Este texto foi recebido via e-mail (obrigada, Cat!) e foi escrito por Sónia Morais Santos, no blogue "Cocó na fralda"! Não sendo blogue que costume visitar, não sei a data em que foi publicado, mas achei-lhe imensa piada e, de algum modo, um "retrato" irónico de alguma gentinha mesquinha e invejosa que circula por aí. E que, felizmente, não representa a maioria, como a própria autora ressalva...:
"Vou dizer-vos uma coisa. É preciso ter muita
paciência para ter um blogue. Porque se há gente muito boa e querida e simpática
como vocês, que são a maioria, depois há os outros. E se é verdade que são mesmo
a minoria, esses outros cansam. Moem. Molestam. Porque são repetitivos. E têm
tantos problemas na mona e na vida que fazem dó. Para esses, eu sou sempre e
serei sempre... uma puta. Se sou feliz sou uma puta. Se sou infeliz, mais puta
sou. Então é assim:
Se eu escrevo que vou de fim-de-semana, sou
uma puta porque com esta crise há imensa gente que nem sabe como comer, quanto
mais pensar em passar fins-de-semana fora. Se mostro fotos do sítio onde estou
sou uma puta, a fazer pirraça a quem tem de ficar enfiado em 20 metros quadrados
e cheio de fome. Mas se não mostro, sou uma puta ainda maior, que deve estar num
palacete banhado a ouro e que nem tem coragem de mostrar, tal é o luxo nojento.
Mas se, pelo contrário, não vou de fim-de-semana e me queixo de ter o dinheiro
contado, sou uma puta porque moro no Parque das Nações, tenho os filhos no
colégio, e devia ter vergonha por me queixar da falta de cheta quando há gente
que, essa sim, não tem um cêntimo na carteira.
Se digo que estou gorda, sou uma puta
porque há pessoas que pesam tanto que chegam aos 3 dígitos e estou a humilhá-las
ao falar do meu suposto peso a mais. Mas se fico feliz porque emagreci, sou uma
puta porque tenho dinheiro para fazer dietas que os outros não têm, e tenho
tempo para fazer caminhadas, coisa que os outros, coitados, nunca
têm.
Se me queixo dos meus filhos, porque
fizeram uma tropelia qualquer e se estou cansada deles e deixo um desabafo, sou
uma puta porque há tanta gente a querer engravidar sem conseguir, e eu que tenho
filhos nunca por nunca devia queixar-me deles, é uma vergonha. Se os enalteço,
vaidosa, sou uma puta que não pára de se gabar, e devia ter vergonha porque há
pessoas que têm filhos deficientes que não conseguem sequer sorrir quanto mais
fazer as habilidades que os meus fazem.
Se ponho vestidos da Madalena, sou uma puta
exibicionista que devia era dar tudo a instituições de solidariedade. Se falo de
solidariedade, sou uma puta porque na verdade o que eu quero é mostrar-me
boazinha mas não passo de uma megera nojenta, que tem dinheiro para ser
solidária, porque o resto das pessoas, coitadas, não têm dinheiro para si,
quanto mais para os outros.
Se digo mal de um funcionário, que me
atendeu mal, e calha a chamar-lhe burro, sou uma puta que não sabe o que passam
os funcionários, uma puta que está a dizer que todos os funcionários desse ramo
são burros, uma puta que acha que só porque tem um curso superior é melhor que
os outros, devia era virar uma dessas funcionárias para ver o que era
bom.
Se me queixo de ter muito trabalho, sou uma
puta porque há muita gente no desemprego e eu devia era virar as mãos para o céu
e agradecer ao Senhor a oportunidade que me deu. Se digo que houve um mês pior,
com menos trabalho, vão dizer que eu sou uma puta, que em vez de estar em casa
armada em freelancer devia era estar sentadinha a uma secretária, que assim não
me faltava o trabalho, essa é que é essa.
Se digo que baptizei os meus filhos por
respeito e amizade à minha sogra, sou uma puta porque com Deus não se brinca. Se
decidisse não os baptizar, apesar dos pedidos da sogra, era uma puta das piores,
ingrata do caraças, coração de pedra, incapaz de descer do seu pedestal
arrogante para fazer alguém feliz.
Se estou doente, e descrevo o mal-estar,
sou uma puta que não sabe o que é estar realmente doente, doente à séria, em
perigo de vida, com um padre ao lado pronto para a extrema unção. Se me regojizo
com a minha saúde, sou uma puta que merece é ficar doente, por estar a
vangloriar-se de algo que há tanta gente a não ter.
Eu podia continuar por aí fora. Mas não
posso. Tenho de ir trabalhar (ai, que puta, trabalhar? E tanta gente no
desemprego...). E daqui a bocado também tenho de ir fazer o almoço para os meus
3 filhos que estão em casa porque têm tosse (tosse? oh, minha puta, tosse não é
doença, sabes lá tu o que é estar doente?). Ainda bem que esta gente é a
minoria. São vocês, a maioria saudável, que me faz continuar a ter vontade de
vir aqui contar algumas aventuras e desventuras da minha vidinha normal (normal?
tu és é uma anormal de primeira! E, claro, uma puta!)
* salvo seja!"
(Por Sónia Morais
Santos)
Parabéns à Sónia pelo texto e pela publicação do seu livro, com o mesmo título do blogue, desejando-lhe muito sucesso! (e que pelo menos irei espreitar, da próxima vez que passar por uma livraria...)