Nuno Camarneiro tem uma escrita poética, até em prosa. "Debaixo de Algum Céu" ganhou o prémio Leya 2012, retratando a vivência da gente que habita um prédio à beira-mar, numa cidade de província.
Entre os diversos vizinhos encontramos um velho reformado que todos os dias vai recolher despojos que o mar descarrega na praia, um padre em crise de fé, duas viúvas, um jovem casal desavindo, uma família bastante normal, um homem com um estranho trabalho e que poucos veem. Durante 8 dias - entre o Natal e a Passagem de Ano - seguimos o ramerrame das suas vidas monótonas.
Bom, li as 199 páginas. Encontrei inúmeras frases que dão bonitas citações. Contudo, o que me agarra mais a um livro é um enredo interessante - e, infelizmente, essa é a grande falha de Nuno Camarneiro: tão focado está na caracterização das personagens e na descrição dos seus passos rotineiros, que se esquece de trabalhar a trama. E com isso cativar mais leitores que, tal como eu, gostam de uma história bem contada...
Citações:
"Quando fui pequeno, o inferno era quente e fundo, cheio de gente má que ardia nesse avesso de céu. Mas afinal o inferno é frio e sem companhia. O inferno vai do rés-do-chão ao terceiro e cada um arde por si, as dores separadas por paredes e noite, danados todos um a um."
"O areal de pescadores a dançar com o mar, três passos para lá, a cana em arco, três passos para trás. São todos homens na praia, em casa as mulheres cozinham ou tratam dos filhos. Para elas são os peixes que lhes pescam os maridos."
"Aos homens muito perdidos só lhes restam caminhos que levem a uma mulher. A noite sem mulheres não tem fim, nem o medo ou a morte têm fim longe delas. Filhos delas toda a vida, mesmo que fingindo, mesmo a fugir. Para os homens muito perdidos só as mulheres são lugar."
"Aos rebanhos pouco lhes interessa se o pastor acredita no pastoreio. Basta que os leve aos pastos, que os proteja do frio e os assista na doença."
Gostei das citações.
ResponderEliminarNão pertencerá o escritor ao movimento Fluxus(que, ironicamente) se tornou naquilo que criticava)?
Abraços e saúde, bella
Não faço a menor ideia, SÃO, nem nunca ouvi falar desse movimento... :)
EliminarObrigada e abração!
Esta última citação faz bem lembrar o povo português, Teté!
ResponderEliminarBeijinhos e boas leituras.
Também pensei nisso, GRAÇA! :)
EliminarBeijocas
~ ~ Obrigada pela partilha. ~ ~
ResponderEliminar~ ~ ~ Um grande abraço. ~ ~ ~
Por aqui livros nunca faltam, MAJO... :)
EliminarAbraço
Não conheço o autor.
ResponderEliminarAproveito para te desejar um dia cheio de amor filial! : )
Também foi só o segundo livro que li dele, CATARINA! ;)
EliminarObrigada, até foi! :D
Sou capaz de gostar, apesar do fraco enredo. :)
ResponderEliminarAcredito que não serás a única, LUISA, a avaliar até pelo prémio... ;)
EliminarConfesso que não conheço minimamente o autor.
ResponderEliminarBeijocas e votos de boa semana
É um escritor das novas gerações, PEDRO! :)
EliminarBeijocas e boa semana!
Pois sou como tu, Teté, se não tem história a caracterização dos personagens pouco me prende...
ResponderEliminarAgora ando de volta de "A casa dos espíritos" da Isabel Allende, que era um livro há muito em falta nas minhas leituras da autora.
Beijinho
Também nunca li e tenho curiosidade, TONS DE AZUL! :)
EliminarBeijocas
Também já o li e concordo contigo...falta-lhe enredo!
ResponderEliminarAbraço
Há de haver quem considere essa falta um "must", ROSA, mas eu prefiro uma boa história... :)
EliminarAbraço
Concordo com o reparo que faz mas, mesmo assim, gostei de ler. Já está em fila de espera o prémio Leya 2013.
ResponderEliminarBeijinhos
Bom, CARLOS, se não tivesse gostado de todo, não o tinha acabado de ler... :)
EliminarBeijocas
Não posso opinar com conhecimento de causa, porque desconheço o autor, Teté.
ResponderEliminarMas, o Prémio, as citações, a sua escrita, que classificas de poética, são ingredientes muito apetecíveis para uma próxima leitura.
Pena, o enredo, ou a falta dele, não corresponder a tudo o resto.
Um beijinho e agradeço a partilha destas tuas leituras, tão saborosamente descritas.:)
JANITA, se o livro ganhou este prémio é porque houve gente a gostar e muito. A minha opinião vale o que vale: prefiro uma boa história a uma bela escrita. Quer dizer, se se juntarem os dois ingredientes sai aquela obra genial... :)
EliminarBeijocas e obrigada!
Confesso que embora tenha passagens muito bonitas, me desiludi um pouco com o livro "No meu peito não cabem pássaros"
ResponderEliminarNo entanto tenho alguma vontade em dar uma 2ª oportunidade a Nuno Camarneiro. Mas parece-me que definitivamente não é a minha praia.
Apesar de tudo esse primeiro livro era um pouco mais burilado que este, NUNO, pois dava ideia de querer juntar (sem o fazer) parte de biografias de grandes poetas. Gostei da escrita, como aqui, mas a falta de enredo faz com que também não seja a minha praia... ;)
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