Recentemente, a
Teresa focou a figura do
polícia-sinaleiro, que julgava já não existir pelas ruas de Lisboa, substituído por semáforos "inteligentes" que controlam o trânsito citadino. Afinal, parece que ainda existe pelo menos um no activo, como ela refere. Coincidência, é que já tinha começado a reunir várias fotografias da
net sobre diversas profissões que desapareceram ou estão em vias de extinção, tanto aqui como noutras grandes cidades do país. E na recolha dessas fotos o preto e branco prevaleceu, como marca de um passado nem sequer muito distante, mas onde ainda não imperava a cor.
Pouca gente possuía a sua própria máquina fotográfica, portanto em alguns locais públicos podiam encontrar-se
fotógrafos - junto a monumentos, em jardins, em praias, em feiras, junto ao Pai Natal na respectiva época, etc. Estes estavam longe de ser profissionais, limitavam-se a retratar "instantaneamente" momentos de lazer alheios - a pedido dos interessados. Especialmente no Verão e nas praias também circulavam
vendedores de gelados:
"Há fruta ou chocolate!";
"É o Rajá fresquinho!"; e, sem surpresa, traziam um bonequinho de plástico de brinde, dos desenhos animados que a criançada via na TV -
"Carrossel Mágico",
"Bugs Bunny" ou afins. Também soavam pregões de bolos e bolas de Berlim, quase todos eles silenciados há relativamente poucos anos por uma tal de ASAE. Suponho que do mesmo não se podem queixar as
varinas lisboetas, que em vez de carregarem as canastras de peixe à cabeça se mudaram para as praças há bué, onde a freguesia ainda pode ouvir
"há sardinha linda!" ou
"é carapau fresco!". Muito fresquinho por sinal, que por vezes até tem ar de congelado...
(não é queixa, antes congelado que estragado!)
Padeiros ainda existem, obviamente, mas destes que carregavam os enormes cestos de verga de porta em porta pela vizinhança, distribuindo papo-secos ou pães de forma ou quilo ao gosto e vontade da freguesia, já rareiam. Aqui onde vivo, ainda tive uma padeira que me colocava o pão fresco no saco pendurado na maçaneta exterior por volta das 5 da manhã - "mordomia" que agradeci encarecidamente, até ela se reformar! O mesmo se diga dos leiteiros, que também distribuíam leite de porta em porta para facilidade de todos, em bilhas ou já engarrafado, mas dada uma enorme escassez do produto também começaram a desaparecer, mesmo antes do 25 de Abril.
As encorpadas lavadeiras, de trouxa à cabeça, foram sendo dispensadas à medida que a máquina de lavar roupa foi entrando nos lares nacionais. Qual água fria da ribeira? Carvoeiros para quê, na era da electricidade? "Quem quer figos, quem quer almoçar?" - apregoavam ainda algumas vendedoras ambulantes, sem noção que já ninguém queria almoçar figos - uma sandosca à pressa num qualquer tasco substituía melhor a refeição. Pois!
Criadas fardadas a rigor? Marçanos? Engraxadores de sapatos? Ardinas, aqueles putos que corriam desalmadamente as principais ruas da cidade para vender jornais? Há profissões que não voltam mais e, por um lado, ainda bem: mal pagas, sem qualquer espécie de benefício, muitas vezes utilizando trabalho infantil. Mas que a memória (e o corpo) de alguns não esquece, lá isso...
Limpa-chaminés, quando os exaustores estão na moda? Ferros-velhos que recolhem garrafas, jornais e outros materiais usados sem valor, se há ecopontos onde os depositar? Amoladores ou funileiros para quê, quando se deitam facas rombas ou tachos furados para o lixo e guarda-chuvas de varetas partidas nem chegam lá, porque são abandonados no caminho? Mas por mais que nos pareça que rumamos para o futuro, ainda um dia destes ouvi o som característico de um funileiro (presságio de chuva, afirmava a voz popular), mas a gaita é que lembrou que quando os ventos mudam, algumas coisas voltam...
Todas as fotografias são da
net, a última é de autoria de
Eduardo Gageiro.