escapar à "regra" só uma de bicicletas, mesmo que a maioria dos residentes na zona já tenha pouca pedalada para essas andanças!
Fica sempre a dúvida de como o comércio tradicional quer competir com a enorme e poderosa concorrência se não faz nada por se modernizar. O que resta e agrada é aquela convivência rotineira, de pessoas que se conhecem e param para cumprimentar ou trocar algumas palavras, tratando-se pelos nomes próprios, como reminiscência de uma velha aldeia perdida no mapa do tempo...
BOM FIM DE SEMANA!
Claro que se o comercio tradicional se modernizasse um pouco ganhariam muito mais.
ResponderEliminarMas como acham que tradição significa estagnação.....eles vão ficando parados .... e depois reclamam.
Mas diga-se de passagem ( e para mim que detesto centros comerciais) o comercio tradicional deixa neste momento muito a desejar...nem o atendimento personalizado já é o que era.....
Bom fim de semana para ti também.
esqueceste-te da parte em que tiraste uma maçã e fugiste ou não o fizeste? :D
ResponderEliminarComentarei depois.
ResponderEliminarAgora passo apenas para te dizer que vai haver algo para ti no "ematejoca azul".
Passa por lá, por favor, mas SÓ amanhã!!!
Abraço e bom fim de semana.
Pego num exemplo aqui bem perto, a Rua de Cedofeita. É uma das mais tradicionais ruas comerciais do Porto onde se misturam lojas seculares, pequenos negócios de família, outras de exploração multinacional, pronto a vestir, pronto a comer, pronta a servir. A rua tem sempre movimento, os comerciantes mantêm as montras apelativas, há de tudo um pouco, só que está sujeita ao senhor tempo, os popós têm que ficar longe, à noite a calçada é quase deserta e porquê? Porque foram todos passear para o shope!
ResponderEliminarSaio a pedalar. Bom fim-de-semana.
Casos há em que até se pode conjugar o antigo com o moderno, mas isso implica uma obra de engenharia pensadora que muitos não alcançam.
ResponderEliminarMas olha que, às vezes, esse tipo de passeio que fizeste, desperta-nos para uma realidade que já não lembrávamos.
O Natal breve, vai tudo fazer esquecer.
beijinho
O comércio tradicional efectivamente não foi morto pelos centros comerciais. Decidiu fazer Hara-Kiri recusando modernizar-se e recorrer aos fundos de apoio que foram postos à sua disposição a juros baixíssimos. Sendo assim, têm a sorte que merecem.
ResponderEliminarNão há nenhuma que venda tordos fritinhos com alho, no pão? Bolas que já não há tascas como antigamente. Eu já nem as mesmas ruas, que calcorreava muitas vezes, quando o tempo estava bom e preferia guardar o dinheiro das passagens para berlindes, piões e outras consolas de jogos do meu tempo, como o arco e gancheta ou, ena ena, a bola de catchú, dizai, as ruas não são as mesmas, as lojas não são as mesmas, as pessoas não são as mesmas, os perigos não são os mesmo e nem tudo, obviamente para pior, mas que causa nostalgia, isso causa. Um beijinho.
ResponderEliminarTens razão, PARISIENSE! Até no atendimento alguns comerciantes ficaram estagnados e parece que estão a fazer um frete... mas muitos ainda fazem a diferença para os centros comerciais! :)
ResponderEliminarBeijokitas!
Ná, VÍCIO, felizmente o alheio não se me cola aos dedos... :D
ResponderEliminarJá passei por lá HOJE, EMATEJOCA, mas possivelmente só sairá mais tarde! Fico a aguardar... :-/
ResponderEliminarBom, o estacionamento por aqui também não será o melhor, PAULOFSKI, mas não estou a falar das ruas da Baixa, mas sim da Estrada de Benfica, que não é propriamente no centro de Lisboa. Mas que continua a ter imenso movimento, até porque é lá que passam e param a maioria dos autocarros da zona...
ResponderEliminarO Centro Comercial Colombo fica relativamente perto (bem como outros centros comerciais mais pequenos), mas acredito que muitos raramente lá punham os pés, se a oferta do comércio tradicional fosse mais atraente. ~s
Boas pedaladas para ti!
Em parte é mesmo esse o problema, KIM! Os comerciantes envelheceram, não sabem e nem querem fazer as coisas de outra maneira, com aquela sensação de que por estarem no local há muitos anos têm de ter a preferência dos clientes. Acontece que estes também morrem e mudam, nestas coisas não há lugares cativos... :)
ResponderEliminarE com o Natal até a diferença se nota mais nas montras, ainda há quem cole algodão nos vidros a dizer FELIZ NATAL com letras estranhas e tortas... :))
Beijinhos para ti!
Por acaso também acho que foi mesmo um hara-kiri, CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA! Mas, quer dizer, para melhorar o 'look' das montras bastava dar uma volta pelos centros comerciais, apanhar algumas ideias, e adaptar ao local - talvez não tão bem conseguido como os profissionais, mas já dava para cativar um pouco mais... :))
ResponderEliminarNada! Ficam à espera que já nem dê para manter a porta aberta... ~xf
Eheheh, com essa fizeste-me lembrar o meu cunhado, PREDATADO, que em adolescente também comia umas sandes de molho de carne assada, que eram mais baratas! :D
ResponderEliminarMas sim, também vinha a pé, porque o bilhete do eléctrico ou do autocarro dava para comprar um gelado ou chocolate, consoante as estações do ano e o que apetecesse mais... :z
A nostalgia existe, é certo, mas ao mesmo tempo uma ligeira irritação por esses comerciantes não terem sabido defender o seu negócio, limitando-se a lamuriar e a cruzar os braços... :n
Beijinhos!
alguns comerciantes agarraram-se a uma ideia cristalizada, embora muitas vezes errada, de que o comércio tradicional era mais próximo das pessoas. na realidade, os centros comerciais apostam mesmo nisso, com funcionários a oferecerem ajuda e a acompanharem os clientes - rai's partam os chatos - ao contrário de alguma antipatia de muitos donos destas lojas pequenas.
ResponderEliminarPois, MOYLITO, também tenho a vaga sensação que alguns não se souberam renovar, atirando as culpas aos centros comerciais e aos hipermercados em tom de lamúria, e como estão aborrecidos com a situação também atendem os clientes de cara feia... e ainda se admiram que eles não voltem! Pescadinha de rabo na boca... :[
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