segunda-feira, 30 de abril de 2012

JANELAS PARA O MUNDO...

"Uma imagem vale por mil palavras" resume bem o teor da World Press Photo 2012, atualmente em exibição no museu da eletricidade, em Lisboa, que reúne uma coleção das melhores fotografias do ano passado, amplamente divulgadas pela imprensa mundial. Das mais de 100 mil fotos - de 5247 fotógrafos de 124 nacionalidades -  foram seleccionadas as vencedoras em cada uma das várias categorias, no 55º concurso de World Press Photo, e são essas que se encontram maioritariamente na exposição.

A par de imagens de guerras, conflitos, revoluções e catástrofes naturais, que espelham a desolação e tristeza das populações envolvidas nesses trágicos eventos, também o choque de culturas, a ganância e a voracidade do Homem face ao meio ambiente ou a simples vivência de gente comum dos vários cantos deste planeta azul transparecem num retrato real e histórico dos acontecimentos mais relevantes de 2011. É impossível passar incólume ao lado de fotografias tão representativas da natureza humana, em tudo o que tem de melhor ou pior. A emoção tocará a todos, incluindo aos que se julgam mais frios, fortes e empedernidos - não é raro observar o horror estampado na face dos visitantes, perante certas imagens. Já os mais sensíveis, convém irem prevenidos...

No entanto, podemos também visionar imagens de rara beleza, como as que dizem respeito à maior caverna do mundo, aqui num aspeto parcial da fotografia do alemão Carsten Peter:

E que, no meu entender, nos relembra como somos pequenos face à imensidão do mundo que nos rodeia... (e mesmo assim tão devastadores, como verificamos noutras imagens!)

A não perder, especialmente para todos os amantes de fotografia! Tal como em anos anteriores, suponho que a World Press Photo 2012 seguirá para outras cidades do país, embora desconheça a sua calendarização. Para quem não tiver oportunidade de ver ao vivo, fica o link.

A exposição estará patente ao público lisboeta até dia 20 de maio e a entrada é gratuita.

domingo, 29 de abril de 2012

SATURDAY NIGHT FEVER

Tudo a postos para uma grande noite de sábado! GRANDE, mesmo! Jantar digerido, cozinha arrumada, papeladas organizadas, TV a gravar a série preferida (obrigada, Maria!) e... eis que falta qualquer coisinha. Onde procurar? Na net, está claro! 

Ora bolas, diz que está indisponível! Telefone, para que serves? Do outro lado do sem fios, a mulher esclarece e fica o problema resolvido, enquanto, pelo meio, exclama, dando uma palmada na testa: "Ah, que cabeça a minha..."

Então toca lá a deitar contas à vida... Surge um problema, depois outro e mais outro. Tem de pedir ajuda. E começar de novo, com o ego já feito num molho de brócolos e a confiança nas couves. Ou tão vegetal quanto convém a qualquer comparação.

Duas horas e 35 minutos depois e após novo help, consegue finalmente enviar a declaração de IRS para as Finanças, via net. A sentir-se muito burrinha, mas também a rezar pela pele de quem se lembrou de mudar a versão do formulário a 23 deste mês...   

Imagem da net.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

TODOS TÃO IGUAIS...

... e todos tão diferentes! Já em tempos publiquei aqui alguns trabalhos do escultor britânico Marcus Levine, que não é o único a utilizar pregos de forma artística: a imagem acima exibe pequenos troféus oferecidos aos oradores de uma palestra, a cujo autor - o artista plástico brasileiro Robert Francis Campigotto - deu o título de "O Pensador". E não é que, ao olharmos, nos lembramos imediatamente da obra de Rodin?

Por seu turno, o norte americano Joe Pogan é perito na arte de reciclar: não se limita a pregos e parafusos, toda a sucata de metal serve para criar as suas esculturas E depois resulta a da fotografia!

E este pavão de pregos encontrado no blogue brasileiro "Fiuza, Loucuras em Metal", em que o artista se propõe vender algumas das suas obras realizadas em vários suportes metálicos? Fiuza, suponho ser o nome do autor.

Mais curioso ainda é o trabalho realizado pelo fotógrafo checo Vlad Artazov, que intitulou "Vida de Prego" e que pretende reproduzir formas e sentimentos humanos com a  utilização de pregos. Não veem...

desânimo,

vaidade,

desencontro ou

uma simples dança de varão, nestas fotografias?

Tanta gente com tanto talento por esse mundo fora e outros... (cóf, cof, cóf... maldita tosse!)... sem nenhum! Enfim, c'est la vie!

E por falar nisso, aproveitem para ter um fim de semana (prolongado, ou não) de...

MUITA BOA VIDA!!!

Imagens da net.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD

Uma agência de viagens publicita um hotel num palácio paradisíaco na Índia, que acolhe pessoas na "idade de ouro" (leia-se, reformados!), e sete ingleses imaginam ter encontrado a solução mais conveniente para os seus diversos problemas: Douglas e Jean veem-se sem casa e sem poupanças, pois emprestaram tudo o que possuíam à filha, mas o negócio dela não correu tão bem como se previa; já Evelyn foi apanhada de surpresa após a morte do marido - estava crivado de dívidas e, para as pagar, tem de vender o apartamento; Graham é um advogado proeminente que vive amargurado com um segredo do passado, resolvendo voltar às paisagens da sua juventude; o tédio de ficar em casa a tomar conta dos netos, determina a decisão de Madge procurar novo marido; precisando de ser operada a uma anca, Muriel descobre que na sua terra natal terá de esperar seis meses por uma vaga na cirurgia, surgindo a oportunidade de a realizar rapidamente num hospital de Jaipur e com menores custos; e Norman sente-se só e pretende encontrar companheira. Sem se conhecerem entre si, cruzam-se no aeroporto rumo ao mesmo destino...

Chegados ao território indiano, surge o primeiro contratempo: o voo para Jaipur fora cancelado. Liderados por Graham, o único que conhece a língua, apanham uma camioneta para a cidade e depois um tuk-tuk para o hotel dos seus sonhos. Nessa viagem a personalidade de cada um começa a evidenciar-se: uns consideram que é uma oportunidade interessante para conhecer as paisagens e as gentes locais, outros rezingam, queixam-se e recusam-se até a provar a comida. Mas a desilusão ao chegarem ao palácio completamente decadente toca a todos, apesar do entusiasmo com que o jovem gerente os recebe - Sonny é um sonhador, que não se detém em pormenores! Como se irão adaptar àquele país distante, com culturas e costumes tão diferentes? 

Espreitem o trailer:  


Judi Dench encabeça um elenco de atores de primeira água, onde constam nomes como os de Maggie Smith, Bill Nighly, Tom Wilkinson, Penelope Hilton, Celia Imrie, Ronald Pickup, Dev Patel e Tena Desae, neste filme realizado por John Madden, que obtém a pontuação 7.5/10 na IMBD. 

