Eu já! Há muitos anos, com a ajuda do meu pai, eu e a minha tornámo-nos "jovens agricultoras" e semeámos uns pinhões num vaso do jardim da minha avó. Todos os domingos íamos visitar os meus avós e regávamos o vaso, não sei se ela também o fazia ocasionalmente quando o tempo estava mais seco. Certo é que três germinaram e foram crescendo no vasinho, até ser necessário passá-los para a terra. Essa foi decisão do meu pai, porque obviamente duas catraias de 7, 8 ou 9 anos de idade não percebiam patavina do assunto.
A casa e o jardim eram arrendados ao ano, primeiro para passar as férias de verão e alguns fins de semana - desde que a minha mãe era miúda - depois do meu avô se reformar passou a ser residência definitiva de ambos. Mesmo após a enorme aflição das cheias de 1967, pois a casa situava-se na região mais afetada e nesse fim de semana eles estavam lá - para quem não sabe ou se lembra do dramático acontecimento, podem ler uma breve
resenha neste post da São. (desculpa não ter pedido autorização atempadamente para
linkar)
Facto é que eles adoravam viver no campo e prevendo a possibilidade de algum dia a senhoria precisar da casa para outros fins, o meu avô comprou um pequeno terreno ao lado, na intenção de um dia mandar construir a sua própria moradia, igualmente com jardim. Como este país sempre teve os mesmos problemas de burocracia e planos diretores municipais pouco transparentes e incompreensíveis, a câmara de Loures não permitiu a edificação, porque o terreno era considerado rural. Como é que a outra paredes meias foi construída? Mistério! (ou talvez não, que autarcas pouco escrupulosos também não são só os atuais!)
Entretanto, para não desaproveitar de todo o terreno, mandaram plantar lá umas oliveiras, umas poucas árvores de frutos e umas vinhas, ainda sobrava espaço para o meu pai se dedicar a uma pequena horta onde plantava batatas, abóboras, morangos, couves, enfim, o que ele lá ia tentando ver se dava (nada a ver com a sua profissão, mas suponho que servia de escape ao seu dia a dia de escritório, reuniões e tal). E claro que foi nesse terreno que os ainda incipientes pinheiros foram plantados, mais ou menos distantes uns dos outros, porque na sua modesta auto-aprendizagem de agricultura já percebera que as plantas não se desenvolvem igualmente no mesmo solo.
O resultado foi espantoso: o pinheirinho mais desenvolvido cresceu bastante até certo ponto, mas estava num local bastante soalheiro, às tantas as carumas começaram a ficar queimadas e acabou por fenecer; o que já tinha acontecido ao segundo, parcialmente à sombra de uma das oliveiras; o terceiro, aquele que à partida nos parecera o menos resistente, plantado lá mais para o meio do terreno semi-baldio, sem sombra e com o mesmo Sol, resistiu e cresceu, sendo mais tarde replantado no jardim da minha avó, até se tornar uma árvore possante e frondosa, que deu pinhões durante muitos anos e bons. (chato era parti-los um a um, evidentemente!)
Moral da história? Não tem nenhuma, a história é verídica, tanto quanto me recordo. Mas como na altura ainda ia à missa, sempre que o padre contava a parábola das sementes lançadas à terra, lembrava-me dos nossos pinheirinhos...
§ - Não sei o que aconteceu ao pinheiro, à casa ou ao jardim (só que mudaram de proprietário), o terreno sei que foi vendido por "tuta e meia" depois da morte dos meus avós. Como a urbanização (clandestina) em redor cresceu brutalmente, a câmara de Loures posteriormente requalificou a zona e decidiu que afinal era urbanizável, mas seria destinado a um parque infantil. O que creio que nunca se chegou a verificar...
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