Quando a jornalista sino-britânica entrevistou Shu Wen, encontrou "uma mulher de idade vestida à tibetana, cheirando muito a pele velha, leite azedo e esterco animal", indubitavelmente chinesa, tanto pelos traços faciais como pelo sotaque. Mas a história que contou a Xinran era a da transformação de uma médica de vinte e seis anos "numa budista de sessenta, na relação entre a natureza e a religião, no espaço e no silêncio, no que ela perdera e no que ganhara, na sua vontade, na sua força e no seu amor".
Wen "nunca tinha pensado em como os cinquenta grupos étnicos da China e os mil sotaques regionais conseguiam comunicar quando se juntavam", mas começou a compreender "a importância dos gestos e da linguagem das emoções humanas, comum a todos", quando se alistou no exército para ir em busca do marido - Kejun, dado como morto no Tibete - sem qualquer outra explicação oficial da tropa onde ele enfileirou, poucas semanas depois de casarem. Mas a mulher não hesitou mesmo perante diversos infortúnios, aprendeu "o significado de paciência - a aceitar o que a vida lhe dava".
À medida que a história se vai desenrolando, a escritora desvenda uma lenda que corria na China dos anos 60, quando ela era criança, mas a verdade fica para sempre oculta "porque os homens nunca conseguem reconstituir o passado tal como ele aconteceu".
Há livros assim, que nos fazem viajar no tempo e no espaço, entender outras formas de vida, valores e culturas. São esses que nos enriquecem...
fiquei com uma duvida! uma pessoa sino-britânica é um inglês com um badalo pendurado?
ResponderEliminarGosto de histórias que falem sobre a China, sobre as gentes e sobre as suas vidas. Este fez-me lembrar um pouco um que li faz bastante tempo "Cisnes Selvagens", de Jung Chang, apesar da história ao que me parece, pelo pouco que revelaste, não ter nada a ver!
ResponderEliminarBeijinho
E a cultura oriental é fascinante. É pacífica, relaxante, inebriante.
ResponderEliminarJá na minha juventude, Katmandou fazia parte dos planos dos que queriam paz.
Beijinho Tété
É sim senhor, um bom livro, mas que não fornece a medida exacta do sofrimento do povo tibetano. Para isso aconselho o livro "Os rebeldes do Himalaia" de Philippe Broussard, cujo livro me deu inspiração para escrever uma história no meu blog.
ResponderEliminarEstás recordada?
"os homens nunca conseguem reconstituir o passado tal como ele aconteceu"...
ResponderEliminarObviamente.
mas a "tentativa de", com honestidade intelectual, é precisamente aquilo que nos distingue das bestas, Teté.
E como história é memória, sem ela não iremos a lado algum...
;)
Não, VÍCIO, é uma mulher chinesa (naturalizada ou casada com um inglês), logo sem badalo! :)]
ResponderEliminarEsta história tem a ver com as conturbadas relações entre a China e o Tibete, TONS DE AZUL, embora visionadas através de um prisma de vivência pessoal. :)
ResponderEliminarBeijinhos!
Curioso aqui é especialmente a transformação da mulher, que inicialmente alinha na propaganda da China maoísta, para durante a sua longa vivência no Tibete se tornar budista, KIM! Ou seja, ninguém permanece inalterável se viver em contacto permanente com crenças alheias, especialmente se longe de todo o restante mundo... :)
ResponderEliminarKatmandú teve várias conotações ligadas à paz, mas não só, em tempos de "power flower"... não sei se ainda mantém!
Beijinhos!
Ah, CARLOS, tenho boa memória, mas não me recordo de todos os posts que li, teus ou de outros bloguistas...
ResponderEliminarMas concordo que aqui se trata apenas de uma vivência pessoal, não da luta do povo tibetano em toda a sua dimensão. Mas obrigada pela dica do livro! :)
Concordo, REIZÃO!
ResponderEliminarÉ impressão minha, ou não te estás a referir apenas e propriamente ao livro ou à luta dos tibetanos?
Seja como for o relato parece-me honesto, se bem que é um romance sobre uma vivência, não tem pretensões a político ou histórico, embora seja um "pano de fundo"... ;)
mesmo quando os comunistas caírem e forem substituídos por qualquer outro regime político, a verdadeira sabedoria, ancestral, dos chineses permanecerá lá, onde sempre esteve. quanto ao livro, fica a nota :)
ResponderEliminarA dos chineses e a dos tibetanos, que diferem bastante segundo entendi, MOYLITO! ;)
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