Classificado como comédia e drama, é um filme que nos prende e toca da primeira à última imagem, intercalando momentos divertidos com outros ternurentos ou comoventes. Tal como a própria vida... Relembrando ainda que nunca podemos desistir dos nossos sonhos e baixar os braços! Muito bom!  

Imagem de cena do filme, da net.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

HOJE E SEMPRE!

Sobre "os bons velhos tempos" não tenho mais nada a acrescentar ao que escrevi há 5 anos: reitero e mantenho cada palavra! Só não percebe quem não viveu ou é desmemoriado...

O meu imenso obrigada a Salgueiro Maia e a todos os capitães de abril, que permitiram que vivesse o meu futuro em democracia, paz e liberdade!

25 DE ABRIL, SEMPRE!

Imagem da net.

terça-feira, 24 de abril de 2012

ÍNDIOS

Em tempos que já lá vão, costumava participar em rallies-paper, conjuntamente com alguns amigos. Pagava-se um xis pelo carro e pelo número de concorrentes em cada um. Depois passava-se uma manhã a realizar várias provas de orientação, pesquisa, observação, cultura geral e a responder a enigmas, enquanto se seguiam pistas que indicavam o percurso. A velocidade e a perícia ao volante raramente tinham influência nos resultados finais. E sim, nem toda a malta tinha paciência para aquilo, até porque normalmente representava levantar cedo numa manhã de sábado...

Bom, mas numa dessas primeiras experiências, organizada pelo gerente de um bar sossegado do Bairro Alto onde íamos com relativa frequência, havia uma prova musical extra para a tarde, após a almoçarada, enquanto o júri apreciava a prestação das provas. Ah, não referi que era seguido de almoço? Pois era!

Ora como nenhum de nós era particularmente dotado para exibições vocais, acabámos por decidir fazer um play-back. E para animar a coisa, executávamos uma coreografia a condizer. Escolhemos uma música mexida de Ney Matogrosso (nem me lembro qual, possivelmente até foi esta!) - um fingia fazer a voz, outro acompanhava o ritmo num batuque e as três meninas dançavam. Tudo resolvido, faltava o espaço para treinar.

Como uma das amigas estava para casar (nem de propósito!) e já tinha a chave do apartamento por estrear, quase sem inquilinos no prédio, era o local ideal para as performances experimentais. À noite, evidentemente, porque todos trabalhávamos durante o dia. O que até tinha a vantagem de fazermos espelho do vidro da janela, de persiana levantada, por contraste com a escuridão no exterior. 

Entretanto, resolvemos implementar o "espetáculo" com mais uns acessórios, que incluíam penas de índios na cabeça, saiotes de papel maché e colares de missangas coloridos. Claro que no ensaio geral já trajámos a rigor e até demorou mais do que o habitual, para tentar afinar o desempenho conjunto da equipa. Não recordo em que lugar ficámos no rally-paper propriamente dito, mas ganhámos o 1º prémio nesta prova. 

O que só saberíamos uns anos depois, é que este último ensaio foi observado pelos vizinhos do lado, que entretanto já se tinham mudado: o edifício fazia gaveto e o homem costumava ir fumar para a janela. Ao ver a exibição, chamou a mulher e anunciou-lhe:

- Olha, são índios!

Imagem de Ney Matogrosso, da net.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

DE RODA DOS LIVROS!

Hoje é dia mundial do livro e, por coincidência, a 82ª Feira do Livro de Lisboa abre amanhã, no Parque Eduardo VII, como é habitual. Portanto, adivinhem lá o tema que vou abordar?

Devo dizer que os meus familiares e amigos se dividem em dois grupos - os que não gostam de ler e os que adoram! O que tem as suas vantagens: os primeiros oferecem-me os livros que recebem gratuitamente ou de presente; os segundos por vezes têm livros repetidos, et voilá!, a quem se lembram de os oferecer?!? Sou uma sortuda, é o que é!

Acontece que estão sempre a sair novos livros. Já à venda ou em vias de publicação estão os livros dos (nossos) amigos Rafeiro Perfumado ("Agarrem-me ou Dou Cabo desses Palhacitos!") - e Vitor Fernandes, em co-autoria, com "Contos do Nosso Tempo". Igualmente curiosa estou com o terceiro romance de Joaquim Almeida Lima - "Ensaio Sobre a Angústia", de quem adorei "O Rio Frio" - e com a biografia de Enid Blyton, de Alice Vieira, que já está na forja! E ainda não li "Os Profetas", desta mesma escritora, sendo que são ambos livros para adultos.   

Mas já viram como o rol de leituras apetecíveis vai aumentando, de dia para dia? Estes, os pendurados na estante à espera de vez, os que nos sugerem de caminho?

E pedalada para tanto? A minha biblioteca tem aumentado o número de volumes em passo demasiado rápido para o meu ritmo de leitura. Mas fazer o quê? Também há vida lá fora, para além da literatura...

Enfim, sobre estes e outros livros escreverei oportunamente, à medida que os for lendo. Afinal ninguém precisa de ficar tão atarantada como a menina da foto, não é verdade? Iglos são giros... para esquimós!

Mas pronto, vou ali acabar de ler o livrinho em mãos (ufa, ufa!), para não me atrasar demasiado! (também tinha dado jeito que o blogger não me tivesse "comido" o post a partir da primeira imagem e segunda linha!) Ah e tal esqueci-me de referir que, por acaso, este também é o 1200º post do Quiproquó, desta vez inteiramente dedicado aos livros, grandes companheiros de percurso? Hummm... pensando bem, já teria dado para escrever uns dois ou três livritos, mesmo descontando desafios e imagens...

Imagens da net e do facebook.

domingo, 22 de abril de 2012

"MEMÓRIA DE UMA AULA..."

O texto é longo,  mas não foi escrito por mim, mas sim por Hélida Carvalho Santos e publicado na revista "Visão" de 5 de Outubro de 2011 (data significativa, mas só para alguns!). Intitula-se "Memória de uma aula no Liceu de Setúbal", que decorreu no dia 4 de Outubro de 1967. Fica para quem não teve oportunidade de ler na altura, como eu...

Segundo dia de aulas. Continua o desassossego, com o pessoal a trocar
beijos, abraços e confidências, depois desta longa separação que foram
3 meses e meio de férias. Estávamos todos fartos do verão, com
saudades uns dos outros. A sala é a mesma do ano passado, no 1º andar
e cheirava a nova, tudo encerado e polido, apesar do material já ser
mais do que velho. Somos o 7.º A e como não chumbou nem veio ninguém
de novo, a pauta é exactamente igual à do ano passado. Eu sou o n.º
34, e fico sentada na segunda fila, do lado da janela, cá atrás, que é
o lugar dos mais altos.

