Fotografia de Ian Britton
A Arminda veio para Lisboa estudar aos 18 anos, deixando para trás as terras nortenhas que a viram nascer e a mãe que trabalhava no campo, enquanto o pai emigrara para França para dar um futuro melhor à sua família. Alegre e simpática, ciente que os pais se sacrificavam para lhe oferecer melhores oportunidades que eles próprios tiveram, determinação e empenho não lhe faltavam. E imensos sonhos, como só os muitos jovens conseguem ter!
Apesar de não conhecer ninguém na capital, conseguiu alugar um quarto perto da Faculdade, fazia as suas refeições nas cantinas universitárias e até encontrou uma antiga colega de liceu a viver em condições idênticas, que a acompanhou naqueles primeiros dias. Um mar de rosas (embora a comida das cantinas não fosse lá essas coisas, na época)...
Como os sonhos às vezes se transformam em pesadelos, uma quinzena depois, a dona da casa onde se alojara "despejou-a" no meio da rua, alegando que ela fazia "olhinhos" ao seu companheiro. A ciumenta trintona nem lhe devolveu o montante da estada já paga e, assim, Arminda viu-se abandonada na cidade com a sua maleta, sem dinheiro suficiente para pagar novo alojamento. Sem saber o que fazer, seguiu para a universidade, onde conseguiu que lhe guardassem a mala na sala da Associação de Estudantes. Esta não tinha solução para o seu caso, nem a amiga a podia ajudar. Assistiu às aulas alheada, enquanto tentava desesperadamente resolver o problema na sua cabeça. Ainda que de um modo vago, pensou que se se escondesse por lá ninguém iria notar.
Nunca se sabe como os acasos acontecem, mas Olinda notou o seu nervosismo e, mesmo sendo uma colega tão recente, perguntou-lhe o motivo. Ela explicou. Decidida, declarou que "na rua não podes ficar!" Pediu que esperasse um momento, enquanto foi telefonar à mãe (não existiam telemóveis na altura). E voltou, de olhos brilhantes, assegurando que a sua mãe as ia buscar... Nos dois meses seguintes Arminda viveu na casa de ambas, que ainda a ajudaram a encontrar um lar condigno para se alojar.
Por muito tempo que passe, há histórias que nunca se esquecem. E esta, para mim, é uma delas, que a própria protagonista me contou emocionada, poucos anos depois...
fizeste-me lembrar dos lamentos de um colega que tem o filho na faculdade de farmácia e por estar a 40 kms de casa tem que pagar alojamento ao filho e as viagens ao fim de semana serem "patrocinadas" pela viatura da mãe do moço.
ResponderEliminaracho que ele não sabe o que é um comboio...
Tété
ResponderEliminarEu entendo muito bem esta estória. Também se diz que dos fracos não reza a história, logo essa menina, provavelmente hoje bem instalada na vida, sabe já com cquantos paus se faz uma canoa.
Sei o que ela terá sentido pois eu, nos meus tempos de menino e moço, algures no estrangeiro, só e desprotegido, conheci algumas pontes e entradas de metroplitano que me serviram de residência.
A vida tem destas coisas.
Beijinhos amiga
Admiro a Arminda pela atitude de não falar com os pais, apesar da gravidade da situação. Se desenrascou sozinha com a ajuda de uma amiga.
ResponderEliminarDe certeza que deve ser uma grande mulher.
São lições de vida para alguns jovens de hoje.
Beijinhos Teté :)
Que dizer?
ResponderEliminarOlha, um fim-de-semana pleno de saudinha...
;)
E a menina não voltou à casa da senhora que a despejou, assim só para lhe meter um rato morto na caixa do correio, já em avançado estado de decomposição?
ResponderEliminarPois, VÍCIO, hoje em dia eles não sabem o que é comboio ou sequer transportes públicos. E a culpa disso muitas vezes é dos papás... :p
ResponderEliminarNão tenho notícias dela há anos, KIM, mas disseram-me que está bem, sim! :)
ResponderEliminarE sim, provavelmente aprendeu muito mais que muitos de nós, que tínhamos a vida mais facilitada. Aprender no "duro" às vezes abre novos horizontes... ;)
Beijinhos, amigo!
Lições de vida que os jovens de hoje se recusam a aprender, CAPRICHO, já que querem tudo facilitado! Se antigamente quase todos os alunos iam de transportes públicos, hoje não há lugar para estacionar em frente às faculdades... ~xf
ResponderEliminarE ela não telefonou à mãe, para não a preocupar: além de estar longe, possivelmente também não lhe poderia valer!
Beijinhos!
Boa saudinha para ti também, REIZÃO, embora ainda "falte um bocadinho assim" para o fim de semana... :D
ResponderEliminarQue saiba não, RAFEIRITO, mas lá que a fulana merecia receber um "bónus" desses, também concordo!!! :e
ResponderEliminarDiscordo com o Rafeiro! Um rato morto? O que é isso? Uma rata bem viva!!!
ResponderEliminarComo às vezes um mar de rosas se torna num mar de espinhos. Felizmente que nesse oceano de desilusões Arminda encontrou uma verdadeira amiga.
ResponderEliminarEntendi a ideia, SUN: viva, grande e preferencialmente esfomeada... :e
ResponderEliminar"A friend in need, is a freind indeed!", dizem os ingleses com razão, PAULOFSKI. :)
ResponderEliminare ela não pegou fogo à casa? se eu fosse assim expulso deixava despesas a fazer. não perdoaria. vá lá, ainda se vão aproveitando algumas pessoas. poucas, mas vai havendo.
ResponderEliminarCoitada, estava tão atarantada que nem se lembrou de vinganças, MOYLITO! Mas que a mulher merecia ter entrado em (grandes) despesas, lá isso concordo! :-w
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