Hoje tivemos, pela primeira vez, Organização Política e apareceu-nos
um professor novo, acho que é a primeira vez que dá aulas em Setúbal,
dizem que veio corrido de um liceu de Coimbra, por causa da política.
Já ontem se falava à boca cheia dele, havia malta muito excitada e
contente porque dizem que ele é um fadista afamado. Tenho realmente
uma vaga ideia de ouvir o meu tio Diamantino falar dele, mas já não
sei se foi por causa da cantoria se por causa da política. A Inês
contou que ouviu o pai comentar, em casa, que o homem é todo
revolucionário, arranja sarilhos por todo o lado onde passa. Ela diz
que ele já esteve preso por causa da política, é capaz de ser
comunista. Diferente dos outros professores, é de certeza. Quando
entrou na sala, já tinha dado o segundo toque, estava quase no limite
da falta. Entrou por ali a dentro, todo despenteado, com uma gabardine
na mão e enquanto a atirava para cima da secretária, perguntou-nos:

- Vocês são o 7.º A, não são? Desculpem o atraso mas enganei-me e fui
parar a outra sala. Não faz mal. Se vocês chegarem atrasados também
não vos vou chatear
Tinha um ar simpático, ligeiro, um visual que não se enquadrava nada
com a imagem de todos os outros professores. Deu para perceber que as
primeiras palavras, aliadas à postura solta e descontraída, começavam
a cativar toda a gente. A Carolina virou-se para trás e disse-me que
já o tinha visto na televisão, a cantar Fado de Coimbra. Realmente o
rosto não me era estranho. É alto, feições correctas, embora os dentes
não sejam um modelo de perfeição e é bem parecido, digamos que um
homem interessante para se olhar. O Artur soprou-me que ele deve ter
uns 36 anos e acho que sim, nota-se que já é velho. Depois das
primeiras palavras, sentou-se na secretária, abriu o livro de ponto,
rabiscou o que tinha a escrever e ficou uns cinco minutos, em
silêncio, a olhar o pátio vazio, através das janelas da sala,
impecavelmente limpas.

Enquanto ele estava nesta espécie de marasmo nós começámos a bichanar
uns com os outros, cada um emitindo a sua opinião, fazendo
conjecturas. Às tantas, o bichanar foi subindo de tom e já era uma
algazarra tão grande que parece tê-lo acordado. Outro qualquer
professor já nos teria pregado um raspanete, coberto de ameaças, mas
ele não disse nada, como se não tivesse ouvido ou, melhor, não se
importasse. Aliás, aposto que nem nos ouviu. O ar dele, enquanto
esteve ausente, era tão distante que mais parecia ter-se,
efectivamente, evadido da sala. Quando recomeçou a falar connosco, em
pé, em cima do estrado, já tinha ganho o primeiro round de simpatia.
Depois, veio o mais surpreendente:

- Bem, eu sou o vosso novo professor de Organização Política, mas devo
dizer-vos que não percebo nada disto. Vocês já deram isto o ano
passado, não foi? Então sabem, de certeza, mais que eu.
Gargalhada geral.

- Podem rir porque é verdade. Eu não percebo nada disto, as minhas
disciplinas, aquelas em que me formei, são História e Filosofia, não
tenho culpa que me tivessem posto aqui, tipo castigo, para dar uma
matéria que não conheço, nem me interessa. Podia estudar para vir aqui
desbobinar, tipo papagaio, mas não estou para isso. Não entro em
palhaçadas.
Voltámos a rir, numa sonora gargalhada, tipo coro afinado, mas ele
ficou impávido e sereno. Continuava a mostrar um semblante discreto,
calmo, simpático.

- Pois é, não vou sobrecarregar a minha massa cinzenta com coisas
absolutamente inúteis e falsas. Tudo isto é uma fantochada sem
interesse. Não vou perder um minuto do meu estudo com esta porcaria.
Começámos a olhar uns para outros, espantados; nunca na vida nos tinha
passado pela frente um professor com tamanha ousadia.

- Eu estudaria, isso sim, uma Organização Política que funcionasse,
como noutros países acontece, não é esta fantochada que não passa de
pura teoria. Na prática não existe, é uma Constituição carregada de
falsidade. Portugal vive numa democracia de fachada, este regime que
nos governa é uma ditadura desumana e cruel.

Não se ouvia uma mosca na sala. Os rostos tinham deixado cair o
sorriso e estavam agora absolutamente atónitos, vidrados no rosto e
nas palavras daquele homem ímpar. O que ele nos estava a dizer é o que
ouvimos comentar, todos os dias, aos nossos pais, mas sempre com as
devidas recomendações para não o repetirmos na rua porque nunca se
sabe quem ouve. A Pide persegue toda a gente como uma nuvem de fumo
branco, que se sente mas não se apalpa.

- Repito: eu não percebo nada desta disciplina que vos venho
leccionar, nem quero perceber. Estou-me nas tintas para esta porcaria.
Mas, atenção, vocês é outra coisa. Vocês vão ter que estudar porque,
no final do ano, vão ter que fazer exame para concluírem o vosso 7.º
ano e poderem entrar na Faculdade. Isso, vocês tem que fazer. Estudar.
Para serem homens e mulheres cultos para poderem combater, cada um
onde estiver, esta ditadura infame que está a destruir a vossa pátria
e a dos vossos filhos. Vocês são o amanhã e são vocês que têm que
lutar por um novo país.

Não vão precisar de mim para estudar esta materiazinha de chacha,
basta estudarem umas horas e empinam isto num instante. Isto não vale
nada. Eu venho dar aulas, preciso de vir, preciso de ganhar a vida,
mas as minhas aulas vão ser aulas de cultura e política geral. Vão
ficar a saber que há países onde existem regimes diferentes deste, que
nos oprime, países onde há liberdade de pensamento e de expressão,
educação para todos, cuidados de saúde que não são apenas para os
privilegiados, enfim, outras coisas que a seu tempo vos ensinarei.
Percebem? Nós temos que aprender a não ser autómatos, a pensar pela
nossa cabeça. O Salazar quer fazer de vocês, a juventude deste país,
carneiros, mas eu não vou deixar que os meus alunos o sejam. Vou
abrir-lhes a porta do conhecimento, da cultura e da verdade. Vou
ensinar-lhes que, além fronteiras, há outros mundos e outras hipóteses
de vida, que não se configuram a esta ditadura de miséria social e
cultural.

Outra coisa: vou ter que vos dar um ponto por período porque vocês têm
que ter notas para ir a exame. O ponto que farei será com perguntas do
vosso livro que terão que ter a paciência de estudar. A matéria é uma
falsidade do princípio ao fim, mas não há volta a dar, para atingirem
os vossos mais altos objectivos. Têm que estudar. Se quiserem copiar é
com vocês, não vou andar, feita toupeira, a fiscalizá-los, se quiserem
trazer o livro e copiar, é uma decisão vossa, no entanto acho que
devem começar a endireitar este país no sentido da honestidade, sim
porque o nosso país é um país de bufos, de corruptos e de vigaristas.
Não falo de vocês, jovens, falo dos homens da minha idade e mais
velhos, em qualquer quadrante da sociedade. Nós temos sempre que
mostrar o que somos, temos que ser dignos connosco para sermos dignoscom os outros. Por isso, acho que não devem copiar. Há que criar
princípios de honestidade e isso começa em vocês, os futuros homens e
mulheres de Portugal. Não concordam?

Bem, por hoje é tudo, podem sair. Vemo-nos na próxima aula.
Espantoso. Quando ele terminou estava tudo lívido, sem palavras. Que
fenómeno é este que aterrou em Setúbal?
Já me esquecia de escrever. Esta ave rara, o nosso professor de
Organização Política, chama-se Zeca Afonso.

Hélida Carvalho Santos

sexta-feira, 20 de abril de 2012

SORRISOS... PRECISAM-SE!

Já ouviram falar de Martim Dornellas? Talvez não, o que também não é para admirar - trata-se de um designer criativo, que aprecia estampar um sorriso no rosto de quem com ele se cruza. Como os tempos não estão fáceis - e nas cidades abundam cidadãos mal-encarados ou cabisbaixos - resolveu desenvolver uma campanha, que intitulou de "Projecto Amélie" (alegadamente baseado no filme "O Fabuloso Destino de Amélie"). Em que consiste? Escreveu várias mensagens positivas e transformou-as em autocolantes, que vai colando aleatoriamente nos locais mais imprevistos das ruas de Lisboa, onde reside...

O objetivo é claro: "abanar" as pessoas do marasmo e da rotina em que se encontram e... fazê-las sorrir! As redes sociais deram projeção à sua campanha, que se estendeu a outras cidades do país com novos aderentes, e o jornal "Público" divulgou-a aqui. Há gente fantástica, não há?

Boa notícia foi também o nascimento da menina da LopesCa (para quem conhece das lides blogosféricas ou facebookianas), dia 17, com mãe e filha linda a encontrarem-se bem, a par do pai babado. Desejo imensa felicidade para toda a sua família!

SORRIDENTE E FELIZ FIM DE SEMANA PARA TODOS!

(Obrigada, Ana!)
Imagem da net, suponho que de outro mentor de campanhas alegres e positivas!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

CHOVER NO MOLHADO?

Os últimos meses têm sido aziagos para a maioria dos portugueses (e não só!), com o desemprego, os impostos, os transportes e os bens de consumo essenciais a aumentar brutalmente, para além de outras medidas governamentais, que determinam falências e insolvências de empresas e cidadãos, num empobrecimento da população cada vez mais gritante!

Ainda há vozes lúcidas nesta terra, embora sistematicamente abafadas no jornalismo tradicional (salvo honrosas exceções), mas, de algum modo, as redes sociais têm conseguido colmatar essa relativa ineficácia de comunicação sobre a realidade que nos envolve a todos. As imagens que se seguem são todas retiradas do facebook - umas mais humorísticas que outras - e retratam as indignações que proliferam por cá:

Mesmo que a tendência já seja antiga, tem aquele travo de humor negro!

De facto, nada mais simples! Ou não? (de Luís Afonso, suponho que no jornal "Público")

Para estes, claro, há sempre lugar de topo, mesmo para quem já ultrapasse a idade da reforma. Competência? Curioso, ainda ontem tive 3 falhas de eletricidade...

Submarino(s) ao fundo!

Um jeito de explicar... a aplicação! (de Henrique Monteiro, em HenriCartoon)

A culpa é deles? Será, mas só parcialmente...

É impossível explicar melhor!

Bem hajam todos aqueles que - de uma forma tão expressiva e criativa, anónima ou declaradamente - nos fazem rir ou sorrir, apesar dos pesares sobre a triste realidade política que nos rodeia...

(Obrigada igualmente a todos os amigos facebookianos, que partilham estas imagens!) 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

ESPELHO MEU, ESPELHO MEU!

"Espelho meu, espelho meu! Há alguém mais gira do que eu?" é o título completo dado a este filme a nível nacional e sobre o qual nem sei o que escrever. Realizado pelo indiano Tarsem Singh, consegue ter a paupérrima classificação de 5.8/10 na IMBD - o que, não sendo de modo algum motivação para deixar de ver, já dá uma pista...

A história baseia-se na da Branca de Neve, mas, as always, em Hollywood gostam sempre de dar uma volta ao argumento, de tal forma que quase se torna irreconhecível. E depois, sendo o realizador indiano, tem momentos em que mais parece uma produção bollywoodesca, com umas cantigas e danças coreografadas completamente dispensáveis!

Naquele reino distante o povo vivia feliz, sempre a cantar e a dançar (sem trabalhar?), até que a rainha má (Julia Roberts) enfeitiçou o rei, casando com ele e tornando-se madrasta da pequena Branca de Neve (Lily Collins). Um dia o rei desaparece na floresta e a rainha, que também é versada nas artes da bruxaria, tomou o poder e sobrecarregou a população de impostos (onde é que já se viu isto?). A pancada dela era ser a mulher mais bela à face da terra, mas à medida que lhe vão aparecendo umas rugas na cara e a enteada vai crescendo, fresca que nem uma alface, começa a recear a sua competição e manda-a matar. Esta escapa do seu algoz, mas, assustada, perde-se no meio da floresta até ser encontrada pelos sete anões que, após serem banidos da sociedade devido à sua fealdade, se transformaram em assaltantes. Entretanto o príncipe Alcott (Armie Hammer) já fora assaltado por eles, tendo de se refugiar no palácio, pois fora abandonado em ceroulas pelos malfeitores, o que dá a belíssima ideia à rainha de casar com ele, para recompor as suas finanças exauridas e, simultaneamente, tascar o melhor pedaço das redondezas (meninas, ponham pedaço nisso!). Ele não parece estar muito pelos ajustes, já encantado com a beleza da Branca de Neve, mas a bruxa recorre novamente à feitiçaria...

Querem mais? Vejam o trailer: 


Dito isto, é óbvio que é um filme para putos, que provavelmente vão gostar, até pelo tom de comédia. E tem Julia Roberts no elenco, que é sempre um prazer ver em ação, para lá do príncipe bonitão charming! Ou seja, excetuando a coreografia manhosa, para quem tem filhos, netos ou sobrinhos pequenos, o sacrifício não é assim tão grande...

Imagem de cena do filme da net.

terça-feira, 17 de abril de 2012

ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO SUL

Luis Sepúlveda e Daniel Mordzinski partiram rumo à Patagónia, cada um munido dos seus instrumentos de trabalho - uma caneta e um moleskine para o primeiro, câmaras e apetrechos fotográficos para o segundo. Explica o escritor na contracapa:

"Este livro nasceu como a crónica de uma viagem realizada por dois amigos, mas o tempo, as mudanças violentas da economia e a voracidade dos triunfadores transformaram-no num livro de notícias póstumas, no romance de uma região desaparecida. Nada do que vimos existe tal como o conhecemos. De certo modo fomos os afortunados que presenciaram o fim de uma época no Sul do Mundo. Desse Sul que é a minha força e a minha memória. Desse Sul a que me aferro com todo o amor e toda a raiva.
Estas são, pois, as últimas notícias do Sul." 

Escusado será referir que as crónicas de Sepúlveda não se leem: devoram-se! As cerca de 160 páginas estão recheadas das fotografias dos locais e da boa gente que acolheu os dois amigos a sul do paralelo 42, cada uma com a sua história ou lenda para contar - mas como poetas, não como doutores, segundo o costume na região. É assim que as histórias vão surgindo, entrelaçadas umas nas outras, transmitindo o real, o ficcional e o lendário, e dando largas à imaginação de quem as ouve (os autores) ou lê (nós, os leitores)!

É neste mundo feérico que encontramos protagonistas que são gente de carne e osso, que procuram violinos na estepe desértica, que fazem florir um ramo seco nas mãos enrugadas, que são duendes, maquinistas de velhos comboios, gaúchos que nunca foram fotografadas ou descendentes de cineastas amadores espoliados de tudo o que restou desse passado, em suma, sobreviventes de todas as agressões de que foram alvo por parte de governantes e ditadores, de capitalistas e invasores que pretendem apropriar-se daquelas paisagens onde sempre viveram e que tanto amam...  

MUITO BOM! (como sempre que se trata de Sepúlveda...)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ESTÁ CRESCIDO...

Quando o meu filho nasceu (e já la vão 20 anos, ai, ai!) era tão pequenino, frágil e assustadiço com qualquer barulho inusitado, que o chamava de "pardalito". Assim só em privado ou em ambientes restritos, que a ideia não era que a alcunha pegasse para a vida. Palrador e, mais tarde, falador e cantarolador (como ainda é até hoje, embora desafinado), parecia-me que a descrição lhe assentava que nem uma luva.

Os colegas de escola, evidentemente, não o viram da mesma maneira. Pequeno, elétrico, cheio de genica e ideias, com um cabelo algo emaranhado e cor de rato, pois, foi mesmo de rato que o apelidaram. Que se mantém!

À medida que os anos foram passando, todos foram crescendo, uns mais que os outros. As meninas foram as primeiras a desenvolver-se, tanto em altura como nos restantes atributos femininos, quase "comiam as papas na cabeça" da rapaziada. Depois vinham as férias de verão e, no recomeço das aulas, lá apareciam uns rapazes com um palmo acima de dois meses e meio antes e ele... nada! O pai animava-o: "Ah, quando entrei no colégio (interno e militar) também era o mais baixo de todos, mas depois cresci!" A tia todos os anos repetia:: "Vais ver que é este verão que 'dás o pulo', como aconteceu com todos os meus colegas de liceu, que cresciam imenso nas férias"...

Francamente, nem dei conta! Primeiro já estava do meu tamanho (OK, não é grande façanha!), depois do da tia, a seguir do pai e da prima, epá, alto lá, que a torre Eiffel é em Paris, não em Lisboa. Contrariamente ao que é costume, obedeceu! Mesmo assim, ficou no 2º lugar do ranking (palavra modernaça, aqui sem o seu sentido pejorativo) familiar de alturas, apenas ultrapassado por uma das primas. (a mais nova, ainda está para ver...) 

Mas que tenho saudades do meu "pardalito" - que já virou pardal, para não dizer pardalão (que também não é gigante!) - não restam dúvidas. E da época em que via estes desenhos animados com ele, o vídeo mais visionado cá em casa na sua infância, também não:


PARABÉNS, FILHOTE!
(também já podiam deixar de te chamar rato, mais alto, de cabelo mais escuro e quase rapadinho, mas isso... tá quieto!)

Imagem da net.

domingo, 15 de abril de 2012

DESENCANTO


Fotografia de Ian Britton
Saiu do tribunal apressada, mas, apesar da sensação de alívio, sentia uma pedra dura dentro do seu peito. O advogado do processo de divórcio acompanhou-a ao carro, numa lengalenga sobre recursos, trâmites em julgado e mais uma parafernália de termos jurídicos complicados que nem sequer entendia. Como pudera ser tão enganada?! Despediu-se do jurista com um aperto de mão, prometendo telefonar em breve, entrou no veículo cinzento metalizado e ligou a ignição. Rumo à planície alentejana, a terra que a vira nascer e crescer...

Apaixonara-se pelo marido (agora ex) logo no primeiro encontro, após alguns meses de troca de mensagens via Internet. Como professora do primeiro ciclo, a sua vivência era essencialmente casa e trabalho, mais rodeada de crianças e mulheres que outra coisa. Alberto era alguns anos mais velho, mas possuía todos os predicados que sempre desejara no seu “príncipe”: bonito, inteligente, simpático e agradável, além de empresário de sucesso, só tinha pontos a favor. Excetuando o pouco tempo disponível para namorar, com negócios que desenvolvia em vários países e múltiplas viagens, parecera-lhe perfeito, sorte fora encontrá-lo. Casaram!

Os primeiros anos de vida em comum tinham sido de paixão - ou assim ainda o julgava - apesar de ele não estar sempre presente. Como não estivera no nascimento do primeiro filho. Nessa altura resolveram que ela deixaria de trabalhar durante uns tempos, para acompanhar o desenvolvimento do bebé. Dois anos depois nascia o segundo e ela continuou em casa, um apartamento de luxo numa torre das melhores zonas de Lisboa, com todas as mordomias de uma empregada diária, que tratava das lides domésticas. Porém, o marido ausentava-se cada vez mais, passavam semanas em que nem sequer o via, incluindo sábados e domingos. Ele repetia que era a crise que o obrigava a uma maior competitividade e ela não tinha razões para duvidar. Mas notou o facto de ele já não a procurar na cama, invariavelmente tinha dores de cabeça ou adormecia. Apesar das suas várias tentativas de tornar o ambiente mais romântico, com jantares à luz das velas ou uma lingerie mais diáfana e sedutora na hora do deitar...

Estacionou frente à vivenda do pai, onde agora vivia, e entrou. O silêncio ecoava naquelas quatro paredes - o pai certamente ainda estaria no emprego, os filhos talvez já tivessem saído da escola, pois a tia Eunice ficara de os ir buscar, só a esperavam depois do jantar. Tomou um duche rápido, mudou para uma roupa mais leve e informal e decidiu ir até à cidade, onde comeria qualquer coisa numa esplanada. Afinal até estava com fome, não tinha conseguido almoçar com o nervosismo da audiência que a esperava. Lágrimas já gastara todas nos últimos anos, decidira que jamais voltaria a deitar uma por Alberto!

- Emília, és mesmo TU?! - exclamou uma voz entusiasmada à frente dela, o que a fez levantar os olhos do livro que estava a ler. Reconheceu a antiga amiga e colega de escola e, tímida como sempre, sorriu. Mas Filomena não era dada à timidez e, assim que percebeu estar certa, quase a içou da cadeira da esplanada num enorme abraço, enquanto lhe pespegava sonoras beijocas nas bochechas. Depois desabou na cadeira ao lado e, em ritmo ininterrupto, foi exclamando: “Que caloraça, quase me esquecia como junho é quente aqui em Portugal! Vou pedir uma imperial, também queres? Conta-me tudo, tudo o que tens feito! Ó faxavor, queremos duas imperiais e um pires de tremoços! Então, quais são as últimas novidades?”

Ligeiramente atrapalhada, Emília só conseguiu murmurar: “Divorciei-me hoje!” A amiga olhou-a espantada durante alguns segundos e acrescentou: “Quem foi o traste que se quis divorciar de ti? Conheço?” Acenou que não e, comovida com a confiança daquela amiga do passado, foi desenrolando a sua história, em traços largos. Partira para a capital para estudar e tornar-se professora primária, que tinha sido feliz no exercício da sua profissão, mas que se sentira muito só e com poucos amigos... E aí conhecera Alberto, mas ao fim de poucos anos de casamento o desencanto e a desilusão foram ganhando espaço e crescendo intimamente. Já não era possível ignorar a indiferença dele, para com ela e para com os filhos, que estava a criar sozinha. Mas,  dependente dele para todos os efeitos, não quisera prejudicar as crianças. Vivia praticamente isolada lá no alto da sua torre luxuosa, em redor dos filhos pequenos, sem a cabeleira da Rapunzel que lhe desse alguma esperança de ser salva – o seu príncipe estava desencantado!

Tímida e submissa como era, nunca antes tinha pensado resistir às vontades do marido, mas naquele dia disse-lhe que não, que tinha outro programa diferente do que ele estipulara – tinha marcado um lanche com antigas colegas da escola em que lecionara, pois era o aniversário de uma delas. Ele zangou-se, mas ela saiu à mesma. Quando já estava na garagem e se preparava para entrar no carro, ele surgiu por trás dela, agarrou-a por um braço e gritou aos seus ouvidos: “Tu não vais a lado nenhum! Mas afinal quem manda aqui?” Tentou livrar-se daquela mão que a estava a magoar, o que só serviu para ele a apertar ainda mais. E, de repente, ele estava a arrastá-la na direção da arrecadação, empurrou-a lá para dentro e trancou a porta à chave do lado de fora. Gritou, esmurrou a porta, mas nada: ele tinha ido embora! A sua mala tinha caído no chão durante a refrega, não tinha sequer o telemóvel para pedir ajuda a alguém. Duas horas depois ainda lá estava, até que começou a ouvir alguns ruídos inusitados e a lâmpada da arrecadação apagou-se. Assustada, gritou a plenos pulmões por socorro, e, por fim, ouviu uma voz: “Está aí alguém?” “Tirem-me daqui, tirem-me daqui”, gritava completamente em pânico! A porta foi arrombada e ela saiu do seu cativeiro tão trémula, que teve de ser amparada pelos bombeiros até à rua. Não tinha notado o cheiro a queimado, mas facto é que um incêndio no primeiro andar do prédio motivara o aparecimento destes, que tinham desligado a eletricidade do edifício e apagado o fogo rapidamente. Mas um deles ouvira os seus gritos, através das saídas de ventilação da garagem, e resolvera indagar.

Era impossível saber quanto tempo o marido tencionara deixá-la trancada de “castigo”, mas estava longe de lhe dar nova oportunidade para tal. Chamou a polícia, relatou o ocorrido, os agentes tomaram nota do testemunho do bombeiro e ainda a escoltaram até casa, onde apressadamente encheu duas malas de roupa dela e das crianças – felizmente, o marido estava ausente! Depois de apanhar os filhos que brincavam com um amigo que residia na vizinhança, partira rumo à sua terra natal, onde sabia que o seu pai os receberia de braços abertos...

- Bolas! - exclamou Filomena – Esse gajo era um autêntico psicopata! E agora, que vais fazer?

Sorriu. "Vou criar os meus filhos e trabalhar! Mas casamento... nunca mais!"

Trata-se de mais uma blogagem coletiva - na segunda fase da série "Amor aos Pedaços", subordinada ao tema "Desencanto"- numa promoção conjunta dos blogues da Luma Rosa, da Rute e da Rosélia. Ah, e a história em si não é verídica, é um apanhado de várias histórias cruzadas, que infelizmente acontecem por aí...

sábado, 14 de abril de 2012

CENTENÁRIO DE UMA TRAGÉDIA

As reportagens, as séries e até o regresso do filme de James Cameron aos cinemas (desta vez em versão 3D) trazem de volta o tema "Titanic", numa evocação da tragédia que abalou o mundo. Há precisamente 100 anos!

Se não vi na altura Leonardo DiCaprio a afogar-se aos poucos - ele que é o único ator que numa semana vi morrer três vezes, em três filmes diferentes - também não será desta que vou assistir ao seu "afogamento". No entanto, percebe-se o trauma da humanidade: um navio fabuloso, supostamente inatingível, e naufraga logo na viagem inaugural? Um iceberg, um rombo no casco e os cerca de 2240 passageiros sem terem lugar para todos nos botes salva-vidas, tidos como desnecessários, pois era impossível o transatlântico afundar? 

Não se sabe ao certo o número de vítimas, mas calcula-se que cerca de 1500 pessoas pereceram no naufrágio, a grande maioria pertencendo ao grupo de passageiros que viajava em terceira classe ou à tripulação. Mais homens que mulheres e crianças, dado que a estas últimas foi dada preferência na entrada dos insuficientes botes salva-vidas. 

Uma coisa é certa: não se pode atribuir aos desígnios de Deus um falhanço desta dimensão! Se Deus (Alá, Jeová, ou qualquer outra designação que nomeie o Criador dos céus e da terra) existir, não é suposto ser mesquinho ao ponto de se vingar da arrogância dos homens com tamanha fatalidade. A falha foi humana e resume-se a um ponto fulcral - por maior espírito científico e racional que o homem consiga atingir, não está na sua mão dominar as forças da natureza ou os imprevistos de caminho!

A tragédia podia ter sido uma lição para a humanidade. Não foi! O que não faltam por aí são indivíduos cheios de certezas, mesmo perante todas as evidências. O Homem é como burro velho: raramente aprende "línguas", básicas que sejam...

Imagem da net.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

PARA DAR E VENDER...

OK, não vou vender, é apenas força de expressão! Lembram-se deste post? Já lá vão uns meses e, francamente, a certa altura julguei que a minha experiência de agricultora doméstica ia resultar num enorme fiasco! Enfim, sempre dava para o "investimento" inicial, mas a salsa começou a surgir aos tufinhos, supus que não passasse disso. Para umas omoletes e pouco mais...

Enganei-me redondamente: este ano ainda não comprei salsa! A fotografia foi tirada há cerca de um mês e já tinha usado na culinária caseira uns bons ramos. O vaso continua praticamente na mesma, à parte um pé ou outro que secou, que vou retirando o mais meticulosamente possível. Mas, surpresa das surpresas, onde já cortei têm voltado a florescer novos ramos. Portanto, antes que seque sem uso ou proveito para ninguém, vou desfalcar o vaso e distribuir ramalhetes de salsa por toda a família. E ainda vai sobrar!

Fica o resumo fotográfico da minha experiência na plantação de salsa:

Dá para entender o meu desconsolo inicial? Ah, e ainda tive de levar com a malta a gozar comigo, que me tinha enganado no pacote das sementes, que aquelas não eram de salsa nem aqui nem na Cochinchina... Eram sim! Esclareço também que mais tenra e com um sabor bastante mais intenso do que a que se encontra à venda. Resumindo: foi uma experiência bem sucedida, que vou voltar a repetir! (quando esta acabar, logicamente...)

BOM FIM DE SEMANA E DIVIRTAM-SE!
 

quinta-feira, 12 de abril de 2012

RUAS DO MUNDO?

Bem sei que para espreitarem a vossa rua basta chegar à janela! Mas se quiserem visitar a da vossa infância, aquela onde todos os anos passavam férias ou outra qualquer que vos traga gratas recordações? Não é necessária bola de cristal e o  problema das distâncias desaparece, como por artes mágicas: basta clicar na fotografia e preencher com a morada (rua e cidade) e... estão de volta ao local. Ora experimentem lá!

Não sei se dá para todas as cidades, vilas e aldeias de Portugal, ainda menos do mundo, mas resultou com todos os endereços que experimentei. Óbvio que não é magia, suponho que apenas um programa informático ligado ao Google Maps. Ou por aí... 

A imagem é da net, atribuída ao fotógrafo amador Kees Straver, que dinamizou o conceito de fotografia através de bolas de cristal  (cristal ball photography). Esta é apenas uma de várias, que podem visionar aqui, à falta de site mais explicativo. 

(Obrigada, Paulinhas!)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

AMIGOS IMPROVÁVEIS

Não sou grande adepta do cinema francês, como muitos saberão, onde abundam filmes para connaisseurs - que não tenho a menor pretensão de ser! - de autor, parados até mais não... Enfim, há quem goste! Mas, evidentemente, há honrosas exceções: vi grandes comédias (que saudades de Annie Girardot) e outros que se encontram na pequena lista d' "Os Filmes da Minha Vida", como "Les Uns et Les Autres" (intitulado em português como "Uns e os Outros"), de Claude Lelouch - filme de 1981, que tem a miserável pontuação de 7.1/10 na classificação da IMDB - ou, e curiosamente do mesmo ano, "A Guerra do Fogo" de Jean-Jacques Annaud, que obtem a pontuação ligeiramente mais elevada de 7.3/10. Enfim, no fundo nem interessa muito, porque não vou mudar a minha opinião sobre esses grandes filmes...

Ora estes "Amigos Improváveis" ("Intouchables", no titulo original) dificilmente se perfilará como filme da vida de alguém, atendendo até ao facto de ser uma comédia. Mas a invejável pontuação de 8.4/10 é um indicador que o filme agradou ao grande público. E, na verdade, representa um bom momento de cinema, de pôr num chinelo muita americanice!

Philippe (François Cluzet) é um milionário francês tetraplégico, que vive rodeado de pessoal auxiliar para lhe garantir uma melhor qualidade de vida e lhe satisfazer as suas mínimas vontades. Mas encontrar a pessoa certa para lhe fazer companhia e auxiliar na sua higiene diária não é tarefa fácil, apesar da auto-proclamada vocação e abnegação dos candidatos. É assim que, numa nova seleção, encontra Driss (Omar Sy), que não esconde o motivo da sua entrevista: precisa de uma assinatura no papel, para continuar a receber um subsídio estatal! Ao contrário dos restantes, não demonstra a sua comiseração pela situação do milionário, o que leva este a contratá-lo por um mês à experiência, para em troca receber a ambicionada assinatura. Driss é um  negro suburbano que acaba de sair da prisão e cuja mãe não o aceita de volta em casa, mas mesmo assim não deixa de ser um homem bem-disposto e pragmático, de modo que acaba por aceitar as condições do milionário. E estabelece-se uma amizade improvável entre os dois, como podem observar no trailer:


Realizado por Eric Toledano e Oliver Nakache é um filme a recomendar, pelo menos para aqueles que não têm preconceitos arreigados sobre os "coitadinhos" dos deficientes e conseguem rir despretensiosamente de piadas "politicamente incorretas"...      

Imagem de cena do filme, da net.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O QUARTO DE JACK

"Hoje faço 5 anos. Ontem à noite, quando fui dormir para o Guarda-Fatos, tinha 4 anos mas quando acordei na Cama às escuras, já tinha 5 anos, abracadabra." Assim começa este original romance de Emma Donoghue, que nos é narrado por Jack, o menino que comemora o seu aniversário. E se a frase já de si nos parece estranha por ele dormir no Guarda-Fatos e designar os objetos por maíúsculas, à medida que avançamos na leitura ainda mais: não se trata apenas de uma criança que vive numa casa pobre com a sua Mamã, com escassez de mobiliário e de alimentos, num qualquer país subdesenvolvido - vai mais longe que isso!

As 332 páginas d' "O Quarto de Jack" dividem-se em 5 grandes capítulos, não há maneira de esconder o óbvio: avisam-se portanto os leitores que pretendam ler o livro que a partir daqui contém spoilers!

Apesar das múltiplas e imaginativas brincadeiras que mãe e filho repetem diariamente no exíguo e bafiento Quarto, cedo nos damos contas que se trata de um cativeiro. Nick Mafarrico raptou a Mamã há 7 anos e abusa dela desde então. Não só a existência do menino, como a descrição ingénua deste da Cama a chiar, quando o raptor chega, são suficientemente elucidativos para o leitor. Mas ambos conseguem fugir do sequestrador (sensivelmente a meio do livro) - e aí começa o reverso da medalha. Como é que o mundo Lá Fora (leia-se, fora do Quarto!) aceita uma criança cujo mundo "real" se cinge àquelas quatro paredes e tudo o que envolvem, e que julga que a televisão só exibe ficção e que não reconhece sequer uma folha de árvore quando esta cai na Clarabóia, única e parca iluminação natural do Quarto? Que nunca passeou ao sol, que nunca ouviu um pássaro cantar ou viu as ondas do mar a rebentar na areia, nem sentiu a picada de uma abelha? Que não faz ideia de como se descem ou sobem escadas ou como manter uma conversa com alguém que não seja a sua mãe? E que, nos momentos mais tensos, deseja voltar novamente para aquele  Quarto, pois lá sentia-se seguro e sempre perto da sua Mamã?

São os dois lados da mesma história, como se a autora reinventasse a alegoria da caverna de Platão, nos tempos modernos. À qual ela até faz referência de passagem...

Gostei muito! E concordo com a crítica inscrita na contracapa do livro: "O Quarto de Jack é um lugar que não vai esquecer"! Novidade, é que até existe um trailer do livro. Ora espreitem:


CITAÇÕES:
"O papel pautado é mais liso para os decalques, já o papel higiénico é bom para um desenho que nunca mais acaba, como o de hoje em que me desenhei com um gato e um papagaio e uma iguana e um guaxinim e o Pai Natal e uma formiga e o Sortudo e todos os meus amigos da televisão numa procissão e eu sou o Rei Jack. Depois de acabar, volto a enrolá-lo para o podermos usar para limpar o rabo." 

"- A Mamã agarra-me pelos polegares e aperta-os. - Somos como pessoas num livro e ele não deixa que ninguém o leia."

"A minha parte preferida do Espaço Lá Fora é a janela. É sempre diferente. Um pássaro passa por lá a toda a velocidade: zum, não sei que pássaro era. As sombras estão outra vez compridas, a minha ondula pelo nosso quarto na parede verde. Fico a ver a cara de Deus descer aos poucos, ainda mais alaranjado e as nuvens são de todas as cores, e depois vejo riscas e o escuro aparece tão devagarinho que não o vejo até chegar."

"Nos últimos dias, ando sempre a cair, o mundo é cheio de tropeções."

segunda-feira, 9 de abril de 2012

RIO

"Rio" foi o filme mais visto nas férias da Páscoa do ano passado, mas na altura perdi a oportunidade de o ver no cinema. Calhou agora, emprestado por uma das minhas sobrinhas...

Blu é uma arara azul e é capturado por contrabandistas de animais exóticos pouco depois de nascer, sendo levado em cativeiro do Rio de Janeiro para o Minnesota. Um acidente com a camioneta que o transporta faz com que a caixa onde se encontra engaiolado caia no percurso e ele é salvo  por Linda, que toma conta dele e se torna a sua melhor amiga. 15 anos volvidos, Túlio, um ornitólogo brasileiro vê o pássaro na livraria de Linda e convence-a a viajar com ele e Blu de volta ao Rio de Janeiro, para acasalar com a única fêmea que encontraram: em causa está a extinção da espécie daquelas aves.

Já no laboratório de Túlio, o encontro entre as duas araras não corre pelo melhor - Jade, a fêmea, só pretende recuperar a sua liberdade e voltar à floresta, sendo bastante arisca com o seu "pretendente". Mas, em pleno Carnaval carioca, os contrabandistas de pássaros engendram um plano para capturar todos os que existem no laboratório (e clínica) do ornitólogo, no que são bem sucedidos, e acorrentam Blu e Jade um ao outro. As hipóteses de fuga são poucas, até porque Blu nunca aprendeu a voar...

O argumento não será particularmente burilado - é destinado a um público infantil, certo? - mas compensa com a aventura, o ritmo e o colorido intensos, mais ainda quando em "pano de fundo" está o Carnaval da cidade maravilhosa.  Vejam o trailer: aqui.

O realizador Carlos Saldanha está de parabéns com mais estes desenhos animados (depois da série da "Idade do Gelo"), que certamente ainda proporcionarão bons momentos de alegria à criançada... e não só! Só tem 7/10 na IMDB? Who cares?! 

Imagem de cena do filme da net.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

LEITURAS EM ATRASO

É, as leituras atrasaram-se um bocadinho este mês, com festas, saídas e, principalmente, com as séries televisivas que resolvi seguir (que realmente empatam muito tempo), de modo que vou aproveitar estes dias de descanso para ver se recupero. Isto para além de que o livro que estava a ler não me estava a empolgar - já troquei, deixando-o para outras núpcias! Aqui ninguém é muito (nem pouco) de Páscoas e a família quase toda aproveitou para ir dar uma volta este fim de semana. Por acaso dá um jeitão neste capítulo de leituras, e também porque há aí uma exposição que está a encerrar e ainda queria ir espreitar...

Aproveito para agradecer a todas as amigas que fizeram cartões e selinhos comemorativos da Páscoa, que gentilmente me ofereceram, mas vou passar a sua publicação - não sendo eu católica e não festejando a data, não faz sentido colocar aqui imagens de Jesus, de Coelhinhos (esses então...), ovos, etc. e tal. Mas obrigada à mesma pelo carinho! Ainda em jeito de agradecimento e de retribuição, deixo-lhes esta música do grande Caetano Veloso:

(e que algum dia alguém a sussurre aos vossos ouvidos, meninas!)

 FELIZ PÁSCOA (para os crentes)
E UM BOM FIM DE SEMANA PARA TODOS!

Imagem da net, de um quadro de uma pintora polaca, que descobri recentemente e de quem, em breve, falarei por aqui. Alguém sabe de quem se trata? Trata-se de Barbara Jaskiewicz, tal como a Maria descobriu via Google - adenda a 8 de abril de 2012, escrita a verde.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

FILMES MÍTICOS

1 - "Crepúsculo dos Deuses" (1950)
É mais um desafio de cinema, que partiu de uma curiosidade: saber como estes filmes estavam classificados da IMDB, especialmente quando são mais antigos! Este é um clássico e obtém a melhor classificação de todos - 8.7/10. Justíssima, porque só o vi muitos anos depois (na TV) e é realmente inesquecível...

2 - "Love Story" (1970)
Os géneros são todos diferentes, este também não visionei na época - em que havia rigorosa restrição do porteiro, a entrada era por faixas etárias, de 6, 12 e 18 anos, alguém se lembra? Embora tivesse feito imenso furor em Lisboa, fiquei desapontada quando assisti, suponho que numa reprise de verão. Com boa música, mas lamechas... Não admira o 6.7/10!

3 - "Taxi Driver" (1976)
Muito marcante e violento, foi uma viragem na história do cinema norte americano, como que um adeus aos happy endings. "Are you talking to me?" permanece como a frase mais emblemática deste filme, que obtém uma classificação de 8.5/10

4 - "Um Amor Inevitável" ou "When Harry Met Sally" (1989)
Simultaneamente comovente e hilariante, este é um dos "filmes da minha vida", com uma cena inenarrável que me fez rir até às lágrimas. Passou há pouco tempo na TV, não resisti a ver de novo, mesmo que já o tivesse apanhado no final. Gosto de finais felizes, que querem? 7.6/10.

5 - "O Sexto Sentido" (1999)
Assustador, sem ser exatamente de terror, também gostei muito deste, especialmente pelo ambiente de suspense, que vai evoluindo de modo progressivo, até ficarmos com "pele de galinha"... Tem 8.2/10.

Bom, e agora quem resolve este desafio? De cor e salteado (para os mais fanáticos do cinema) ou googlando e pesquisando, para os mais jovens? É, os filmes são todos do século passado, daí ser menos fácil para as novas gerações. Mas, quer dizer, filmes míticos só se reconhecem uns anos depois, certo? 

Adenda a 6 de Abril de 2012: todas as legendas a laranja; parabéns à Ematejoca, à São e ao Vic que acertaram em todas, enquanto a Maria e a Diabba ficaram por 4 respostas certas e os restantes com três cada um - fácil demais, está visto! Obrigada a todos pela participação!

Imagens da net.